OS DOIS MENINOS MAUS ESTUDANTES
- Zeca-e-Stélio!
- Mamã!
- São horas da escola.
- !!!
- Vocês não ouvem? São horas.
- Não queremos ir à escola, mamã.
- O quê? Não vão à escola? Vão, sim-senhor!
- Não vamos à escola, mamã.
- Mas não vão à escola porquê? Não estudaram, não é?
- É a sôra professora, mamã.
- É a sôra professora o quê?
- !!!
- Olhem, amanhã é dia de visita e vou queixar ao vosso pai.
- Não vai queixar, mamã.
- Queixo, sim, vocês vão ver.
- A sôra professora chama... a sôra professora cha...
- A sôra professora não chama nada, vou queixar.
- A sôra professora chama-nos filhos de uma turra, mamã.
- !!!
- Está bem, mamã, não chore.
Não chore, mamã. Nós vamos à escola, mamã.
(Agosto de 1967)
José Craveirinha
(In Cela 1)
CÁ ESTAMOS!
O fim-de-semana que passou foi de intensa actividade para os anticomunistas de serviço.
Os jornais - propriedade do grande capital, é bom nunca o esquecermos - na sequência do que têm vindo a fazer nas últimas semanas, andaram à cata de ex-comunistas para lhes darem a palavra.
E, claro, encontraram-nos e deram-lhes a palavra (quem se quer bem, sempre se encontra, não é verdade?).
O pretexto foi, naturalmente, o XVIII Congresso. Mas se não fosse esse seria outro.
Aliás para o que é bacalhau basta: o que é necessário é repetir e repetir (e se forem os ex a repetir e repetir, tanto melhor) que isto no PCP está uma desgraça, não há debate não há nada, não há democracia interna não há nada, o «isolamento» é cada vez maior, o PCP está sozinho, sozinho, sozinho, como se viu na AR: todos os outros partidos votaram o apoio aos EUA... perdão, a «condenação dos acontecimentos do Tibete»... e os deputados comunistas, foi o que se viu...
Mas pior, muito pior do que isso: o Partido, cego e surdo face às «novas realidades», persiste teimosamente em, vejam bem!, querer continuar a ser Comunista e Português - em vez de, se «adaptar» às tais «novas realidades» e passar a ser aquilo que os anticomunistas de todos os matizes querem que seja: uma coisa igual às várias coisas que por aí há, fingindo entre si diferenças que não existem e desunhando-se na busca do comum objectivo de perpetuar a velhíssima sociedade baseada na exploração do homem pelo homem, essa sim, a abarrotar de modernidade...
Registe-se, a talhe de foice, que os bloqueiros de serviço, cumpriram, também eles, exemplarmente, o seu papel - condicionados pelo seu peculiar método de inteligenciação canina, desta vez, o seu alvo foi o Avante.
Na verdade, incomoda-os a existência deste Partido, incomoda-os e irrita-os que o PCP não apenas não tenha acatado as infalíveis previsões de «definhamento, morte e funeral», mas tenha até ousado crescer e estar mais forte, mais influente, mais prestigiado junto da sociedade portuguesa.
Tenham paciência - muita, muita paciência, porque em verdade vos digo que isto é para continuar!
Conformem-se: como desculpa a dar aos superiores pelo fracasso das previsões, podem lembrar-lhes que nem o fascismo, com a sua violência brutal e repressiva, conseguiu acabar com o PCP - e que, bem pelo contrário, o contributo do PCP é que foi decisivo para acabar com o fascismo...
É fácil prever que, daqui até ao Congresso, vamos tê-los à perna a bolsar insultos e calúnias no bom cumprimento da tarefa que lhes está atribuída.
Pois bem: nós - comunistas que não prescindimos de o ser- cá estamos!
Os jornais - propriedade do grande capital, é bom nunca o esquecermos - na sequência do que têm vindo a fazer nas últimas semanas, andaram à cata de ex-comunistas para lhes darem a palavra.
E, claro, encontraram-nos e deram-lhes a palavra (quem se quer bem, sempre se encontra, não é verdade?).
O pretexto foi, naturalmente, o XVIII Congresso. Mas se não fosse esse seria outro.
Aliás para o que é bacalhau basta: o que é necessário é repetir e repetir (e se forem os ex a repetir e repetir, tanto melhor) que isto no PCP está uma desgraça, não há debate não há nada, não há democracia interna não há nada, o «isolamento» é cada vez maior, o PCP está sozinho, sozinho, sozinho, como se viu na AR: todos os outros partidos votaram o apoio aos EUA... perdão, a «condenação dos acontecimentos do Tibete»... e os deputados comunistas, foi o que se viu...
Mas pior, muito pior do que isso: o Partido, cego e surdo face às «novas realidades», persiste teimosamente em, vejam bem!, querer continuar a ser Comunista e Português - em vez de, se «adaptar» às tais «novas realidades» e passar a ser aquilo que os anticomunistas de todos os matizes querem que seja: uma coisa igual às várias coisas que por aí há, fingindo entre si diferenças que não existem e desunhando-se na busca do comum objectivo de perpetuar a velhíssima sociedade baseada na exploração do homem pelo homem, essa sim, a abarrotar de modernidade...
Registe-se, a talhe de foice, que os bloqueiros de serviço, cumpriram, também eles, exemplarmente, o seu papel - condicionados pelo seu peculiar método de inteligenciação canina, desta vez, o seu alvo foi o Avante.
Na verdade, incomoda-os a existência deste Partido, incomoda-os e irrita-os que o PCP não apenas não tenha acatado as infalíveis previsões de «definhamento, morte e funeral», mas tenha até ousado crescer e estar mais forte, mais influente, mais prestigiado junto da sociedade portuguesa.
Tenham paciência - muita, muita paciência, porque em verdade vos digo que isto é para continuar!
Conformem-se: como desculpa a dar aos superiores pelo fracasso das previsões, podem lembrar-lhes que nem o fascismo, com a sua violência brutal e repressiva, conseguiu acabar com o PCP - e que, bem pelo contrário, o contributo do PCP é que foi decisivo para acabar com o fascismo...
É fácil prever que, daqui até ao Congresso, vamos tê-los à perna a bolsar insultos e calúnias no bom cumprimento da tarefa que lhes está atribuída.
Pois bem: nós - comunistas que não prescindimos de o ser- cá estamos!
POEMA
NÃO SEI SE É UMA MEDALHA
Alguma vez
um cigarro aceso sentirá o delicioso
sabor de te fumar de repente
o ombro direito?
Pois
sobre isso eu juro
que tudo é pura mentira.
Juro
que nunca um cigarro LM
apagou sua idiossincrásica boca de lume
no calor escuro da minha omoplata.
E também juro
que nunca plagiei um cinzeiro moçambicano
sentado a cheirar o bafo da própria cinza
com o subchefe de brigada Acácio
um deus fantasmagórico envolto
na especial nuvem de tabaco
mistura de Virgínia com pele.
E também confesso
que se esta invenção tivesse acontecido
muito provavelmente seria em mil novecentos
e sessenta e seis à tarde numa certa Vila Algarve
enquanto pela duodécima vez
eu abanava a cabeça
e dizia: - Não sei!
Por acaso
a mancha desta mentira está.
Não sei se é uma medalha.
Mas não sai mais.
(1967)
José Craveirinha
(In Cela 1)
Alguma vez
um cigarro aceso sentirá o delicioso
sabor de te fumar de repente
o ombro direito?
Pois
sobre isso eu juro
que tudo é pura mentira.
Juro
que nunca um cigarro LM
apagou sua idiossincrásica boca de lume
no calor escuro da minha omoplata.
E também juro
que nunca plagiei um cinzeiro moçambicano
sentado a cheirar o bafo da própria cinza
com o subchefe de brigada Acácio
um deus fantasmagórico envolto
na especial nuvem de tabaco
mistura de Virgínia com pele.
E também confesso
que se esta invenção tivesse acontecido
muito provavelmente seria em mil novecentos
e sessenta e seis à tarde numa certa Vila Algarve
enquanto pela duodécima vez
eu abanava a cabeça
e dizia: - Não sei!
Por acaso
a mancha desta mentira está.
Não sei se é uma medalha.
Mas não sai mais.
(1967)
José Craveirinha
(In Cela 1)
A revolução não será televisionada (1/10)
Documentário "A revolução não será televisionada" dividida em 10 partes.
POEMA
AMOR A DOER
Beijos.
Carícias.
Este infinito sentimento
no recíproco amor homem e mulher
para jamais nos esquecermos de vez
do amor dos amores mais amados
o amor chamado pátria!
Mordaças
Palmatoadas
Calabouços
Anilhas de ferro nos tornozelos.
E no infinito amor a doer
também o infantil beijo dos filhos
a magoada ternura incansável da esposa
um cobertor grande e um pequeno para os quatro
e numa tábua despregada no chão
escondido o jornal a falar do Fidel.
E nem que nos caia em cima o argumento
de cigarro na boca e lúgubre revólver em cima da mesa
não mostraremos o papel guardado na tábua do soalho
ali a fazer do amor escondido
o futuro de um povo.
(1958)
José Craveirinha
(In Cela 1)
Beijos.
Carícias.
Este infinito sentimento
no recíproco amor homem e mulher
para jamais nos esquecermos de vez
do amor dos amores mais amados
o amor chamado pátria!
Mordaças
Palmatoadas
Calabouços
Anilhas de ferro nos tornozelos.
E no infinito amor a doer
também o infantil beijo dos filhos
a magoada ternura incansável da esposa
um cobertor grande e um pequeno para os quatro
e numa tábua despregada no chão
escondido o jornal a falar do Fidel.
E nem que nos caia em cima o argumento
de cigarro na boca e lúgubre revólver em cima da mesa
não mostraremos o papel guardado na tábua do soalho
ali a fazer do amor escondido
o futuro de um povo.
(1958)
José Craveirinha
(In Cela 1)
1º Aniversário do Cravo de Abril
Caros amigos e visitantes do Cravo de Abril,
- A visita ao forte de Peniche irá realizar-se por volta das 10.00horas e foi previamente confirmada com a entidade que gere a agenda do forte. Todos os que se deslocarem através de transporte próprio, deverão comparecer no forte à hora acima mencionada;
- Relativamente ao almoço (caldeirada à moda de Peniche), ainda não estamos em condições de confirmar o nome do Restaurante, aguardamos a recepção de propostas mais vantajosas (€€€).
São estas as informações que podemos transmitir, de momento. Na próxima semana anunciaremos o(s) nome(s) do(s) resistente(s) anti-fascista(s) que contamos levar para nos guiar na visita.
Após o almoço haverá um momento surpresa!
Mais esclarecimentos, mais informações e dúvidas podem contactar-me através do meu e-mail joaofiliperodrigues@gmail.com ou através do meu telemóvel 912130203.
Divulguem!
Há novidades relativamente à iniciativa de comemoração do 1º aniversário do Cravo de Abril que passo a anunciar:
- De acordo com as inscrições, e até ao momento, justifica-se o aluguer de um autocarro com partida de Lisboa (Rossio) pelas 8.00horas. Se, até à data da visita, houver noutros locais grupos que justifiquem a requisição de transporte colectivo, por favor informem-nos para que tratemos do aluguer;
- De acordo com as inscrições, e até ao momento, justifica-se o aluguer de um autocarro com partida de Lisboa (Rossio) pelas 8.00horas. Se, até à data da visita, houver noutros locais grupos que justifiquem a requisição de transporte colectivo, por favor informem-nos para que tratemos do aluguer;
- A visita ao forte de Peniche irá realizar-se por volta das 10.00horas e foi previamente confirmada com a entidade que gere a agenda do forte. Todos os que se deslocarem através de transporte próprio, deverão comparecer no forte à hora acima mencionada;
- Relativamente ao almoço (caldeirada à moda de Peniche), ainda não estamos em condições de confirmar o nome do Restaurante, aguardamos a recepção de propostas mais vantajosas (€€€).
São estas as informações que podemos transmitir, de momento. Na próxima semana anunciaremos o(s) nome(s) do(s) resistente(s) anti-fascista(s) que contamos levar para nos guiar na visita.
Após o almoço haverá um momento surpresa!
Mais esclarecimentos, mais informações e dúvidas podem contactar-me através do meu e-mail joaofiliperodrigues@gmail.com ou através do meu telemóvel 912130203.
Divulguem!
DIA NACIONAL DA JUVENTUDE
A LUTA CONTINUA
De 21 a 28 de Março de 1947, o MUD-Juvenil organizou uma Semana da Juventude - com iniciativas em vários pontos do País - em defesa da liberdade, da democracia, dos direitos do jovens.
A Semana culminou com um Acampamento Juvenil que, no dia 28, juntou milhares de jovens em São Pedro de Moel.
As forças repressivas responderam com a habitual brutalidade, traduzida nos habituais espancamentos e prisões.
Desde essa altura, o dia 28 de Março passou a ser designado por Dia Nacional da Juventude e, como tal, símbolo da luta juvenil.
Hoje - 28 de Março de 2008 - por iniciativa da Interjovem, milhares de jovens desfilarão em Lisboa - às 14H30, do Rossio para São Bento - numa Grande Manifestação Nacional de Jovens Trabalhadores.
A confirmar que A LUTA CONTINUA.
Hoje, como em 1947, é por direitos humanos essenciais que os jovens portugueses lutam.
Porque o combate contra esse brutal atentado aos direitos dos trabalhadores que é a precariedade, é parte integrante da luta pela democracia e pela liberdade.
Encontramo-nos no Rossio, logo à tarde?
De 21 a 28 de Março de 1947, o MUD-Juvenil organizou uma Semana da Juventude - com iniciativas em vários pontos do País - em defesa da liberdade, da democracia, dos direitos do jovens.
A Semana culminou com um Acampamento Juvenil que, no dia 28, juntou milhares de jovens em São Pedro de Moel.
As forças repressivas responderam com a habitual brutalidade, traduzida nos habituais espancamentos e prisões.
Desde essa altura, o dia 28 de Março passou a ser designado por Dia Nacional da Juventude e, como tal, símbolo da luta juvenil.
Hoje - 28 de Março de 2008 - por iniciativa da Interjovem, milhares de jovens desfilarão em Lisboa - às 14H30, do Rossio para São Bento - numa Grande Manifestação Nacional de Jovens Trabalhadores.
A confirmar que A LUTA CONTINUA.
Hoje, como em 1947, é por direitos humanos essenciais que os jovens portugueses lutam.
Porque o combate contra esse brutal atentado aos direitos dos trabalhadores que é a precariedade, é parte integrante da luta pela democracia e pela liberdade.
Encontramo-nos no Rossio, logo à tarde?
POEMA
GRITO NEGRO
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder, sim
e queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu serei o teu carvão, patrão!
José Craveirinha
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder, sim
e queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu serei o teu carvão, patrão!
José Craveirinha
DIA MUNDIAL DO TEATRO
«O DIA DAS MENTIRAS»
Para comemorar o Dia Mundial do Teatro, a RTP-1 transmite hoje, pelas 21 horas, em directo, a peça com o título em epígrafe, encenada por Fernando Gomes e com texto de Rui Mendes, a partir de duas comédias de Almeida Garrett.
«O Dia das Mentiras» - que está em cena no Teatro da Trindade - é o cruzamento de duas histórias ocorridas num hotel de Lisboa: o encontro entre um pai e uma filha vindos do Porto com um pretendente da rapariga que é um mentiroso compulsivo; e o casamento da filha de um comerciante da Baixa lisboeta...
A decisão merece os maiores aplausos:
porque, para comemorar tal data, dificilmente se encontraria melhor do que o criador do teatro nacional e autor dessa obra maior da literatura portuguesa que é o Frei Luís de Sousa;
e porque se trata, esperemos!, de um regresso à antiga tradição teatral da programação da televisão pública - que, sabe-se lá porquê, a dada altura foi posta de lado...
Aos amadores de teatro: não percam!
Para comemorar o Dia Mundial do Teatro, a RTP-1 transmite hoje, pelas 21 horas, em directo, a peça com o título em epígrafe, encenada por Fernando Gomes e com texto de Rui Mendes, a partir de duas comédias de Almeida Garrett.
