ANTRO - 1966
Este é o Homem de Java,
o Pitecantropo,
há uns 600 mil anos!
Este é o Homem de Neanderthal,
há 60 a 70 mil anos!
Este é o Homem-Sequestrado
há já quarenta anos.
Francisco Viana
PARA QUE NUNCA MAIS SEJA TARDE
«Vi lá vários dirigentes partidários» - disse Sócrates, comentando imagens da manifestação dos professores.
E fê-lo ostentando aquele seu peculiar jeito ameaçador, de polícia político à espera da oportunidade para passar à acção...
Há umas semanas atrás, Sócrates viu vários dirigentes dos sindicatos dos professores na lista da CDU e produziu igual reparo censório, igualmente carregado de ameaças...
Os média dominantes dão notícia destas visões de Sócrates, sem comentários.
E os comentadores com lugar cativo nos média dominantes, também não comentam.
Para uns e para outros, se o alvo do ataque é o PCP, está tudo bem e... toma lá que é democrático...
E assim continuarão a fazer se, um dia destes, Sócrates, abusando da maioria absoluta de que dispõe, passar das ameaças aos actos, por exemplo: proibindo os dirigentes partidários de serem sindicalistas e proibindo os sindicalistas de serem candidatos eleitorais (da CDU, obviamente) - e condenando-os se não obedecerem.
É assim a democracia deles: longe, tão cada vez mais longe!, da democracia de Abril - e tão cada vez mais perto da «democracia orgânica» do antigamente...
E é também isto que está em jogo nas eleições do próximo domingo.
Parafraseando um célebre poema:
Primeiro, levaram os comunistas; mas eu não era comunista e não me importei.
Depois, levaram os sindicalistas; mas eu não era sindicalista e não me importei...
Agora, é tarde...
Pois: é bom que se importem - que nos importemos todos - antes que seja tarde.
E as eleições de 7 de Junho constituem uma excelente oportunidade para que, com o voto na CDU - e com Abril de novo - nunca mais seja tarde.
E fê-lo ostentando aquele seu peculiar jeito ameaçador, de polícia político à espera da oportunidade para passar à acção...
Há umas semanas atrás, Sócrates viu vários dirigentes dos sindicatos dos professores na lista da CDU e produziu igual reparo censório, igualmente carregado de ameaças...
Os média dominantes dão notícia destas visões de Sócrates, sem comentários.
E os comentadores com lugar cativo nos média dominantes, também não comentam.
Para uns e para outros, se o alvo do ataque é o PCP, está tudo bem e... toma lá que é democrático...
E assim continuarão a fazer se, um dia destes, Sócrates, abusando da maioria absoluta de que dispõe, passar das ameaças aos actos, por exemplo: proibindo os dirigentes partidários de serem sindicalistas e proibindo os sindicalistas de serem candidatos eleitorais (da CDU, obviamente) - e condenando-os se não obedecerem.
É assim a democracia deles: longe, tão cada vez mais longe!, da democracia de Abril - e tão cada vez mais perto da «democracia orgânica» do antigamente...
E é também isto que está em jogo nas eleições do próximo domingo.
Parafraseando um célebre poema:
Primeiro, levaram os comunistas; mas eu não era comunista e não me importei.
Depois, levaram os sindicalistas; mas eu não era sindicalista e não me importei...
Agora, é tarde...
Pois: é bom que se importem - que nos importemos todos - antes que seja tarde.
E as eleições de 7 de Junho constituem uma excelente oportunidade para que, com o voto na CDU - e com Abril de novo - nunca mais seja tarde.
POEMA
O TEMPO É NOSSO
Espancaste-me.
Cegaste-me.
Olho por olho? dente por dente?
Talião perdeu a pena
que embora cheia de penas
o tempo é nosso, da nossa gente.
E mal na noite que dura
a dura dor permanece
já a canção amanhece.
Francisco Viana
Espancaste-me.
Cegaste-me.
Olho por olho? dente por dente?
Talião perdeu a pena
que embora cheia de penas
o tempo é nosso, da nossa gente.
E mal na noite que dura
a dura dor permanece
já a canção amanhece.
Francisco Viana
QUAL É A ABU GHRAIB QUE SE SEGUE?
Sabe-se que há mais de 2 000 fotografias tiradas na prisão de Abu Ghraib, entre 2001 e 2005, documentando os horrores praticados por soldados dos EUA sobre prisioneiros iraquianos: torturas, violações, abusos sexuais - e confirmando que as atrocidades cometidas pelos soldados norte-americanos no Iraque foram muito mais e mais graves do que se imaginava.
Divulgar ou não divulgar essas fotografias: eis a questão que se coloca ao governo do país responsável pelas barbaridades praticadas.
O Presidente Obama acha que não, e tem feito tudo para impedir a publicação das referidas fotografias.
Não porque não condene e lamente tais horrores, entenda-se: claro que condena!; claro que lamenta!; ou não fosse ele o transportador da onda de «mudança» graças à qual se catapultou para a presidência do mais poderoso país do mundo.
Só que, argumenta Obama, a publicação de tais fotografias viria agravar o sentimento anti-norte-americano provocado pela invasão, destruição e ocupação do Iraque; viria enegrecer a imagem dos EUA aos olhos do mundo - e isso, não!, isso não pode ser!, a imagem dos EUA é intocável!: é a imagem que todos os dias chega aos mais recônditos recantos do planeta: pátria da liberdade, da democracia e da paz; pátria onde, como pode confirmar quem ler as suas leis, a tortura é expressamente proibida e os direitos humanos são integralmente respeitados; pátria que é modelo a seguir por todos os países...
Ou seja: Obama condena e lamenta as barbaridades que os militares do seu país praticaram - mas, a bem da imagem fabricada do seu país, quer esconder bem escondidas as provas dessas barbaridades...
Há que convir que se trata de uma estranha forma de condenação e de lamento - tão estranha que dá vontade de perguntar: qual é a Abu Ghraib que se segue?...
Divulgar ou não divulgar essas fotografias: eis a questão que se coloca ao governo do país responsável pelas barbaridades praticadas.
O Presidente Obama acha que não, e tem feito tudo para impedir a publicação das referidas fotografias.
Não porque não condene e lamente tais horrores, entenda-se: claro que condena!; claro que lamenta!; ou não fosse ele o transportador da onda de «mudança» graças à qual se catapultou para a presidência do mais poderoso país do mundo.
Só que, argumenta Obama, a publicação de tais fotografias viria agravar o sentimento anti-norte-americano provocado pela invasão, destruição e ocupação do Iraque; viria enegrecer a imagem dos EUA aos olhos do mundo - e isso, não!, isso não pode ser!, a imagem dos EUA é intocável!: é a imagem que todos os dias chega aos mais recônditos recantos do planeta: pátria da liberdade, da democracia e da paz; pátria onde, como pode confirmar quem ler as suas leis, a tortura é expressamente proibida e os direitos humanos são integralmente respeitados; pátria que é modelo a seguir por todos os países...
Ou seja: Obama condena e lamenta as barbaridades que os militares do seu país praticaram - mas, a bem da imagem fabricada do seu país, quer esconder bem escondidas as provas dessas barbaridades...
Há que convir que se trata de uma estranha forma de condenação e de lamento - tão estranha que dá vontade de perguntar: qual é a Abu Ghraib que se segue?...
POEMA
SOLIDARIEDADE
Vamos, dêem as mãos.
Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse ,medo, essa raiva?
Porquê esssa imensa barreira
entre o Eu o Nós na natural conjugação do verbo ser?
Vamos, dêem as mãos.
Para quê esses bons-dias, boas-noites,
se é um grunhido apenas e não uma saudação?
Para quê esse sorriso
se é um simples contrair de pele e nada mais?
Vamos, dêem as mãos.
Já que a nossa amargura é a mesma amargura,
já que a miséria para nós tem as mesmas sete letras,
já que o sangrar dos nossos corpos é o vergão da mesma chicotada,
fiquemos juntos,
sejamos juntos.
Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo, essa raiva?
Vamos, dêem as mãos.
Mário Dionísio
Vamos, dêem as mãos.
Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse ,medo, essa raiva?
Porquê esssa imensa barreira
entre o Eu o Nós na natural conjugação do verbo ser?
Vamos, dêem as mãos.
Para quê esses bons-dias, boas-noites,
se é um grunhido apenas e não uma saudação?
Para quê esse sorriso
se é um simples contrair de pele e nada mais?
Vamos, dêem as mãos.
Já que a nossa amargura é a mesma amargura,
já que a miséria para nós tem as mesmas sete letras,
já que o sangrar dos nossos corpos é o vergão da mesma chicotada,
fiquemos juntos,
sejamos juntos.
Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo, essa raiva?
Vamos, dêem as mãos.
Mário Dionísio
É DE HOMEM!
O facto de a demissão de Dias Loureiro do Conselho de Estado ter ocorrido na sequência da audição de Oliveira e Costa no Parlamento, é digno de registo.
Não tanto porque Oliveira e Costa tenha produzido revelações sensacionais: na verdade, ele não disse praticamente nada de novo, podendo dizer-se, até, que quase tudo o que revelou já tinha sido objecto de notícias em vários jornais no decorrer dos últimos meses.
O que, na realidade, é novo é a postura de Oliveira e Costa em relação a Dias Loureiro, este seu passar ao ataque (ou ameaçar fazê-lo...), visto que a sua ida ao Parlamento foi como que a afirmação pública de que não está disposto a ser o único culpado e que, se for caso disso, revelará... tudo o que sabe.
Que é muito, certamente. Que envolverá outros, certamente.
(E que, por isso mesmo, provavelmente nunca virá a ser integralmente revelado...)
Ora tudo leva a crer que, isto digo eu, mais do que tudo, foi este aviso que levou Dias Loureiro a demitir-se do Conselho de Estado.
Porque, uma coisa era o processo avançar até onde avançasse, mas com os principais envolvidos bem encostados uns aos outros; outra coisa, bem diferente, será (seria...) cada um começar para aí a dizer o que sabe de cada um...
Quem não vê as coisas por este prisma é o Presidente da República.
E muito provavelmente é ele, e não eu, quem está certo.
De facto, como estamos lembrados, um dia - quando era primeiro-ministro e tinha chamado ao seu Governo vários dos agora implicados no caso BPN - Cavaco Silva garantiu-nos que nunca tinha dúvidas e raras vezes se enganava.
E foi, certamente, essa mesma coragem de afirmar que o levou agora, segundo o Público, a garantir «não ter "nenhuma razão" nem "nenhuma informação" que o levem a perder a confiança no seu conselheiro».
É de homem!
Não tanto porque Oliveira e Costa tenha produzido revelações sensacionais: na verdade, ele não disse praticamente nada de novo, podendo dizer-se, até, que quase tudo o que revelou já tinha sido objecto de notícias em vários jornais no decorrer dos últimos meses.
O que, na realidade, é novo é a postura de Oliveira e Costa em relação a Dias Loureiro, este seu passar ao ataque (ou ameaçar fazê-lo...), visto que a sua ida ao Parlamento foi como que a afirmação pública de que não está disposto a ser o único culpado e que, se for caso disso, revelará... tudo o que sabe.
Que é muito, certamente. Que envolverá outros, certamente.
(E que, por isso mesmo, provavelmente nunca virá a ser integralmente revelado...)
Ora tudo leva a crer que, isto digo eu, mais do que tudo, foi este aviso que levou Dias Loureiro a demitir-se do Conselho de Estado.
Porque, uma coisa era o processo avançar até onde avançasse, mas com os principais envolvidos bem encostados uns aos outros; outra coisa, bem diferente, será (seria...) cada um começar para aí a dizer o que sabe de cada um...
Quem não vê as coisas por este prisma é o Presidente da República.
E muito provavelmente é ele, e não eu, quem está certo.
De facto, como estamos lembrados, um dia - quando era primeiro-ministro e tinha chamado ao seu Governo vários dos agora implicados no caso BPN - Cavaco Silva garantiu-nos que nunca tinha dúvidas e raras vezes se enganava.
E foi, certamente, essa mesma coragem de afirmar que o levou agora, segundo o Público, a garantir «não ter "nenhuma razão" nem "nenhuma informação" que o levem a perder a confiança no seu conselheiro».
É de homem!
POEMA
(SER FIEL A UMA IDEIA)
Ser fiel a uma ideia
custa mais do que parece.
Quem o é logo se enleia
nas próprias teias que tece.
Por isso há quem a afirmar
no que esconde não repara,
e quem só com perguntar
já a resposta põe clara.
Só quem não pensa não erra.
Erro não é falsidade.
Quanto mais perto da terra,
mais uma ideia é verdade.
Armindo Rodrigues
Ser fiel a uma ideia
custa mais do que parece.
Quem o é logo se enleia
nas próprias teias que tece.
Por isso há quem a afirmar
no que esconde não repara,
e quem só com perguntar
já a resposta põe clara.
Só quem não pensa não erra.
Erro não é falsidade.
Quanto mais perto da terra,
mais uma ideia é verdade.
Armindo Rodrigues
A MISTURADA QUE LHES CONVÉM
A propósito da audição de Oliveira e Costa no Parlamento, escreveu Eduardo Dâmaso, Director-Adjunto do Correio da Manhã:
«Esta é a maior e também a mais indecorosa novela portuguesa dos tempos modernos, com manifesto reflexo na credibilidade dos políticos, dos partidos, dos banqueiros e das instituições.»
A intenção da prosa é óbvia: distribuir as culpas por todos os políticos e por todos os partidos - que é a melhor forma de, por um lado, aliviar as culpas dos verdadeiros culpados; de, por outro lado, espalhar a ideia de que os partidos são todos iguais; e de, com tudo isto, ocultar a verdadeira causa deste e de muitos outros casos que por aí andam à espera do carimbo «arquive-se!»: a política de direita que há 33 anos flagela Portugal praticada por governos PS e PSD - sozinhos, de braço dado, e com ou sem o CDS/PP atrelado.
