O LÍDER

Notícia curiosa é esta que nos conta que o presidente da comissão distrital de Lisboa do PSD não foi ouvido nem achado na decisão tomada pelo líder de convidar Fernando Nobre para cabeça de lista do PSD pelo círculo de Lisboa.

Mais curiosa, ainda, é a explicação dada para o facto pelo dito presidente da comissão distrital: diz ele que «o dr. Passos Coelho não precisa de acertar nada comigo», porque ele, dr. Passos Coelho, é que decide sobre listas; ele, dr. Passos Coelho, é que escolhe os cabeças de lista...

Posto isto, perguntar-se-á: mas se a comissão distrital e o seu presidente não riscam nada em matéria tão importante como esta e que tão directamente lhes deveria dizer respeito, para que é que servem?
A resposta é simples: servem precisamente para dizer que sim ao líder. E para aplaudir os seus discursos. E para louvar as suas decisões.
E para fazer o que ele manda.

Dito por outras palavras:
O líder pensa - e dispensa de pensar todos os membros do partido.
O líder decide - e dispensa de decidir todos os membros do partido.
O líder manda - e os membros do partido obedecem.

Há as distritais do partido?: há, mas há o líder.
Há a direcção do partido?: há, mas há o líder.
Há o partido?: há, mas há o líder.
E o líder é tudo - e acabou-se a conversa.

É assim que as coisas funcionam no(s) reino(s) do líder.
É assim que funcionam os três partidos que há 35 anos - em alegre alternância e com ĺíderes alternantes - vêm praticando a política de direita que afundou o País.
É esse o conceito de funcionamento democrático interno adoptado por esses três partidos - os quais, por isso mesmo, não se cansam de apontar armas ao antidemocrático e terrorista trabalho colectivo, acusando-o de coisas horríveis, tais como: pôr toda a gente a pensar e a dar opiniões; pôr toda a gente a tomar decisões; pôr toda a gente a cumprir as decisões tomadas por todos - e com isto tudo liquidando a liberdade individual... do líder.
Recorde-se que aqui há uns anos, estes três partidos fizeram aprovar uma lei cujo objectivo primeiro era obrigar o PCP a ser igual a eles, designadamente riscando do seu funcionamento interno o tenebroso centralismo democrático.
Ou melhor: riscando o democrático e deixando apenas o centralismo...
Que é como quem diz: riscando o colectivo e deixando apenas... o LÍDER.

POEMA

A ELIONOR



A Elionor tinha
catorze anos e três horas
quando começou a trabalhar.
Estas coisas ficam
registadas para sempre no sangue.
Ainda usava tranças
e dizia: «sim, senhor» e «boas tardes».
As pessoas gostavam dela,
da Elionor, tão meiga,
e ela cantava enquanto
fazia correr a vassoura.
Os anos, porém, dentro da fábrica,
diluem-se no opaco
griséu das janelas,
e ao fim de pouco a Elionor não teria
sabido dizer donde lhe vinha
a vontade de chorar,
nem aquele irreprimível
aperto de solidão.
As mulheres diziam que aquilo
era porque estava a crescer e que aqueles males
se curavam com marido e filhos.
A Elionor, de acordo com a mui sábia
predição das mulheres,
cresceu, casou-se e teve filhos.
O mais velho, que era uma rapariga,
só havia três horas
fizera os catorze anos
quando começou a trabalhar.
Ainda usava tranças
e dizia: «sim, senhor» e «boas tardes».


Miquel Marti I Pol

A BEM DA NAÇÃO...

Quando todos os peritos dizem que a recessão vai durar até 2013, eis que surge
«Ricardo Salgado a avisar que a recessão pode durar quatro anos».

Porquê esta diferença de opiniões?
Puxemos pela memória:
Primeiro, foi o défice - e a pretexto dele agravaram-se brutalmente as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e do povo.
Depois, foi a crise - por culpa da qual foram brutalmente agravadas as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e do povo.
Agora, é a dívida externa - e já está aí a chegar o brutal agravamento das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e do povo.

Ora, a recessão é a senhora que se segue - e a pretexto dela irão ser brutalmente agravadas as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e do povo.

Por isso, Ricardo Salgado - que se fartou de ganhar com o défice; que se encheu de massa com a crise; e que upa-upa com a dívida externa - avisa que... é bom que «a recessão dure quatro anos. Pelo menos...

E para que assim aconteça, ele «pede aos políticos para se acalmarem e entenderem em defesa do país».
Que o mesmo é dizer: em defesa do interesse nacional.
E, obviamente, a Bem da Nação.

POEMA

CANÇÃO DOS QUE VIVEM DAS SUAS MÃOS


Não peço o de ninguém.
Apenas o meu pão,
meu ar.

Apenas a flor,
o fruto do que fazem minhas mãos.


Jesus Lopez Pacheco

UM FIM-DE-SEMANA EM CHEIO!

Do congresso do PS às declarações de Passos Coelho/Fernando Nobre, o fim-de-semana foi um fartote de demonstrações do estado a que chegou a desvergonha dos executantes da política de direita.