«O Dia das Mentiras» - que está em cena no Teatro da Trindade - é o cruzamento de duas histórias ocorridas num hotel de Lisboa: o encontro entre um pai e uma filha vindos do Porto com um pretendente da rapariga que é um mentiroso compulsivo; e o casamento da filha de um comerciante da Baixa lisboeta...
A decisão merece os maiores aplausos:
porque, para comemorar tal data, dificilmente se encontraria melhor do que o criador do teatro nacional e autor dessa obra maior da literatura portuguesa que é o Frei Luís de Sousa;
e porque se trata, esperemos!, de um regresso à antiga tradição teatral da programação da televisão pública - que, sabe-se lá porquê, a dada altura foi posta de lado...
Aos amadores de teatro: não percam!
POEMA
DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû
A guerra que aí vem
não é a primeira. Antes dela
houve outras guerras.
Quando a última acabou
houve vencedores e vencidos.
Entre os vencidos, o povo baixo
passou fome. Entre os vencedores
passou fome também o povo baixo.
Na parede estava escrito a giz:
«Queremos a guerra».
O que escreveu isto já caíu morto.
As raparigas
à sombra das árvores da aldeia
escolhem os namorados.
A morte
escolhe também.
É noite.
Os casais vão deitar-se nas camas.
As mulheres novas
vão parir filhos órfãos.
Brecht
A guerra que aí vem
não é a primeira. Antes dela
houve outras guerras.
Quando a última acabou
houve vencedores e vencidos.
Entre os vencidos, o povo baixo
passou fome. Entre os vencedores
passou fome também o povo baixo.
Na parede estava escrito a giz:
«Queremos a guerra».
O que escreveu isto já caíu morto.
As raparigas
à sombra das árvores da aldeia
escolhem os namorados.
A morte
escolhe também.
É noite.
Os casais vão deitar-se nas camas.
As mulheres novas
vão parir filhos órfãos.
Brecht
CONGRESSOS DO PCP
O V CONGRESSO
Com 50 delegados presentes, realizou-se em São João do Estoril, de 8 a 15 de Setembro de 1957.
Vive-se, então, um tempo em que a acção da Oposição Democrática sofre, ainda, as consequências da recomposição temporária do regime fascista por efeito dos apoios dos EUA e das democracias burguesas da Europa, da guerra-fria em desenvolvimento e da entrada de Portugal na NATO.
Destacados dirigentes e militantes comunistas, como Álvaro Cunhal, estão na prisão. Outros, como Militão Ribeiro, foram assassinados.
No entanto -
pouco antes da realização do V Congresso, milhares de operários agrícolas do Alentejo levam por diante uma vaga de greves e concentrações vitoriosas por aumentos de salários;
no mês em que o V Congresso tem lugar, cinco mil pescadores de Matosinhos entram em greve, exigindo o descanso oficial ao domingo;
e meses depois, o povo português travou uma das maiores batalhas contra a ditadura fascista, no decorrer da «eleições presidenciais» em que Humberto Delgado e Arlindo Vicente foram candidatos da Oposição.
O Congresso consagrou a tese da «solução pacífica como via para a mudança de regime», que ficaria conhecida por «o desvio de direita no Partido Comunista Português nos anos de 1956/1959» - e seria criticada e corrigida após fuga de Peniche.
Foram debatidos e aprovados os Estatutos e o Programa do Partido e várias Resoluções.
O Comité Central eleito, era composto por, entre outros membros efectivos e suplentes: Afonso Gregório, Alda Nogueira, Américo de Sousa, Blanqui Teixeira, Dias Lourenço, Georgete Ferreira, Gui Lourenço, Guilherme da Costa Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Gregório, José Magro, Júlio Fogaça, Manuel da Silva, Octávio Pato, Pedro Soares, Pires Jorge, Sérgio Vilarigues e Sofia Ferreira.
O Secretariado, eleito pelo CC, era composto por: Júlio Fogaça, Octávio Pato, Pires Jorge e Sérgio Vilarigues.
Na decorrência do fim da guerra e do restabelecimento, em 1947, das relações do Partido com o movimento comunista internacional, este foi o primeiro congresso do PCP que recebeu saudações de outros partidos comunistas.
«O V Congresso, fiel aos princípios do internacionalismo proletário, defendendo os interesses comuns que unem a luta dos povos coliniais às lutas das classes laboriosas da população portuguesa, e tendo em conta as alterações verificadas na correlação existente entre as forças colonialistas e anticolonialistas, proclama o reconhecimento incondicional do direito dos povos das colónias de África, Ásia e Oceânia, dominadas por Portugal, à imediata e completa independência»
(In «Resolução sobre o problema colonial»)
Com 50 delegados presentes, realizou-se em São João do Estoril, de 8 a 15 de Setembro de 1957.
Vive-se, então, um tempo em que a acção da Oposição Democrática sofre, ainda, as consequências da recomposição temporária do regime fascista por efeito dos apoios dos EUA e das democracias burguesas da Europa, da guerra-fria em desenvolvimento e da entrada de Portugal na NATO.
Destacados dirigentes e militantes comunistas, como Álvaro Cunhal, estão na prisão. Outros, como Militão Ribeiro, foram assassinados.
No entanto -
pouco antes da realização do V Congresso, milhares de operários agrícolas do Alentejo levam por diante uma vaga de greves e concentrações vitoriosas por aumentos de salários;
no mês em que o V Congresso tem lugar, cinco mil pescadores de Matosinhos entram em greve, exigindo o descanso oficial ao domingo;
e meses depois, o povo português travou uma das maiores batalhas contra a ditadura fascista, no decorrer da «eleições presidenciais» em que Humberto Delgado e Arlindo Vicente foram candidatos da Oposição.
O Congresso consagrou a tese da «solução pacífica como via para a mudança de regime», que ficaria conhecida por «o desvio de direita no Partido Comunista Português nos anos de 1956/1959» - e seria criticada e corrigida após fuga de Peniche.
Foram debatidos e aprovados os Estatutos e o Programa do Partido e várias Resoluções.
O Comité Central eleito, era composto por, entre outros membros efectivos e suplentes: Afonso Gregório, Alda Nogueira, Américo de Sousa, Blanqui Teixeira, Dias Lourenço, Georgete Ferreira, Gui Lourenço, Guilherme da Costa Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Gregório, José Magro, Júlio Fogaça, Manuel da Silva, Octávio Pato, Pedro Soares, Pires Jorge, Sérgio Vilarigues e Sofia Ferreira.
O Secretariado, eleito pelo CC, era composto por: Júlio Fogaça, Octávio Pato, Pires Jorge e Sérgio Vilarigues.
Na decorrência do fim da guerra e do restabelecimento, em 1947, das relações do Partido com o movimento comunista internacional, este foi o primeiro congresso do PCP que recebeu saudações de outros partidos comunistas.
«O V Congresso, fiel aos princípios do internacionalismo proletário, defendendo os interesses comuns que unem a luta dos povos coliniais às lutas das classes laboriosas da população portuguesa, e tendo em conta as alterações verificadas na correlação existente entre as forças colonialistas e anticolonialistas, proclama o reconhecimento incondicional do direito dos povos das colónias de África, Ásia e Oceânia, dominadas por Portugal, à imediata e completa independência»
(In «Resolução sobre o problema colonial»)
Reforma Agrária
POEMA
(Um momento de filosofia barata)
Para além do «ser ou não ser» dos problemas ocos,
o que importa é isto:
- Penso nos outros.
Logo existo.
José Gomes Ferreira
Para além do «ser ou não ser» dos problemas ocos,
o que importa é isto:
- Penso nos outros.
Logo existo.
José Gomes Ferreira
«AO SERVIÇO DA ECONOMIA PORTUGUESA»
Disse Sócrates que «o País deve confiar no nosso sistema financeiro».
Porquê?: porque «o nosso sistema financeiro está preparado para responder às dificuldades dos sistemas financeiros internacionais».
E, embalado e didáctico, explicou assim: «o sistema financeiro existe para servir a economia portuguesa e não para se aproveitar da crise internacional que afecta os mercados financeiros».
Pronto, estamos esclarecidos: os lucros da Banca - sempre, sempre a subir quer faça «crise» quer faça «retoma» - são uma ilusão nossa. Tal como o escândalo/negociata/BCP/CGD/BP, etc.
Aliás, foi por isso e para isso que, uns dias antes da explicação de Sócrates, o Fórum da Banca anunciou os aumentos das comissões e das taxas de juro.
Por isso: porque «o sistema financeiro existe para servir a economia portuguesa».
Para isso: para, prevendo a «crise» que aí vem, garantir desde já o elevadísimo nível de lucros a que a Banca está habituada.
Tudo isto me leva a insistir na ideia da necessidade urgente de acrescentar à lista de crimes abrangidos pelo Código Penal o de insulto à inteligência dos portugueses - e punir devidamente todos os que nele incorram.
Comecemos, então, pelo multi-reincidente primeiro-ministro.
Porquê?: porque «o nosso sistema financeiro está preparado para responder às dificuldades dos sistemas financeiros internacionais».
E, embalado e didáctico, explicou assim: «o sistema financeiro existe para servir a economia portuguesa e não para se aproveitar da crise internacional que afecta os mercados financeiros».
Pronto, estamos esclarecidos: os lucros da Banca - sempre, sempre a subir quer faça «crise» quer faça «retoma» - são uma ilusão nossa. Tal como o escândalo/negociata/BCP/CGD/BP, etc.
Aliás, foi por isso e para isso que, uns dias antes da explicação de Sócrates, o Fórum da Banca anunciou os aumentos das comissões e das taxas de juro.
Por isso: porque «o sistema financeiro existe para servir a economia portuguesa».
Para isso: para, prevendo a «crise» que aí vem, garantir desde já o elevadísimo nível de lucros a que a Banca está habituada.
Tudo isto me leva a insistir na ideia da necessidade urgente de acrescentar à lista de crimes abrangidos pelo Código Penal o de insulto à inteligência dos portugueses - e punir devidamente todos os que nele incorram.
Comecemos, então, pelo multi-reincidente primeiro-ministro.
POEMA
MASSA
No final da batalha,
e morto o combatente,
aproximou-se dele um homem
e disse-lhe: «Não morras, amo-te tanto!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.
Aproximaram-se dele dois homens e repetiram-lhe:
«Não nos deixes! Coragem! Volta à vida!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.
Acudiram-lhe vinte, cem, mil, quinhentos mil,
clamando: «Tanto amor, e não poder nada contra a morte!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.
Milhões de homens o rodearam,
num pedido comum: «Não nos deixes, irmão!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.
Então, todos os homens que há na terra
o rodearam; viu-os o cadáver triste, emocionado;
soergueu-se lentamente,
abraçou o primeiro homem.
E começou a andar...
César Vallejo
No final da batalha,
e morto o combatente,
aproximou-se dele um homem
e disse-lhe: «Não morras, amo-te tanto!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.
Aproximaram-se dele dois homens e repetiram-lhe:
«Não nos deixes! Coragem! Volta à vida!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.
Acudiram-lhe vinte, cem, mil, quinhentos mil,
clamando: «Tanto amor, e não poder nada contra a morte!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.
Milhões de homens o rodearam,
num pedido comum: «Não nos deixes, irmão!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.
Então, todos os homens que há na terra
o rodearam; viu-os o cadáver triste, emocionado;
soergueu-se lentamente,
abraçou o primeiro homem.
E começou a andar...
César Vallejo
SACRIFÍCIO PUNGENTE
Salvador de Mello, Presidente do maior grupo privado de Saúde em Portugal - «José de Mello Saúde» - deu entrevista ao Diário Económico.
Tema da entrevista: «a perda da gestão do Hospital Amadora-Sintra».
O entrevistado não escondeu o seu desagrado com o acontecido, tanto mais que, segundo afirma, «O Amadora-Sintra contribuiu muito significativamente para a modernização do sector da saúde em Portugal», pelo que esta «decisão é um retrocesso de décadas» - e foi por aí fora na enunciação caudalosa das «vantagens» que aquela privatização trouxe para «Portugal».
Esqueceu-se, apenas, de dizer a verdade: que o Amadora-Sintra foi uma monumental negociata (concretizada, recorde-se, pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva) e que este «Portugal» beneficiado com tais «vantagens» não é mais do que a auto-designação assumida, na circunstância, pela «José de Mello Saúde»...
O Diário Económico informa que o entrevistado acedeu (certamente com grande sacrifício pessoal, digo eu...) a dar a entrevista (que ocorreu no Hotel Albatroz, em Cascais) horas antes de partir de férias para a Tailândia - e traça o seu «perfil», começando assim: «É o décimo de doze irmãos, mas isso não o impediu de ter uma educação privilegiada. Estudou na Suiça...» - chiça, digo eu, curvado perante o sacrifício pungente que há-de ter sido o destes pais para proporcionarem a todos os doze filhos tal «educação privilegiada»!
E já nem quero ler mais: estou farto - farto até aqui... - de ler relatos de vidas sacrificadas, de sacrifícios pungentes...
Tema da entrevista: «a perda da gestão do Hospital Amadora-Sintra».
O entrevistado não escondeu o seu desagrado com o acontecido, tanto mais que, segundo afirma, «O Amadora-Sintra contribuiu muito significativamente para a modernização do sector da saúde em Portugal», pelo que esta «decisão é um retrocesso de décadas» - e foi por aí fora na enunciação caudalosa das «vantagens» que aquela privatização trouxe para «Portugal».
Esqueceu-se, apenas, de dizer a verdade: que o Amadora-Sintra foi uma monumental negociata (concretizada, recorde-se, pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva) e que este «Portugal» beneficiado com tais «vantagens» não é mais do que a auto-designação assumida, na circunstância, pela «José de Mello Saúde»...
O Diário Económico informa que o entrevistado acedeu (certamente com grande sacrifício pessoal, digo eu...) a dar a entrevista (que ocorreu no Hotel Albatroz, em Cascais) horas antes de partir de férias para a Tailândia - e traça o seu «perfil», começando assim: «É o décimo de doze irmãos, mas isso não o impediu de ter uma educação privilegiada. Estudou na Suiça...» - chiça, digo eu, curvado perante o sacrifício pungente que há-de ter sido o destes pais para proporcionarem a todos os doze filhos tal «educação privilegiada»!
E já nem quero ler mais: estou farto - farto até aqui... - de ler relatos de vidas sacrificadas, de sacrifícios pungentes...
Bonito, muito bonito...
José Neves, camarada:
Não comentei o texto do Manuel Alegre no sitio ao comentário destinado. Não, não o fiz. Não que ao fazê-lo aqui queira a atenção deslocada ao local que lhe era devida. Não fosse falar do homem que vou falar e o comentário ao teu texto "de pés descalços" seria feito no sitio a ele destinado. Mas, atrevo-me, e venho aqui dizer-te que conheço um homem de quem quero falar-te. Também o conheces, ainda que não saiba eu se deste pormenor saibas a essência. O homem de que te falo foi menino nos anos de 1950. Andou à escola nas Cortes, ao pé de Leiria, onde, no intervalo dos ensinamentos, se dedicava a ser criança num país de trevas e fomes e jogava à bola. Para que o fizesse sem molestar os pés descalços dos colegas e amigos pobres, este menino descalçava-se a caminho da escola, escondia as botas do seu privilégio de filho da pequena burguesia, e corria as horas dos dias na mesma condição dos amigos. pés frios no chão inflamado pela pobreza dos homens. Este menino, já rapaz feito, nunca calçou as botas enquanto todos os meninos da sua terra o não puderam imitar. às escondidas da mãe - nenhuma mãe quer os pés dos filhos rotos e ensaguentados pelos caminhos! - este menino fez-se homem sempre que escondia as botas nalgum buraco, até à noite, até ao regresso a casa - já calçado. Este menino, já rapaz e no colégio, foi várias vezes apanhado a distribuir propaganda comunista. Livros vermelhos. Sonhos em construção. Este menino fez-se rapaz. Cada vez que era apanhado em tais actividades revolucionárias, o castigo era sempre o mesmo... Correr descalço à volta do colégio, por cima de silvas, urze, tojo... mato. Se o mandavam dar duas voltas, em homenagem aos calos criados enquanto menino a jogar descalço com os amigos pobres - na verdade da sua classe, pois era lá que se encontrava o seu coração - este menino rapaz dava antes quatro ou cinco voltas, era até à exaustão. Das janelas dos seus quartos, das salas do colégio, os amigos - os mesmos da bola! - gritavam
«Manel Faria, manel faria MANEL FARIA». Era a homenagem que lhe faziam na sua coragem. Manuel Faria era um célebre atleta na altura. Este menino era rapaz. E revolucionário. Nas pequenas coisas de criança e nas maiores, como se veio a comprovar pela educação que deu aos seus filhos. Este menino de pés descalços ainda hoje é conhecido por muitos em Leiria - seus amigos - por Manuel Faria. Este menino cresceu. Casou. Teve filhos. Este menino é hoje homem. Chama-se António Galamba (ou Manuel Faria) e é meu pai. para ele o meu grito, desta minha janela de Aljustrel: MANUEL FARIA, MANUEL FARIA, MANUEL FARIA...