A prova de que o «caso BPN» é um filho natural da política de direita, está no caudaloso envolvimento nele de governantes de governos de Cavaco Silva - que foi, durante trágicos dez anos, um dos mais exímios praticantes dessa política antidemocrática e antipatriótica, ao serviço dos interesses do grande capital.
Ora, metendo todos os partidos no mesmo saco, Eduardo Dâmaso produz a misturada que mais convém aos beneficiários da política de direita.
Que os outros se sintam bem assim ensacados, é natural: estão em casa...
Mas há um partido que não entra nesse saco, e tentar metê-lo lá é tempo perdido: porque essa não é a sua casa; porque é diferente dos que são todos iguais: porque é O Partido.
«Esta é a maior e também a mais indecorosa novela portuguesa dos tempos modernos, com manifesto reflexo na credibilidade dos políticos, dos partidos, dos banqueiros e das instituições.»
A intenção da prosa é óbvia: distribuir as culpas por todos os políticos e por todos os partidos - que é a melhor forma de, por um lado, aliviar as culpas dos verdadeiros culpados; de, por outro lado, espalhar a ideia de que os partidos são todos iguais; e de, com tudo isto, ocultar a verdadeira causa deste e de muitos outros casos que por aí andam à espera do carimbo «arquive-se!»: a política de direita que há 33 anos flagela Portugal praticada por governos PS e PSD - sozinhos, de braço dado, e com ou sem o CDS/PP atrelado.
A prova de que o «caso BPN» é um filho natural da política de direita, está no caudaloso envolvimento nele de governantes de governos de Cavaco Silva - que foi, durante trágicos dez anos, um dos mais exímios praticantes dessa política antidemocrática e antipatriótica, ao serviço dos interesses do grande capital.
Ora, metendo todos os partidos no mesmo saco, Eduardo Dâmaso produz a misturada que mais convém aos beneficiários da política de direita.
Que os outros se sintam bem assim ensacados, é natural: estão em casa...
Mas há um partido que não entra nesse saco, e tentar metê-lo lá é tempo perdido: porque essa não é a sua casa; porque é diferente dos que são todos iguais: porque é O Partido.
POEMA
EXORTAÇÃO
Não te escondas em vão
por detrás do teu véu,
rosto velado!
A luz suprema, o sol que se levanta
deste lado,
apenas desencanta
o que de si é já desencantado.
Miguel Torga
Não te escondas em vão
por detrás do teu véu,
rosto velado!
A luz suprema, o sol que se levanta
deste lado,
apenas desencanta
o que de si é já desencantado.
Miguel Torga
PUBLICIDADE ENGANOSA
Já se sabe que, em matéria desinformação organizada, não há pai para os média dominantes - e se acaso têm mãe, trata-se, certamente, de mulher de muito má nota...
Apesar disso, eles surpreendem-me constantemente...
Foi o que me aconteceu com o Diário de Notícias de hoje.
Peguei no dito, e fiquei preso a um título da sua primeira página: «A história do português que venceu em Cannes».
Pensei: o DN vai falar do êxito notável que foi a conquista, pelo jovem cineasta João Salaviza, da Palma de Ouro.
No entanto, logo a seguir, e ainda na primeira página, deparei com o seguinte sub-título: «Salaviza fez os tempos de antena do "sim ao aborto" do Bloco de Esquerda»
Interroguei-me: o que é que uma coisa tem a ver com a outra?...
E, de súbito, muitas outras perguntas me assaltaram: como é que o (ou a) jornalista se lembrou, tão oportunamente, desse facto?; será que alguém lhe soprou ao ouvido?, etc, etc....
Bom, mas adiante: na página 44 está a notícia, assinada por Paula Lobo.
Título: «Dos tempos de antena do BE à Palma de Ouro».
Voltei a interrogar-me: o que é que uma coisa tem a ver com a outra?...
Reli o título e re-interroguei-me: será que a jornalista me está a querer dizer que a Palma de Ouro obtida por João Salaviza se deve ao BE?
E respondi-me: pelo menos é isso que está a insinuar...
E passei à leitura do texto corrido, que começa assim:
«Editou alguns dos tempos de antena do Bloco de Esquerda (BE) e um filme para a campanha do "sim" aquando do referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez».
Bom, aqui chegado tudo se me apresentou mais claro...
E foi já sem sombra de surpresa que, no final do texto, mesmo a fechar, lá vinham outra e outra vez os «tempos de antena do BE», blá-blá-blá...
Mas a «história» não acaba aqui: acaba precisamente na última página do mesmo DN, onde João Salaviza é entrevistado.
Uma entrevista que parecia vir mesmo a calhar e da qual a última pergunta é, como não podia deixar de ser, se tinha alguma relação política com o BE...
Ao que o entrevistado respondeu que é completamente apartidário; que geralmente não vota, ou vota em branco; que os trabalhos que fez para o BE resultaram de solicitações de pessoas desse partido com quem tem relações de amizade; que foi um participação muito pequena, pois apenas fez a montagem de dois filmes; que não realizou nem produziu nada...
Relido o conjunto dos textos, não me restam dúvidas de que a jornalista me tentou enganar: de facto, ela não teve tanto a intenção de valorizar o êxito do jovem cineasta premiado, mas mais o objectivo de fazer publicidade ao BE, deixando a pairar a ideia de que o primeiro era membro do segundo... - publicidade enganosa, já que, a pretexto de divulgar uma notícia altamente positiva, estava a tentar vender como bom um produto que está bem longe de o ser.
Apesar disso, eles surpreendem-me constantemente...
Foi o que me aconteceu com o Diário de Notícias de hoje.
Peguei no dito, e fiquei preso a um título da sua primeira página: «A história do português que venceu em Cannes».
Pensei: o DN vai falar do êxito notável que foi a conquista, pelo jovem cineasta João Salaviza, da Palma de Ouro.
No entanto, logo a seguir, e ainda na primeira página, deparei com o seguinte sub-título: «Salaviza fez os tempos de antena do "sim ao aborto" do Bloco de Esquerda»
Interroguei-me: o que é que uma coisa tem a ver com a outra?...
E, de súbito, muitas outras perguntas me assaltaram: como é que o (ou a) jornalista se lembrou, tão oportunamente, desse facto?; será que alguém lhe soprou ao ouvido?, etc, etc....
Bom, mas adiante: na página 44 está a notícia, assinada por Paula Lobo.
Título: «Dos tempos de antena do BE à Palma de Ouro».
Voltei a interrogar-me: o que é que uma coisa tem a ver com a outra?...
Reli o título e re-interroguei-me: será que a jornalista me está a querer dizer que a Palma de Ouro obtida por João Salaviza se deve ao BE?
E respondi-me: pelo menos é isso que está a insinuar...
E passei à leitura do texto corrido, que começa assim:
«Editou alguns dos tempos de antena do Bloco de Esquerda (BE) e um filme para a campanha do "sim" aquando do referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez».
Bom, aqui chegado tudo se me apresentou mais claro...
E foi já sem sombra de surpresa que, no final do texto, mesmo a fechar, lá vinham outra e outra vez os «tempos de antena do BE», blá-blá-blá...
Mas a «história» não acaba aqui: acaba precisamente na última página do mesmo DN, onde João Salaviza é entrevistado.
Uma entrevista que parecia vir mesmo a calhar e da qual a última pergunta é, como não podia deixar de ser, se tinha alguma relação política com o BE...
Ao que o entrevistado respondeu que é completamente apartidário; que geralmente não vota, ou vota em branco; que os trabalhos que fez para o BE resultaram de solicitações de pessoas desse partido com quem tem relações de amizade; que foi um participação muito pequena, pois apenas fez a montagem de dois filmes; que não realizou nem produziu nada...
Relido o conjunto dos textos, não me restam dúvidas de que a jornalista me tentou enganar: de facto, ela não teve tanto a intenção de valorizar o êxito do jovem cineasta premiado, mas mais o objectivo de fazer publicidade ao BE, deixando a pairar a ideia de que o primeiro era membro do segundo... - publicidade enganosa, já que, a pretexto de divulgar uma notícia altamente positiva, estava a tentar vender como bom um produto que está bem longe de o ser.
POEMA
SONETO DO TRABALHO
Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos e das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.
Um povo não é livre em águas mornas
não se abre a liberdade com gazuas
à força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas.
Abre os olhos e vê. Sê vigilante
a reacção não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.
Levanta-se meu Povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo.
José Carlos Ary dos Santos
Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos e das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.
Um povo não é livre em águas mornas
não se abre a liberdade com gazuas
à força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas.
Abre os olhos e vê. Sê vigilante
a reacção não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.
Levanta-se meu Povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo.
José Carlos Ary dos Santos
ANZÓIS, PRECISAM-SE
Há um mês, Paulo - Filho de Belmiro - anunciou a tragédia: em 2008, os lucros da Sonae desceram!; em 2008, os lucros da Sonae foram de - «apenas!» - 80 milhões de euros!
No entanto, dando provas de notável visão empresarial, o Filho do Pai produziu três afirmações lapidares:
1 - «Faço um balanço positivo da actuação do Governo»:
2 - «Tenho empatia por José Sócrates»;
3 - «O Público é um jornal de grande qualidade que nos beneficia imenso.
Mais palavras para quê?: é o filho de peixe a exibir as suas excelsas capacidades natatórias...
Há dias, Belmiro - Pai de Paulo - também a pensar em lucros (e, portanto, em exploração), passou receita para as empresas afectadas pela crise (que são todas, obviamente...): ou despedem 50% dos trabalhadores ou reduzem os salários em 50%.
Como se vê, num caso ou noutro está assegurado o essencial: duplicar o grau de exploração e, assim, duplicar os lucros.
É o Pai do Filho a ensinar o b-a-bá da economia de mercado...
E, continuando a aula, fez questão de lembrar que o emprego não é um direito humano: é, isso sim, um acto de caridade, uma prova da bondade do patrão, que o trabalhador deve agradecer portando-se bem, ou seja: não exigindo melhores salários nem melhores condições de trabalho; fazendo horas extraordinárias quando o patrão mandar (e, evidentemente, não as recebendo como extraordinárias); e, especialmente, acabando com esse luxo inadmissível, indecente, indecoroso, que são os fins-de-semana - neste caso expressando-se naquele seu linguajar típico, ordenou, imperativo: «não há emprego para quem quer passar os fins-de-semana com os pés na água».
Mais palavras para quê?: é o peixe velho a exibir-se, defecando boçalidade, arrogância, insolência, autoritarismo - e exalando um nauseabundo e pestilento cheiro a fascismo.
Perceberemos muito melhor a situação que vivemos, se reflectirmos um pouco sobre o significado das declarações destes «peixes».
E dessa reflexão, concluiremos que... anzóis precisam-se - ou seja, que a luta de massas é o caminho.
E que «quando o povo acorda é sempre cedo».
No entanto, dando provas de notável visão empresarial, o Filho do Pai produziu três afirmações lapidares:
1 - «Faço um balanço positivo da actuação do Governo»:
2 - «Tenho empatia por José Sócrates»;
3 - «O Público é um jornal de grande qualidade que nos beneficia imenso.
Mais palavras para quê?: é o filho de peixe a exibir as suas excelsas capacidades natatórias...
Há dias, Belmiro - Pai de Paulo - também a pensar em lucros (e, portanto, em exploração), passou receita para as empresas afectadas pela crise (que são todas, obviamente...): ou despedem 50% dos trabalhadores ou reduzem os salários em 50%.
Como se vê, num caso ou noutro está assegurado o essencial: duplicar o grau de exploração e, assim, duplicar os lucros.
É o Pai do Filho a ensinar o b-a-bá da economia de mercado...
E, continuando a aula, fez questão de lembrar que o emprego não é um direito humano: é, isso sim, um acto de caridade, uma prova da bondade do patrão, que o trabalhador deve agradecer portando-se bem, ou seja: não exigindo melhores salários nem melhores condições de trabalho; fazendo horas extraordinárias quando o patrão mandar (e, evidentemente, não as recebendo como extraordinárias); e, especialmente, acabando com esse luxo inadmissível, indecente, indecoroso, que são os fins-de-semana - neste caso expressando-se naquele seu linguajar típico, ordenou, imperativo: «não há emprego para quem quer passar os fins-de-semana com os pés na água».
Mais palavras para quê?: é o peixe velho a exibir-se, defecando boçalidade, arrogância, insolência, autoritarismo - e exalando um nauseabundo e pestilento cheiro a fascismo.
Perceberemos muito melhor a situação que vivemos, se reflectirmos um pouco sobre o significado das declarações destes «peixes».
E dessa reflexão, concluiremos que... anzóis precisam-se - ou seja, que a luta de massas é o caminho.
E que «quando o povo acorda é sempre cedo».
POEMA
(POR MAIS QUE CALEM...)
Por mais que calem
por mais voltas que dê o mundo
por mais que neguem os acontecimentos;
por mais repressão que o estado instaure;
por mais que lavem a cara com a democracia burguesa;
por mais assassinatos de estado que cometam e calem;
por mais greves da fome que silenciem;
por mais que tenham saturados os cárceres;
por mais pactos que engendrem os controladores de classe;
por mais guerras e repressão que imponham;
por mais que tentem negar a história e a memória da nossa classe
Mais alto diremos:
assassinos de povos
miséria de fome e liberdade
negociadores de vidas alheias
mais alto do que nunca, em grito ou em silêncio,
recordaremos os vossos assassinatos
de gentes, vidas, povos e natureza.