Sócrates apelou ao «voto útil da esquerda».
Para quê?
Para que «a direita seja derrotada» e o PSD não vá para o governo fazer a política de direita... com as privatizações, os ataques aos direitos dos trabalhadores, a destruição do SNS... porque isso é coisa que Sócrates não tolera...
E, por isso, declama Sócrates de olhos fixos no teleponto, toda a esquerda deve votar no PS.
Para quê?
Para que ele, Sócrates, volte a constituir governo e faça a sua política... de esquerda?: claro: com as mesmas privatizações, mas à esquerda; com os mesmos ataques aos direitos dos trabalhadores, mas à esquerda; com a mesma destruição do SNS, mas à esquerda...

Foi lindo ver Passos Coelho e Fernando Nobre, de mãos dadas, a dar a boa nova...
O candidato «independente dos partidos»,
o terrível inimigo dos «políticos profissionais»,
o «cidadão, apenas e só»,
vai ser candidato do PSD,
na mira de vir a ser, profissionalmente, «presidente da Assembleia da República»,
sendo já aldrabão, apenas e só,
fala-barato, apenas e só,
um nojo, apenas e só.

POEMA

OS GRANDES AMIGOS


São como as árvores
de grande porte.
Quando elas partem
as raízes ficam
aquém da morte.


Luís Veiga Leitão

«DE FORMA CALMA E RÁPIDA»

O Fundo Monetário Internacional (FMI), a Comissão Europeia (CE) e o Banco Central Europeu (BCE) chegam a Lisboa na próxima terça-feira.
Vestidos de preto, de garras afiadas, lambendo o sangue aos cantos da boca, vêm dizer como é.


Em resposta a cavacais devaneios & outras deambulações, o Comissário Olli Rehn, irritado, pôs os pontos nos is:
«Já mostrámos muita imaginação e, principalmente, responsabilidade no que respeita à forma como ultrapassar as dificuldades de Portugal».

E, de dedo em riste e olhar severo, avisou:
«Preferia não ter um diálogo público todos os dias com os líderes de Portugal, mesmo que estes o possam apreciar muito».

E, conclusivo: «Este é o plano. Portanto, a ver se agora, de forma calma e rápida, começamos a trabalhar».

E qual é «o plano»?
Muito simples: «O resgate da UE/FMI a Portugal é claro quanto à ajuda aos bancos: haverá dinheiro para garantir liquidez e solvência até 2013».
Afinal, sempre há ajuda: aos Bancos...

E que mais é «o plano»?
Muito simples: «mais impostos, corte de pensões e do ordenado mínimo, destruição de emprego, emagrecimento dos serviços públicos».
... E tem que haver alguém que pague essa ajuda: os trabalhadores e o povo.

Simples, muito simples, tudo...

Terça-feira próxima «o plano» começa a ser posto em prática.

«De forma calma e rápida».

POEMA

(A «INTERNACIONAL»)


Acabou o comício.
E, como de costume,
no final,
todos de braço dado cantámos
o embalar de lume
da «Internacional»...

... esse hino
que um marceneiro
compôs durante a sua guerra
pelo Destino
de operário verdadeiro
- melodia
arrancada certo dia
da raiz de uma flor
no coração da Terra.

(Da Terra futura
sem amos,
mas só com amor.)

Entretanto cantamos.


José Gomes Ferreira

AMANHÃ É DIA DE LUTA

A luta - a luta das massas trabalhadoras e populares - é a resposta.
Sempre.
A luta é a resposta aos PEC, aos OE, à UE, ao FMI, aos «donos disto tudo»: a Banca e os grandes grupos económicos e financeiros associados ao grande capital estrangeiro.

Nenhuma luta é ponto de chegada: cada luta é sempre ponto de passagem para novas lutas.
Daí o rigor cirúrgico da nossa palavra de ordem mais gritada: «A LUTA CONTINUA!»

Nos dias e meses que aí vêm, vamos ter muito que lutar - nas ruas, nas empresas e locais de trabalho, nas escolas, nos campos, em todo o lado onde se fazem sentir as consequências nefastas da política de direita, agora brutalmente agravadas.

Amanhã é dia de luta.
É dia da primeira acção de massas em resposta à anunciada invasão e ocupação de Portugal pelo FMI - uma primeira acção de massas que é, naturalmente, organizada pelo Partido Comunista Português.

Amanhã é dia de comício «Contra e ingerência e o desastre. Por uma política patriótica e de esquerda».
É às 17H30, na Rua Augusta, em Lisboa.


Depois de amanhã... A LUTA CONTINUA!

POEMA

ANA E ANTÓNIO


A Ana e o António trabalhavam
na mesma empresa.
Agora foram ambos despedidos.
Lá em casa, o silêncio sentou-se
em todas as cadeiras
em volta da mesa vazia.

«Neo-Realismo!», dirão os estetas
para quem ser despedido
é o preço do progresso.

Os estetas, esses, nunca
serão despedidos.

Ou julgam isso, ou julgam isso.


Mário Castrim

TEMOS MUITO QUE LUTAR!

Os BANQUEIROS ordenaram.
Os partidos da política de direita ouviram.
E obedeceram. Como lhes competia.

No dia anterior tinham dito «não»?
Tinham.
Mas os BANQUEIROS ordenaram...

Sócrates disse que o pedido de ajuda visa evitar riscos que o país não pode correr.
Passos Coelho afirmou que após as eleições negociará quadro de ajuda mais completo.
Duas maneiras de dizer o mesmo.

Os comentadores - incluindo os que no dia anterior tinham dito «não»- hoje, em uníssono, dizem «sim sim, sim».
Um deles, ansioso por mostrar serviço, diz que «já devia ter sido há três meses»; outro, mais garganeiro, exclama: «já devia ter sido há um ano».