«Manel Faria, manel faria MANEL FARIA». Era a homenagem que lhe faziam na sua coragem. Manuel Faria era um célebre atleta na altura. Este menino era rapaz. E revolucionário. Nas pequenas coisas de criança e nas maiores, como se veio a comprovar pela educação que deu aos seus filhos. Este menino de pés descalços ainda hoje é conhecido por muitos em Leiria - seus amigos - por Manuel Faria. Este menino cresceu. Casou. Teve filhos. Este menino é hoje homem. Chama-se António Galamba (ou Manuel Faria) e é meu pai. para ele o meu grito, desta minha janela de Aljustrel: MANUEL FARIA, MANUEL FARIA, MANUEL FARIA...
O FISCO E A GRALHA
Segundo o Público de hoje, a partir de agora os recém-casados são obrigados a enviar para o Fisco um vasto rol de informações sobre o seu casamento, género:
a data do casamento, o número de convidados e o valor pago por cada um (especificando crianças e adultos); o nome (e restantes dados fiscais) de quem serviu os comes e bebes; a forma de pagamento utilizada pelos noivos: dinheiro, multibanco ou cheque (e, se foi por cheque, o nome do banco, o número e a data do respectivo cheque)...
Trata-se, de uma forma expedita de o Fisco pôr os recém-casados ao seu serviço, fazendo o que a ele, Fisco, compete fazer - com a agravante de serem penalizados caso não cumpram a ordem.
Mas mais do que isso: de acordo com a ordem do Fisco, os recém-casados devem enviar fotocópias de todos os documentos e, importante!, assinarem ambos a declaração - presumo que para co-responsabilizar o casal no caso de falta ou de incorrecção de alguns dados.
Mas mais e pior do que isso: da ordem do Fisco consta ainda a obrigatoriedade de os recém-casados informarem sobre se, no mesmo local e no mesmo dia em que casaram, houve outros «eventos» semelhantes...
Neste caso, como se vê, o Fisco dá ordem de delação, o que constitui um significativo passo em frente nos métodos e práticas de vigilância, de perseguição e afins que caracterizam a política do actual Governo.
A resposta dos recém-casados ao interrogatório do Fisco deverá ser enviada no prazo máximo de 15 dias, sendo o não cumprimento deste prazo considerado «contra-ordenação fiscal punível com coima» - cuja será de 100 a 2.500 euros.
Por enquanto, as perguntas não se reportam, ainda, a aspectos mais íntimos próprios de dia, e noite, de casamento... não sendo, contudo, de excluir que a próxima série inclua ordem de informar sobre, por exemplo, a noite de núpcias: hotel em que ficaram, quanto e como pagaram, quantas vezes fizeram sexo, se «foi bom», que contraceptivo uilizaram (se utilizaram) e qual o custo do dito, etc, etc, etc.
Assim, o orwelliano Big Brother vai avançando na centralização de dados sobre cada cidadão de forma a que, quando precisar... é só carregar no botão e está lá tudo.
Passemos agora à GRALHA:
«Fisco multa noivos que não derem informações sobre o casamanto»- titula o Público na sua primeira página.
Esta gralha vai ser motivo, certamente, de múltiplos comentários, e amanhã será tema de inevitável pedido de desculpas aos leitores - talvez, até, em Editorial assinado pelo Director.
E, possívelmente - para não dizer certamente - será lembrada a prosa ontem produzida pelo Provedor do Leitor (assim chamado), Joaquim Vieira, o qual, em resposta a protestos de alguns leitores, precisamente por gralhas assinaladas no Público, escreveu uma peça de descarada e entusiástica propaganda ao jornal de cujos leitores ele é suposto provedor.
Dizia assim (com sublinhados meus) em jeito de: «Recomendação do provedor. Um jornal que aspira a ser o principal diário de referência nacional, e que em editoriais sucessivos reclama para Portugal a aplicação dos mais elevados padrões de exigência, deve combater a displicência sujeitando toda a matéria a publicar a rigoroso processo de copy-desk e revisão».
A confirmar que em vez de provedor do leitor, deveria chamar-se provedor do patrão...
a data do casamento, o número de convidados e o valor pago por cada um (especificando crianças e adultos); o nome (e restantes dados fiscais) de quem serviu os comes e bebes; a forma de pagamento utilizada pelos noivos: dinheiro, multibanco ou cheque (e, se foi por cheque, o nome do banco, o número e a data do respectivo cheque)...
Trata-se, de uma forma expedita de o Fisco pôr os recém-casados ao seu serviço, fazendo o que a ele, Fisco, compete fazer - com a agravante de serem penalizados caso não cumpram a ordem.
Mas mais do que isso: de acordo com a ordem do Fisco, os recém-casados devem enviar fotocópias de todos os documentos e, importante!, assinarem ambos a declaração - presumo que para co-responsabilizar o casal no caso de falta ou de incorrecção de alguns dados.
Mas mais e pior do que isso: da ordem do Fisco consta ainda a obrigatoriedade de os recém-casados informarem sobre se, no mesmo local e no mesmo dia em que casaram, houve outros «eventos» semelhantes...
Neste caso, como se vê, o Fisco dá ordem de delação, o que constitui um significativo passo em frente nos métodos e práticas de vigilância, de perseguição e afins que caracterizam a política do actual Governo.
A resposta dos recém-casados ao interrogatório do Fisco deverá ser enviada no prazo máximo de 15 dias, sendo o não cumprimento deste prazo considerado «contra-ordenação fiscal punível com coima» - cuja será de 100 a 2.500 euros.
Por enquanto, as perguntas não se reportam, ainda, a aspectos mais íntimos próprios de dia, e noite, de casamento... não sendo, contudo, de excluir que a próxima série inclua ordem de informar sobre, por exemplo, a noite de núpcias: hotel em que ficaram, quanto e como pagaram, quantas vezes fizeram sexo, se «foi bom», que contraceptivo uilizaram (se utilizaram) e qual o custo do dito, etc, etc, etc.
Assim, o orwelliano Big Brother vai avançando na centralização de dados sobre cada cidadão de forma a que, quando precisar... é só carregar no botão e está lá tudo.
Passemos agora à GRALHA:
«Fisco multa noivos que não derem informações sobre o casamanto»- titula o Público na sua primeira página.
Esta gralha vai ser motivo, certamente, de múltiplos comentários, e amanhã será tema de inevitável pedido de desculpas aos leitores - talvez, até, em Editorial assinado pelo Director.
E, possívelmente - para não dizer certamente - será lembrada a prosa ontem produzida pelo Provedor do Leitor (assim chamado), Joaquim Vieira, o qual, em resposta a protestos de alguns leitores, precisamente por gralhas assinaladas no Público, escreveu uma peça de descarada e entusiástica propaganda ao jornal de cujos leitores ele é suposto provedor.
Dizia assim (com sublinhados meus) em jeito de: «Recomendação do provedor. Um jornal que aspira a ser o principal diário de referência nacional, e que em editoriais sucessivos reclama para Portugal a aplicação dos mais elevados padrões de exigência, deve combater a displicência sujeitando toda a matéria a publicar a rigoroso processo de copy-desk e revisão».
A confirmar que em vez de provedor do leitor, deveria chamar-se provedor do patrão...
Porque é que uns usavam sapatos e outros não?
"Ninguém ensinava gramática como Lencastre. Não só as regras, mas a língua, a portuguesa língua, como ele dizia, usando, como mais tarde vim a saber, a expressão do poeta António Ferreira. Os verbos, o peso próprio de cada substantivo, o doseamento dos adjectivos, poucos mas bons, ensinava ele, as vírgulas, a virgulazinha que regula o trânsito, dizia Lencastre, fumando o giz ou escrevendo no quadro com a prisca. Cabelo quase ruivo, encrespado, andava com passos muito rápidos, os pés um pouco para fora. Tinha com a língua portuguesa uma relação, por assim dizer, carnal. Ou religiosa. Ou ambas. Sentia que a missão da sua vida era defender a língua, ensinar a falá-la com as sílabas todas, obrigar a escrevê-la sem erros, o predicado a concordar com o sujeito. Ai de quem, na leitura, comesse a última sílaba, ou de quem, na cópia, borrasse a escrita. Lencastre podia ficar completamente alterado por causa de uma sílaba engolida, uma vírgula mal posta, um erro de ortografia, um verbo mal conjugado. Agarrava no desgraçado pelos pés e obrigava-o a conjugar o verbo, assim, de cabeça para baixo.
(...)
No Inverno a Escola era feia e triste. As mãos enregeladas, muitas delas cheias de frieiras, mal podiam pegar nas canetas. As orelhas doíam, a humidade do rio subia pela encosta acima e atravessava a roupa que era pouca e leve e muitas vezes rota e remendada. Eu olhava os pés descalços e cheios de feridas dos meus companheiros, as cabeças peladas, os rostos cobertos de impigens e sentia uma repugnância misturada com revolta.
Porque é que uns, poucos, tinham sapatos e outros, a maior parte, não? Perguntei ao professor e ele ficou atrapalhado. Perguntei em casa e ficaram incomodados. Fiz muitas vezes essa pergunta. E de cada vez que a fazia sentia que estava a fazer uma pergunta inconveniente. Nunca ninguém me respondeu e continuo, de certo modo, a perguntar.
Porque ainda sinto o frio da escola. Ainda sinto o cheiro a pobreza, o pouco. Foi sobretudo isso que aprendi, além da gramática, das contas, da História Pátria, dos rios, das serras e das linhas de caminho-de-ferro. Aprendi a conjugar os verbos e nunca foi preciso o Professor Lencastre virar-me de cabeça para baixo. Mas a quem tenho eu de agarrar pelos pés e bater com a cabeça no chão para que de uma vez por todas me digam porque é que uns usavam sapatos e outros não?"
Manuel Alegre - Alma
Bonito, não?
(...)
No Inverno a Escola era feia e triste. As mãos enregeladas, muitas delas cheias de frieiras, mal podiam pegar nas canetas. As orelhas doíam, a humidade do rio subia pela encosta acima e atravessava a roupa que era pouca e leve e muitas vezes rota e remendada. Eu olhava os pés descalços e cheios de feridas dos meus companheiros, as cabeças peladas, os rostos cobertos de impigens e sentia uma repugnância misturada com revolta.
Porque é que uns, poucos, tinham sapatos e outros, a maior parte, não? Perguntei ao professor e ele ficou atrapalhado. Perguntei em casa e ficaram incomodados. Fiz muitas vezes essa pergunta. E de cada vez que a fazia sentia que estava a fazer uma pergunta inconveniente. Nunca ninguém me respondeu e continuo, de certo modo, a perguntar.
Porque ainda sinto o frio da escola. Ainda sinto o cheiro a pobreza, o pouco. Foi sobretudo isso que aprendi, além da gramática, das contas, da História Pátria, dos rios, das serras e das linhas de caminho-de-ferro. Aprendi a conjugar os verbos e nunca foi preciso o Professor Lencastre virar-me de cabeça para baixo. Mas a quem tenho eu de agarrar pelos pés e bater com a cabeça no chão para que de uma vez por todas me digam porque é que uns usavam sapatos e outros não?"
Manuel Alegre - Alma
Bonito, não?
"Um blogue com gente nova do PC, não conheço nenhum"
Hoje no Público (como não poderia deixar de ser) saiu uma reportagem sobre blogues... Pedro Mexia, o cibernauta de serviço- autor do blog "estado civil", ficou responsável por nos falar de blogues: quando começaram, quem escreve para eles, quais as ideologias predominantes... Afirma que os partidos com com menor representação parlamentar, como o CDS ou o BE, estão mais representados na blogosfera do que o PS ou PSD. E considera «um mistério o aparente "desinteresse" do PCP: "Um blogue com gente nova do PC, não conheço nenhum"». É de facto uma observação irrelevante e inútil, mas queria apenas, enquanto jovem comunista assinante de um blogue de comunistas, informar o Pedro Mexia que este blog não é único: basta olhar para a nossa (muito, muito incompleta) lista de links e parcerias de blogs de (jovens) comunistas...
POEMA
OS MEDOS
É a medo que escrevo. A medo penso,
a medo sofro e empreendo e calo.
A medo peso os termos quando falo.
A medo me renego, me convenço.
A medo amo. A medo me pertenço.
A medo repouso no intervalo
de outros medos. A medo é que resvalo
o corpo escrutador, inquieto, tenso.
A medo durmo. A medo acordo. A medo
invento. A medo passo, a medo fico.
A medo meço o pobre, meço o rico.
A medo guardo confissão, segredo,
dúvida, fé. A medo. A medo tudo.
Que já me querem cego, surdo, mudo.
José Cutileiro
(In Versos da Mão Esquerda)
É a medo que escrevo. A medo penso,
a medo sofro e empreendo e calo.
A medo peso os termos quando falo.
A medo me renego, me convenço.
A medo amo. A medo me pertenço.
A medo repouso no intervalo
de outros medos. A medo é que resvalo
o corpo escrutador, inquieto, tenso.
A medo durmo. A medo acordo. A medo
invento. A medo passo, a medo fico.
A medo meço o pobre, meço o rico.
A medo guardo confissão, segredo,
dúvida, fé. A medo. A medo tudo.
Que já me querem cego, surdo, mudo.
José Cutileiro
(In Versos da Mão Esquerda)
CONGRESSOS DO PCP
IV CONGRESSO
Realizou-se em Julho de 1946, na Lousã.
Participaram 41 delegados que debateram e aprovaram os seguintes documentos:
«O Caminho para o Derrubamento do Fascismo»; «Defesa da Repressão Fascista»; «Organização»; «Actividade Sindical»; «Movimento Nacional da Juventude»; e «Auxílio às Vítimas do Fascismo» - por falta de tempo não foi debatido o Informe sobre «Agitação e Propaganda»)
O Congresso elegeu o Comité Central que passou a integrar como membros efectivos e suplentes: Álvaro Cunhal, José Gregório, Manuel Guedes, Militão Ribeiro, Sérgio Vilarigues, Dias Lourenço, Pires Jorge, Manuel Domingues, Luís Guedes da Silva, Júlio Fogaça, Francisco Miguel, Manuel Rodrigues da Silva, Gilberto de Oliveira, João Rodrigues e Soeiro Pereira Gomes.
O Secretariado, eleito pelo CC, era composto por Álvaro Cunhal, José Gregório, Manuel Guedes e Militão Ribeiro.
O IV Congresso efectuou-se num «momento crucial da história do século XX»: o nazi-fascismo fora derrotado; o fascismo salazarista sofrera um forte abanão e o PCP - com 5 mil militantes e 4 mil simpatizantes e desenvolvendo uma intensa actividade - vivia um dos seus períodos de maior força e influência.
Nele foram definidas as linhas fundamentais da via para o derrubamento do fascismo, apontando o levantamento nacional contra a ditadura fascista como o caminho a seguir - e reafirmando a política do Partido para a unidade nacional antifascista.
«Salazar e a sua camarilha pela força e só pela força se têm mantido no poder, pelo que para os derrubar será preciso o emprego da força».
O Congresso debateu e condenou a «política de transição» - tendência «direitista e oportunista de um grupo de camaradas» que defendiam a ideia de que «o regime fascista se estava a decompor e a desagregar irremediavelmente» e que « a queda da ditadura resultaria em larga medida dum proceso automático que as acções de massas poderiam quanto muito estimular e apressar».
«O fascismo foi derrotado na guerra. Não foi ainda derrotado na paz. A reacção mundial reagrupa-se e procura entravar a marcha da história. O fascismo salazarista encontra novos apoios, manobra com a demagogia, apoia-se na violência e entrincheira-se no poder. A grande tarefa que se coloca ante a nação portuguesa é o derrubamento do fascismo salazarista e a instauração de uma ordem democrática que permita ao Povo escolher livremente o seu destino e a edificação de um Portugal Livre, Independente, Próspero e Feliz».