De boca em boca, passo a passo, pouco a pouco.
Salvador Puig Antich
(poema escrito na cela por este jovem anarquista
pouco antes de ser assassinado pelo regime franquista,
em 2 de Março de 1974)
Por mais que calem
por mais voltas que dê o mundo
por mais que neguem os acontecimentos;
por mais repressão que o estado instaure;
por mais que lavem a cara com a democracia burguesa;
por mais assassinatos de estado que cometam e calem;
por mais greves da fome que silenciem;
por mais que tenham saturados os cárceres;
por mais pactos que engendrem os controladores de classe;
por mais guerras e repressão que imponham;
por mais que tentem negar a história e a memória da nossa classe
Mais alto diremos:
assassinos de povos
miséria de fome e liberdade
negociadores de vidas alheias
mais alto do que nunca, em grito ou em silêncio,
recordaremos os vossos assassinatos
de gentes, vidas, povos e natureza.
De boca em boca, passo a passo, pouco a pouco.
Salvador Puig Antich
(poema escrito na cela por este jovem anarquista
pouco antes de ser assassinado pelo regime franquista,
em 2 de Março de 1974)
DESCULPEM LÁ A MINHA INSISTÊNCIA...
Disse Manuela Ferreira Leite que graças a Deus os comícios acabaram.
Pronto, se Deus disse, está dito - e, assim, fica a pobre senhora liberta por Deus do pesado encargo de falar em comícios.
Ainda sobre comícios: «Os comícios em Portugal são mais moderados e um pouco mais tristes»: disse José Sócrates, comentando a forma efusiva como Zapatero foi recebido no comício-a-dois, em Valência.
Pronto, se Sócrates disse, está dito - e, assim, fica o secretário-geral do PS, por um lado, redimido da vergonha de não ter sido por aí além aplaudido no tal comício-a-dois; e, por outro lado, aliviado da vergonha que foi ir discursar em castelhano a Valência e ouvir o Zapatero discursar em castelhano, em Coimbra...
Mas não são apenas os comícios que estão dar que falar: também as grandes mobilizações de massas estão na ordem do dia.
De sábado para cá (obviamente...), um afinado coro de vozes especializadas disse que, tal como os comícios (ou mais ainda...), as grandes manifestações estão «ultrapassadas», «deslocadas da realidade actual», não têm qualquer «significado» nem «consequências» - isto, para além de que 85 mil foi o número fornecido pelo PCP...
E num jornal de hoje, um muito apregoado especialista na matéria, sintetizou assim a coisa: «as grandes manifestações, como a do PCP no sábado, em Lisboa, já pouco valem» - o que vale, isso sim, garante o supra-citado especialista, são «as sondagens»...
Pronto, se eles o dizem, está dito - e, assim, sacodem o receio que a Marcha do PCP/CDU provocou nas hostes dos mandantes e praticantes da política de direita & seus derivados...
Tudo isto exibindo em pleno o carácter da comunicação social dominante e as razões da sua existência - e mostrando, também, que, sem ela, os partidos que dela vivem e de sondagens se alimentam, seriam todos uns ilustres desconhecidos...
Ou, dito de outra forma: sendo a comunicação social dominante propriedade dos grandes grupos económicos e financeiros, os partidos por ela apoiados política e eleitoralmente são aqueles - e só aqueles - que, directa ou indirectamente, servem os interesses dos seus donos.
Desculpem lá a minha insistência...
Pronto, se Deus disse, está dito - e, assim, fica a pobre senhora liberta por Deus do pesado encargo de falar em comícios.
Ainda sobre comícios: «Os comícios em Portugal são mais moderados e um pouco mais tristes»: disse José Sócrates, comentando a forma efusiva como Zapatero foi recebido no comício-a-dois, em Valência.
Pronto, se Sócrates disse, está dito - e, assim, fica o secretário-geral do PS, por um lado, redimido da vergonha de não ter sido por aí além aplaudido no tal comício-a-dois; e, por outro lado, aliviado da vergonha que foi ir discursar em castelhano a Valência e ouvir o Zapatero discursar em castelhano, em Coimbra...
Mas não são apenas os comícios que estão dar que falar: também as grandes mobilizações de massas estão na ordem do dia.
De sábado para cá (obviamente...), um afinado coro de vozes especializadas disse que, tal como os comícios (ou mais ainda...), as grandes manifestações estão «ultrapassadas», «deslocadas da realidade actual», não têm qualquer «significado» nem «consequências» - isto, para além de que 85 mil foi o número fornecido pelo PCP...
E num jornal de hoje, um muito apregoado especialista na matéria, sintetizou assim a coisa: «as grandes manifestações, como a do PCP no sábado, em Lisboa, já pouco valem» - o que vale, isso sim, garante o supra-citado especialista, são «as sondagens»...
Pronto, se eles o dizem, está dito - e, assim, sacodem o receio que a Marcha do PCP/CDU provocou nas hostes dos mandantes e praticantes da política de direita & seus derivados...
Tudo isto exibindo em pleno o carácter da comunicação social dominante e as razões da sua existência - e mostrando, também, que, sem ela, os partidos que dela vivem e de sondagens se alimentam, seriam todos uns ilustres desconhecidos...
Ou, dito de outra forma: sendo a comunicação social dominante propriedade dos grandes grupos económicos e financeiros, os partidos por ela apoiados política e eleitoralmente são aqueles - e só aqueles - que, directa ou indirectamente, servem os interesses dos seus donos.
Desculpem lá a minha insistência...
POEMA
ESMAGADOS SOB AS PATAS...
Esmagados sob as patas
das bestas taciturnas
os nosso peitos ansiosos,
que havemos nós de fazer senão, irados,
mesmo imprudentemente,
erguer-nos contra quanto
é ordem truculenta,
crença mutiladora,
ou crime sistemático?
Armindo Rodrigues
Esmagados sob as patas
das bestas taciturnas
os nosso peitos ansiosos,
que havemos nós de fazer senão, irados,
mesmo imprudentemente,
erguer-nos contra quanto
é ordem truculenta,
crença mutiladora,
ou crime sistemático?
Armindo Rodrigues
CDU, Com Confiança!
Nos olhos embaciados ainda descortinei o sorriso de amigos que nos esperavam, para ver passar também as gentes de Aljustrel e a sua mina, as suas preocupações, a sua luta, o seu sonho comum que ali unia milhares e milhares de trabalhadores, operários, camponeses, sem terra, quadros técnicos, intelectuais, pescadores, mareantes, estudantes, desempregados, reformados, pensionistas, gente nova, gente velha, gente boa! lá estavam, aplaudindo os da sua classe que nas gargantas traziam a Lisboa - e à festa/luta da CDU - os hinos que neste Alentejo servem de alento para os dias amargos que trazemos. Lembro-me bem... atravessámos a Praça do Saldanha a cantar, a gritar, VENCEREMOS, VENCEREMOS, COM AS ARMAS QUE TEMOS NA MÃO. VENCEREMOS VENCEREMOS A BATALHA DA TERRA E DO PÃO! e venceremos! porque está escrito desde o inicio dos tempos em que os corações bons se reconhecem e sabem ser de injustiça a exploração dos seus iguais. Mas, dizia-vos, nos olhos embaciados descortinei o sorriso dos meus amigos. E vi um Partido inteiro em tamanha força. Lá estava a Guida, o Casanova, a Maria, a Sal, o Poeta no Popular e o Sérgio... e a Zé, e todos os amigos que fazem deste o grande Partido. O Partido dos Trabalhadores e do povo. Gritei Avenidas fora... Avenidas pintadas de um sonho que Lisboa já saudosa de Abril brindou com sol - numa tarde que muitos anunciavam de trovoada! Punho erguido, ao desafio daqueles que tudo fizeram - e fazem! - para silenciar esta grandiosa demonstração de força, de sonho, de confiança! de certeza de que sim, é possível, um mundo melhor, uma democracia avançada, um mundo sem exploração do homem pelo homem, com respeito pela natureza e por todos os seres que, connosco, tomaram de empréstimo este país e este mundo. As avenidas foram rios, e a praça do Marquês um mar de utopia desaguando na possibilidade que cada um oferecia da sua enormíssima vontade! Enquanto caminhava, nos momentos em que, fazendo o silêncio descansava a rouquidão assanhada na garganta, os meus passos ensaiavam a fala do homem nascido na voz do Adriano. Outras vezes, embora em sentido contrário (porque íamos descendo!), o Fausto assaltava-me o pensamento e ouvia «por este rio acima» milhares e milhares de companheiros e camaradas, subindo arduamente o difícil leito do rio, rasgando as correntes contrárias do capitalismo, gritando o descontentamento e o sonho... augurando uma vitória que, lembrando as palavras de um grande amigo, não é apenas possível, como inevitável! grande grande é a viagem! grande grande, muito grande tripulação tem esta nau! naveguemos pois! rumo à vitória!
Viva a CDU!
Viva a CDU!
É SIMPLES
Éramos 85 000.
E a pergunta a fazer é esta:
que outra força política seria capaz de erguer uma iniciativa com aquela dimensão e aquela força?
E a resposta é esta: nenhuma!
Por isso, os média dominantes têm feito (e continuarão a fazer) tudo para menorizar, desvalorizar, silenciar, a Marcha - apresentando-a como uma «coisita» muito inferior a umas tantas dezenas ou centenas de pessoas em sessões do PS, do PSD, do CDS/PP e do BE.
Não surpreende que assim façam: é para isso que existem, já que, como é sabido, são propriedade do grande capital.
No que nos diz respeito, é simples: A MARCHA CONTINUA!
E a pergunta a fazer é esta:
que outra força política seria capaz de erguer uma iniciativa com aquela dimensão e aquela força?
E a resposta é esta: nenhuma!
Por isso, os média dominantes têm feito (e continuarão a fazer) tudo para menorizar, desvalorizar, silenciar, a Marcha - apresentando-a como uma «coisita» muito inferior a umas tantas dezenas ou centenas de pessoas em sessões do PS, do PSD, do CDS/PP e do BE.
Não surpreende que assim façam: é para isso que existem, já que, como é sabido, são propriedade do grande capital.
No que nos diz respeito, é simples: A MARCHA CONTINUA!
POEMA
PRIMEIRO RETRATO DO NATURAL
Ela queria perceber o que se passa.
Queria?
Passa a rua às risadas.
«Uscumunistas?»
Gritam flores da jarra.
Estão inocentes?
O telefone terrinta.
É o destino?
Na bandeja de prata, o sedativo.
Por tomar?
Na sala das porcelanas, a senhora.
Por viver.
*
De sentinela à porcelana
está Inês ou Teresa ou Ana
(Maria, deixa-se ver).
Tem à mão uma bengala
para o que der ou vier:
«Se os bolchevistas entrarem,
vão ver, vão ver!
As porcelanas inteiras
é que eles não hão-de ter!»
*
Porcelana implora
Senhora insiste.
Até que a levam prà cama,
pauzinho em riste, zangada.
É uma terrina vazia
que em sonhos se suicida
à bengalada.
Alexandre O'Neill
Ela queria perceber o que se passa.
Queria?
Passa a rua às risadas.
«Uscumunistas?»
Gritam flores da jarra.
Estão inocentes?
O telefone terrinta.
É o destino?
Na bandeja de prata, o sedativo.
Por tomar?
Na sala das porcelanas, a senhora.
Por viver.
*
De sentinela à porcelana
está Inês ou Teresa ou Ana
(Maria, deixa-se ver).
Tem à mão uma bengala
para o que der ou vier:
«Se os bolchevistas entrarem,
vão ver, vão ver!
As porcelanas inteiras
é que eles não hão-de ter!»
*
Porcelana implora
Senhora insiste.
Até que a levam prà cama,
pauzinho em riste, zangada.
É uma terrina vazia
que em sonhos se suicida
à bengalada.
Alexandre O'Neill
POEMA
A FÁBRICA
Da alavanca ao tear da roda ao torno
da linha de montagem ao cadinho
do aço incandescente a entrar no forno
à agulha a trabalhar devagarinho.
Da prensa que se fez para esmagar
à tupia no corpo da madeira
do formão que nasceu a golpear
à força bruta de uma britadeira.
Do ferro e do cimento até ao molde
que é quase um esgar de plástico sereno
do maçarico humano que nos solda
à luz da luta e não do acetileno
nasce este canto imenso e universal
sincopado enérgico fabril
sereia que soou em Portugal
à hora de pegarmos por Abril.
Transformar a matéria é transformar
a própria sociedade que nós fomos
ser operário é apenas saber dar
mais um pouco de nós ao que nós somos.
Um braço é muito mas por si não chega
por trás da nossa mão há uma razão
que faz de cada gesto sempre a entrega
de um pouco mais de força. De mais pão.
Estamos todos num único universo
e não há uns abaixo outros acima
pois se um poema é uma obra em verso
um parafuso é uma obra-prima.
Operários das palavras ou do aço
da terra do minério do cimento
em cada um de nós há um pedaço
da força que só tem o sofrimento.
Vamos cavá-la com a pá das mãos
provar que em cada um nós somos mil
é tempo de alegria meus irmãos
é tempo de pegarmos por Abril.
José Carlos Ary dos Santos
Da alavanca ao tear da roda ao torno
da linha de montagem ao cadinho
do aço incandescente a entrar no forno
à agulha a trabalhar devagarinho.
Da prensa que se fez para esmagar
à tupia no corpo da madeira
do formão que nasceu a golpear
à força bruta de uma britadeira.
Do ferro e do cimento até ao molde
que é quase um esgar de plástico sereno
do maçarico humano que nos solda
à luz da luta e não do acetileno
nasce este canto imenso e universal
sincopado enérgico fabril
sereia que soou em Portugal
à hora de pegarmos por Abril.
