Por razões imperativas tive que passar, ao fim da tarde de hoje, pela Avenida da Liberdade.
Má sorte a minha!: caí num engarrafamento monstruoso, como há muito tempo não me acontecia; cheguei atrasadíssimo ao meu destino; irritei-me.
E pior fiquei quando me apercebi que, para sair dali, no regresso, teria que passar pelo mesmo calvário - como veio a acontecer.
Muito pior fiquei quando me apercebi que as razões do engarrafamento se prendiam com o facto de as faixas centrais da Avenida estarem, nos dois sentidos, fechadas ao trânsito automóvel - que apenas circulava pelas laterais - e que tal sucedia (segundo a prestimosa informação prestada por um dos muitos polícias ali de serviço) «por causa do mega-pic-nic do Continente».
Quis saber mais e soube que, pela mesma mega-pici-nical razão, já ontem assim foi e assim será - para pior - amanhã e sábado, dia da mega-coisa.
Ora (pensei para mim), isto de a Câmara Municipal de Lisboa, presidida pelo dr. António Costa, decidir cortar o trânsito, por quatro dias, na Avenida da Liberdade - artéria principal da capital do País - para a organização de uma acção de propaganda de uma empresa privada, é coisa nunca vista - é coisa de espantar, mesmo neste tempo em que as razões para espantos por tais megas-coisas quase deixaram de existir.
Depois pensei melhor e fez-se-me luz: lembrei-me que Continente é Belmiro e Belmiro é o que é: um dos dos donos disto tudo, razão pela qual os seus desejos são ordens para qualquer presidente de Câmara ou de República; para qualquer primeiro (ou segundo, ou terceiro...) ministro - ou para qualquer outro dos seus fiéis servidores.
E não me admirarei nada (já não há nada que me faça admirar...) se, no sábado, a multidão presente ouvir do apresentador do espectáculo qualquer mega-coisa deste tipo: «E agora, senhoras e senhores, connosco!, Belmiro, o mega-dono-disto-tudo!».
E se assim for, é bem provável que entre a assistência, em lugar de honra, esteja o primeiro-ministro-quase-indigitado - aproveitando para pagar, publicamente, a visita que o patrão lhe fez num comício de campanha eleitoral...
E agora?
Bom, agora, é só esperarmos pela próxima pancada:
É bem provável que, mais dia menos dia, a Avenida seja transformada numa mega-superfície-comercial...
E é mais do que provável a privatização da Liberdade.
8 comentários:
Algumas "liberdades" já se pagam bem...
Abraço.
O pior disto tudo é que a avenida que é da NOSSA LIBERDADE vai mesmo estar cheia por causa de uma sandocha e uma bejeca que vão dar como almoço... e para ouvir a música do rei pimba...
Que chateação!
Um beijo grande.
uma vergonha sem limites. o mais grave é que até me pareceu que as pessoas presas nos carros aceitam melhor aquela palhaçada do que, por exemplo, uma manifestação política que lhes prejudique a habitual fluência no tráfego urbano. pelo menos, enquanto estive naquelas filas, não ouvi ninguém protestar.
mas pronto, é tudo pela produção nacional...
Já não tenho pachorra para assistir a tanta hipocrisia politica, apadrinhada pela Câmara de Lisboa.
Um abraço.
Se (pelo menos) aqueles que já foram prejudicados e os que virão ainda a ser com esta vergonha se juntassem e deixassem de gastar um cêntimo que fosse no Continente, podia ser que o "dono disto tudo" começasse a pensar que não estava no bom caminho.
Eu abomino tanto o homem, que só quando não tenho opção é que compro no Continente.
samuel: as «liberdades» estão caras...
Um abraço.
Maria: isto faz-me lembrar aquele poema, dito pelo Villaret, quando começaram a abrir os buracos na Avenida para a construção do Metro: «cavaram, furaram, abriram um buraco e foi-se a liberdade»...
Um beijo grande.
pedras contra canhões: eu também não ouvi protestos mas os jornais dizem que ouve muitos...
Um abraço.
joão l.henrique: se o Zé fazia falta o que dizer do Costa?...
Um abraço.
Eduardo Miguel Pereira: o problema e que ele nunca pensará que não está no bom caminho - a não ser que o negócio lhe dê prejuízos... eu, felizmente, não tenho nenhum Continente aqui perto... mas tenho um pingo doce...
Um abraço.
Eu bem ouvia falar no mega pic-nic do Continente ,a loja do Sr.Belmiro, como lhe chamava o saudoso dr. Emílio Peres.
Mas usar para isso a Avenida da Liberdade é demais. Já não aguento!!
Como podemos nós ficar indiferentes?
De revoltada passo a revoltada e resistente. Nós já vivemos na clandestinidade.
Um beijo, com muita angústia.
Graciete Rietsch: resistentes, revoltados e firmes na luta.
Um beijo.
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