(In Informe Político)
Nos planos da organização e funcionamento interno do Partido, o IV Congresso aprofundou o processo de construção do conceito de trabalho colectivo, visto e entendido como «princípio básico essencial do estilo de trabalho do Partido» - e definiu os princípios orgânicos do centralismo democrático.
No relatório que apresentou sobre «Organização», Álvaro Cunhal apontou para uma concepção de aplicação e desenvolvimento do centralismo democrático em que acrescenta ao legado de Lénine nessa matéria o resultado da experiência e das lições específicas do PCP, assim imprimindo «características próprias e originais aos princípios orgânicos do PCP, à concepção do PCP relativa ao centralismo democrático» - e assim avançando para a construção criativa e inovadora do «partido leninista definido com a experiência própria».
«Uma linha política justa que não seja levada à prática pouco vale.
A classe operária necessita, a par de uma orientação política e táctica justas, de uma organização centralizada que consolide a unidade ideológica.
A linha do Partido não pode ser levada à prática sem uma tal organização, sem um Partido com todas as características de um partido leninista:
um Partido guiado pelo centralismo democrático; um Partido com unidade de objectivo e de acção, incompatível com a existência de quaisquer grupos ou facções».
(In Informe sobre Organização)
Pelo conteúdo do debate travado, pela riqueza das orientações e linhas de acção aprovadas, o IV Congresso constituíu um momento maior da história do PCP.
Realizou-se em Julho de 1946, na Lousã.
Participaram 41 delegados que debateram e aprovaram os seguintes documentos:
«O Caminho para o Derrubamento do Fascismo»; «Defesa da Repressão Fascista»; «Organização»; «Actividade Sindical»; «Movimento Nacional da Juventude»; e «Auxílio às Vítimas do Fascismo» - por falta de tempo não foi debatido o Informe sobre «Agitação e Propaganda»)
O Congresso elegeu o Comité Central que passou a integrar como membros efectivos e suplentes: Álvaro Cunhal, José Gregório, Manuel Guedes, Militão Ribeiro, Sérgio Vilarigues, Dias Lourenço, Pires Jorge, Manuel Domingues, Luís Guedes da Silva, Júlio Fogaça, Francisco Miguel, Manuel Rodrigues da Silva, Gilberto de Oliveira, João Rodrigues e Soeiro Pereira Gomes.
O Secretariado, eleito pelo CC, era composto por Álvaro Cunhal, José Gregório, Manuel Guedes e Militão Ribeiro.
O IV Congresso efectuou-se num «momento crucial da história do século XX»: o nazi-fascismo fora derrotado; o fascismo salazarista sofrera um forte abanão e o PCP - com 5 mil militantes e 4 mil simpatizantes e desenvolvendo uma intensa actividade - vivia um dos seus períodos de maior força e influência.
Nele foram definidas as linhas fundamentais da via para o derrubamento do fascismo, apontando o levantamento nacional contra a ditadura fascista como o caminho a seguir - e reafirmando a política do Partido para a unidade nacional antifascista.
«Salazar e a sua camarilha pela força e só pela força se têm mantido no poder, pelo que para os derrubar será preciso o emprego da força».
O Congresso debateu e condenou a «política de transição» - tendência «direitista e oportunista de um grupo de camaradas» que defendiam a ideia de que «o regime fascista se estava a decompor e a desagregar irremediavelmente» e que « a queda da ditadura resultaria em larga medida dum proceso automático que as acções de massas poderiam quanto muito estimular e apressar».
«O fascismo foi derrotado na guerra. Não foi ainda derrotado na paz. A reacção mundial reagrupa-se e procura entravar a marcha da história. O fascismo salazarista encontra novos apoios, manobra com a demagogia, apoia-se na violência e entrincheira-se no poder. A grande tarefa que se coloca ante a nação portuguesa é o derrubamento do fascismo salazarista e a instauração de uma ordem democrática que permita ao Povo escolher livremente o seu destino e a edificação de um Portugal Livre, Independente, Próspero e Feliz».
(In Informe Político)
Nos planos da organização e funcionamento interno do Partido, o IV Congresso aprofundou o processo de construção do conceito de trabalho colectivo, visto e entendido como «princípio básico essencial do estilo de trabalho do Partido» - e definiu os princípios orgânicos do centralismo democrático.
No relatório que apresentou sobre «Organização», Álvaro Cunhal apontou para uma concepção de aplicação e desenvolvimento do centralismo democrático em que acrescenta ao legado de Lénine nessa matéria o resultado da experiência e das lições específicas do PCP, assim imprimindo «características próprias e originais aos princípios orgânicos do PCP, à concepção do PCP relativa ao centralismo democrático» - e assim avançando para a construção criativa e inovadora do «partido leninista definido com a experiência própria».
«Uma linha política justa que não seja levada à prática pouco vale.
A classe operária necessita, a par de uma orientação política e táctica justas, de uma organização centralizada que consolide a unidade ideológica.
A linha do Partido não pode ser levada à prática sem uma tal organização, sem um Partido com todas as características de um partido leninista:
um Partido guiado pelo centralismo democrático; um Partido com unidade de objectivo e de acção, incompatível com a existência de quaisquer grupos ou facções».
(In Informe sobre Organização)
Pelo conteúdo do debate travado, pela riqueza das orientações e linhas de acção aprovadas, o IV Congresso constituíu um momento maior da história do PCP.
DIA MUNDIAL DA POESIA
DOIS POEMAS
CANTO E LAMENTAÇÃO NA CIDADE OCUPADA
6.
Pelo silêncio na planície pela tranquilidade em tua voz
pelos teus olhos verdes estelares pelo teu corpo líquido de bruma
pelo direito de seguir de mãos dadas na solidão nocturna
lutaremos meu Amor
Pela infância que fomos pelo jardim escondido que não teve
o nosso amor
pelo pão que nos recusam pela liberdade sem fronteiras
pelas manhãs de sol sem mácula de grades
lutaremos meu Amor
Pela dádiva mútua da nossa carne mártir
pela alegria em teu sorriso claro pelo teu sonho imaterial
pela cidade escravizada pela doçura de um beijo à despedida
lutaremos meu Amor
Pelos meninos tristes suburbanos
contra o peso da angústia contra o medo
contra a seta de fogo traiçoeira cravada
em nosso coração aberto
lutaremos meu Amor
Na aparência sózinhos multidão na verdade
lutaremos meu Amor
Daniel Filipe
(in A Invenção do Amor e outros poemas)
MAL-ME-QUER, BEM-ME-QUER
Falemos, pois, de amor: serenamente.
A esfinge que nós somos, adormece cansada
e a criança de um dia olha-nos, frente a frente.
(Muito, pouco, nada).
Daniel Filipe
(in Pátria, lugar de exílio)
CANTO E LAMENTAÇÃO NA CIDADE OCUPADA
6.
Pelo silêncio na planície pela tranquilidade em tua voz
pelos teus olhos verdes estelares pelo teu corpo líquido de bruma
pelo direito de seguir de mãos dadas na solidão nocturna
lutaremos meu Amor
Pela infância que fomos pelo jardim escondido que não teve
o nosso amor
pelo pão que nos recusam pela liberdade sem fronteiras
pelas manhãs de sol sem mácula de grades
lutaremos meu Amor
Pela dádiva mútua da nossa carne mártir
pela alegria em teu sorriso claro pelo teu sonho imaterial
pela cidade escravizada pela doçura de um beijo à despedida
lutaremos meu Amor
Pelos meninos tristes suburbanos
contra o peso da angústia contra o medo
contra a seta de fogo traiçoeira cravada
em nosso coração aberto
lutaremos meu Amor
Na aparência sózinhos multidão na verdade
lutaremos meu Amor
Daniel Filipe
(in A Invenção do Amor e outros poemas)
MAL-ME-QUER, BEM-ME-QUER
Falemos, pois, de amor: serenamente.
A esfinge que nós somos, adormece cansada
e a criança de um dia olha-nos, frente a frente.
(Muito, pouco, nada).
Daniel Filipe
(in Pátria, lugar de exílio)
NÃO PASSARÃO!
O DIA-A-DIA DE SÓCRATES
Acentua-se perigosamente o pendor persecutório e repressivo do Governo PS/Socrates.
O desprezo por direitos, liberdades e garantias consagrados na Constituição é o pão nosso de cada dia deste Governo que, cada vez mais, dá mostras de total incompatibilidade com a democracia e a liberdade.
Ontem de manhã, um grupo de activistas do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), jovens na sua maioria, foi interpelado por agentes da PSP que tentaram impedi-los de colocar duas faixas de pano com as inscrições:
«CINCO ANOS DE OCUPAÇÃO - CINCO ANOS DE RESISTÊNCIA - OCUPANTES FORA DO IRAQUE», e
«PAZ NO IRAQUE».
Os jovens resistiram à ordem ilegal e, invocando a Constituição, colocaram mesmo as faixas.
Acabaram por ser identificados.
Possívelmente, virão a ser alvo de processo criminal, como com cada vez maior frequência acontece nesta «democracia» em que vivemos - uma «democracia» que crescentemente nos traz à memória o tempo de Salazar/Caetano.
Com efeito, estes «democratas» que estão no poder - e que acumulam essa qualidade com a de «socialistas» - comportam-se como continuadores desses outros «democratas» que durante 48 anos oprimiram e reprimiram Portugal e os portugueses.
Por enquanto, sem as «botas cardadas» desses tempos, mas, de certa forma, fazendo o mesmo com os «pézinhos de lã» adequados aos tempos actuais.
É preciso dizermos-lhes - e demonstrarmos-lhes - que NÃO PASSARÃO!
Acentua-se perigosamente o pendor persecutório e repressivo do Governo PS/Socrates.
O desprezo por direitos, liberdades e garantias consagrados na Constituição é o pão nosso de cada dia deste Governo que, cada vez mais, dá mostras de total incompatibilidade com a democracia e a liberdade.
Ontem de manhã, um grupo de activistas do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), jovens na sua maioria, foi interpelado por agentes da PSP que tentaram impedi-los de colocar duas faixas de pano com as inscrições:
«CINCO ANOS DE OCUPAÇÃO - CINCO ANOS DE RESISTÊNCIA - OCUPANTES FORA DO IRAQUE», e
«PAZ NO IRAQUE».
Os jovens resistiram à ordem ilegal e, invocando a Constituição, colocaram mesmo as faixas.
Acabaram por ser identificados.
Possívelmente, virão a ser alvo de processo criminal, como com cada vez maior frequência acontece nesta «democracia» em que vivemos - uma «democracia» que crescentemente nos traz à memória o tempo de Salazar/Caetano.
Com efeito, estes «democratas» que estão no poder - e que acumulam essa qualidade com a de «socialistas» - comportam-se como continuadores desses outros «democratas» que durante 48 anos oprimiram e reprimiram Portugal e os portugueses.
Por enquanto, sem as «botas cardadas» desses tempos, mas, de certa forma, fazendo o mesmo com os «pézinhos de lã» adequados aos tempos actuais.
É preciso dizermos-lhes - e demonstrarmos-lhes - que NÃO PASSARÃO!
POEMA
PARÁFRASE DE RONSARD
Foi para vós que ontem colhi, senhora,
este ramo de flores que ora envio.
Não no houvesse colhido e o vento e o frio
tê-las-iam crestado antes da aurora.
Meditai nesse exemplo, que se agora
não sei mais do que o vosso outro macio
rosto, nem boca de melhor feitio,
a tudo a idade afeia sem demora.
Senhora, o tempo foge... o tempo foge...
Com pouco morreremos - e amanhã
já não seremos o que somos hoje...
Por que é que o vosso coração hesita?
O tempo foge... A vida é breve e é vã...
Por isso amai-me... enquanto sois bonita.
Manuel Bandeira
Foi para vós que ontem colhi, senhora,
este ramo de flores que ora envio.
Não no houvesse colhido e o vento e o frio
tê-las-iam crestado antes da aurora.
Meditai nesse exemplo, que se agora
não sei mais do que o vosso outro macio
rosto, nem boca de melhor feitio,
a tudo a idade afeia sem demora.
Senhora, o tempo foge... o tempo foge...
Com pouco morreremos - e amanhã
já não seremos o que somos hoje...
Por que é que o vosso coração hesita?
O tempo foge... A vida é breve e é vã...
Por isso amai-me... enquanto sois bonita.
Manuel Bandeira
AS AMBIGUIDADES DE SAMPAIO
SOL NA EIRA E CHUVA NO NABAL
Jorge Sampaio, em entrevista publicada no Sexta (que, nesta semana pascal, saíu à Quinta), perguntado sobre se desejaria «ver o Governo governar mais à esquerda», respondeu deste jeito:
«No nosso século XXI, esquerda e direita tornaram-se conceitos ambíguos. Por isso, sempre que ouço esse género de comentários, interrogo-me «mas o que significa mais à esquerda ou mais à direita em termos de políticas concretas e sustentáveis?». A meu ver não podemos ficar reféns de debates ideológicos, cujo conteúdo deixou de ser claro. Importa, sim, contribuir para a renovação da prática governativa e para lhe dar conteúdos».
Traduza-se desde já: este paleio velho de Sampaio significa, em primeiro lugar e acima de tudo, total apoio à política de direita do Governo do seu colega Sócrates.
E, por arrasto, evidencia um profunda desonestidade intelectual e política - a par de uma incomensurável cobardia e de um escabroso oportunismo.
Com efeito, a «ambiguidade» detectada por Sampaio nos conceitos de esquerda e direita não passa de uma fuga invertebrada à assumpção frontal da sua verdadeira posição na matéria: a defesa da política de direita e a rejeição de uma política de esquerda.
Como é sabido, uma das linhas essenciais da actual ofensiva da ideologia capitalista dominante, consiste em proclamar «o fim das ideologias» e, portanto, entre muitas outras coisas, «o fim da ideia de esquerda e direita».
Assim ideologizando, os ideólogos do capitalismo decretaram «o fim da esquerda» e proclamaram a ideologia única da direita, disfarçada de não-ideologia.
Com isto, justificam as políticas de direita - exclusivamente ao serviço do grande capital - praticadas por governos de partidos socialistas por esse mundo fora - e, no que nos diz respeito, neste nosso pequeno mundo chamado Portugal.
Daí a «ambiguidade» papagueada por Sampaio, em ar de quem acaba de descobrir e desvendar a sensacional descoberta da pólvora.
A patranha é por demais primária, mas a sua profusa difusão tende a transformá-la em verdade absoluta para milhões de distraídos e em verdade utilitária para muitos sabidões - como é o caso de Jorge Sampaio que, sabendo que o conceito de esquerda é coisa bem concreta, bem viva, bem actual e, por isso, rentável... dele não quer abrir mão, para o que recorre á «ambiguidade»...
Sampaio não tem coragem de se assumir ideológicamente: posicionado, de facto, à direita, no apoio e no aplauso à política de direita do Governo de Sócrates, quer, ao mesmo tempo, manter uma certa imagem de esquerda...
Como a galinha que segue, cega, o risco de giz traçado no chão - o destino de Sampaio é seguir, cego, a linha traçada pela ideologia dominante - mas, ao mesmo tempo, fingindo-se de esquerda...
Sampaio quer o sol na eira e a chuva no nabal.
Não pode!
Ou é de esquerda - e pratica - ou continua a praticar direita.
Mas o mais importante é que, seja qual for a sua opção definitiva, a assuma frontalmente.
Sem ambiguidades.
Jorge Sampaio, em entrevista publicada no Sexta (que, nesta semana pascal, saíu à Quinta), perguntado sobre se desejaria «ver o Governo governar mais à esquerda», respondeu deste jeito:
«No nosso século XXI, esquerda e direita tornaram-se conceitos ambíguos. Por isso, sempre que ouço esse género de comentários, interrogo-me «mas o que significa mais à esquerda ou mais à direita em termos de políticas concretas e sustentáveis?». A meu ver não podemos ficar reféns de debates ideológicos, cujo conteúdo deixou de ser claro. Importa, sim, contribuir para a renovação da prática governativa e para lhe dar conteúdos».