Assim,
«Ajuda» é a palavra do dia.
Melhor dizendo: «AJUDA».

Ela está na primeira página de todos os jornais de hoje.
Ela é A NOTÍCIA.
Ela é A PALAVRA.

E todos eles - banqueiros, partidos da política de direita e comentadores - sabem do que estão a falar.
Porque todos eles - banqueiros, partidos da política de direita e comentadores - sabem «os sacrifícios que vão ser pedidos aos portugueses».


Meus amigos: temos muito que lutar!

POEMA

O PONTO DE VISTA DO ESPECTADOR


Pensa ele que mereceu
de algum modo a cadeira,
ou pagando ou de borla,
de algum modo adquiriu,
pensa ele, um direito.

Parece-lhe que, sentado,
o que no palco vê apenas
é espectáculo. Num minuto
sairá, poderá historiar
aquilo que fixou, outros
verão através dele, até
talvez o invejem, afinal
foi ele que viu, sim, foi ele
quem esteve lá.

No entanto não sai, algo
o perturba, um dos actores
aponta, e é para ele,
é a ele que já levam pela coxia,
- que rede o envolveu?,
temia todo o gesto, era
um simples espectador -
estava tão quieto, vai
agora para onde, para
o cárcere, para a morgue,
para o segredo que não é
dos deuses...?


Egito Gonçalves

SEGREDO DOS DEUSES

Rui Pedro Soares.
Lembram-se dele?: é aquele jovem, amigo do peito do Sócrates, que uma ascensão profissional fulgurante guindou até à administração da PT, com um dos mais elevados vencimentos na empresa.
Depois, em Fevereiro de 2010, uma coisa chamada Face Oculta obrigou-o a abandonar o alto cargo na PT.

De então para cá, e enquanto o processo Face Oculta aguarda o seu destino fatal - a saber: ou a absolvição de todos os réus por falta de provas, ou o tradicional e pragmático carimbo «arquive-se» - o jovem quadro apareceu ligado ao projecto de criação de um jornal.
Não de um jornal qualquer, igual à generalidade dos jornais de referência que abundam por aí, mas um jornal de esquerda!
E para concretizar o projecto, o ex-administrador da PT chamou a si a experiência, o saber, a superior capacidade de um outro exemplo de ascensão profissional fulgurante: o inimitável Emídio Rangel.
Assim, mais dia menos dia teremos aí, em forma de jornal, digamos assim, a Obra criada por esta notável parelha de esquerda...

Vem tudo isto a propósito de uma notícia hoje divulgada e segundo a qual «Rui Pedro Soares recebeu da PT, em 2010, cerca de 1,2 milhões de euros».
Deve ser engano, pensei, e fiz as contas: se o homem abandonou o cargo de administrador da PT em Fevereiro de 2010 - e, portanto, no ano em questão trabalhou (digamos assim...), dois meses no máximo, como é que a PT lhe pagou essa pipa de massa?
Lida a notícia até ao fim, fez-se-me luz: é que o homem, para além de receber o salário até quando desempenhou funções», teve direito, ainda, a uma indemnização de umas centenas de milhares de euros.

Indemnização?
Porquê?
Juro que não sei.
E penso, mesmo, que se trata de um segredo dos deuses... que é coisa do conhecimento exclusivo de quem pagou e de quem recebeu a dita indemnização...

POEMA

O PRIMEIRO ASTRONAUTA


O primeiro astronauta
devia ter sido
Silvestre José Nhampose

Só ele
teria sacudido os pés
à entrada da Lua

Só ele
teria pedido
com suave delicadeza:
- dá licença?


Mia Couto

UM HOMEM PREVENIDO

Obama formalizou sua recandidatura à presidência dos EUA.
Se tivermos em conta que as eleições só se realizarão em Novembro de 2012, há que reconhecer que Obama começou cedo a tratar do seu futuro...
O que só prova que estamos perante um homem prevenido - a confirmar, aliás, toda a sua acção no decorrer deste primeiro mandato.
Como estamos lembrados, o prevenido Obama, na anterior campanha eleitoral, começou cedo a assumir os seus compromissos, digamos assim, com o eleitorado: desde logo, garantiu o encerramento do campo de concentração de Guantánamo, o fim da prática das torturas, e mais umas quantas medidas de pacificação do Iraque e do Afeganistão...
Tudo isto em arrebatados e aclamados discursos que lhe valeram o Prémio Nobel da Paz - prémio merecido, não apenas pelas promessas não cumpridas, mas também por meritórios actos de paz como foram o golpe fascista nas Honduras, a brutal agressão à Líbia, os apoios incondicionais ao bando de criminosos que governa Israel, etc, etc.


As razões da apresentação da candidatura com tanta antecedência, prendem-se com o facto de isso ser indispensável, à luz da lei norte-americana, para iniciar a campanha de recolha de fundos - questão maior na terra do dólar, onde quem mais dinheiro tiver, mais possibilidades tem de ser eleito...
Para a campanha eleitoral que o sagrou Presidente dos EUA, Obama conseguiu a bonita soma de 750 milhões de dólares.
Desta vez, o seu objectivo é atingir os 1000 milhões de dólares.