Transformar a matéria é transformar
a própria sociedade que nós fomos
ser operário é apenas saber dar
mais um pouco de nós ao que nós somos.
Um braço é muito mas por si não chega
por trás da nossa mão há uma razão
que faz de cada gesto sempre a entrega
de um pouco mais de força. De mais pão.
Estamos todos num único universo
e não há uns abaixo outros acima
pois se um poema é uma obra em verso
um parafuso é uma obra-prima.
Operários das palavras ou do aço
da terra do minério do cimento
em cada um de nós há um pedaço
da força que só tem o sofrimento.
Vamos cavá-la com a pá das mãos
provar que em cada um nós somos mil
é tempo de alegria meus irmãos
é tempo de pegarmos por Abril.
José Carlos Ary dos Santos
A MARCHA É HOJE!
MARCHA DE PROTESTO contra a política de direita e as suas terríveis consequências na vida da imensa maioria dos portugueses.
MARCHA DE CONFIANÇA na possibilidade de ruptura com essa política e de mudança rumo ao Futuro.
MARCHA DE LUTA para dar mais força à luta.
MARCHA POR ABRIL DE NOVO EM MAIO DOS TRABALHADORES.
POR ISSO LÁ ESTAREMOS.
ATÉ JÁ.
MARCHA DE CONFIANÇA na possibilidade de ruptura com essa política e de mudança rumo ao Futuro.
MARCHA DE LUTA para dar mais força à luta.
MARCHA POR ABRIL DE NOVO EM MAIO DOS TRABALHADORES.
POR ISSO LÁ ESTAREMOS.
ATÉ JÁ.
POEMA
UM DIA DE MAIO
Recordo esse momento, esse
terrível entusiasmo. Eram
milhares, dezenas de milhar
e todos se esticavam, todos
tentavam ver o carro, sentiam
o solene momento, gritavam
da alegria mais pura. Era
um som de pólvora liberta,
uma explosão de esperança,
de loucura, de vida - sim,
por uma vez, a vida -. Lembro
esse gosto de pão, o corte
brusco na inércia, o fogo
da presença em oferenda,
a compressão da ira vinculada
agora a um caminho. Hoje
contemplo esta praça, estas
ruas que a tristeza semeou
de novo e espero a multidão
que uma vez aqui floresceu.
Confio em que virá. O vento
fala já nos seus passos, faz
da espera alimento; o ar
vai encher-se de vozes, vai
ver-nos todos juntos, livres,
respirando através das mãos
unidas, através do ardente
fluido de alegria que liberta
as raízes do canto estagnado.
Egito Gonçalves
Recordo esse momento, esse
terrível entusiasmo. Eram
milhares, dezenas de milhar
e todos se esticavam, todos
tentavam ver o carro, sentiam
o solene momento, gritavam
da alegria mais pura. Era
um som de pólvora liberta,
uma explosão de esperança,
de loucura, de vida - sim,
por uma vez, a vida -. Lembro
esse gosto de pão, o corte
brusco na inércia, o fogo
da presença em oferenda,
a compressão da ira vinculada
agora a um caminho. Hoje
contemplo esta praça, estas
ruas que a tristeza semeou
de novo e espero a multidão
que uma vez aqui floresceu.
Confio em que virá. O vento
fala já nos seus passos, faz
da espera alimento; o ar
vai encher-se de vozes, vai
ver-nos todos juntos, livres,
respirando através das mãos
unidas, através do ardente
fluido de alegria que liberta
as raízes do canto estagnado.
Egito Gonçalves
EM FORÇA!
É conhecida a isenção e imparcialidade dos média dominantes: em palavras, todos eles são modelos de respeito pela informação plural e democrática; na prática, todos eles são o contrário do que apregoam.
Quando isto lhes é dito, replicam irónicos: lá estão os comunistas com a cassete... - e continuam a aplicar o seu a-b-c da desinformação organizada.
Havia quem pensasse que esta marginalização dos comunistas já tinha atingido o escalão máximo. Contudo a realidade mostra que não: a partir da boçal provocação organizada no 1º de Maio, a sanha anticomunista aumentou e o silenciamento, a deturpação, a manipulação da actividade e das posições do PCP e da CDU deram um significativo passo em frente.
Sempre em nome da liberdade de informação, da isenção, da imparcialidade, blá-blá-blá...
Vejamos dois exemplos concretos (poderiam ser dezenas) de «tratamento» da campanha para o Parlamento Europeu.
1 -O Jornal de Notícias de hoje, resolve a campanha em três tempos:
a) - acompanhou Miguel Portas a Viseu: com carinho, captou-lhe os gestos, as falas, as conversas de rua que correram bem, etc. - tudo naquele jeito de quem aconselha o voto no BE... imparcialmente, é claro...
b) - esteve com Paulo Rangel e com Manuela Ferreira Leite - que deu graças a Deus por já ter passado a época dos comícios...
c) - foi ouvir Vital Moreira a dizer não sei o quê a meia dúzia de jovens e, noutra notícia, informou que o PS abre a sua campanha oficial amanhã, com um comício em que participam Sócrates, Vital e Zapatero.
Sobre a CDU nem uma palavra: pelos vistos, o JN não sabe que a actividade da Ilda Figueiredo é superior à de todos os outros cabeças de lista juntos - ou sabe e, por isso mesmo, a silencia.
E também não sabe da Marcha da CDU, amanhã em Lisboa - ou sabe e, por isso mesmo, assobia para o ar.
Passemos, agora, ao a-b-c do Sol:
a) - publica uma peça toda pomposa sobre as «estratégias para ganhar o round europeu» - «estratégias» do PS e do PSD e de nenhum outro partido...
b) - ... excepção feita ao filho-querido-da-casa - o BE - o qual, garante o SOL, já prometeu não largar a questão do desemprego... - vejam bem a originalidade do BE!!!...
c) - mas onde o Sol se esmera é na rubrica «Frases da Campanha»: aí podemos ler citações dos cabeças de lista do PS (4 - citações - 4); do PSD (2 citações) - e uma citação de cada um dos cabeças de lista do BE, CDS/PP, MRPP, MMS e PNR.
Da CDU - das suas linhas de campanha e da intervenção da sua cabeça de lista - o Sol nada sabe...
Ou sabe e, por isso mesmo, assobia para o lado.
Quanto a nós, meus amigos, amanhã lá estaremos na Marcha - em força!
E, nos dias seguintes, lá estaremos na campanha da CDU - em força!
E no dia 8, lá estaremos na luta de massas - em força!
Quando isto lhes é dito, replicam irónicos: lá estão os comunistas com a cassete... - e continuam a aplicar o seu a-b-c da desinformação organizada.
Havia quem pensasse que esta marginalização dos comunistas já tinha atingido o escalão máximo. Contudo a realidade mostra que não: a partir da boçal provocação organizada no 1º de Maio, a sanha anticomunista aumentou e o silenciamento, a deturpação, a manipulação da actividade e das posições do PCP e da CDU deram um significativo passo em frente.
Sempre em nome da liberdade de informação, da isenção, da imparcialidade, blá-blá-blá...
Vejamos dois exemplos concretos (poderiam ser dezenas) de «tratamento» da campanha para o Parlamento Europeu.
1 -O Jornal de Notícias de hoje, resolve a campanha em três tempos:
a) - acompanhou Miguel Portas a Viseu: com carinho, captou-lhe os gestos, as falas, as conversas de rua que correram bem, etc. - tudo naquele jeito de quem aconselha o voto no BE... imparcialmente, é claro...
b) - esteve com Paulo Rangel e com Manuela Ferreira Leite - que deu graças a Deus por já ter passado a época dos comícios...
c) - foi ouvir Vital Moreira a dizer não sei o quê a meia dúzia de jovens e, noutra notícia, informou que o PS abre a sua campanha oficial amanhã, com um comício em que participam Sócrates, Vital e Zapatero.
Sobre a CDU nem uma palavra: pelos vistos, o JN não sabe que a actividade da Ilda Figueiredo é superior à de todos os outros cabeças de lista juntos - ou sabe e, por isso mesmo, a silencia.
E também não sabe da Marcha da CDU, amanhã em Lisboa - ou sabe e, por isso mesmo, assobia para o ar.
Passemos, agora, ao a-b-c do Sol:
a) - publica uma peça toda pomposa sobre as «estratégias para ganhar o round europeu» - «estratégias» do PS e do PSD e de nenhum outro partido...
b) - ... excepção feita ao filho-querido-da-casa - o BE - o qual, garante o SOL, já prometeu não largar a questão do desemprego... - vejam bem a originalidade do BE!!!...
c) - mas onde o Sol se esmera é na rubrica «Frases da Campanha»: aí podemos ler citações dos cabeças de lista do PS (4 - citações - 4); do PSD (2 citações) - e uma citação de cada um dos cabeças de lista do BE, CDS/PP, MRPP, MMS e PNR.
Da CDU - das suas linhas de campanha e da intervenção da sua cabeça de lista - o Sol nada sabe...
Ou sabe e, por isso mesmo, assobia para o lado.
Quanto a nós, meus amigos, amanhã lá estaremos na Marcha - em força!
E, nos dias seguintes, lá estaremos na campanha da CDU - em força!
E no dia 8, lá estaremos na luta de massas - em força!
POEMA
ENCORAJAMENTO
... E a poesia lá vai - tão amada e detestada -
livre, como se marchasse nua contra o vento,
vai levar aos que se cansam da longa caminhada
a água pura e fresca do encorajamento.
E ela lá vai... Lá vai, e luta, quer queiram ou não,
contra a lassidão e a doença do sono,
e a quem tiver sede oferece a canção
do futuro sem grades e dos homens sem dono.
Sidónio Muralha
... E a poesia lá vai - tão amada e detestada -
livre, como se marchasse nua contra o vento,
vai levar aos que se cansam da longa caminhada
a água pura e fresca do encorajamento.
E ela lá vai... Lá vai, e luta, quer queiram ou não,
contra a lassidão e a doença do sono,
e a quem tiver sede oferece a canção
do futuro sem grades e dos homens sem dono.
Sidónio Muralha
MISTÉRIOS...
O PS recusou a ida de Lopes da Mota ao Parlamento.
Francamente, não percebo porquê: se, como diz o povo, «quem não deve não teme» - e se, como todos os dias nos é dito, «o PS não deve» - a ida do ainda presidente da Eurojust ao Parlamento deveria, até, ter sido proposta pelo partido do Governo, como forma de clarificar as coisas.
Ou estarei a ver mal?
Como é sabido, sobre Lopes da Mota pesa a suspeita de ter pressionado magistrados no sentido de arquivarem o processo Freeport, tendo sido por isso, alvo de um «processo disciplinar» que, se não for arquivado, talvez clarifique a situação.
Tal esclarecimento deveria, em princípio, interessar a toda a gente, quiçá ao próprio Lopes da Mota e aos que se consideram vítimas de uma tenebrosa «campanha negra».
Assim sendo, insisto, porquê esta recua do PS em clarificar as coisas?.
Mistério...
Mistério que é mais um a juntar a tantos outros mistérios que rodeiam o misterioso «caso Freeport».
Já agora, acrescento que, para mim, o maior de todos os mistérios continua a ser o de, no processo Freeport, só haver indivíduos (dois) acusados de corromper e não haver um só acusado de ter sido corrompido...
Pergunto: poderá haver uns sem os outros? - e outros sem uns?
Mistérios...
Francamente, não percebo porquê: se, como diz o povo, «quem não deve não teme» - e se, como todos os dias nos é dito, «o PS não deve» - a ida do ainda presidente da Eurojust ao Parlamento deveria, até, ter sido proposta pelo partido do Governo, como forma de clarificar as coisas.
Ou estarei a ver mal?
Como é sabido, sobre Lopes da Mota pesa a suspeita de ter pressionado magistrados no sentido de arquivarem o processo Freeport, tendo sido por isso, alvo de um «processo disciplinar» que, se não for arquivado, talvez clarifique a situação.
Tal esclarecimento deveria, em princípio, interessar a toda a gente, quiçá ao próprio Lopes da Mota e aos que se consideram vítimas de uma tenebrosa «campanha negra».
Assim sendo, insisto, porquê esta recua do PS em clarificar as coisas?.
Mistério...
Mistério que é mais um a juntar a tantos outros mistérios que rodeiam o misterioso «caso Freeport».
Já agora, acrescento que, para mim, o maior de todos os mistérios continua a ser o de, no processo Freeport, só haver indivíduos (dois) acusados de corromper e não haver um só acusado de ter sido corrompido...
Pergunto: poderá haver uns sem os outros? - e outros sem uns?
Mistérios...
POEMA
ALEMANHA: UM CONTO DE INVERNO
Amigos, quero compor para vós uma canção,
uma canção nova, uma canção melhor!
Queremos instaurar aqui na terra,
agora mesmo,o reino dos céus.
Queremos ser felizes nesta terra,
aqui queremos derrotar a fome
e que o ventre preguiçoso não devore
o que mãos trabalhadoras produziram.
Cresce, aqui em baixo, pão que chega
para os filhos dos homens.
E ainda há rosas e mirtos,
beleza, alegria e ervilhas-de-cheiro.
Sim, ervilhas-de-cheiro para todos.
Logo ao abrir das vagens!
O céu, não o queremos para nada,
fiquem com ele os anjos e os pardais.
Uma nova canção, uma canção melhor!
Dir-se-iam flautas e violinos...
O miserere terminou,
calou-se o dobre fúnebre dos sinos.
Heinrich Heine
Amigos, quero compor para vós uma canção,
uma canção nova, uma canção melhor!