Traduza-se desde já: este paleio velho de Sampaio significa, em primeiro lugar e acima de tudo, total apoio à política de direita do Governo do seu colega Sócrates.
E, por arrasto, evidencia um profunda desonestidade intelectual e política - a par de uma incomensurável cobardia e de um escabroso oportunismo.
Com efeito, a «ambiguidade» detectada por Sampaio nos conceitos de esquerda e direita não passa de uma fuga invertebrada à assumpção frontal da sua verdadeira posição na matéria: a defesa da política de direita e a rejeição de uma política de esquerda.
Como é sabido, uma das linhas essenciais da actual ofensiva da ideologia capitalista dominante, consiste em proclamar «o fim das ideologias» e, portanto, entre muitas outras coisas, «o fim da ideia de esquerda e direita».
Assim ideologizando, os ideólogos do capitalismo decretaram «o fim da esquerda» e proclamaram a ideologia única da direita, disfarçada de não-ideologia.
Com isto, justificam as políticas de direita - exclusivamente ao serviço do grande capital - praticadas por governos de partidos socialistas por esse mundo fora - e, no que nos diz respeito, neste nosso pequeno mundo chamado Portugal.
Daí a «ambiguidade» papagueada por Sampaio, em ar de quem acaba de descobrir e desvendar a sensacional descoberta da pólvora.
A patranha é por demais primária, mas a sua profusa difusão tende a transformá-la em verdade absoluta para milhões de distraídos e em verdade utilitária para muitos sabidões - como é o caso de Jorge Sampaio que, sabendo que o conceito de esquerda é coisa bem concreta, bem viva, bem actual e, por isso, rentável... dele não quer abrir mão, para o que recorre á «ambiguidade»...
Sampaio não tem coragem de se assumir ideológicamente: posicionado, de facto, à direita, no apoio e no aplauso à política de direita do Governo de Sócrates, quer, ao mesmo tempo, manter uma certa imagem de esquerda...
Como a galinha que segue, cega, o risco de giz traçado no chão - o destino de Sampaio é seguir, cego, a linha traçada pela ideologia dominante - mas, ao mesmo tempo, fingindo-se de esquerda...
Sampaio quer o sol na eira e a chuva no nabal.
Não pode!
Ou é de esquerda - e pratica - ou continua a praticar direita.
Mas o mais importante é que, seja qual for a sua opção definitiva, a assuma frontalmente.
Sem ambiguidades.
GRACILIANO RAMOS
Nascido em 27 de Outubro de 1892, em Alagoas, Brasil, Graciliano Ramos é um dos maiores escritores da Língua Portuguesa.
Escreveu o seu primeiro romance - Caetés - em 1933. A sua última obra (que não teria tempo de acabar, faltando-lhe o último capítulo) foi Memórias do Cárcere.
Entre estes dois livros, produziu um conjunto de notáveis obras literárias:
S. Bernardo, Angústia, Vidas Secas, Infância, Insónia, Viagem (em que conta a sua visita à União Soviética - passando, de caminho, por Portugal.
Toda a obra de Graciliano Ramos está publicada no nosso País.
Os livros Vidas Secas e Memórias do Cárcere foram adaptados ao cinema por Nelson Pereira dos Santos.
Graciliano Ramos foi preso em 1936 - acusado de participar na «revolta comunista» contra a ditadura fascista de Getúlio Vargas - e libertado um ano depois.
Era militante do Partido Comunista do Brasil, no qual se filiou em 1945, a convite de Luís Carlos Prestes, então secretário-geral do Partido.
Em 1952 é-lhe detectado um cancro no pulmão. Por iniciativa e a expensas do PCB é internado num hospital de Buenos Aires - mas a doença havia progredido rapidamente e não chega sequer a ser operado.
Morre no dia 20 de Março de 1953.
Na altura, Vinícius dedicou-lhe este belo soneto:
MÁSCARA MORTUÁRIA DE GRACILIANO RAMOS
Feito só, sua máscara paterna,
sua máscara tosca de acridoce
feição, sua máscara austerizou-se
numa preclara decisão eterna.
Feito só, feito pó, desencantou-se
nele o íntimo arcanjo, a chama interna
da paixão em que sempre se queimou
seu duro corpo que ora longe inverna.
Feito pó, feito pólen, feito fibra,
feito pedra, feito o que é morto e vibra,
sua máscara enxuta de homem forte
Isto revela em seu silêncio à escuta:
Numa severa afirmação da luta,
uma impassível negação das morte.
Escreveu o seu primeiro romance - Caetés - em 1933. A sua última obra (que não teria tempo de acabar, faltando-lhe o último capítulo) foi Memórias do Cárcere.
Entre estes dois livros, produziu um conjunto de notáveis obras literárias:
S. Bernardo, Angústia, Vidas Secas, Infância, Insónia, Viagem (em que conta a sua visita à União Soviética - passando, de caminho, por Portugal.
Toda a obra de Graciliano Ramos está publicada no nosso País.
Os livros Vidas Secas e Memórias do Cárcere foram adaptados ao cinema por Nelson Pereira dos Santos.
Graciliano Ramos foi preso em 1936 - acusado de participar na «revolta comunista» contra a ditadura fascista de Getúlio Vargas - e libertado um ano depois.
Era militante do Partido Comunista do Brasil, no qual se filiou em 1945, a convite de Luís Carlos Prestes, então secretário-geral do Partido.
Em 1952 é-lhe detectado um cancro no pulmão. Por iniciativa e a expensas do PCB é internado num hospital de Buenos Aires - mas a doença havia progredido rapidamente e não chega sequer a ser operado.
Morre no dia 20 de Março de 1953.
Na altura, Vinícius dedicou-lhe este belo soneto:
MÁSCARA MORTUÁRIA DE GRACILIANO RAMOS
Feito só, sua máscara paterna,
sua máscara tosca de acridoce
feição, sua máscara austerizou-se
numa preclara decisão eterna.
Feito só, feito pó, desencantou-se
nele o íntimo arcanjo, a chama interna
da paixão em que sempre se queimou
seu duro corpo que ora longe inverna.
Feito pó, feito pólen, feito fibra,
feito pedra, feito o que é morto e vibra,
sua máscara enxuta de homem forte
Isto revela em seu silêncio à escuta:
Numa severa afirmação da luta,
uma impassível negação das morte.
Iraque: 5 anos depois
A Organização Mundial de Saúde (OMS) indica-nos que - desde 2003- já morreram 223 mil civis mortos directamente pela guerra (presumo, portanto, que se excluam as vítimas- a médio/longo prazo- do Urânio empobrecido, e outros químicos que tais...). Qual o preço destas vidas humanas? Para a filosofia de guerra norte-americana, estas perdas materializam-se em 504 bilhões de €. (Note-se que era necessário multiplicar a fortuna do homem mais rico do mundo por 900 fortunas iguais para atingir este valor. ) Mas Bush não tem dúvidas quanto à eficácia de tal guerra: "o sucesso a que assistimos no Iraque é inegável." Para si, e para a sua família, é realmente inegável: o petróleo iraquiano foi todo entregue a 3 companhias estrangeiras: ficando na sua maioria nas mãos da ESSO (companhia petrolífera ligada à família Bush). Com negócios destes, não há Saddam que resista...
POEMA
SONETO
Sete anos de pastor, Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se não a tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!
Camões
Sete anos de pastor, Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se não a tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!
Camões
A COMUNA DE PARIS
«AO ASSALTO DO CÉU»
«O proletariado compreendeu que era seu dever imperioso e seu direito absoluto tomar nas suas mãos o seu destino e assegurar-lhe o triunfo com a tomada do poder»: assim proclamava o Manifesto da Comuna, em 18 de Março de 1871 - assim se iniciava um acontecimento sem precedentes e que viria a marcar de forma impressiva toda a história do movimento operário internacional.
Pela primeira vez, na história da humanidade, o proletariado assumiu o poder, encetando o caminho da construção de uma sociedade nova, liberta da opressão e da exploração.
Lançando-se «ao assalto do céu» - na bela formulação de Marx - os operários parisienses foram protagonistas do acto de maior maior modernidade alguma vez tentado.
Pela primeira vez, os explorados contrapunham, na prática, o seu projecto de sociedade nova ao velho sistema baseado na exploração do homem pelo homem.
Como escreveu Marx, o Governo da Comuna «era essencialmente um governo da classe operária, o resultado da luta da classe dos produtores contra a classe dos apropriadores».
No curto espaço de 72 dias - de 18 de Março a 28 de Maio de 1871 - o Governo da Comuna levou por diante um conjunto de medidas que constituíam os alicerces de um Estado de novo tipo, de uma forma jamais tentada de organização democrática da sociedade, marcada por um conceito exemplar de exercício do poder e por um conteúdo amplamente participativo; norteada por preocupações sociais, culturais, patrióticas e internacionalistas, só possíveis na base de um governo operário e autenticamente popular.
As conquistas civilizacionais da Comuna e o processo transformador por ela anunciado e iniciado, constituíram, na observação de Lénine, «uma ameaça mortal para o velho mundo fundado na sujeição e na exploração. Essa a razão por que a sociedade burguesa não podia dormir tranquilamente enquanto a bandeira vermelha do proletariado flutuasse na Câmara Municipal de Paris».
Essa a razão da conjugação de todas as forças disponíveis dos donos do «velho mundo» para liquidar impiedosamente o mundo novo que ousava despontar.
A ofensiva, marcada por profundo ódio de classe, teve consequências trágicas: «cerca de 30 mil parisienses foram massacrados (...) perto de 45 mil foram presos, sendo muitos deles depois executados, e milhares foram desterrados ou enviados para trabalhos forçados. No total, Paris perdeu cerca de 100 mil dos seus melhores filhos e entre eles os melhores operários de todas as profissões» - porque, como acentuou Lénine, «só os operários permaneceram fiéis à Comuna até ao fim (...) apenas os proletários apoiaram sem medo e sem desânimo o seu governo, só eles combateram e morreram por ele».
Em 24 de Maio, quando os communards ainda resistem «nas barricadas da periferia e em pleno centro de Paris», é publicado o último Diário Oficial da Comuna - nele pode ler-se: «Vencer ou morrer é a alternativa».
Marx e, depois, Lénine, analisando a situação, explicaram as razões e tiraram lições do insucesso da Comuna. A necessidade de a classe operária dispor de uma organização revolucionária e de um ideologia revolucionária, emerge dessa análise como uma questão fundamental.
A dificílima tarefa de construção de uma sociedade nova; de transformação do actual sistema dominante num sistema liberto da opressão e da exploração, impõe como condição determinante a existência de partidos da classe operária e de todos os trabalhadores, de partidos comunistas portadores de uma ideologia e de um projecto transformadores.
Da experiência da Comuna ressalta, igualmente, a importância e a indispensabilidade da luta - sempre, mesmo quando ela não só não conduz de imediato à vitória como se traduz, até, numa derrota.
Mostra a história que todas as conquistas e avanços dos trabalhadores e dos povos foram alcançados através da luta e que a construção de uma sociedade nova é um processo difícil e complexo, com avanços e recuos, mas no qual, cada tentativa - mesmo que derrotada - é sempre um passo em frente pelas sementes de futuro que semeia. Na Revolução de Outubro vimos, dezenas de anos depois, flores e frutos das sementes lançadas à terra pela Comuna de Paris.
Os valores e ideais da Comuna de Paris - valores e ideais de justiça social, de liberdade, de fraternidade, de solidariedade - continuam vivo e actuais. E constituem instrumentos de luta e fonte de força para todos os homens e mulheres que persistem no combate por uma sociedade nova, justa, humana, fraterna, pacífica e livre - para todos os homens e mulheres que não desistem de - todos os dias e um dia - se lançarem «ao assalto do céu».
«O proletariado compreendeu que era seu dever imperioso e seu direito absoluto tomar nas suas mãos o seu destino e assegurar-lhe o triunfo com a tomada do poder»: assim proclamava o Manifesto da Comuna, em 18 de Março de 1871 - assim se iniciava um acontecimento sem precedentes e que viria a marcar de forma impressiva toda a história do movimento operário internacional.
Pela primeira vez, na história da humanidade, o proletariado assumiu o poder, encetando o caminho da construção de uma sociedade nova, liberta da opressão e da exploração.
Lançando-se «ao assalto do céu» - na bela formulação de Marx - os operários parisienses foram protagonistas do acto de maior maior modernidade alguma vez tentado.
Pela primeira vez, os explorados contrapunham, na prática, o seu projecto de sociedade nova ao velho sistema baseado na exploração do homem pelo homem.
Como escreveu Marx, o Governo da Comuna «era essencialmente um governo da classe operária, o resultado da luta da classe dos produtores contra a classe dos apropriadores».
No curto espaço de 72 dias - de 18 de Março a 28 de Maio de 1871 - o Governo da Comuna levou por diante um conjunto de medidas que constituíam os alicerces de um Estado de novo tipo, de uma forma jamais tentada de organização democrática da sociedade, marcada por um conceito exemplar de exercício do poder e por um conteúdo amplamente participativo; norteada por preocupações sociais, culturais, patrióticas e internacionalistas, só possíveis na base de um governo operário e autenticamente popular.
As conquistas civilizacionais da Comuna e o processo transformador por ela anunciado e iniciado, constituíram, na observação de Lénine, «uma ameaça mortal para o velho mundo fundado na sujeição e na exploração. Essa a razão por que a sociedade burguesa não podia dormir tranquilamente enquanto a bandeira vermelha do proletariado flutuasse na Câmara Municipal de Paris».
Essa a razão da conjugação de todas as forças disponíveis dos donos do «velho mundo» para liquidar impiedosamente o mundo novo que ousava despontar.
A ofensiva, marcada por profundo ódio de classe, teve consequências trágicas: «cerca de 30 mil parisienses foram massacrados (...) perto de 45 mil foram presos, sendo muitos deles depois executados, e milhares foram desterrados ou enviados para trabalhos forçados. No total, Paris perdeu cerca de 100 mil dos seus melhores filhos e entre eles os melhores operários de todas as profissões» - porque, como acentuou Lénine, «só os operários permaneceram fiéis à Comuna até ao fim (...) apenas os proletários apoiaram sem medo e sem desânimo o seu governo, só eles combateram e morreram por ele».
Em 24 de Maio, quando os communards ainda resistem «nas barricadas da periferia e em pleno centro de Paris», é publicado o último Diário Oficial da Comuna - nele pode ler-se: «Vencer ou morrer é a alternativa».
Marx e, depois, Lénine, analisando a situação, explicaram as razões e tiraram lições do insucesso da Comuna. A necessidade de a classe operária dispor de uma organização revolucionária e de um ideologia revolucionária, emerge dessa análise como uma questão fundamental.
A dificílima tarefa de construção de uma sociedade nova; de transformação do actual sistema dominante num sistema liberto da opressão e da exploração, impõe como condição determinante a existência de partidos da classe operária e de todos os trabalhadores, de partidos comunistas portadores de uma ideologia e de um projecto transformadores.
Da experiência da Comuna ressalta, igualmente, a importância e a indispensabilidade da luta - sempre, mesmo quando ela não só não conduz de imediato à vitória como se traduz, até, numa derrota.
Mostra a história que todas as conquistas e avanços dos trabalhadores e dos povos foram alcançados através da luta e que a construção de uma sociedade nova é um processo difícil e complexo, com avanços e recuos, mas no qual, cada tentativa - mesmo que derrotada - é sempre um passo em frente pelas sementes de futuro que semeia. Na Revolução de Outubro vimos, dezenas de anos depois, flores e frutos das sementes lançadas à terra pela Comuna de Paris.
Os valores e ideais da Comuna de Paris - valores e ideais de justiça social, de liberdade, de fraternidade, de solidariedade - continuam vivo e actuais. E constituem instrumentos de luta e fonte de força para todos os homens e mulheres que persistem no combate por uma sociedade nova, justa, humana, fraterna, pacífica e livre - para todos os homens e mulheres que não desistem de - todos os dias e um dia - se lançarem «ao assalto do céu».
POEMA
MALHÃO DE TRÁS-OS-MONTES
Não choro por me deixares
que o jardim mais flores tem,
choro por não encontrares
quem te queira tanto bem.
Ó Malhão, Malhão,
vai malhar se queres
o mundo é largo
não te faltam mulheres.
Por amor perdi a Deus,
por teu amor me perdi.