E vai conseguir.
Vai conseguir os 1000 milhões e vai conseguir ser re-eleito.
Tanto mais que, como a experiência mostra, era de um Presidente assim que os EUA estavam a precisar: bem visto pela «comunidade internacional», negro (qual racismo, qual carapuça!...), sorridente, de dentes sãos, de esquerda, aberto, inteligente, genial, enfim, com todas as condições para ser aceite como o grande recuperador do prestígio do Império e do seu papel de polícia e dono do mundo.


(Que pensarão de tudo isto as boas almas de esquerda que, na noite em que Obama foi eleito Presidente dos EUA, cantaram, gritaram, não se deitaram, choraram de emoção: eu tive um sonho, eu tive um sonho?... E que desancaram o PCP por ter publicado um comunicado a pôr os pontos nos is?...)

POEMA

CANÇÃO DO MESTIÇO


Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando a cor
no olho alumbrado de quem me vê.

Mestiço!

E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição.

Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:
- mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.

Ah!
Mas eu não me danei...
e muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor!...

Mestiço!

Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
sou negro...

Pois é...


Francisco José Tenreiro

ASSOCIAÇÃO CONQUISTAS DA REVOLUÇÃO

Uma boa notícia:
No passado dia 26, no decorrer de um jantar de confraternização que juntou mais de uma centena de pessoas, militares e civis, na Casa do Alentejo, foi anunciada a criação, para breve, da Associação Conquistas da Revolução.
Trata-se, como o nome indica, de uma Associação que tem «como referência primordial a Revolução de Abril e as suas conquistas históricas, bem como figuras marcantes a ela ligadas, em primeiro lugar o general Vasco Gonçalves».

Insisto: é uma boa notícia.
Com efeito, num tempo em que a política de direita liquidou parte grande das mais importantes conquistas da Revolução de Abril - e, com isso, fez chegar Portugal à dramática situação em que se encontra - assume particular relevância e significado a criação de uma Associação capaz de congregar vontades, forças e disponibilidades de todos os que - homens, mulheres e jovens, militares e civis - se sintam identificados com esse momento luminoso da nossa história colectiva que foi a Revolução de Abril, as suas conquistas revolucionárias e o projecto de futuro que elas comportam.

No decorrer do jantar foi anunciada a realização, em data a marcar, da Assembleia Constitutiva da Associação Conquistas da Revolução, bem como várias outras iniciativas, tais como: «a participação organizada nas Comemorações Populares do 25 de Abril e na Manifestação do 1º de Maio; a comemoração de outras datas relevantes do processo revolucionário; o assinalar do 90º aniversário do nascimento do general Vasco Gonçalves e a realização de uma Romagem ao túmulo do Companheiro Vasco, no dia 11 de Junho, pelas 11 horas».


(quem quiser inscrever-se na Associação deve fazê-lo através do seguinte endereço electrónico: conquistasdarevolucao@gmail.com)

POEMA

CELA 1


Aqui estou neurasténico
como um cão
danado a lamber a salgada
crosta das velhas feridas.

E em que língua
e com que rosto
aos meus filhos órfãos de pai
eu vou dizer que se esqueçam?


José Craveirinha

HÁ 35 ANOS

Em 2 de Abril de 1976, a Assembleia Constituinte aprovou a Constituição da República Portuguesa - um dos mais belos textos da Língua Portuguesa.

A Constituição de Abril, consagrando todas as grandes conquistas da Revolução - a Reforma Agrária, as Nacionalizações, o Controlo Operário, os direitos dos trabalhadores, a independência e a soberania nacionais - consagrou o regime democrático saído da Revolução.

De então para cá, a Constituição foi um alvo preferencial das forças da contra-revolução.
Pode dizer-se que a ofensiva contra a Lei Fundamental do País começou no próprio dia em que ela foi aprovada.
Até hoje, nenhum governo a cumpriu e todos a desrespeitaram e violaram sistematicamente.
Até hoje, nenhum Presidente da República cumpriu o juramento feito em acto de posse de «defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa».
Ou seja: desde 1976, todos os governos e todos os presidentes da República têm agido fora da Lei Fundamental do País - o que é bem elucidativo sobre a natureza e o carácter da democracia burguesa dominante.

Nestes 35 anos, a Constituição foi submetida a sete revisões - todas elas roubando-lhe conteúdo democrático; todas elas roubando-lhe pedaços de Abril; todas elas aprovadas pelos partidos da contra-revolução: PS, PSD e CDS.
Apesar disso, a Lei Fundamental do País mantém-se como conquista da Revolução e como referência essencial para os trabalhadores portugueses, para todos os homens e mulheres de Abril.

Para os trabalhadores, para as populações, para todas as forças que se batem contra a política de direita e por uma política de esquerda, a Constituição da República continua a constituir uma importante bandeira de luta.

POEMA

MARCHA


Lá vem o cortejo
pela rua fora
tocando os seus gritos
de que está na hora.
Estremecem vidraças
tremem os portões
na casa da praça
e a velha transida
com medo da morte
por medo da vida
lá vai aos baldões
estreitar-se ao pescoço
do seu cão de caça.

Vêm baionetas
correndo em tropel
mais metralhadoras
gargalhando triste
e tinta a granel
de mangueira em riste.
Lá vêm a passo
os lacrimogéneos
os arquimausgénios
capacetes de aço.
Lá vêm em bicha
defender vidraças
defender portões
defender a praça
defender a velha
defender o cão
defender a caça.

E viva o poeta
que tem tanta graça.


Francisco Viana

PROTEGER CIVIS É O QUE ESTÁ A DAR...