Queremos instaurar aqui na terra,
agora mesmo,o reino dos céus.
Queremos ser felizes nesta terra,
aqui queremos derrotar a fome
e que o ventre preguiçoso não devore
o que mãos trabalhadoras produziram.
Cresce, aqui em baixo, pão que chega
para os filhos dos homens.
E ainda há rosas e mirtos,
beleza, alegria e ervilhas-de-cheiro.
Sim, ervilhas-de-cheiro para todos.
Logo ao abrir das vagens!
O céu, não o queremos para nada,
fiquem com ele os anjos e os pardais.
Uma nova canção, uma canção melhor!
Dir-se-iam flautas e violinos...
O miserere terminou,
calou-se o dobre fúnebre dos sinos.
Heinrich Heine
VÁ, RESPONDAM LÁ!....
Dizem os jornais de hoje - todos! - que a Igreja acelera o processo de beatificação da Irmã Lúcia, o qual poderá vir a ser um dos de mais rápida conclusão de sempre.
Isto porque, de acordo com um padre de nome Ildefonso Moriones, abundam as «notícias de graças e milagres da Irmã Lúcia».
Confesso o meu espanto!: nunca pensei que a Irmão Lúcia tivesse que prestar provas fosse do que fosse (e fosse a quem fosse) nesta matéria - na medida em que ela própria é uma prova - A PROVA - autenticada por, nem mais nem menos do que Nossa Senhora, a própria.
Basta dizer que, de entre milhões de habitantes do Planeta, Nossa Senhora escolheu a Irmã Lúcia e lhe apareceu, sete vezes - sete! - tendo-lhe até transmitido alguns segredos transcendentes.
E se assim foi, é óbvio que Nossa Senhora não escolheu Lúcia por sua alta recreação: certamente obteve, antes de vir, o acordo do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
E é isto que me espanta: então uma pessoa assim escolhida, ainda precisa de fazer «graças» e «milagres» para que o Papa, ou seja lá quem for, a considere beata?
Quem se julgam estes papas e moriones para, assim, se arvorarem em julgadores da Sagrada Família?
Não vêem que se Nossa Senhora escolheu a Irmã Lúcia, o fez por qualquer superior razão?
Não vêem que a própria escolha é já uma inequívoca atribuição de santidade à escolhida?
E, última pergunta: esse papas e moriones e tutti quanti, já se terão interrogado por que razão Nossa Senhora não lhes apareceu a eles e apareceu à Irmã Lúcia?
Vá, respondam lá!...
Para mim - quero que fique claro - a Irmã Lúcia é uma santa.
Que descanse em paz lá no céu dela é o que, sinceramente, lhe desejo.
Isto porque, de acordo com um padre de nome Ildefonso Moriones, abundam as «notícias de graças e milagres da Irmã Lúcia».
Confesso o meu espanto!: nunca pensei que a Irmão Lúcia tivesse que prestar provas fosse do que fosse (e fosse a quem fosse) nesta matéria - na medida em que ela própria é uma prova - A PROVA - autenticada por, nem mais nem menos do que Nossa Senhora, a própria.
Basta dizer que, de entre milhões de habitantes do Planeta, Nossa Senhora escolheu a Irmã Lúcia e lhe apareceu, sete vezes - sete! - tendo-lhe até transmitido alguns segredos transcendentes.
E se assim foi, é óbvio que Nossa Senhora não escolheu Lúcia por sua alta recreação: certamente obteve, antes de vir, o acordo do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
E é isto que me espanta: então uma pessoa assim escolhida, ainda precisa de fazer «graças» e «milagres» para que o Papa, ou seja lá quem for, a considere beata?
Quem se julgam estes papas e moriones para, assim, se arvorarem em julgadores da Sagrada Família?
Não vêem que se Nossa Senhora escolheu a Irmã Lúcia, o fez por qualquer superior razão?
Não vêem que a própria escolha é já uma inequívoca atribuição de santidade à escolhida?
E, última pergunta: esse papas e moriones e tutti quanti, já se terão interrogado por que razão Nossa Senhora não lhes apareceu a eles e apareceu à Irmã Lúcia?
Vá, respondam lá!...
Para mim - quero que fique claro - a Irmã Lúcia é uma santa.
Que descanse em paz lá no céu dela é o que, sinceramente, lhe desejo.
POEMA
VIAGEM ATRAVÉS DE CATARINA
Não quiseste ser valente
não quiseste o amor do perigo
que tanta gente
conquista
- quiseste apenas estar de bem contigo
ser comunista.
E não quiseste a aventura
o gesto da eterna face
de Graça pura vestido
- quiseste apenas estar onde mandasse
o teu Partido.
Novas searas aqui
se levantaram.
Nós falamos de ti porque não te mataram.
Mário Castrim
Não quiseste ser valente
não quiseste o amor do perigo
que tanta gente
conquista
- quiseste apenas estar de bem contigo
ser comunista.
E não quiseste a aventura
o gesto da eterna face
de Graça pura vestido
- quiseste apenas estar onde mandasse
o teu Partido.
Novas searas aqui
se levantaram.
Nós falamos de ti porque não te mataram.
Mário Castrim
«CANTAR ALENTEJANO»
1 - Os homens e as bestas
«As balas deram sangue derramado»:
Catarina, em Baleizão - faz hoje 55 anos;
Alfredo Lima, em Alpiarça;
José Adelino dos Santos, em Montemor-o-Novo;
e, outra vez em Montemor-o-Novo, António Caravela e José Casquinha.
Os assassinos: os grandes latifundiários e os seus serventuários de antes e de depois do 25 de Abril.
2 - Balanço trágico
Milhares e milhares de homens, mulheres e jovens perseguidos, presos, torturados: no tempo do fascismo - e no tempo da ofensiva contra a Reforma Agrária;
o Alentejo em estado de sítio, ocupado pelas forças repressivas: no tempo do fascismo - e no tempo da ofensiva contra a Reforma Agrária.
O Alentejo do latifúndio, com herdades entre os 1 000 e os 10 000 hectares: no tempo do fascismo - e no tempo posterior à destruição da Reforma Agrária.
3 - O tempo novo
A Reforma Agrária foi:
a decisão histórica dos trabalhadores de avançarem para as terras, ocupá-las e cultivá-las, eliminando o latifúndio, numa altura em que a sabotagem económica levada a cabo pelos agrários punha em perigo a liberdade e a democracia acabadas de conquistar;
logo ao fim de um ano, 1 140 000 hectares de terra ocupados e a produzir como nunca antes acontecera;
mais de 50 000 postos de trabalho criados, acabando com o desemprego e com a fome;
a criação de uma vasta rede de creches, jardins de infância, centros da terceira idade;
a transformação das velhas relações de produção capitalistas em relações de cooperação e solidariedade, pondo termo, naquele universo e naquela situação concreta, à exploração do homem pelo homem;
o Futuro a ser construído.
4 - Outra vez o tempo velho
A contra-Reforma Agrária foi:
a restauração do latifúndio através de um processo criminoso e devastador iniciado pelo Governo PS/Mário Soares, em 1976, e prosseguido por todos os governos que se lhe seguiram: Sá Carneiro, Mota Pinto, Balsemão/Freitas, Cavaco Silva...
todos recorrendo ao golpe, à fraude, à mentira, à calúnia, à ilegalidade;
todos ordenando os roubos de terras, de colheitas, de cortiça, de máquinas, de alfaias, de gados;
todos fora-da-lei, violando ostensivamente a Constituição da República e rasgando insolentemente centenas de decisões favoráveis à Reforma Agrária emitidas pelos tribunais; todos não hesitando em submeter o Alentejo a ferro e fogo, em mandar perseguir, prender, submeter a interrogatórios pidescos, torturar, milhares de trabalhadores - em mandar disparar, ferir, matar;
todos destilando o ódio de classe que os invadia e exibindo-se como serventuários caninos dos velhos latifundiários - dos mesmos que, anos antes, tinham Salazar como seu serventuário canino;
o Passado retrógrado, explorador e opressor regressado aos campos do Alentejo.
5 - O FUTURO:
a certeza de que a Reforma Agrária nos mostrou um pedacinho do Futuro pelo qual lutamos;
a certeza de que não há Democracia sem uma Reforma Agrária que restitua a terra a quem a trabalha;
a certeza de que os mortos, não os deixamos para trás, abandonados;
a certeza de que a luta continua;
a certeza de que VENCEREMOS.
«As balas deram sangue derramado»:
Catarina, em Baleizão - faz hoje 55 anos;
Alfredo Lima, em Alpiarça;
José Adelino dos Santos, em Montemor-o-Novo;
e, outra vez em Montemor-o-Novo, António Caravela e José Casquinha.
Os assassinos: os grandes latifundiários e os seus serventuários de antes e de depois do 25 de Abril.
2 - Balanço trágico
Milhares e milhares de homens, mulheres e jovens perseguidos, presos, torturados: no tempo do fascismo - e no tempo da ofensiva contra a Reforma Agrária;
o Alentejo em estado de sítio, ocupado pelas forças repressivas: no tempo do fascismo - e no tempo da ofensiva contra a Reforma Agrária.
O Alentejo do latifúndio, com herdades entre os 1 000 e os 10 000 hectares: no tempo do fascismo - e no tempo posterior à destruição da Reforma Agrária.
3 - O tempo novo
A Reforma Agrária foi:
a decisão histórica dos trabalhadores de avançarem para as terras, ocupá-las e cultivá-las, eliminando o latifúndio, numa altura em que a sabotagem económica levada a cabo pelos agrários punha em perigo a liberdade e a democracia acabadas de conquistar;
logo ao fim de um ano, 1 140 000 hectares de terra ocupados e a produzir como nunca antes acontecera;
mais de 50 000 postos de trabalho criados, acabando com o desemprego e com a fome;
a criação de uma vasta rede de creches, jardins de infância, centros da terceira idade;
a transformação das velhas relações de produção capitalistas em relações de cooperação e solidariedade, pondo termo, naquele universo e naquela situação concreta, à exploração do homem pelo homem;
o Futuro a ser construído.
4 - Outra vez o tempo velho
A contra-Reforma Agrária foi:
a restauração do latifúndio através de um processo criminoso e devastador iniciado pelo Governo PS/Mário Soares, em 1976, e prosseguido por todos os governos que se lhe seguiram: Sá Carneiro, Mota Pinto, Balsemão/Freitas, Cavaco Silva...
todos recorrendo ao golpe, à fraude, à mentira, à calúnia, à ilegalidade;
todos ordenando os roubos de terras, de colheitas, de cortiça, de máquinas, de alfaias, de gados;
todos fora-da-lei, violando ostensivamente a Constituição da República e rasgando insolentemente centenas de decisões favoráveis à Reforma Agrária emitidas pelos tribunais; todos não hesitando em submeter o Alentejo a ferro e fogo, em mandar perseguir, prender, submeter a interrogatórios pidescos, torturar, milhares de trabalhadores - em mandar disparar, ferir, matar;
todos destilando o ódio de classe que os invadia e exibindo-se como serventuários caninos dos velhos latifundiários - dos mesmos que, anos antes, tinham Salazar como seu serventuário canino;
o Passado retrógrado, explorador e opressor regressado aos campos do Alentejo.
5 - O FUTURO:
a certeza de que a Reforma Agrária nos mostrou um pedacinho do Futuro pelo qual lutamos;
a certeza de que não há Democracia sem uma Reforma Agrária que restitua a terra a quem a trabalha;
a certeza de que os mortos, não os deixamos para trás, abandonados;
a certeza de que a luta continua;
a certeza de que VENCEREMOS.
POEMA
OS HOMENS AMO POR RESPEITO MEU
Os homens amo por respeito meu
e não por mentirosa obrigação
da piedade a que uns subtis se dão
dessa ficção a que se chama céu.
Mais exigente que esses sou-o eu,
senhor da minha determinação.
De que paz é penhor uma explosão?
Que luz acende a escuridão de breu?
Vale-me quanto com trabalho ganho
aleivosia, inveja, ódio, arreganho,
incompreensão, repúdio, sangue, fel.
Ao destino cruel não me submeto.
Enquanto o mundo for assim abjecto
me esforçarei em submetê-lo a ele.
Armindo Rodrigues
Os homens amo por respeito meu
e não por mentirosa obrigação
da piedade a que uns subtis se dão
dessa ficção a que se chama céu.
Mais exigente que esses sou-o eu,
senhor da minha determinação.
De que paz é penhor uma explosão?
Que luz acende a escuridão de breu?
Vale-me quanto com trabalho ganho
aleivosia, inveja, ódio, arreganho,
incompreensão, repúdio, sangue, fel.
Ao destino cruel não me submeto.
Enquanto o mundo for assim abjecto
me esforçarei em submetê-lo a ele.
Armindo Rodrigues
«NÓS SOMOS EUROPEUS»
Diz o Público que ministério do Ambiente mandou destruir a totalidade dos documentos respeitantes a fundos comunitários da sua área.
Dos documentos destruídos fazem parte os que dizem respeito ao processo de construção da Estação de Resíduos Sólidos da Cova da Beira, processo que, como estamos lembrados, aguarda julgamento por suspeitas de corrupção e de branqueamento de capitais - e ao qual, como também estamos lembrados, o nome de José Sócrates tem aparecido ligado.
Ao que parece, a destruição dos documentos foi feita na base de leis europeias mas contrariando as leis portuguesas.
Está visto: foi na base deste «critério» que o PS escolheu para lema da sua campanha eleitoral aquele pomposo e provinciano «Nós somos europeus»...