Agora vejo-me só,
sem Deus, sem amor, sem ti.
Ó Malhão, Malhão
vai malhar se queres
o mundo é largo
não te faltam mulheres.
(do Cancioneiro Popular)
Não choro por me deixares
que o jardim mais flores tem,
choro por não encontrares
quem te queira tanto bem.
Ó Malhão, Malhão,
vai malhar se queres
o mundo é largo
não te faltam mulheres.
Por amor perdi a Deus,
por teu amor me perdi.
Agora vejo-me só,
sem Deus, sem amor, sem ti.
Ó Malhão, Malhão
vai malhar se queres
o mundo é largo
não te faltam mulheres.
(do Cancioneiro Popular)
SINAIS DOS TEMPOS
LUTAR É O CAMINHO
Ontem houve Colóquio. Tema: «Terrorismo e Segurança». Participantes (entre outros): Adriano Moreira, que foi ministro do fascismo e Rui Pereira, que é ministro do Sócrates.
Disse Rui Pereira que «Portugal está à espera de uma directiva comunitária para transpor para o direito português um novo crime: apologia do terrorismo»; e que «temos toda a legitimidade para punir a apologia do terrorismo»; e que «tudo começou verdadeiramente com o 11 de Setembro»...
Palavras para quê?: é um eco de Bush em acção.
Conhecido que é o conceito de «terrorismo» do Governo de que este ministro faz parte, temos razões - muitas, muitas, muitas! - para pensar que estamos na iminência de mais um atentado à liberdade e à democracia, vindo precisamente daqueles que, há três semanas, o ministro Santos Silva incensava como campeões-da-liberdade-com-provas-dadas.
Porque, como é sabido, o conceito de «liberdade» da família «socialista» integra acções do mais cruel e bárbaro terrorismo - como a ocupação e destruição (à custa de centenas de milhares de vítimas inocentes) do Iraque, do Afeganistão, da Jugoslávia, etc, etc, etc. - e tudo indica que o conceito de «apologistas do terrorismo» dessa mesma família abarca todos os que condenam e lutam contra esses crimes em massa.
Trata-se de um sinal - e bem elucidativo - dos tempos que vivemos: é o terrorismo dominante a julgar e condenar todos os «terroristas» que se lhe oponham - tal como em tempos passados julgou e condenou os «terroristas» que lutavam pela libertação dos seus países (Angola, Guiné, Cabo-Verde, Moçambique); ou esses outros «terroristas» que combatiam o «democrático» regime do apartheid; ou, para não irmos mais longe, esses terríveis «terroristas» que combatiam a «democracia» salazarista (sempre apoiada, recorde-se, pelos EUA, pela Grã-Bretanha, pela RFA, pela França...).
O «jornalista» do DN presente no Colóquio, numa peça que mais parece um relatório de um agente da PIDE, pergunta (a quem?...) se o PCP - criticando «o regime fascizante» de Uribe» e transmitindo «aos companheiros, aos familiates e aos amigos de Raúl Reyes as condolências dos comunistas portugueses» - não estará a fazer «apologia do terrorismo» - tanto mais que, lembra o «jornalista», «nas listas da UE e dos EUA, as FARC (das quais, continua o «jornalista» a lembrar, o PCP «já permitiu propaganda na sua festa do Avante!») são consideradas uma organização terrorista». Logo...
Aqui fica, a negrito, o nome completo deste «jornalista» que, obviamente, se enganou na profissão que escolheu: João Pedro Henriques.
São estes os tempos que vivemos - tempos do terror e do crime institucionalizados; tempos em que, em nome da «liberdade» e da «democracia», se instala a opressão e a repressão.
Por isso mesmo, tempos em que a luta pela liberdade e pela democracia se impõe como imperativo incontornável para TODOS os que recusam a tirania e a opressão.
Tempos em que LUTAR É O CAMINHO.
Ontem houve Colóquio. Tema: «Terrorismo e Segurança». Participantes (entre outros): Adriano Moreira, que foi ministro do fascismo e Rui Pereira, que é ministro do Sócrates.
Disse Rui Pereira que «Portugal está à espera de uma directiva comunitária para transpor para o direito português um novo crime: apologia do terrorismo»; e que «temos toda a legitimidade para punir a apologia do terrorismo»; e que «tudo começou verdadeiramente com o 11 de Setembro»...
Palavras para quê?: é um eco de Bush em acção.
Conhecido que é o conceito de «terrorismo» do Governo de que este ministro faz parte, temos razões - muitas, muitas, muitas! - para pensar que estamos na iminência de mais um atentado à liberdade e à democracia, vindo precisamente daqueles que, há três semanas, o ministro Santos Silva incensava como campeões-da-liberdade-com-provas-dadas.
Porque, como é sabido, o conceito de «liberdade» da família «socialista» integra acções do mais cruel e bárbaro terrorismo - como a ocupação e destruição (à custa de centenas de milhares de vítimas inocentes) do Iraque, do Afeganistão, da Jugoslávia, etc, etc, etc. - e tudo indica que o conceito de «apologistas do terrorismo» dessa mesma família abarca todos os que condenam e lutam contra esses crimes em massa.
Trata-se de um sinal - e bem elucidativo - dos tempos que vivemos: é o terrorismo dominante a julgar e condenar todos os «terroristas» que se lhe oponham - tal como em tempos passados julgou e condenou os «terroristas» que lutavam pela libertação dos seus países (Angola, Guiné, Cabo-Verde, Moçambique); ou esses outros «terroristas» que combatiam o «democrático» regime do apartheid; ou, para não irmos mais longe, esses terríveis «terroristas» que combatiam a «democracia» salazarista (sempre apoiada, recorde-se, pelos EUA, pela Grã-Bretanha, pela RFA, pela França...).
O «jornalista» do DN presente no Colóquio, numa peça que mais parece um relatório de um agente da PIDE, pergunta (a quem?...) se o PCP - criticando «o regime fascizante» de Uribe» e transmitindo «aos companheiros, aos familiates e aos amigos de Raúl Reyes as condolências dos comunistas portugueses» - não estará a fazer «apologia do terrorismo» - tanto mais que, lembra o «jornalista», «nas listas da UE e dos EUA, as FARC (das quais, continua o «jornalista» a lembrar, o PCP «já permitiu propaganda na sua festa do Avante!») são consideradas uma organização terrorista». Logo...
Aqui fica, a negrito, o nome completo deste «jornalista» que, obviamente, se enganou na profissão que escolheu: João Pedro Henriques.
São estes os tempos que vivemos - tempos do terror e do crime institucionalizados; tempos em que, em nome da «liberdade» e da «democracia», se instala a opressão e a repressão.
Por isso mesmo, tempos em que a luta pela liberdade e pela democracia se impõe como imperativo incontornável para TODOS os que recusam a tirania e a opressão.
Tempos em que LUTAR É O CAMINHO.
Ricardo, meu querido amigo, camarada, meu irmão:
(resposta ao comentario publicado na foto malteses ao sul(ll)- para quem não sabe e queira saber!)
Meu querido amigo, meu camarada, meu irmão de sangue e de sentir... caminho como sempre caminhámos. lado a lado, no mesmo pó, na mesma luta, com o mesmo sangue igual que nos corre nas veias de nos amarmos muito, no sangue de pais diferentes que na nossa amizade tornou igual. A mesma sede, a mesma fúria, o mesmo sonho.
Meu querido amigo, meu camarada, meu irmão de sangue e de sentir... caminho como sempre caminhámos. lado a lado, no mesmo pó, na mesma luta, com o mesmo sangue igual que nos corre nas veias de nos amarmos muito, no sangue de pais diferentes que na nossa amizade tornou igual. A mesma sede, a mesma fúria, o mesmo sonho.
Recordo agora essa noite que me falaste e que não esqueço tamanha alegria me assaltou o coração de maltês que dizes e só um amigo grande grande grande sabe descodificar. Di19 de MAIO. Onze e tal da noite e dois tiros me assaltaram o coração. Um de ferro e doloroso, trazido na memória de Catarina Eufêmia morta, fazia 52 anos nesse dia. e logo outro, fazendo aligeirar este, em sua homenagem, e este filho do mundo dos homens decide que no dia seguinte iria formalizar o que há muito sentia mas naquele momento se obrigava. Nesse dia ricardo, nesse dia, outro dos dias muito bonitos que vivi contigo camarada, nesse dia senti o sangue mais quente e uma alegria inexplicavel invadir-me o peito. Não era do tinto que esse, fora das refeições, só contigo e em tua, em nossa homenagem. Não era nenhum amor que o meu estava em agonia...(e fazia anos nesse dia, minha pequena patricia, como te choro ainda na nossa impossibilidade!) Era sangue camarada. era a minha essência trepando as pernas e o peito, cerrando-me o punho na razão imemorial deste sonho tão antigo e que agora sei - sempre soubemos!- e quero como meu, como teu, como nosso, CAMARADA. Nesse dia 19 tornei-me militante do Partido Comunista Português. E ao meu encontro vieram gerações inteiras de gente no mesmo sonho. A explodir de alegria, grávido de terra, liguei a dois amigos maiores que o mundo. A ti meu irmão, que foste o primeiro. Logo depois ao amigo que nos ensinou aos dois o «tabaco na mesa» e o caminho das aves... E ninguém consegue imaginar a alegria que me corria (e corre ainda hoje, e corre!) nas veias! entrei na Casa Grande e a planicie ardeu no Cante do Grândola Vila Morena que cantei com o Lota, meu mestre de cantigas, nosso camarada, que no outro dia procurei para lhe dar a noticia. Nove da manhã, quase sem dormir de tanta euforia na minha descoberta simples, e estava à porta da sede do PCP em Aljustrel, onde em teu nome, em meu nome, em nome de todos os operários e sonhadores do mundo, em nome de todos os que querem e lutam pelo fim da exploração do homem pelo homem, assinei a ficha de militante do Partido, causa que sempre abracei mas que agora tomo de forma organizada, neste Partido de operários e Homens bons.
Camarada, irmão: sinto a tua falta. muito. sempre que rio ou choro, canto ou caminho... vejo-te nas «gentes e nas arestas» porque é inolvidavel a tua companhia na minha solidão. Meu amigo. Meu mano. meu camarada muito amado. sou memória dos dias na tua companhia. Planície fora... buscando no caminho das aves e dos homens o caminho para o nosso sonho... soletrando nas aldeias, nos largos e nas tascas PAREM OS HOMENS! e venham daí os abraços dos seres fraternais. E olhando-te nos olhos camarada, frontalmente ou através da nikomat que o meu pai me confiou e confia, orgulhei-me (e orgulho-me) de ti todos os dias. Porque só tu me soubeste «apontar o sol ao final da tarde e perguntar-me o que espero», só tu meu querido amigo soubeste amar estes malteses que fotografámos e fotografaremos, dizendo-me ao ouvido cantigas do Adriano, através das tuas mãos pequenas como esses meninos que aprendiam a nadar - de propósito, parecia-nos, para a racionalidade dos nossos sonhos! Meu pequeno maltes, meu grande sacana desvairado da merda que nunca mais me visitaste (nem eu a ti, nem eu a ti): Tenho muitas saudades tuas camarada, como rolieiro que nunca mais encontra o ninho abandonado desde a ultima migração.... meu grande canalha, choro a tua falta entre os meus dedos que agora te escrevem e diariamente fotografam gente, ansiosos para que vejas o resultado final, para que juntos partamos à construção de outro livro, de outra memória em viagem. Choro-te no rótulo do nosso tinto alentejano, ali quieto na cozinha, esperando a alegria da tua presença para ser aberto... Terras do trigo. Pois claro! Para ti, para nós, só um vinho com o sabor da nossa amizade, companheiro!
Camarada, irmão: sinto a tua falta. muito. sempre que rio ou choro, canto ou caminho... vejo-te nas «gentes e nas arestas» porque é inolvidavel a tua companhia na minha solidão. Meu amigo. Meu mano. meu camarada muito amado. sou memória dos dias na tua companhia. Planície fora... buscando no caminho das aves e dos homens o caminho para o nosso sonho... soletrando nas aldeias, nos largos e nas tascas PAREM OS HOMENS! e venham daí os abraços dos seres fraternais. E olhando-te nos olhos camarada, frontalmente ou através da nikomat que o meu pai me confiou e confia, orgulhei-me (e orgulho-me) de ti todos os dias. Porque só tu me soubeste «apontar o sol ao final da tarde e perguntar-me o que espero», só tu meu querido amigo soubeste amar estes malteses que fotografámos e fotografaremos, dizendo-me ao ouvido cantigas do Adriano, através das tuas mãos pequenas como esses meninos que aprendiam a nadar - de propósito, parecia-nos, para a racionalidade dos nossos sonhos! Meu pequeno maltes, meu grande sacana desvairado da merda que nunca mais me visitaste (nem eu a ti, nem eu a ti): Tenho muitas saudades tuas camarada, como rolieiro que nunca mais encontra o ninho abandonado desde a ultima migração.... meu grande canalha, choro a tua falta entre os meus dedos que agora te escrevem e diariamente fotografam gente, ansiosos para que vejas o resultado final, para que juntos partamos à construção de outro livro, de outra memória em viagem. Choro-te no rótulo do nosso tinto alentejano, ali quieto na cozinha, esperando a alegria da tua presença para ser aberto... Terras do trigo. Pois claro! Para ti, para nós, só um vinho com o sabor da nossa amizade, companheiro!
POEMA
CANTIGA PARTINDO-SE
Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d'esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
João Roiz de Castel-Branco
(Século XV)
Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d'esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
João Roiz de Castel-Branco
(Século XV)
III CONGRESSO DO PCP
Continuamos a recordar aqui alguns congressos do Partido - neste ano em que se realiza o XVIII Congresso do PCP.
Hoje vamos falar do III Congresso do PCP
Decorreu de 10 a 13 de Novembro de 1943 - num momento em que os exércitos nazis ainda dominavam a Europa e a repressão da ditadura salazarista atingia altos níveis de violência e brutalidade.
As sessões do Congresso realizam-se na vivenda Vila Arriaga, no Monte Estoril-Cascais, com a participação de 17 delegados.
Os Informes ao Congresso - debatidos e aprovados pelos delegados - foram:
«Unidade da Nação Portuguesa na Luta pelo Pão, pela Liberdade e Independência» - Duarte (Álvaro Cunhal);
«O Partido e as Grandes Greves de 1942 e 1943» - Alberto (José Gregório);
«Tarefas de Organização» - Santos (Manuel Guedes);
«A Actividade do Grupelho Provocatório» - Duarte (Álvaro Cunhal);
«Pela Liberdade e pela Democracia, pela Salvação da Jovem Geração da Miséria Económica e Cultural» - Amilcar (Sérgio Vilarigues).
O Partido em 1943:
«Hoje podemos constatar que o nosso Partido se tornou um Partido nacional pela sua organização e pela influência crescente das nossas organizações entre as massas. Hoje, o nosso Partido pode contar já com uma centena de organizações locais e regionais e, nos grandes centros, com umas dezenas de células de empresa».
(In Informe sobre Tarefas de Organização)
Uma orientação decisiva:
«É necessário lançarmo-nos decididamente a uma acção em larga escala para converter os Sindicatos Nacionais, de organismos defensores dos interesses do patronato, em organismos defensores dos interesses da classe operária»
(in Resolução sobre a Questão de Organização)
Em consequência desta orientação, dois anos depois - apesar dos golpes e ameaças dos dirigentes sindicais fascistas - as listas unitárias, construídas pelos militantes comunistas em estreita ligação com os trabalhadores, tinham já conquistado as direcções de dezenas de sindicatos.
O Congresso elegeu o Comité Central, que tinha a seguinte composição: Álvaro Cunhal, José Gregório, Manuel Guedes, Sérgio Vilarigues, Dias Lourenço, Pires Jorge, Alfredo Diniz, Piteira Santos (membros efectivos) e Luís Guedes da Silva (membro suplente).
Por sua vez, o CC elegeu para o seu Secretariado: Álvaro Cunhal, José Gregório e Manuel Guedes.
O III Congresso marcou uma profunda viragem na história do Partido.
A partir de então, o PCP conseguiu garantir a estabilidade e a continuidade do seu trabalho de direcção, o que constituiu uma das fontes principais dos seus êxitos, da sua capacidade e experiência política, da sua actuação e orientação.