Na Líbia, os EUA, a Grã-Bretanha, a França, etc, prosseguem a sua «humanitária» tarefa de «proteger civis»...
Fazem-no como sabem: com aquele saber que adquiriram graças a uma vasta e longa experiência: bombardeando, destruindo, matando: matando civis...
E, como não podia deixar de ser, são entusiasticamente aplaudidos pelos média dominantes, que não se cansam de louvar a «humanitária» tarefa.

Todavia, a ânsia libertadora do imperialismo norte-americano não se esgota naquela região do mundo: os mil olhos do Império, inexoráveis, fixam todos os cantos e recantos do Planeta onde a «democracia, a liberdade e os direitos humanos» não são respeitados - e onde, portanto, se impõe a «protecção dos civis»...

Exemplos disso, temo-los todos os dias e aqui fica um.
«Derrubar Governos é Constitucional»: eis a curiosa designação adoptada por uma organização norte-americana que, patrocinada pelo Governo de Obama, tem como objectivo principal «deter a expansão dos fundamentos castro-comunistas que se instalaram em países como Bolívia, Equador, Nicarágua e Venezuela»...

A curiosa organização levou por diante recentemente, nos EUA, uma não menos curiosa iniciativa: um Fórum subordinado ao tema «Antídoto para o Socialismo do Século XXI» - no decorrer do qual vários «especialistas» na matéria opinaram sobre os caminhos para derrubar os governos daqueles quatro países.

Um dos oradores - naturalmente muito aplaudido - foi o hondurenho Micheletti - o tal que, em estreita colaboração com o Governo de Obama, concretizou o golpe que, em Junho de 2009, derrubou o presidente legítimo das Honduras, Manuel Zelaya, e instalou uma ditadura fascista.
Tratou-se, como é sabido, de um golpe cujo objectivo principal foi o de... «proteger civis», e que, de então para cá, não tem feito outra coisa, prendendo, torturando, matando civis - e assim os protegendo das ameaças do «Socialismo do Século XXI»...

Na sua intervenção, Micheletti deu e exemplo das Honduras como exemplo a seguir nos outros países, tanto mais que, garantiu, «derrubámos o governo de Zelaya utilizando a Constituição do país»...
E acrescentou: «Nós fizemos, nas Honduras, o que infelizmente ainda não pôde ser feito na Nicarágua, na Bolívia, no Equador, na Venezuela».

E nas Honduras a «protecção de civis» prossegue: a repressão sobre os professores em luta, provocou, no mês de Março, um morto, 40 feridos e mais de uma centena de detidos...

POEMA

PARA VÓS O MEU CANTO...


Para vós o meu canto, companheiros da vida!
Vós, que tendes os olhos profundos e abertos,
vós, para quem não existe batalha perdida,
nem desmedida amargura,
nem aridez nos desertos;
vós que modificais um leito dum rio;

- nos dias difíceis sem literatura,
penso em vós: e confio;
penso em mim e confio;

- para vós os meus versos, companheiros da vida!

Se canto os búzios, que falam dos clamores,
das pragas imensas lançadas ao mar
e da fome dos pescadores,
- penso em vós, companheiros,
que trazeis outros búzios para cantar...

Acuso as falas e os gestos inúteis;
aponto as ruas tristes da cidade
e crivo de bocejos as meninas fúteis...

Mas penso em vós e creio em vós, irmãos,
que trazeis ruas com outra claridade
e outro calor no apertar das mãos.

E vou convosco. - Definido e preciso,
erguido ao alto como um grito de guerra,
à espera do Dia do Juízo...

Que o Dia do Juízo
não é no céu... é na Terra!


Sidónio Muralha

ÁLVARO CUNHAL

Em 31 de Março de 1961 - faz hoje cinquenta anos - o Comité Central do PCP elegeu ÁLVARO CUNHAL secretário-geral do Partido.

Nos dezanove anos que se seguiram à morte de Bento Gonçalves, no Tarrafal (1942), o Partido não teve secretário-geral. E, se se tiver em conta que Bento Gonçalves passou os seus últimos seis anos de vida na prisão, pode dizer-se que o PCP não teve secretário-geral no exercício das suas funções durante 25 anos.

A não existência de um secretário-geral durante um tão longo período de tempo - porque se considerou que, nas condições concretas existentes à altura, era difícil e inconveniente a escolha de um camarada para esse cargo - viria a ter profundas e positivas consequências na evolução do trabalho de direcção, na medida em que contribuiu decisivamente para a criação, a prática e a ulterior institucionalização da direcção colectiva e do trabalho colectivo.
De tal forma que a decisão tomada em 1961 de eleger um secretário-geral não mudou as tarefas e responsabilidades individuais de qualquer dos membros da direcção do Partido.
Tão pouco mudou, antes contribuiu para o seu aprofundamento, os métodos de trabalho colectivo, conceito nascido no decorrer de um longo processo iniciado com a reorganização de 40-41; ampliado e aprofundado nos III e IV Congressos (1943 e 1946) e desenvolvido ao longo dos anos - e que foi ponto de partida para a construção de um outro conceito dele decorrente: o de «colectivo partidário».

