POEMA

OFÍCIO DE TREVAS
(Poema XXIV)


É preciso que tragam a bandeira
É preciso que alguém vá até ao fim da noite
e desenterre a bandeira
Se já não tiver mãos
que rasgue a terra com os dentes
mas que traga a bandeira
Se já não tiver dentes
que afunde os olhos nessa terra
e lhe arranque a bandeira
que nela está sepulta
É preciso que os tambores anunciem a chegada da bandeira

Se não houver tambores
que os mortos se levantem
e façam rufar os ossos
em sol altíssimo à chegada da bandeira

Iluminem Iluminem Iluminem o caminho da bandeira
Se as nuvens de baionetas forem trevas no caminho da bandeira
que incendeiem a noite com as pedras da rua
mas que haja luz à passagem da bandeira
para que os olhos vazados vejam a bandeira
para que as bocas rasgadas cantem a bandeira
para que os ferros caiam à passagem da bandeira


Carlos Maria de Araújo

2 comentários:

Graciete Rietsch disse...

A bandeira é a ideologia que conduz à luta e que ilumina o caminho dos que não deistem.

Um beijo.

Olinda disse...

Nao conhecia este poema nem o autor.Gostei,tem muita carga revolucionária.