Neste Congresso o PCP afirmou o princípio, desde então rigorosamente cumprido, de garantir o máximo respeito pelos métodos democráticos na vida interna do partido.
Hoje vamos falar do III Congresso do PCP
Decorreu de 10 a 13 de Novembro de 1943 - num momento em que os exércitos nazis ainda dominavam a Europa e a repressão da ditadura salazarista atingia altos níveis de violência e brutalidade.
As sessões do Congresso realizam-se na vivenda Vila Arriaga, no Monte Estoril-Cascais, com a participação de 17 delegados.
Os Informes ao Congresso - debatidos e aprovados pelos delegados - foram:
«Unidade da Nação Portuguesa na Luta pelo Pão, pela Liberdade e Independência» - Duarte (Álvaro Cunhal);
«O Partido e as Grandes Greves de 1942 e 1943» - Alberto (José Gregório);
«Tarefas de Organização» - Santos (Manuel Guedes);
«A Actividade do Grupelho Provocatório» - Duarte (Álvaro Cunhal);
«Pela Liberdade e pela Democracia, pela Salvação da Jovem Geração da Miséria Económica e Cultural» - Amilcar (Sérgio Vilarigues).
O Partido em 1943:
«Hoje podemos constatar que o nosso Partido se tornou um Partido nacional pela sua organização e pela influência crescente das nossas organizações entre as massas. Hoje, o nosso Partido pode contar já com uma centena de organizações locais e regionais e, nos grandes centros, com umas dezenas de células de empresa».
(In Informe sobre Tarefas de Organização)
Uma orientação decisiva:
«É necessário lançarmo-nos decididamente a uma acção em larga escala para converter os Sindicatos Nacionais, de organismos defensores dos interesses do patronato, em organismos defensores dos interesses da classe operária»
(in Resolução sobre a Questão de Organização)
Em consequência desta orientação, dois anos depois - apesar dos golpes e ameaças dos dirigentes sindicais fascistas - as listas unitárias, construídas pelos militantes comunistas em estreita ligação com os trabalhadores, tinham já conquistado as direcções de dezenas de sindicatos.
O Congresso elegeu o Comité Central, que tinha a seguinte composição: Álvaro Cunhal, José Gregório, Manuel Guedes, Sérgio Vilarigues, Dias Lourenço, Pires Jorge, Alfredo Diniz, Piteira Santos (membros efectivos) e Luís Guedes da Silva (membro suplente).
Por sua vez, o CC elegeu para o seu Secretariado: Álvaro Cunhal, José Gregório e Manuel Guedes.
O III Congresso marcou uma profunda viragem na história do Partido.
A partir de então, o PCP conseguiu garantir a estabilidade e a continuidade do seu trabalho de direcção, o que constituiu uma das fontes principais dos seus êxitos, da sua capacidade e experiência política, da sua actuação e orientação.
Neste Congresso o PCP afirmou o princípio, desde então rigorosamente cumprido, de garantir o máximo respeito pelos métodos democráticos na vida interna do partido.
2 países 1 regime
Tão amigos que eles eram
O Pacto Ibérico, ou Tratado de Amizade e Não Agressão Luso-Espanhol, foi assinado em 17 Março de 1939 por António de Oliveira Salazar e o embaixador de Espanha, Nicolau Franco. Nos termos do documento, os dois países reconheciam mutuamente as respectivas fronteiras, estabeleciam relações de amizade e comprometiam-se a efectuar consultas diversas entre si, com vista a uma acção concertada. Implicitamente, o que ficava consagrado era uma identidade de interesses e um pacto entre dois regimes essencialmente análogos, o Estado Novo e a ditadura do general Francisco Franco, que estava prestes a emergir da guerra civil.
Curiosamente, as negociações que conduziram à assinatura do tratado tiveram o apoio activo da diplomacia do Reino Unido, que via nesta aliança um vantajoso contraponto, no próprio continente, às tentações expansionistas da Alemanha e da Itália, potências que já marcavam presença forte na Guerra Civil de Espanha.
Os termos da aliança de 1939 foram precisados em Julho do ano seguinte, através de um protocolo que instituía com valor obrigatório certas consultas mútuas entre os Estados ibéricos.
Terá sido em parte devido a estes compromissos com Portugal que a Espanha manteve a sua posição de não-beligerância ao longo da Segunda Guerra Mundial, embora alguns sectores políticos espanhóis se inclinassem para a intervenção no conflito.
In Pacto Ibérico. In Infopédia . Porto Editora, 2003-2008
O Pacto Ibérico, ou Tratado de Amizade e Não Agressão Luso-Espanhol, foi assinado em 17 Março de 1939 por António de Oliveira Salazar e o embaixador de Espanha, Nicolau Franco. Nos termos do documento, os dois países reconheciam mutuamente as respectivas fronteiras, estabeleciam relações de amizade e comprometiam-se a efectuar consultas diversas entre si, com vista a uma acção concertada. Implicitamente, o que ficava consagrado era uma identidade de interesses e um pacto entre dois regimes essencialmente análogos, o Estado Novo e a ditadura do general Francisco Franco, que estava prestes a emergir da guerra civil.
Curiosamente, as negociações que conduziram à assinatura do tratado tiveram o apoio activo da diplomacia do Reino Unido, que via nesta aliança um vantajoso contraponto, no próprio continente, às tentações expansionistas da Alemanha e da Itália, potências que já marcavam presença forte na Guerra Civil de Espanha.
Os termos da aliança de 1939 foram precisados em Julho do ano seguinte, através de um protocolo que instituía com valor obrigatório certas consultas mútuas entre os Estados ibéricos.
Terá sido em parte devido a estes compromissos com Portugal que a Espanha manteve a sua posição de não-beligerância ao longo da Segunda Guerra Mundial, embora alguns sectores políticos espanhóis se inclinassem para a intervenção no conflito.
In Pacto Ibérico. In Infopédia . Porto Editora, 2003-2008
POEMA
(Arte poética.)
Liberdade
é também vontade.
Benditas roseiras
que em vez de rosas
dão nuvens e bandeiras.
José Gomes Ferreira
Liberdade
é também vontade.
Benditas roseiras
que em vez de rosas
dão nuvens e bandeiras.
José Gomes Ferreira
RETRATOS DO PS
O CRENTE
«Porque temos fé em ti, José Sócrates»
(o apresentador do comício)
A CEDILHA
«Força, força!»
(os presentes, quando entrou a ministra da Educação)
O RADIOLOGISTA
«A Educação está no coração e na alma do PS»
(Alberto Martins)
O VISIONÁRIO
«O PS foi o primeiro partido a reunir cem mil militantes»
(Almeida Santos)
O CALHAU
«Quando toca a doer, estamos unidos que nem uma pedra»
(Jorge Coelho)
O EDUCANDO
«Também estou aqui para apoiar a ministra da Educação,
para ela comandar e orientar essa ralé dos professores»
(militante ido de Sintra)
ELE
ELE
ELE
«O PS é a única força da mudança»
«Os socialistas foram grandes demais para o Pavilhão Académico»
«Estou entre o partido do povo»
«Porque temos fé em ti, José Sócrates»
(o apresentador do comício)
A CEDILHA
«Força, força!»
(os presentes, quando entrou a ministra da Educação)
O RADIOLOGISTA
«A Educação está no coração e na alma do PS»
(Alberto Martins)
O VISIONÁRIO
«O PS foi o primeiro partido a reunir cem mil militantes»
(Almeida Santos)
O CALHAU
«Quando toca a doer, estamos unidos que nem uma pedra»
(Jorge Coelho)
O EDUCANDO
«Também estou aqui para apoiar a ministra da Educação,
para ela comandar e orientar essa ralé dos professores»
(militante ido de Sintra)
ELE
ELE
ELE
«O PS é a única força da mudança»
«Os socialistas foram grandes demais para o Pavilhão Académico»
«Estou entre o partido do povo»
POEMA
TODA ESPERANÇA É PERDIDA
Toda esperança é perdida,
tudo veo a falecer,
e o que fica da vida
ficou para m'eu perder.
Aquela esperança minha,
assi falsa e vã como era,
c'os olhos que eu nela tinha,
a todo o mal se atrevera.
Ora ela é toda perdida;
Mas não m'hão de fazer crer
que não há mais nesta vida
senão nascer e morrer.
Sá de Miranda
(1481/1558)
Toda esperança é perdida,
tudo veo a falecer,
e o que fica da vida
ficou para m'eu perder.
Aquela esperança minha,
assi falsa e vã como era,
c'os olhos que eu nela tinha,
a todo o mal se atrevera.
Ora ela é toda perdida;
Mas não m'hão de fazer crer
que não há mais nesta vida
senão nascer e morrer.
Sá de Miranda
(1481/1558)
DOIS PEDIDOS AO INE
Dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) dizem que, comparativamente com Fevereiro de 2007, em Fevereiro deste ano se verificaram maiores aumentos de preços de bens essenciais, assim:
Serviços hospitalares: +80,1%
Leite, queijo e ovos: +11,3%
Pão: +8,3%
Gás: +6,5%
Peixe: +5%
Transportes: +4,4%
Electricidade: +3,4%
Vestuário: +3,3%
Calçado: +2,4%
Vinho: +2,4%
Carne: +0,3%
e
Hortaliças: - 17,7%.
Os salários, diz o INE, subiram 2,5% - logo, digo eu, os salários reais baixaram.
Dois pedidos ao INE:
1) - que informe os muitos milhares de trabalhadores cujos salários não foram aumentados, ou que estão com salários em atraso, onde é que podem ir levantar o aumento de 2,5% que a estatística lhes atribui.
2) - que me diga, por favor, onde é que costuma abastecer-se de carne e de hortaliças.
Serviços hospitalares: +80,1%
Leite, queijo e ovos: +11,3%
Pão: +8,3%
Gás: +6,5%
Peixe: +5%
Transportes: +4,4%
Electricidade: +3,4%
Vestuário: +3,3%
Calçado: +2,4%
Vinho: +2,4%
Carne: +0,3%
e
Hortaliças: - 17,7%.
Os salários, diz o INE, subiram 2,5% - logo, digo eu, os salários reais baixaram.
Dois pedidos ao INE:
1) - que informe os muitos milhares de trabalhadores cujos salários não foram aumentados, ou que estão com salários em atraso, onde é que podem ir levantar o aumento de 2,5% que a estatística lhes atribui.
2) - que me diga, por favor, onde é que costuma abastecer-se de carne e de hortaliças.
POEMA
VILANCETE CASTELHANO DE GIL VICENTE
Por mais que nos doa a vida
nunca se perca a esperança;
a falta de confiança
só da morte é conhecida.
Se a lágrimas for cumprida
a sorte, sentindo-a bem,
vereis que todo o mal vem
achar remédio na vida.
E pois que outro preço tem
depois do mal a bonança,
nunca se perca a esperança
enquanto a morte não vem.
Carlos de Oliveira
Por mais que nos doa a vida
nunca se perca a esperança;
a falta de confiança
só da morte é conhecida.
Se a lágrimas for cumprida
a sorte, sentindo-a bem,
vereis que todo o mal vem
achar remédio na vida.
E pois que outro preço tem
depois do mal a bonança,
nunca se perca a esperança
enquanto a morte não vem.
Carlos de Oliveira
FRUTA PODRE
Isabel Pires de Lima (IPL) deu entrevista ao DN.
Ao que parece, fê-lo em três qualidades:
- não-militante mas apoiante indefectível do PS;
- ex-ministra da Cultura;
- ex-militante do PCP.
Na primeira qualidade:
- apoiou com entusiasmo o comício do PS, hoje, no Porto, sublinhando a indispensabilidade de o PS dar a conhecer ao País os resultados da sua governação. Ou seja: segundo a penetrante análise de IPL, o País, ignorante e ingrato, desconhece as infinitas e incomensuráveis bondades de governação PS; o País, rico e mal agradecido, não quer ver os benefícios todos que essa governação lhe proporciona todos os dias; o País, casmurro e masoquista, insiste em vir para a rua protestar contra a bem-aventurança e exigir mais sacrifícios e mais miséria. Por isso, segundo IPL, é necessário que Sócrates obrigue o País a reconhecer e aceitar, grato e feliz, as vantagens da sua benemérita governação - como aquele escuteiro que, obrigado a cumprir a sua boa acção do dia, ajudou a velhinha, arrastando-a, a atravessar a rua que ela, de todo, não queria atravessar;
- rejeitou a comparação, que considerou «muito artificiosa e muito forçada», entre o comício de hoje e a Marcha da Indignação - furtando-se, assim, a estabelecer a única comparação que, nestas circunstâncias, a seriedade e a inteligência permitem: entre o comício organizado pelo PS e a Marcha Liberdade e Democracia organizada pelo PCP.
Na segunda qualidade, IPL disse que nada tinha a dizer - o que só lhe fica bem.
Na qualidade de ex-militante do PCP, à pergunta sobre se «sente o dedo do PCP(...) nas chamadas "manifestações espontâneas" dos professores», respondeu que sim, que sente o dedo... - mas sabe que está a mentir, sabe que o PCP não só nada tem a ver com acções junto às sedes ou iniciativas do PS, como as condena por considerar que elas «visam alimentar um clima de crispação na sociedade e de vitimização do Partido Socialista». Portanto, se IPL sente (ela lá sabe onde) o dedo... que se cuide sobre a mão a que o dito pertence...
Finalmente, nas três qualidades referidas, posta perante a hipótese da existência de uma nova «bipolarização entre o PS e o Governo, por um lado, e o PCP e os sindicatos, por outro lado», IPL tranquilizou-se com a constatação de que «as manifestações sociais» não alteram o facto de «as sondagens continuarem a mostrar o PSD claramente em segundo lugar». Uf!, que alívio!
Ou seja, tranquiliza-a a bipolarização que não o é: a bipolarização a fingir, entre o PS (executor da política de direita quando é governo e fingida oposição a essa política quando não o é) e o PSD (fingida oposição a essa política quando não é governo e executor da mesma política quando o é).
Tranquiliza-a - e deixa-a satisfeita e feliz - sentir o dedo das sondagens...
Conforta-a que as sondagens «continuem a mostrar» que a monumental operação diária de lavagem de cérebros, de manipulação, de mistificação e de mentira, continua a dar os frutos podres de que é feita a democracia dominante.
Ao que parece, fê-lo em três qualidades:
- não-militante mas apoiante indefectível do PS;
- ex-ministra da Cultura;
- ex-militante do PCP.
Na primeira qualidade:
- apoiou com entusiasmo o comício do PS, hoje, no Porto, sublinhando a indispensabilidade de o PS dar a conhecer ao País os resultados da sua governação. Ou seja: segundo a penetrante análise de IPL, o País, ignorante e ingrato, desconhece as infinitas e incomensuráveis bondades de governação PS; o País, rico e mal agradecido, não quer ver os benefícios todos que essa governação lhe proporciona todos os dias; o País, casmurro e masoquista, insiste em vir para a rua protestar contra a bem-aventurança e exigir mais sacrifícios e mais miséria. Por isso, segundo IPL, é necessário que Sócrates obrigue o País a reconhecer e aceitar, grato e feliz, as vantagens da sua benemérita governação - como aquele escuteiro que, obrigado a cumprir a sua boa acção do dia, ajudou a velhinha, arrastando-a, a atravessar a rua que ela, de todo, não queria atravessar;
- rejeitou a comparação, que considerou «muito artificiosa e muito forçada», entre o comício de hoje e a Marcha da Indignação - furtando-se, assim, a estabelecer a única comparação que, nestas circunstâncias, a seriedade e a inteligência permitem: entre o comício organizado pelo PS e a Marcha Liberdade e Democracia organizada pelo PCP.
Na segunda qualidade, IPL disse que nada tinha a dizer - o que só lhe fica bem.
Na qualidade de ex-militante do PCP, à pergunta sobre se «sente o dedo do PCP(...) nas chamadas "manifestações espontâneas" dos professores», respondeu que sim, que sente o dedo... - mas sabe que está a mentir, sabe que o PCP não só nada tem a ver com acções junto às sedes ou iniciativas do PS, como as condena por considerar que elas «visam alimentar um clima de crispação na sociedade e de vitimização do Partido Socialista». Portanto, se IPL sente (ela lá sabe onde) o dedo... que se cuide sobre a mão a que o dito pertence...