Dos documentos destruídos fazem parte os que dizem respeito ao processo de construção da Estação de Resíduos Sólidos da Cova da Beira, processo que, como estamos lembrados, aguarda julgamento por suspeitas de corrupção e de branqueamento de capitais - e ao qual, como também estamos lembrados, o nome de José Sócrates tem aparecido ligado.
Ao que parece, a destruição dos documentos foi feita na base de leis europeias mas contrariando as leis portuguesas.
Está visto: foi na base deste «critério» que o PS escolheu para lema da sua campanha eleitoral aquele pomposo e provinciano «Nós somos europeus»...
POEMA
(Pastoral escrita de propósito para uma
canção de protesto de Fernando Lopes-Graça
que mantém, inflexível, um coro de canções
populares e revolucionárias.)
Ó pastor que choras,
o teu rebanho onde está?
- Deita as mágoas fora,
carneiros é o que mais há.
Uns de finos modos,
outros vis por desprazer...
Mas carneiros todos
com carne de obedecer.
Quem te pôs na orelha
essas cerejas, pastor?
São de cor vermelha,
vai pintá-las de outra cor.
Vai pintar os frutos,
as amoras, os rosais...
vai pintar de luto
as papoilas dos trigais.
José Gomes Ferreira
canção de protesto de Fernando Lopes-Graça
que mantém, inflexível, um coro de canções
populares e revolucionárias.)
Ó pastor que choras,
o teu rebanho onde está?
- Deita as mágoas fora,
carneiros é o que mais há.
Uns de finos modos,
outros vis por desprazer...
Mas carneiros todos
com carne de obedecer.
Quem te pôs na orelha
essas cerejas, pastor?
São de cor vermelha,
vai pintá-las de outra cor.
Vai pintar os frutos,
as amoras, os rosais...
vai pintar de luto
as papoilas dos trigais.
José Gomes Ferreira
17 DE MAIO DE 1959
No dia 17 de Maio de 1959... - dir-me-ão: foi inaugurado o Cristo Rei.
E é verdade. E esse foi o grande acontecimento do dia. Não contesto.
Todavia, outros acontecimentos, ocorreram nesse longínquo dia 17 de Maio de 1959. Acontecimentos de menor relevância, sem dúvida, sem direito a comemoração de cinquentenário nem nada que se pareça, mas mesmo assim dignos de registo - pelo menos por quem os viveu.
No que me diz respeito, do dia da inauguração do Cristo Rei, o que mais vivamente recordo é uma reunião nacional alargada da União da Juventude Portuguesa (UJP) - movimento juvenil antifascista que havia sido criado um ano antes (no decorrer da campanha para as presidenciais, na qual os candidatos antifascistas Arlindo Vicente e Humberto Delgado enfrentaram o candidato fascista Américo Tomás).
A reunião realizou-se no Monsanto - nem mais nem menos! - e, curiosamente, sem grandes cuidados de vigilância...
E tudo isso graças, precisamente, à inauguração do Cristo Rei.
Eu explico: pensámos nós, jovens da UJP - e pensámos bem - que a multidão que se deslocaria a Lisboa nesse dia, nos permitiria reunir passando despercebidos aos olhos e ouvidos da PIDE; pensámos nós - e pensámos bem - que o Monsanto seria invadido por grupos de gente a pic-nicar e que o nosso «grupo» seria apenas mais um...
E assim foi: durante parte da manhã e da tarde desse dia da inauguração do Cristo Rei, mais ou menos disfarçados de inaugurantes, discutimos e decidimos o que nos pareceu necessário e possível no sentido de darmos mais força à nossa luta contra o regime fascista.
E assim foi o nosso acontecimento desse dia 17 de Maio - um dos tais acontecimentos sem direito a comemoração cinquentenária.
Mas com direito a ficar, na memória dos que o protagonizaram, como o grande acontecimento desse dia 17 de maio de 1959.
E é verdade. E esse foi o grande acontecimento do dia. Não contesto.
Todavia, outros acontecimentos, ocorreram nesse longínquo dia 17 de Maio de 1959. Acontecimentos de menor relevância, sem dúvida, sem direito a comemoração de cinquentenário nem nada que se pareça, mas mesmo assim dignos de registo - pelo menos por quem os viveu.
No que me diz respeito, do dia da inauguração do Cristo Rei, o que mais vivamente recordo é uma reunião nacional alargada da União da Juventude Portuguesa (UJP) - movimento juvenil antifascista que havia sido criado um ano antes (no decorrer da campanha para as presidenciais, na qual os candidatos antifascistas Arlindo Vicente e Humberto Delgado enfrentaram o candidato fascista Américo Tomás).
A reunião realizou-se no Monsanto - nem mais nem menos! - e, curiosamente, sem grandes cuidados de vigilância...
E tudo isso graças, precisamente, à inauguração do Cristo Rei.
Eu explico: pensámos nós, jovens da UJP - e pensámos bem - que a multidão que se deslocaria a Lisboa nesse dia, nos permitiria reunir passando despercebidos aos olhos e ouvidos da PIDE; pensámos nós - e pensámos bem - que o Monsanto seria invadido por grupos de gente a pic-nicar e que o nosso «grupo» seria apenas mais um...
E assim foi: durante parte da manhã e da tarde desse dia da inauguração do Cristo Rei, mais ou menos disfarçados de inaugurantes, discutimos e decidimos o que nos pareceu necessário e possível no sentido de darmos mais força à nossa luta contra o regime fascista.
E assim foi o nosso acontecimento desse dia 17 de Maio - um dos tais acontecimentos sem direito a comemoração cinquentenária.
Mas com direito a ficar, na memória dos que o protagonizaram, como o grande acontecimento desse dia 17 de maio de 1959.
POEMA
(A gente da mesa vizinha só fala
em dinheiro, negócios de compra e venda...
E, no entanto, temos de salvar o mundo,
homens. Dar-lhe outro sentido.)
Tudo vendem e compram: sonhos, estátuas de sebo,
palácios para idílios de espectros,
sorrisos de crocodilo,
frio arrancado das lanças...
Só não percebo
porque não vendem o luar a metro
e as estrelas a quilo
(para caixões de crianças).
José Gomes Ferreira
em dinheiro, negócios de compra e venda...
E, no entanto, temos de salvar o mundo,
homens. Dar-lhe outro sentido.)
Tudo vendem e compram: sonhos, estátuas de sebo,
palácios para idílios de espectros,
sorrisos de crocodilo,
frio arrancado das lanças...
Só não percebo
porque não vendem o luar a metro
e as estrelas a quilo
(para caixões de crianças).
José Gomes Ferreira
MAIS UM...
Diz o Público de hoje que:
«O processo do chamado "caso Judas", no qual o antigo presidente da Câmara de Cascais José Luís Judas e o empresário Américo Santos eram arguidos, foi arquivado sem que nenhum dos acusados tenha ido a julgamento».
Sem mais comentários, acrescente-se, a bem do rigor, que José Luís Judas era Presidente da Câmara eleito pelo PS.
«O processo do chamado "caso Judas", no qual o antigo presidente da Câmara de Cascais José Luís Judas e o empresário Américo Santos eram arguidos, foi arquivado sem que nenhum dos acusados tenha ido a julgamento».
Sem mais comentários, acrescente-se, a bem do rigor, que José Luís Judas era Presidente da Câmara eleito pelo PS.
POEMA
(Saltimbancos)
Ao som dum sol-e-dó
vão dois maltrapilhos
a ensinar os filhos
a dançar no pó.
Que pena esta sem gente sem pão
não ter
imaginação
para sofrer!
José Gomes Ferreira
Ao som dum sol-e-dó
vão dois maltrapilhos
a ensinar os filhos
a dançar no pó.
Que pena esta sem gente sem pão
não ter
imaginação
para sofrer!
José Gomes Ferreira
QUE PIVETE!
O jornalista alemão Wolfgang Munchau, em artigo publicado no Financial Times, escreveu assim:
«Não há nada na política europeia que cheire pior do que a aparente inevitabilidade de mais cinco anos de Durão Barroso. Ele é o caniche de Ângela Merkel».
Palavras certeiras. Ou quase: porque infelizmente a política da União Europeia, exportada para os diversos países, cheira que tresanda para os trabalhadores e os povos; e porque caniches de chefes poderosos são coisa trivial na UE- como o demonstram Ângela Merkel e os seus pares (de Sarkozy a Zapatero, de Berlusconi a Sócrates...), no cumprimento fiel e servil dos ditames do grande capital.
Em todo o caso, é curiosa e por demais elucidativa esta imagem mal-cheirosa e canina que o jornalista nos dá de Durão Barroso.
E é certamente tendo em conta o mau cheiro do caniche que José Sócrates defende a continuação de Barroso como presidente da Comissão Europeia - em nome de um «patriotismo» que, além de provinciano e ridículo, se revela, agora, intensamente mal cheiroso...
Que pivete!
«Não há nada na política europeia que cheire pior do que a aparente inevitabilidade de mais cinco anos de Durão Barroso. Ele é o caniche de Ângela Merkel».
Palavras certeiras. Ou quase: porque infelizmente a política da União Europeia, exportada para os diversos países, cheira que tresanda para os trabalhadores e os povos; e porque caniches de chefes poderosos são coisa trivial na UE- como o demonstram Ângela Merkel e os seus pares (de Sarkozy a Zapatero, de Berlusconi a Sócrates...), no cumprimento fiel e servil dos ditames do grande capital.
Em todo o caso, é curiosa e por demais elucidativa esta imagem mal-cheirosa e canina que o jornalista nos dá de Durão Barroso.
E é certamente tendo em conta o mau cheiro do caniche que José Sócrates defende a continuação de Barroso como presidente da Comissão Europeia - em nome de um «patriotismo» que, além de provinciano e ridículo, se revela, agora, intensamente mal cheiroso...
Que pivete!
POEMA
UM FANTASMA PERCORRE A EUROPA
...E as velhas famílias fecham as janelas,
reforçam a segurança das portas,
e o pai corre às escuras para os Bancos
e o pulso pára-lhe na Bolsa
e sonha de noite com fogueiras,
com reses a arder,
que em vez de trigais tem chamas,
em vez de grãos, chispas
caixas,
caixas de ferro, cheias de faúlhas.
Onde estás,
onde estás?
Os camponeses passam e calcam-nos o sangue.
O que é isto?
- Fechemos,
fechemos depressa as fronteiras.
Vede como avança rápido no vento de Leste,
das estepes vermelhas da fome.
Que os operários não lhe ouçam a voz,
que o seu silvo não penetre nas fábricas,
que não divisem a sua foice erguida os homens dos campos.
Detende-o!
Porque transpôs os mares,
percorrendo toda a geografia,
porque se esconde nos porões dos barcos
e fala com os fogueiros
e trá-los tisnados para a coberta
e faz com que o ódio e a miséria se sublevem
e as tripulações se levantem.
Fechai,
fechai os cárceres!
A sua voz estilhaçar-se-á contra os muros.
Que é isto?
- Mas nós seguimo-lo,
fazemo-lo baixar do vento Leste que o traz,
perguntamos-lhe pelas estepes vermelhas da paz e do triunfo,
sentamo-lo à mesa do camponês pobre,
apresentamo-lo ao dono da fábrica,
fazemo-lo presidir às greves e às manifestações,
falar com os soldados e os marinheiros,
visitar os pequenos empregados nas oficinas
e erguer o punho aos gritos nos Parlamentos do ouro e do sangue.
Um fantasma percorre a Europa,
o mundo.
Nós chamamos-lhe camarada.
Rafael Alberti
...E as velhas famílias fecham as janelas,
reforçam a segurança das portas,
e o pai corre às escuras para os Bancos
e o pulso pára-lhe na Bolsa
e sonha de noite com fogueiras,
com reses a arder,
que em vez de trigais tem chamas,
em vez de grãos, chispas
caixas,
caixas de ferro, cheias de faúlhas.
Onde estás,
onde estás?
Os camponeses passam e calcam-nos o sangue.
O que é isto?
- Fechemos,
fechemos depressa as fronteiras.
Vede como avança rápido no vento de Leste,
das estepes vermelhas da fome.
Que os operários não lhe ouçam a voz,
que o seu silvo não penetre nas fábricas,
que não divisem a sua foice erguida os homens dos campos.
Detende-o!
Porque transpôs os mares,
percorrendo toda a geografia,
porque se esconde nos porões dos barcos
e fala com os fogueiros
e trá-los tisnados para a coberta
e faz com que o ódio e a miséria se sublevem
e as tripulações se levantem.
Fechai,
fechai os cárceres!
A sua voz estilhaçar-se-á contra os muros.
Que é isto?
- Mas nós seguimo-lo,
fazemo-lo baixar do vento Leste que o traz,
perguntamos-lhe pelas estepes vermelhas da paz e do triunfo,
sentamo-lo à mesa do camponês pobre,
apresentamo-lo ao dono da fábrica,
fazemo-lo presidir às greves e às manifestações,
falar com os soldados e os marinheiros,
visitar os pequenos empregados nas oficinas
e erguer o punho aos gritos nos Parlamentos do ouro e do sangue.
Um fantasma percorre a Europa,
o mundo.
Nós chamamos-lhe camarada.
Rafael Alberti
PROPAGANDA?
«Preços da carne, peixe e leite voltam a descer» - informa o Jornal de Notícias de hoje, à largura de toda a sua primeira página.
Curiosamente, esta mesma notícia, mais carne menos peixe, foi dada por este mesmo jornal há uns tempos atrás.
Na altura, a anunciada descida de preços não chegou aqui, ao «meu» supermercado, talvez porque se tenha perdido pelo caminho, ou por falha de comunicação, ou assim... - como então fiz questão de sublinhar.
Veremos se desta vez a sensacional notícia se confirma, isto é, se os meus «preços da carne, peixe e leite» descem mesmo.
