POEMA

POEMA DO FECHO ÉCLAIR


Filipe II tinha um colar de oiro,
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro
olho de perdiz.

Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal da rocha
do mais transparente.

Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.

Na mesa do canto,
vermelho damasco,
e a tíbia de um santo
guardava num frasco.

Foi dono da Terra,
foi senhor do Mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.

Tinha outro e prata,
pedras nunca vistas,
safiras, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo,
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.

O que ele não tinha
era um fecho éclair.


António Gedeão

3 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Absolutamente caraterístico de Gedeão, grande professor, cientista, poeta, humanista, que eu muito admiro.

Um beijo.

Olinda disse...

O que os ricos nao teem é visao de futuro.

Maria disse...

E há alturas em que um fecho éclair é absolutamente necessário...

Um beijo grande.