Finalmente, nas três qualidades referidas, posta perante a hipótese da existência de uma nova «bipolarização entre o PS e o Governo, por um lado, e o PCP e os sindicatos, por outro lado», IPL tranquilizou-se com a constatação de que «as manifestações sociais» não alteram o facto de «as sondagens continuarem a mostrar o PSD claramente em segundo lugar». Uf!, que alívio!
Ou seja, tranquiliza-a a bipolarização que não o é: a bipolarização a fingir, entre o PS (executor da política de direita quando é governo e fingida oposição a essa política quando não o é) e o PSD (fingida oposição a essa política quando não é governo e executor da mesma política quando o é).
Tranquiliza-a - e deixa-a satisfeita e feliz - sentir o dedo das sondagens...
Conforta-a que as sondagens «continuem a mostrar» que a monumental operação diária de lavagem de cérebros, de manipulação, de mistificação e de mentira, continua a dar os frutos podres de que é feita a democracia dominante.
II CONGRESSO DO PCP
Realizou-se em 29 e 30 de Maio de 1926, em Lisboa, nas instalações da Cooperativa Caixa Económica Operária.
Na véspera, ocorrera o golpe militar do 28 de Maio que instaurou a Ditadura.
Não é difícil imaginar as circunstâncias em que decorreram os trabalhos do Congresso...
Presentes, estavam 105 delegados, em representação de 54 organizações de diversos pontos do País.
No balanço do trabalho realizado, foram realçados os esforços desenvolvidos de acordo com uma orientação do congresso anterior: construir a unidade de acção dos trabalhadores face ao perigo fascista. Esses esforços visavam, essencialmente, estabelecer uma frente com a CGT, então dominada pelos anarco-sindicalistas.
Esforços inglórios já que, estes, numa postura fortemente anticomunista - e não obstante a evidência crescente do perigo fascista - rejeitaram todas as propostas feitas.
Esta Moção, aprovada pelos delegados ao II Congresso, é bem elucidativa da situação que se vivia:
«O II Congresso do Partido Comunista Português, reunido na sua sessão de encerramento,
considerando:
- que o movimento insurreccional que acaba de produzir-se em Portugal representa de facto o triunfo da reacção fascista;
- que para a sua eclosão e para a sua vitória contribuiram todos os partidos burgueses;
- que o sintuitos que animam os novos assaltantes do poder se dirigem muito especialmente contra o proletariado, para salvar a situação difícil em que se debate o capitalismo;
resolve:
- chamar a atenção dos trabalhadores e dos seus organismos a fim de se criar uma acção comum contra a atroz repressão que, sem dúvida, os novos governantes vão desencadear sobre o país e que atingirá de preferência o operariado para entregá-lo manietado de pés e mãos aos exploradores do seu esforço».
As previsões do Congresso confirmaram-se: a Ditadura desencadeia uma forte vaga repressiva, centenas de dirigentes operários e de militantes comunistas são presos, e pouco depois a Sede do PCP é encerrada.
A instauração da ditadura fascista coloca às diversas forças políticas a necessidade de encontrarem novos caminhos de resposta à nova situação.
O PCP é o alvo prioritário dos fascistas. Com inúmeros militantes na prisão; não dispondo de uma organização sólida e estruturada; sem quadros com a experiência e a preparação política e ideológica exigidas - e, para além disso, atingido por várias traições e deserções (incluindo o secretário-geral eleito no I Congresso, Carlos Rates, que pouco depois do golpe passou a ser jornalista responsável no jornal fascista Diário da Manhã) - o Partido vive momentos de grande desorganização e desorientação.
Nos restantes partidos a situação é ainda mais grave.
Deste quadro complexo e difícil, a realidade viria a confirmar que apenas um partido estava à altura da situação: o Partido Comunista Português.
Três anos após a implantação da Ditadura - na Conferência de Abril de 1929 - o Partido, contando apenas com 40 militantes, começa a organizar-se nas condições de clandestinidade que lhe são impostas.
Bento Gonçalves, jovem operário do Arsenal, activista sindical - designado secretário-geral do Partido - desempenha nesse processo de reorganização um papel decisivo, quer no combate às concepções anarquistas; quer na ligação do Partido à classe operária; quer na formação de organizações partidárias e na atenção especial dada ao trabalho sindical.
«São fundamentalmente militantes operários, forjados na luta sindical, que vão fazer do PCP um partido revolucionário, marxista-leninista, capaz de lutar nas condições da clandestinidade».
Na véspera, ocorrera o golpe militar do 28 de Maio que instaurou a Ditadura.
Não é difícil imaginar as circunstâncias em que decorreram os trabalhos do Congresso...
Presentes, estavam 105 delegados, em representação de 54 organizações de diversos pontos do País.
No balanço do trabalho realizado, foram realçados os esforços desenvolvidos de acordo com uma orientação do congresso anterior: construir a unidade de acção dos trabalhadores face ao perigo fascista. Esses esforços visavam, essencialmente, estabelecer uma frente com a CGT, então dominada pelos anarco-sindicalistas.
Esforços inglórios já que, estes, numa postura fortemente anticomunista - e não obstante a evidência crescente do perigo fascista - rejeitaram todas as propostas feitas.
Esta Moção, aprovada pelos delegados ao II Congresso, é bem elucidativa da situação que se vivia:
«O II Congresso do Partido Comunista Português, reunido na sua sessão de encerramento,
considerando:
- que o movimento insurreccional que acaba de produzir-se em Portugal representa de facto o triunfo da reacção fascista;
- que para a sua eclosão e para a sua vitória contribuiram todos os partidos burgueses;
- que o sintuitos que animam os novos assaltantes do poder se dirigem muito especialmente contra o proletariado, para salvar a situação difícil em que se debate o capitalismo;
resolve:
- chamar a atenção dos trabalhadores e dos seus organismos a fim de se criar uma acção comum contra a atroz repressão que, sem dúvida, os novos governantes vão desencadear sobre o país e que atingirá de preferência o operariado para entregá-lo manietado de pés e mãos aos exploradores do seu esforço».
As previsões do Congresso confirmaram-se: a Ditadura desencadeia uma forte vaga repressiva, centenas de dirigentes operários e de militantes comunistas são presos, e pouco depois a Sede do PCP é encerrada.
A instauração da ditadura fascista coloca às diversas forças políticas a necessidade de encontrarem novos caminhos de resposta à nova situação.
O PCP é o alvo prioritário dos fascistas. Com inúmeros militantes na prisão; não dispondo de uma organização sólida e estruturada; sem quadros com a experiência e a preparação política e ideológica exigidas - e, para além disso, atingido por várias traições e deserções (incluindo o secretário-geral eleito no I Congresso, Carlos Rates, que pouco depois do golpe passou a ser jornalista responsável no jornal fascista Diário da Manhã) - o Partido vive momentos de grande desorganização e desorientação.
Nos restantes partidos a situação é ainda mais grave.
Deste quadro complexo e difícil, a realidade viria a confirmar que apenas um partido estava à altura da situação: o Partido Comunista Português.
Três anos após a implantação da Ditadura - na Conferência de Abril de 1929 - o Partido, contando apenas com 40 militantes, começa a organizar-se nas condições de clandestinidade que lhe são impostas.
Bento Gonçalves, jovem operário do Arsenal, activista sindical - designado secretário-geral do Partido - desempenha nesse processo de reorganização um papel decisivo, quer no combate às concepções anarquistas; quer na ligação do Partido à classe operária; quer na formação de organizações partidárias e na atenção especial dada ao trabalho sindical.
«São fundamentalmente militantes operários, forjados na luta sindical, que vão fazer do PCP um partido revolucionário, marxista-leninista, capaz de lutar nas condições da clandestinidade».
POEMA
EM GERAL, NÃO SOU NEUTRO
Em geral não sou neutro.
Raro é conseguir sê-lo.
Falta-me para isso
a delicadeza pérfida
dos falsos independentes,
o comodismo cobarde
dos falsos sobranceiros,
a hipocrisia velhaca
dos falsos melindrosos.
Armindo Rodrigues
Em geral não sou neutro.
Raro é conseguir sê-lo.
Falta-me para isso
a delicadeza pérfida
dos falsos independentes,
o comodismo cobarde
dos falsos sobranceiros,
a hipocrisia velhaca
dos falsos melindrosos.
Armindo Rodrigues
LIBERDADE E DEMOCRACIA
SÓ PARA LEMBRAR...
Há uma semana, o ministro Santos Silva proferiu, em Chaves, uma curiosa lição de estória.
Ensinou ele que Portugal deve a liberdade e a democracia aos «socialistas» (Mário Soares, Manuel Alegre, Salgado Zenha, Jorge Sampaio e, modéstia à parte, o próprio Santos Silva) e não, de maneira nenhuma, nem pensar, aos comunistas (Álvaro Cunhal e Mário Nogueira).
Neste post, iniciamos a enunciação de um conjunto de episódios reais - por isso, contestados pela visão estórica do ministro - sobre o papel desempenhado, ao longo da História de Portugal, na luta pela liberdade e pela democracia, por um lado, pelos comunistas, por outro lado, pela família política do ministro Santos Silva.
Esclareça-se desde já que não vamos dizer nada de novo sobre a matéria. Pretendemos, tão-somente, denunciar umas quantas mentiras, desmascarar umas quantas falsidades e relembrar umas quantas verdades - enfim, avivar memórias.
Primeiro Episódio
Em 5 de Julho de 1932, Salazar (exacto: esse mesmo, o «nem bom, nem mau» que uma abjecta campanha publicitária nos tenta vender como «bom») tomou posse como Presidente do Conselho.
No mês seguinte, o governo aprova os Estatutos do partido fascista: a União Nacional.
Em Novembro, são nomeados os dirigentes da União Nacional e, na mesma altura, são proibidos todos os outros partidos políticos.
Em 29 de Agosto de 1933, Salazar («nem bom, nem mau») cria a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), que tem como missão assegurar o cumprimento da ordem de proibição dos partidos políticos.
Em 6 de Novembro, é criado o Tribunal Militar Especial, cuja função é condenar os «crimes contra a segurança do estado».
Está montada a máquina repressiva fascista que actuará, implacável, brutal, sobre todos os que ousarem defender a liberdade e a democracia.
Para os partidos políticos existentes, a opção é simples: acatar ou não acatar a ordem do ditador fascista; submeter-se ou resistir; aceitar passivamente a opressão fascista ou assumir a luta pela liberdade e pela democracia.
Estamos perante um daqueles momentos decisivos, históricos, em que os princípios, a dignidade, a honra, a coragem dos homens são postas à prova.
Diz um personagem de «A Peste», de Camus: há sempre um momento na história em que o simples facto de um homem dizer que dois mais dois são quatro lhe pode trazer consequências graves. E, nessas circunstâncias, a questão não está em saber quais serão as consequências, mas em saber, e afirmar, que de facto dois mais dois são quatro.
Como reagiram os partidos políticos de então à ordem de Salazar?
Assim: à excepção do PCP, todos, incluindo o PS, auto-dissolveram-se, ou seja, temendo as consequências, aceitaram que dois mais dois não são quatro.
O PCP, como sabemos, mergulhou na clandestinidade - única forma de assumir que dois mais dois são, de facto, quatro.
Com essa decisão, os comunistas portugueses deram início a uma longa e difícil - muito longa e muito difícil - luta contra o fascismo, pela liberdade e pela democracia.
Uma luta na qual o PCP ocupou, sempre - sempre, sempre, sempre - a primeira fila.
Uma luta na qual os comunistas, não poucas vezes, estiveram sozinhos.
Comentando a opção do PCP, escreveu Álvaro Cunhal:
«Os comunistas pagaram a sua dedicação com pesados sacrifícios. Vidas inteiras consagradas à luta clandestina. Milhares de homens e mulheres perseguidos, presos, torturados, encerrados nas prisões durante longos anos. Alguns, mais de 20 anos. Alguns, conhecidos e procurados pela PIDE, mantendo-se clandestinamente no País até 20, até 30 anos. Numerosos militantes assassinados nas prisões, ou com torturas, ou a tiro».
Com isto, Álvaro Cunhal não está a reivindicar louros, medalhas ou outras honrarias para premiar a luta dos comunistas.
Está, apenas, a sublinhar o facto - simples, natural - de o PCP ter cumprido o seu dever de Partido da Liberdade e da Democracia.
(fim do primeiro episódio)
Há uma semana, o ministro Santos Silva proferiu, em Chaves, uma curiosa lição de estória.
Ensinou ele que Portugal deve a liberdade e a democracia aos «socialistas» (Mário Soares, Manuel Alegre, Salgado Zenha, Jorge Sampaio e, modéstia à parte, o próprio Santos Silva) e não, de maneira nenhuma, nem pensar, aos comunistas (Álvaro Cunhal e Mário Nogueira).
Neste post, iniciamos a enunciação de um conjunto de episódios reais - por isso, contestados pela visão estórica do ministro - sobre o papel desempenhado, ao longo da História de Portugal, na luta pela liberdade e pela democracia, por um lado, pelos comunistas, por outro lado, pela família política do ministro Santos Silva.
Esclareça-se desde já que não vamos dizer nada de novo sobre a matéria. Pretendemos, tão-somente, denunciar umas quantas mentiras, desmascarar umas quantas falsidades e relembrar umas quantas verdades - enfim, avivar memórias.
Primeiro Episódio
Em 5 de Julho de 1932, Salazar (exacto: esse mesmo, o «nem bom, nem mau» que uma abjecta campanha publicitária nos tenta vender como «bom») tomou posse como Presidente do Conselho.
No mês seguinte, o governo aprova os Estatutos do partido fascista: a União Nacional.
Em Novembro, são nomeados os dirigentes da União Nacional e, na mesma altura, são proibidos todos os outros partidos políticos.
Em 29 de Agosto de 1933, Salazar («nem bom, nem mau») cria a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), que tem como missão assegurar o cumprimento da ordem de proibição dos partidos políticos.
Em 6 de Novembro, é criado o Tribunal Militar Especial, cuja função é condenar os «crimes contra a segurança do estado».
Está montada a máquina repressiva fascista que actuará, implacável, brutal, sobre todos os que ousarem defender a liberdade e a democracia.
Para os partidos políticos existentes, a opção é simples: acatar ou não acatar a ordem do ditador fascista; submeter-se ou resistir; aceitar passivamente a opressão fascista ou assumir a luta pela liberdade e pela democracia.
Estamos perante um daqueles momentos decisivos, históricos, em que os princípios, a dignidade, a honra, a coragem dos homens são postas à prova.
Diz um personagem de «A Peste», de Camus: há sempre um momento na história em que o simples facto de um homem dizer que dois mais dois são quatro lhe pode trazer consequências graves. E, nessas circunstâncias, a questão não está em saber quais serão as consequências, mas em saber, e afirmar, que de facto dois mais dois são quatro.
Como reagiram os partidos políticos de então à ordem de Salazar?
Assim: à excepção do PCP, todos, incluindo o PS, auto-dissolveram-se, ou seja, temendo as consequências, aceitaram que dois mais dois não são quatro.
O PCP, como sabemos, mergulhou na clandestinidade - única forma de assumir que dois mais dois são, de facto, quatro.
Com essa decisão, os comunistas portugueses deram início a uma longa e difícil - muito longa e muito difícil - luta contra o fascismo, pela liberdade e pela democracia.
Uma luta na qual o PCP ocupou, sempre - sempre, sempre, sempre - a primeira fila.
Uma luta na qual os comunistas, não poucas vezes, estiveram sozinhos.
Comentando a opção do PCP, escreveu Álvaro Cunhal:
«Os comunistas pagaram a sua dedicação com pesados sacrifícios. Vidas inteiras consagradas à luta clandestina. Milhares de homens e mulheres perseguidos, presos, torturados, encerrados nas prisões durante longos anos. Alguns, mais de 20 anos. Alguns, conhecidos e procurados pela PIDE, mantendo-se clandestinamente no País até 20, até 30 anos. Numerosos militantes assassinados nas prisões, ou com torturas, ou a tiro».
Com isto, Álvaro Cunhal não está a reivindicar louros, medalhas ou outras honrarias para premiar a luta dos comunistas.
Está, apenas, a sublinhar o facto - simples, natural - de o PCP ter cumprido o seu dever de Partido da Liberdade e da Democracia.
(fim do primeiro episódio)
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