Caso contrário, terei de concluir que tais notícias se inserem na campanha de propaganda à política do Governo - tanto mais que não é costume os aumentos serem anunciados... e muito menos em parangonas de primeiras páginas.
Curiosamente, esta mesma notícia, mais carne menos peixe, foi dada por este mesmo jornal há uns tempos atrás.
Na altura, a anunciada descida de preços não chegou aqui, ao «meu» supermercado, talvez porque se tenha perdido pelo caminho, ou por falha de comunicação, ou assim... - como então fiz questão de sublinhar.
Veremos se desta vez a sensacional notícia se confirma, isto é, se os meus «preços da carne, peixe e leite» descem mesmo.
Caso contrário, terei de concluir que tais notícias se inserem na campanha de propaganda à política do Governo - tanto mais que não é costume os aumentos serem anunciados... e muito menos em parangonas de primeiras páginas.
POEMA
AVISO
A noite que precedeu a sua morte
foi a mais breve de toda a sua vida
Pensar que estava vivo ainda
era um fogo no sangue até aos punhos
A sua força era tal que ele gemia
Foi quando atingia o fundo deste horror
que o seu rosto num sorriso se lhe abriu
Não tinha apenas um único camarada
mas sim milhões e milhões de camaradas
para o vingarem sim bem o sabia
E então para ele ergue-se a alvorada
Paul Éluard
A noite que precedeu a sua morte
foi a mais breve de toda a sua vida
Pensar que estava vivo ainda
era um fogo no sangue até aos punhos
A sua força era tal que ele gemia
Foi quando atingia o fundo deste horror
que o seu rosto num sorriso se lhe abriu
Não tinha apenas um único camarada
mas sim milhões e milhões de camaradas
para o vingarem sim bem o sabia
E então para ele ergue-se a alvorada
Paul Éluard
PRONTO!: NÃO SE FALA MAIS NISSO...
O inquérito ao caso das propostas de obras assinadas por José Sócrates na década de 80, foi arquivado.
Foi o DIAP de Coimbra que assim decidiu. Por considerar que «os eventuais crimes já prescreveram»
Pronto!: não se fala mais nisso...
(agora só falta deixar que passe o tempo necessário para que prescrevam todos os outros processos sobre outros «eventuais crimes»)
Foi o DIAP de Coimbra que assim decidiu. Por considerar que «os eventuais crimes já prescreveram»
Pronto!: não se fala mais nisso...
(agora só falta deixar que passe o tempo necessário para que prescrevam todos os outros processos sobre outros «eventuais crimes»)
POEMA
DE PÉ, OH COMPANHEIRO
Cantar aqueles que partiram
é dar força à liberdade
as flores vermelhas que os cobriram
tornaram alegre a saudade.
Foi naquela tarde de Maio
que lhes dissemos adeus
quem disser adeus em Maio
nunca se afasta dos seus.
De pé, de pé oh companheiro!
De pé e punho levantado
o que morreu é o primeiro
a estar de pé ao nosso lado.
Quem tombar no caminho
continua ao nosso lado
partir não é estar sozinho
é lutar acompanhado.
Por isso os que não ficaram
nem calados nem cativos
em Maio não nos deixaram
pois para nós só há vivos.
Na batalha que travamos
não há tristeza nem morte
a bandeira que levamos
é a razão do mais forte.
Baixando à terra com ela
quem morre devolve à terra
a semente ainda mais bela
contra a fome e contra a guerra.
José Carlos Ary dos Santos
Cantar aqueles que partiram
é dar força à liberdade
as flores vermelhas que os cobriram
tornaram alegre a saudade.
Foi naquela tarde de Maio
que lhes dissemos adeus
quem disser adeus em Maio
nunca se afasta dos seus.
De pé, de pé oh companheiro!
De pé e punho levantado
o que morreu é o primeiro
a estar de pé ao nosso lado.
Quem tombar no caminho
continua ao nosso lado
partir não é estar sozinho
é lutar acompanhado.
Por isso os que não ficaram
nem calados nem cativos
em Maio não nos deixaram
pois para nós só há vivos.
Na batalha que travamos
não há tristeza nem morte
a bandeira que levamos
é a razão do mais forte.
Baixando à terra com ela
quem morre devolve à terra
a semente ainda mais bela
contra a fome e contra a guerra.
José Carlos Ary dos Santos
Ervidel do Alentejo!
Estiveram lá todos... mesmo os que, por algum motivo que já me quiseram dizer, não puderam ir. estiveram lá todos. e ainda tenho a voz embargada pelas lágrimas de ter reunido tantos amigos... nestas alturas um homem repara nos passos que dá... e, honestamente, não sei quais tenha dado para merecer tantos e tão bons amigos... mas lá estavam... mais de cem...lá estavam. cada um marcando profundamente a sua presença no meu coração rendido a tamanha demonstração de tão nobre sentimento. Bem sei que tínhamos a desculpa do livro... afinal, estava a ser lançado um livro que relata histórias (a HISTÓRIA) das gentes da terra. E estava tudo curioso. naturalmente. lá estão as fotografias dos avós, dos pais, dos irmãos... do sofrimento e das alegrias das suas vidas que, de uma forma ou de outra, moldaram também a história deste povo. do nosso povo. do povo a que pertenço. mas lá estavam todos. e no final eu percebi que apenas queriam retribuir o abraço que sentiram pela minha parte -e, essencialmente, da Junta de Freguesia - por termos sabido dar voz às suas vozes habitualmente esquecidas pela história oficial.
lá estavam todos. o luís, o valverde, o domingos, o caixinha, o cardador, o raimundo, o inácio... a vanessa, o gui, os meus pais... e agora cá estão todos... bem apertados no meu peito, pois não tenho mais espaço no coração para tanta e tão boa gente. sábado nasci novamente. desde lá que sou filho de Ervidel. amanhã, quando me virem em qualquer lugar, não digam «lá vem o alentejano!» embora não estejam errados... sejam mais específicos! lá vem o ervidelense!
a todos os amigos: muito obrigado
( para mais pormenores acerca da publicação clicar no titulo)
lá estavam todos. o luís, o valverde, o domingos, o caixinha, o cardador, o raimundo, o inácio... a vanessa, o gui, os meus pais... e agora cá estão todos... bem apertados no meu peito, pois não tenho mais espaço no coração para tanta e tão boa gente. sábado nasci novamente. desde lá que sou filho de Ervidel. amanhã, quando me virem em qualquer lugar, não digam «lá vem o alentejano!» embora não estejam errados... sejam mais específicos! lá vem o ervidelense!
a todos os amigos: muito obrigado
( para mais pormenores acerca da publicação clicar no titulo)
DO PORMENOR AO PORMAIOR...
Na sua crónica de hoje no Jornal de Notícias, Manuel António Pina comenta criticamente - e com justeza, a meu ver - as Queima das Fitas: «alarvidades+Quim Barreiros+garraiadas+comas alcoólicos»...
A dada altura, o cronista faz comparações:
«No antigo regime, os estudantes universitários eram pomposamente designados de "futuros dirigentes da Nação". Hoje, os futuros dirigentes da Nação formam-se nas "jotas" a colar cartazes e a aprender as artes florentinas da intriga e da bajulice aos poderes partidários, enquanto à Universidade cabe formar desempregados ou caixas de supermercados».
É verdade que assim foi - e é quase verdade que assim é.
No que respeita ao passado, há apenas a lamentar que o cronista, em vez de escrever «antigo regime» não tenha escrito regime fascista, e assim se tenha deixado levar, inadvertidamente, na onda de branqueamento do fascismo dos historiadores de serviço...
No que respeita ao presente, metendo as «jotas» todas no mesmo saco, o cronista procede a uma generalização bem ao arrepio da realidade.
É que, de facto, da mesma forma que os partidos não são todos iguais, também as «jotas» não o são, como nos mostra a prática da Juventude Comunista Portuguesa, distinta da de todas as outras «jotas» - essas, sim, todas iguais entre si.
Dir-me-ão que se trata de um pormenor.
Talvez.
Ou talvez não. Porque como a vida e a experiência nos mostram, às vezes, o chamado pormenor revela-se como autêntico pormaior...
A dada altura, o cronista faz comparações:
«No antigo regime, os estudantes universitários eram pomposamente designados de "futuros dirigentes da Nação". Hoje, os futuros dirigentes da Nação formam-se nas "jotas" a colar cartazes e a aprender as artes florentinas da intriga e da bajulice aos poderes partidários, enquanto à Universidade cabe formar desempregados ou caixas de supermercados».
É verdade que assim foi - e é quase verdade que assim é.
No que respeita ao passado, há apenas a lamentar que o cronista, em vez de escrever «antigo regime» não tenha escrito regime fascista, e assim se tenha deixado levar, inadvertidamente, na onda de branqueamento do fascismo dos historiadores de serviço...
No que respeita ao presente, metendo as «jotas» todas no mesmo saco, o cronista procede a uma generalização bem ao arrepio da realidade.
É que, de facto, da mesma forma que os partidos não são todos iguais, também as «jotas» não o são, como nos mostra a prática da Juventude Comunista Portuguesa, distinta da de todas as outras «jotas» - essas, sim, todas iguais entre si.
Dir-me-ão que se trata de um pormenor.
Talvez.
Ou talvez não. Porque como a vida e a experiência nos mostram, às vezes, o chamado pormenor revela-se como autêntico pormaior...
POEMA
SEMPRE
Éramos muitos...
De vós só restam a lenda
e as cruzes espalhadas
pela vinha
de cepas mutiladas.
E agora enchemos o vosso silêncio
de novas palavras,
palavras a que os vossos lábios
não estavam afeiçoados.
Sois a lenda que surge e teima
em vestir-se com as luzes
que mal se adivinham.
Sois o destino já cumprido,
a história enraizada na vinha
de cepas mutiladas.
Éramos muitos...
e somos mais,
apesar das cruzes
que apodrecem ao relento,
apesar das palavras que nunca chegam
a ser iguais para toda a gente,
apesar da sufocante espera.
Éramos muitos.
E somos mais.
Félix Cucurull
Éramos muitos...
De vós só restam a lenda
e as cruzes espalhadas
pela vinha
de cepas mutiladas.
E agora enchemos o vosso silêncio
de novas palavras,
palavras a que os vossos lábios
não estavam afeiçoados.
Sois a lenda que surge e teima
em vestir-se com as luzes
que mal se adivinham.
Sois o destino já cumprido,
a história enraizada na vinha
de cepas mutiladas.
Éramos muitos...
e somos mais,
apesar das cruzes
que apodrecem ao relento,
apesar das palavras que nunca chegam
a ser iguais para toda a gente,
apesar da sufocante espera.
Éramos muitos.
E somos mais.
Félix Cucurull
Apresentação do Livro "Assalariados Agrícolas de Ervidel"
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Recepção aos convidados pelo Exmo. Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Ervidel.
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Na abertura da sessão, actuou o Grupo Coral As Margens do Roxo
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O público presente.
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A apresentação com intervenções do Presidente da Câmara de Aljustrel, Presidente da Junta de Freguesia, José Casanova que redigiu o prefácio e o Autor do livro António Lains Galamba
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O público encheu o Museu Agrícola de Ervidel.
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A sessão de autógrafos.
POEMA
(No Eléctrico)
E se eu de súbito gritasse
nesta voz de lágrimas sem face!:
Eh! companheiros da plataforma
presos ao apagar do mesmo pavio!
Por que não nos amamos uns aos outros
e damos as mãos
- sim, as nossas mãos
onde apodrecem aranhas de bafio?
Eh! companheiros da plataforma!
(Não empurrem, Irmãos.)
José Gomes Ferreira
E se eu de súbito gritasse
nesta voz de lágrimas sem face!:
Eh! companheiros da plataforma
presos ao apagar do mesmo pavio!
Por que não nos amamos uns aos outros
e damos as mãos
- sim, as nossas mãos
onde apodrecem aranhas de bafio?
Eh! companheiros da plataforma!
(Não empurrem, Irmãos.)
José Gomes Ferreira
O DIA SEGUINTE
De hoje a um mês - 8 de Junho - será o dia seguinte às eleições para o Parlamento Europeu e, pouco depois, os deputados eleitos iniciarão (ou reiniciarão) as suas funções.
Cada um à sua maneira, como temos visto até aqui - sendo certo e sabido que, dos actuais cabeças de lista, Ilda Figueiredo será a que mais trabalho desenvolverá e a que, naquela instância europeia, melhor defenderá os interesses de Portugal e dos portugueses.
De facto, a postura singular dos eleitos da CDU faz a diferença: o que dizem aos eleitores durante a campanha eleitoral é o que fazem nos órgãos para que foram eleitos.
Lá como cá.
Há um outro aspecto que mostra a diferença entre o PCP/CDU e todos - todos! - os outros partidos: é o que tem a ver com o dia seguinte às eleições.
No caso do PCP e dos seus aliados, no dia seguinte, seja qual for o resultado obtido, a luta continua - sendo certo que quanto melhor for o resultado obtido mais forte será a luta.
Porque é para isso que os comunistas querem obter mais votos em cada eleição: para fortalecer a luta.
Mesmo quando não são eleitos, não é por isso que os candidatos comunistas desistem de lutar pelas propostas com que se apresentaram aos eleitores e de cumprir os compromissos que com eles assumiram.
Um exemplo: nas últimas eleições legislativas, Ilda Figueiredo foi cabeça de lista da CDU pelo distrito de Aveiro. Não foi eleita.
No dia seguinte, às oito da manhã, Ilda Figueiredo estava à porta de uma empresa do distrito, levando a sua solidariedade aos trabalhadores ameaçados de perderem os seus postos de trabalho.