Nessa importante reunião de 31 de Março de 1961, o Comité Central procedeu, também, a uma profunda análise ao trabalho de direcção central nos anos anteriores e submeteu a uma severa crítica o desvio de direita que se verificara em vários campos da sua acção no período de 1956-1959.
Tudo isto era o culminar do amplo debate ideológico travado em todo o Partido durante o ano de 1960 - na sequência da fuga de Peniche - e tendo como base dois importantes trabalhos de ÁLVARO CUNHAL: «A Tendência Anarco-Liberal na Organização do Trabalho de Direcção» e «O Desvio de Direita no Partido Comunista Português nos Anos de 1956/1959» (Obras Escolhidas, II Tomo)
O impulso gerado pela correcção colectiva do desvio de direita teve imediatas repercussões positivas na acção, na dinâmica e no conteúdo da intervenção do Partido.

ÁLVARO CUNHAL foi secretário-geral do Partido até 1992.
Ele foi o mais destacado obreiro da construção colectiva que é o Partido Comunista Português.

POEMA

CANÇÃO DE GUERRA


Aos fracos e aos covardes
não lhes darei lugar
dentro dos meus poema.
Covarde já eu sou.
Fraco, já o sou demais,
e se entre fracos for
me perderei também.

Quero é gente animosa
que olhe de frente a Vida,
que faça medo à Morte.
Com esses quero ir,
a ver se me convenço
de que também sou forte.
Quero vencer os medos...
Vencer-me - que sou poço
de estúpidos terrores,
de feminis fraquezas.
Rir-me das sombras, rir-me
das velhas ondas bravas,
rir-me do meu temor
do que há-de acontecer.

Venham comigo os fortes...
Façam-me ter vergonha
das minhas cobardias.
E de seus actos façam
(seus actos destemidos)
chicotes prós meus nervos.
Ganhe o meu sangue a cor
das tardes das batalhas.
E eu vá - rasgue as cortinas
que velam o Porvir.
Vá - jovem e confiado,
cumprindo o meu destino
de não ficar parado.


Sebastião da Gama

VAMOS A ISSO

Vamos, então, para eleições.
Serão em fins de Maio, princípios de Junho.
O vencedor já está decidido: ou é o PS ou é o PSD.
O Sistema não brinca em serviço e é especialista em eleições, ou seja, em assegurar previamente que elas sejam ganhas por quem fez juramento de fidelidade canina e eterna ao Sistema.

O vencedor das eleições, seja um ou outro daqueles dois partidos, vai prosseguir a política de direita que ambos vêm fazendo, à vez, há 35 anos.
Porque, como dizem os analistas de serviço no seu linguajar típico, «os sacrifícios são para continuar ou mesmo aumentar», «é inevitável» que assim seja. blá-blá-blá.

Isto é:
se o PS voltar a ser governo, os salários vão baixar ainda mais; as reformas e pensões, também; os impostos vão subir ainda mais; o desemprego, também, etc, etc, etc.
se o PSD for governo, os salários vão baixar ainda mais; as reformas e pensões, também; os impostos vão subir ainda mais; o desemprego, também, etc, etc, etc.
E quer o futuro governo seja PS, quer seja PSD, quer seja PS/PSD, quer seja PSD/CDS, quer seja PS/PSD/CDS, os grandes grupos económicos e financeiros vão aumentar ainda mais os seus já fabulosos lucros.

Estamos, portanto, a dois meses de umas eleições gerais que, a bem do Sistema, têm como objectivo principal assegurar que tudo continue na mesma - mudando as moscas, apenas. Ou nem isso...

Quer isto dizer que, para as forças de esquerda, e particularmente para o PCP, não vale a pena travar esta batalha eleitoral?
Bem pelo contrário: a meu ver, os comunistas devem participar intensamente nesta batalha eleitoral e desenvolver todos os esforços no sentido de reforçar a sua votação - sempre com a consciência de que se trata de uma batalha travada no terreno armadilhado do inimigo de classe e num quadro de profunda disparidade de meios e de forças: o quadro que garante, previamente, a vitória de um dos partidos do Sistema.

Porquê, então, a participação dos comunistas numa batalha cujo vencedor está previamente decidido?
Porque se trata de uma batalha que, para os comunistas, é parte integrante da luta de massas.
Porque quanto mais forte for a expressão eleitoral do PCP, maior será o número de deputados no Parlamento a defender os interesses dos trabalhadores, do povo e do País.
E mais forte será a luta de massas no futuro imediato.
E é a luta de massas que acabará por derrotar a política de direita e impor uma política de esquerda.

Fazer uma grande campanha eleitoral - e, ao mesmo tempo, manter acesa e forte a luta das massas trabalhadoras - é a grande tarefa do momento.
Vamos a isso.

POEMA

BALADA DO QUE NUNCA FOI A GRANADA


Que longe por mares, campos e montanhas!
Outros sóis já olham minha cabeça branca.
Nunca fui a Granada.

A minha cabeça branca, os anos perdidos.
Quero encontrar os velhos, apagados caminhos.
Nunca vi Granada.

Dai à minha mão um ramo verde de luz.
Um rédea curta e um galope largo.
Nunca entrei em Granada.

Que gente inimiga povoa os seus adarves?
Quem os claros ecos livres dos seus ares?
Nunca fui a Granada.

Quem hoje os seus jardins aprisiona e põe
cadeias à fala dos seus repuxos?
Nunca vi Granada.

Vinde, vós que nunca fostes a Granada.
Há sangue caído, sangue que me chama.
Nunca entrei em Granada.

Há sangue caído do melhor dos irmãos.
Sangue nos mirtos e na água dos pátios.
Nunca fui a Granada.

