UM FANTASMA PERCORRE A EUROPA
...E as velhas famílias fecham as janelas,
reforçam a segurança das portas,
e o pai corre às escuras para os Bancos
e o pulso pára-lhe na Bolsa
e sonha de noite com fogueiras,
com reses a arder,
que em vez de trigais tem chamas,
em vez de grãos, chispas
caixas,
caixas de ferro, cheias de faúlhas.
Onde estás,
onde estás?
Os camponeses passam e calcam-nos o sangue.
O que é isto?
- Fechemos,
fechemos depressa as fronteiras.
Vede como avança rápido no vento de Leste,
das estepes vermelhas da fome.
Que os operários não lhe ouçam a voz,
que o seu silvo não penetre nas fábricas,
que não divisem a sua foice erguida os homens dos campos.
Detende-o!
Porque transpôs os mares,
percorrendo toda a geografia,
porque se esconde nos porões dos barcos
e fala com os fogueiros
e trá-los tisnados para a coberta
e faz com que o ódio e a miséria se sublevem
e as tripulações se levantem.
Fechai,
fechai os cárceres!
A sua voz estilhaçar-se-á contra os muros.
Que é isto?
- Mas nós seguimo-lo,
fazemo-lo baixar do vento Leste que o traz,
perguntamos-lhe pelas estepes vermelhas da paz e do triunfo,
sentamo-lo à mesa do camponês pobre,
apresentamo-lo ao dono da fábrica,
fazemo-lo presidir às greves e às manifestações,
falar com os soldados e os marinheiros,
visitar os pequenos empregados nas oficinas
e erguer o punho aos gritos nos Parlamentos do ouro e do sangue.
Um fantasma percorre a Europa,
o mundo.
Nós chamamos-lhe camarada.
Rafael Alberti
6 comentários:
Que chegue rápido!
beijos
Grande, grande texto!
Abraço.
Não conhecia este poema!
Tenho portas e janelas abertas de par em par.
Que chegue depressa!
Bjs,
GR
Hoje enchi-me de Machado e Hernandez.
Só me faltou mesmo Albertí...
De braços abertos o recebo, que não tarde...
Um beijo grande
Um fantasma que se vai corporizando luta a luta, poema a poema.
Vivo numa terra vermelha e só espero que o fantasma chegue depressa a todas as outras terras deste mundo.
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