Dos deputados que o eleitorado do distrito elegera na véspera, nem um lá estava...
E muito provavelmente, parte grande dos trabalhadores dessa empresa era nesses deputados que tinha votado...
De hoje a um mês - 8 de Junho - será o dia seguinte às eleições para o Parlamento Europeu. Esperamos que o eleitorado, dando mais votos à CDU, dê mais força à luta que irá prosseguir.
E assim será se cada um de nós, activistas da CDU, der o seu contributo para levarmos por diante uma grande e esclarecedora campanha eleitoral - uma campanha que marque a diferença e que dê mais força à luta do dia seguinte.
Cada um à sua maneira, como temos visto até aqui - sendo certo e sabido que, dos actuais cabeças de lista, Ilda Figueiredo será a que mais trabalho desenvolverá e a que, naquela instância europeia, melhor defenderá os interesses de Portugal e dos portugueses.
De facto, a postura singular dos eleitos da CDU faz a diferença: o que dizem aos eleitores durante a campanha eleitoral é o que fazem nos órgãos para que foram eleitos.
Lá como cá.
Há um outro aspecto que mostra a diferença entre o PCP/CDU e todos - todos! - os outros partidos: é o que tem a ver com o dia seguinte às eleições.
No caso do PCP e dos seus aliados, no dia seguinte, seja qual for o resultado obtido, a luta continua - sendo certo que quanto melhor for o resultado obtido mais forte será a luta.
Porque é para isso que os comunistas querem obter mais votos em cada eleição: para fortalecer a luta.
Mesmo quando não são eleitos, não é por isso que os candidatos comunistas desistem de lutar pelas propostas com que se apresentaram aos eleitores e de cumprir os compromissos que com eles assumiram.
Um exemplo: nas últimas eleições legislativas, Ilda Figueiredo foi cabeça de lista da CDU pelo distrito de Aveiro. Não foi eleita.
No dia seguinte, às oito da manhã, Ilda Figueiredo estava à porta de uma empresa do distrito, levando a sua solidariedade aos trabalhadores ameaçados de perderem os seus postos de trabalho.
Dos deputados que o eleitorado do distrito elegera na véspera, nem um lá estava...
E muito provavelmente, parte grande dos trabalhadores dessa empresa era nesses deputados que tinha votado...
De hoje a um mês - 8 de Junho - será o dia seguinte às eleições para o Parlamento Europeu. Esperamos que o eleitorado, dando mais votos à CDU, dê mais força à luta que irá prosseguir.
E assim será se cada um de nós, activistas da CDU, der o seu contributo para levarmos por diante uma grande e esclarecedora campanha eleitoral - uma campanha que marque a diferença e que dê mais força à luta do dia seguinte.
POEMA
O INIMIGO
Grandes olhos frios espiam esta calma
fictícia em que vives. Olhos de inimigo
que chove sobre ti a sua areia,
migalha-te o futuro, cobiça-te os joelhos,
oferece longas jornas de fome, salários
feitos de medo e asco.
Sobre os campos, as fábricas, o inimigo
sopra no teu querer uma paralisia.
Inventa sombras, disfarça a sua imagem;
a linha que o define, fugidia,
em vão a pensarás, em vão teu lápis
tentará aprisionar o seu contorno.
Mas se avanças um passo logo o vês
nesses olhos que tentam fascinar-te.
Egito Gonçalves
Grandes olhos frios espiam esta calma
fictícia em que vives. Olhos de inimigo
que chove sobre ti a sua areia,
migalha-te o futuro, cobiça-te os joelhos,
oferece longas jornas de fome, salários
feitos de medo e asco.
Sobre os campos, as fábricas, o inimigo
sopra no teu querer uma paralisia.
Inventa sombras, disfarça a sua imagem;
a linha que o define, fugidia,
em vão a pensarás, em vão teu lápis
tentará aprisionar o seu contorno.
Mas se avanças um passo logo o vês
nesses olhos que tentam fascinar-te.
Egito Gonçalves
O FOLCLORE
O Bloco Central está na ordem do dia: chovem as opiniões de dirigentes dos partidos da política de direita e dos analistas de serviço sobre a possibilidade de PS e PSD juntarem os trapinhos, caso nenhum obtenha a maioria absoluta nas legislativas.
Diz um que o país não está assim tão mal que justifique essa medida «salvadora»; diz outro que tal medida seria «o 112 da crise»; outro diz «nunca!»; outro diz «talvez»; outro diz «sim»...
No fundo, o que todos querem dizer ao dizer o que dizem é que o essencial é assegurar a continuação da política de direita da qual o PS e o PSD têm sido os executores exclusivos (quando necessário com o CDS/PP), desde que Mário Soares a iniciou, já lá vão 33 sombrios anos.
Para o grande capital - que é o dono disto tudo, inclusive dos executores e propagandistas da política de direita - o Bloco Central, não é, de todo, a solução ideal: convém-lhe muito mais que seja um dos dois partidos, não importa qual, a cumprir a tarefa de bem aplicar essa política, de modo a que o outro possa continuar a fingir que é oposição, e a manter a patranha de que PS e PSD são opositores e alternativa um ao outro.
Como temos visto, essa modalidade tem a enorme vantagem de fazer com que, em cada eleição, milhões de eleitores descontentes com o governo PS (ou PSD), votem no PSD (ou no PS), isto é: que milhões de eleitores descontentes com a política de direita, voltem a votar nessa política julgando que estão a votar numa política diferente.
No entanto, os senhores do grande capital sabem que o capitalismo vive a maior e mais grave de todas as suas crises - que não é a última mas que confirma que a última há-de chegar...
Sabem que vão «superar» essa crise da única maneira que conhecem: acentuando a exploração dos trabalhadores.
Sabem, também, que essa crise atinge todo o mundo capitalista de que Portugal faz parte.
Sabem, ainda, que quando a crise cá chegou, já a política de direita mergulhara o País numa crise profunda que, agora, tudo indica vir a ser a mais grave e duradoura de sempre.
Sabem, finalmente, que os trabalhadores portugueses e as suas organizações de classe não lhes darão tréguas e tudo farão para derrotar a política de direita e impor um novo rumo para o País, por Abril de novo.
E sabendo tudo isto, os donos disto tudo não correrão riscos: se considerarem que o governo de Bloco Central é o menos arriscado, tomarão as medidas necessárias para que ele se concretize.
E se assim for, os líderes dos partidos da política de direita farão o que lhes for dito.
E os analistas de serviço analisarão de acordo com o que os patrões disserem.
Porque é para isso que servem, uns e outros, enquanto serventuários do grande capital
Tudo o resto é folclore.
Diz um que o país não está assim tão mal que justifique essa medida «salvadora»; diz outro que tal medida seria «o 112 da crise»; outro diz «nunca!»; outro diz «talvez»; outro diz «sim»...
No fundo, o que todos querem dizer ao dizer o que dizem é que o essencial é assegurar a continuação da política de direita da qual o PS e o PSD têm sido os executores exclusivos (quando necessário com o CDS/PP), desde que Mário Soares a iniciou, já lá vão 33 sombrios anos.
Para o grande capital - que é o dono disto tudo, inclusive dos executores e propagandistas da política de direita - o Bloco Central, não é, de todo, a solução ideal: convém-lhe muito mais que seja um dos dois partidos, não importa qual, a cumprir a tarefa de bem aplicar essa política, de modo a que o outro possa continuar a fingir que é oposição, e a manter a patranha de que PS e PSD são opositores e alternativa um ao outro.
Como temos visto, essa modalidade tem a enorme vantagem de fazer com que, em cada eleição, milhões de eleitores descontentes com o governo PS (ou PSD), votem no PSD (ou no PS), isto é: que milhões de eleitores descontentes com a política de direita, voltem a votar nessa política julgando que estão a votar numa política diferente.
No entanto, os senhores do grande capital sabem que o capitalismo vive a maior e mais grave de todas as suas crises - que não é a última mas que confirma que a última há-de chegar...
Sabem que vão «superar» essa crise da única maneira que conhecem: acentuando a exploração dos trabalhadores.
Sabem, também, que essa crise atinge todo o mundo capitalista de que Portugal faz parte.
Sabem, ainda, que quando a crise cá chegou, já a política de direita mergulhara o País numa crise profunda que, agora, tudo indica vir a ser a mais grave e duradoura de sempre.
Sabem, finalmente, que os trabalhadores portugueses e as suas organizações de classe não lhes darão tréguas e tudo farão para derrotar a política de direita e impor um novo rumo para o País, por Abril de novo.
E sabendo tudo isto, os donos disto tudo não correrão riscos: se considerarem que o governo de Bloco Central é o menos arriscado, tomarão as medidas necessárias para que ele se concretize.
E se assim for, os líderes dos partidos da política de direita farão o que lhes for dito.
E os analistas de serviço analisarão de acordo com o que os patrões disserem.
Porque é para isso que servem, uns e outros, enquanto serventuários do grande capital
Tudo o resto é folclore.
POEMA
A BOMBA
O primeiro sopro arrancou-lhe a roupa;
o imediato levou também a carne.
Ao longo da rua
durante alguns segundos correu o esqueleto.
Mas a rua já não estava,
estava toda no ar;
de lá caíam bocados de prédios, bocados
de crianças, restos de cadilaques...
O esqueleto não compreendia sozinho
aquela situação:
deixou-se tombar sobre algumas pedras radioactivas
e permitiu na queda o extravio de alguns ossos.
(Caso curioso: o coração
pulsou ainda três ou quatro vezes
entre o gradeamento das costelas.)
Egito Gonçalves
O primeiro sopro arrancou-lhe a roupa;
o imediato levou também a carne.
Ao longo da rua
durante alguns segundos correu o esqueleto.
Mas a rua já não estava,
estava toda no ar;
de lá caíam bocados de prédios, bocados
de crianças, restos de cadilaques...
O esqueleto não compreendia sozinho
aquela situação:
deixou-se tombar sobre algumas pedras radioactivas
e permitiu na queda o extravio de alguns ossos.
(Caso curioso: o coração
pulsou ainda três ou quatro vezes
entre o gradeamento das costelas.)
Egito Gonçalves
100 DIAS DE MUDANÇA
«Deito-me com a sensação de que as decisões que tomamos são as mais correctas», confessou Obama - que, contudo, não disse com que sensação se levanta. Nem especificou quem é que beneficia com as «decisões correctas» que toma:
os trabalhadores?
o grande capital?
Alguém há-de ser...
Ainda Obama: «Os críticos disseram que tenho feito de mais, que não posso fazer tudo ao mesmo tempo. Rejeito esse ponto de vista».
Sendo certo que com críticos destes, Obama não precisa de ter amigos... não é menos certo que o Presidente dos EUA está farto de demonstrar que pode fazer tudo ao mesmo tempo.
Eis um exemplo disso: na segunda-feira passada, no Afeganistão, as forças militares norte-americanas desferiram o ataque mais mortífero desde que os EUA invadiram o país, em 2001: mais de 120 pessoas, em grande parte mulheres e crianças, foram mortas.
De imediato - ao mesmo tempo... - Obama deu instruções a Hillary Clinton para dizer que «os EUA lamentam profundamente a perda de vidas civis».
Matar e lamentar os mortos: eis Obama a fazer tudo ao mesmo tempo - e a justificar o futuro: continuar a matar. E a lamentar. E a matar. E a lamentar. E a matar. E a matar. E a matar.
os trabalhadores?
o grande capital?
Alguém há-de ser...
Ainda Obama: «Os críticos disseram que tenho feito de mais, que não posso fazer tudo ao mesmo tempo. Rejeito esse ponto de vista».
Sendo certo que com críticos destes, Obama não precisa de ter amigos... não é menos certo que o Presidente dos EUA está farto de demonstrar que pode fazer tudo ao mesmo tempo.
Eis um exemplo disso: na segunda-feira passada, no Afeganistão, as forças militares norte-americanas desferiram o ataque mais mortífero desde que os EUA invadiram o país, em 2001: mais de 120 pessoas, em grande parte mulheres e crianças, foram mortas.
De imediato - ao mesmo tempo... - Obama deu instruções a Hillary Clinton para dizer que «os EUA lamentam profundamente a perda de vidas civis».
Matar e lamentar os mortos: eis Obama a fazer tudo ao mesmo tempo - e a justificar o futuro: continuar a matar. E a lamentar. E a matar. E a lamentar. E a matar. E a matar. E a matar.
POEMA
JOEIRA!
Até quando te calarás, povo?
Até quando te quedarás irresoluto?
Até quando te verei receoso?
Até quando serás ingénuo?
Até quando escutarás
os pregadores
que exploram
a tua inefável candura?
Mestres e guias infalíveis...?
Há-os de voz potente
e de botas ferradas;
há-os mais suaves,
até angélicos
e muito sábios...
Há os que usam, com palavras demasiado escolhidas,
a tua língua.
Joeira, povo,
com uma peneira finíssima
e esfrega a pele
nos cardos que te rodeiam
até que a dor se torne insuportável,
até sentires a dor soar
como um clarim de combate.
Félix Cucurull
Até quando te calarás, povo?
Até quando te quedarás irresoluto?
Até quando te verei receoso?
Até quando serás ingénuo?
Até quando escutarás
os pregadores
que exploram
a tua inefável candura?
Mestres e guias infalíveis...?
Há-os de voz potente
e de botas ferradas;
há-os mais suaves,
até angélicos
e muito sábios...
Há os que usam, com palavras demasiado escolhidas,
a tua língua.
Joeira, povo,
com uma peneira finíssima
e esfrega a pele
nos cardos que te rodeiam
até que a dor se torne insuportável,
até sentires a dor soar
como um clarim de combate.
Félix Cucurull
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