Do melhor amigo, há sangue nas murtas.
Sangue no Darro, sangue no Genil.
Nunca vi Granada.

Se altas são as torres, é alta a coragem.
Vinde por montanhas, por mares e campos.
Entrarei em Granada.


Rafael Alberti

CUIDADO, ELES ANDAM POR AÍ!

Informa o Público que o último número do Boletim do «Centro de Recursos em Conhecimento do Instituto de Segurança Social» recomenda aos seus leitores a participação num «banquete de celebração dos 122 anos do nascimento de Salazar».
Para mais informações sobre o banquete, o Boletim remete para um site da organização fascista que promove a iniciativa.

A coordenadora do Centro de Recursos em Conhecimento do ISS, de seu nome Mónica Baptista, explica assim a inclusão desta «sugestão» na agenda do Boletim e a divulgação do site:
«Foi-nos enviada esta informação e divulgámos. E aquele foi o link fornecido para completar a informação» - isto, não obstante reconhecer que se trata de matéria que «nada tem a ver com o âmbito das competências do Centro»...

E desvalorizando o caso - ou seja: dando de barato o facto de o Boletim de que é responsável estar a divulgar uma iniciativa que tem como objectivo homenagear o ditador que durante quase meio século oprimiu e reprimiu brutalmente Portugal e os portugueses - a senhora coordenadora acrescentou:
«Para nós não tem interesse, mas uma vez que nos foi solicitado achámos bem (divulgar o banquete). Estamos em democracia e as pessoas podem seleccionar aquilo que mais lhes interessa»...

Sem comentários.
Apenas com um alerta que, aliás, é recorrente aqui no Cravo de Abril:
Cuidado, eles andam por aí!

POEMA

SOLIDARIEDADE


Vamos, dêem as mãos.

Porquê esse ar de desconfiança?
esse medo, essa raiva?
Porquê essa imensa barreira
entre o EU e o NÓS na natural conjugação do verbo ser?

Vamos, dêem as mãos.

Para quê esses bons-dias, boas-noites,
se é um grunhido apenas e não uma saudação?
Para quê esse sorriso
se é um simples contrair de pele e nada mais?

Vamos, dêem as mãos.

Já que a nossa amargura é a mesma amargura,
já que a miséria para nós tem as mesmas sete letras,
já que o sangrar dos nossos corpos é o vergão da mesma chicotada,
fiquemos juntos,
sejamos juntos.

Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo, essa raiva?

Vamos, dêem as mãos.


Mário Dionísio

«INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA»...

Furando a cerrada malha da rede de desinformação organizada veiculada pelos média dominantes, começam a chegar as primeiras notícias sobre o que, de facto, está a acontecer na Líbia.

Por detrás de expressões como «intervenção humanitária para proteger civis», «bombardeamentos cirúrgicos», «danos colaterais mínimos ou inexistentes», «bombas inteligentes» - e outros exemplos da suprema e criminosa hipocrisia dos Obama, Cameron, Sarkozy & CIA - esconde-se um brutal acto de guerra em que o vale-tudo é lei.

Na verdade, as «bombas inteligentes» sabem ao que vão: elas destroem depósitos de combustíveis e de produtos tóxicos, pontes, portos, edifícios públicos, quartéis, fábricas, centrais eléctricas, sedes de televisões e de jornais.
Ou seja: destroem sistematicamente a infra-estrutura produtiva da Líbia e a sua rede de comunicações.
E matam. Inteligentemente...

Os «bombardeamentos cirúrgicos exclusivamente sobre instalações militares», destruíram bairros residenciais e um hospital, em Tripoli - e duas clínicas de Ain Zora (localidade onde não existia uma única instalação militar, um único blindado, uma única arma) foram completamente arrasadas.

O «bombardeamento humanitário» sobre Ajdabya traduziu-se em centenas da casas de habitação destruídas, numa matança cruel de pessoas inocentes.


Entretanto, os média dominantes - jornais, rádios, televisões - escrevem mais uma página negra da sua negra história: escondendo o que se passa e divulgando o que não se passa, mentindo, desinformando, assumem-se como porta-vozes dos criminosos e das patranhas com que estes pretendem transformar as barbaridades que cometem em meritórias acções humanitárias.
São cúmplices do crime.

A monstruosa agressão à Líbia - que, não esqueçamos, possui as maiores reservas de petróleo e de gás da África... - constitui mais um passo da escalada do imperialismo norte-americano no seu objectivo de domínio do planeta.
Provavelmente, seguir-se-á a Síria. E... e...

... e só a luta dos povos conseguirá travar esta caminhada infernal.
E pôr fim à barbárie.

POEMA

CANÇÃO DO PEDAÇO DE ESPERANÇA


Sou operário da pena.
Outros o são da enxada,
do martelo.

Que cada um crie
com a sua ferramenta um pedaço
de esperança.


Jesus Lopez Pacheco

UM SER ABJECTO

Há tempos, a propósito da relembrança de um daqueles múltiplos episódios soaristas que evidenciam a natureza, o carácter, o sentido da intervenção política de Mário Soares,
comprometi-me a ir recordando aqui alguns desses episódios - episódios que, como na altura sublinhei, não constituem qualquer novidade para os visitantes do Cravo de Abril, mas que, em meu entender, é bom ir recordando... para não os esquecermos...

Em 26 de Abril de 1997, um jornalista da TSF pergunta a Soares se «Álvaro Cunhal merece a Ordem da Liberdade».
Soares responde que «Não» - e explica porquê: «Porque os comunistas lutaram contra a ditadura, mas não pela liberdade».
E, prosseguindo na explicação: «Os comunistas lutaram pela liberdade deles. Eram liberticidas»...

Pergunta o jornalista: «E o seu amigo Frank Carlucci, que Ordem é que merece?»
Responde Soares: «Certamente merece uma Ordem. O Carlucci bateu-se pela liberdade, e os comunistas, que vivem em total liberdade, devem um pouco esse facto ao contributo que Carlucci deu para isso»...

Sobre o relacionamento entre os dois, diz Soares:
«Com a repetição dos encontros, tornámo-nos amigos»
E diz Carlucci: «Mário Soares telefonava-me praticamente todos os dias»
E diz Soares: «Carlucci convidava-me com alguma frequência para almoçar com ele no zimbório que existe no quinto andar da embaixada, onde ele estava seguro de não haver microfones e de poder falar à vontade»...

E foi certamente tendo em conta este relacionamento íntimo e estreito que Balsemão escolheu Carlucci para, em 1996, entregar a Soares o «Globo de Ouro», na categoria «Carreira», instituído pela SIC...

Enfim, é a desvergonha à solta - a confirmar o ser abjecto que é Mário Soares.

POEMA

ITINERÁRIO


Os milhares de anos que passaram viram
a nossa escravidão.

NÓS carregámos as pedras das pirâmides,
o chicote estalou,
abriu rios de sangue no nosso dorso.
NÓS empunhámos nas galés dos césares
os abomináveis remos
e o chicote estalou de novo na nossa pele.
A terra que há milhares de anos arroteámos
não é nossa,
e só NÓS a fecundamos!
E quem abriu as artérias? quem rasgou os pés?
quem sofreu as guerras? quem apodreceu ao abandono?

E quem cerrou os dentes, quem cerrou os dentes
e esperou?

Spartacus voltará: milhões de Spartacus!

Os anos que aí vêm hão-de ver
a nossa libertação.


Papiniano Carlos

HISTÓRIA TRÁGICO-MARÍTIMA

«Portugal está de tal forma descredibilizado financeiramente que poderá estar em preparação (na Europa) um plano de salvamento».
Onde está «plano de salvamento», leia-se plano de afundamento total...

«Vários especuladores - muitos dos que têm ganho bastante dinheiro a negociar a dívida pública nacional - apostam que o plano de salvamento pode ser anunciado já no próximo domingo».
Se eles apostam...

«Seja qual for o governo em funções, Portugal vai ter de cumprir os compromissos assumidos em Bruxelas» (Ângela Merkel)

Não se preocupe, senhora Merkel, o «governo em funções», seja ele qual for, seja ele do PS ou do PSD, vai cumprir todos os compromissos já assumidos e mais os que, daqui até lá, irá assumir.

Em matéria de afundamento de Portugal, os dois partidos que chefiaram os «governos em funções» nos últimos 35 anos, pedem meças um ao outro.
São, de facto, os dois grandes heróis desta história trágico-marítima dos tempos modernos que é a política de direita.

POEMA

HOMEM COM ESPERANÇA


Acabaremos algum dia, talvez amanhã,
com as palavras inúteis e bonitas,
com o tinir da porcelana fina,
e com as marionetes de escuras cores.
E ensinaremos aos nosso filhos, paridos sem dor,
o como e o porquê da cada coisa,
e deixamo-los ir para a rua, sem medo,
e brincarão a construir povos.
E tocarão na terra,
e fá-la-ão sua e de todos,
e escreverão, com novas palavras,
novas leis, nova história e nova vida.
Também virá um barco de ágil vela,
esquivando tempestades e altivas rochas,
e levará todo o ouro da terra, mitos e falsos deuses,
e deixar-nos-á quedo o mar e uma pequena barca.
Com ela iremos saudar os povos,
às costas uma mochila com ferramentas e livros,
nos olhos um brilho de alegria,
e a esperança nos homens e nos dias.


Joaquim Horta
(poeta catalão)

LUTAR SEMPRE!

Dos jornais:
«O chumbo do PEC IV levará à demissão do Governo».

E (se chumbar) por que é que o PEC irá chumbar?
Porque o PSD não está de acordo com ele?
Não: porque o PSD quer aproveitar a oportunidade para substituir o PS no Governo e ir fazer o que sempre fez quando lá esteve - que é o mesmo que o PS sempre tem feito.
Com PEC ou com FMI, que é outra forma de dizer o mesmo.

Entretanto, estão aí a chegar as «medidas» decretadas pelo Conselho Europeu - «medidas» com as quais tanto o PS como o PSD estão de acordo, porque constituem uma autêntica declaração de guerra aos trabalhadores e aos povos: nova ofensiva contra os salários, aumento da idade da reforma, perda da soberani e da independência, institucionalização do capitalismo na sua versão neoliberalista, etc, etc, etc.

Tudo isto a confirmar que o que é necessário é derrotar a política de direita que o PS e o PSD (de vez em quando com o CDS/PP) têm vindo a aplicar desde há 35 anos.

E, para isso, é preciso lutar.
Lutar muito.
Com determinação e confiança.
Lutar muito.
Sem impaciências.
Lutar muito.
Trazer à luta novos segmentos da sociedade.
Lutar muito.

LUTAR SEMPRE!