POEMA
Para vós o meu canto, companheiros da vida!
Vós que tendes os olhos profundos e abertos;
vós, para quem não existe batalha perdida,
nem desmedida amargura,
nem aridez nos desertos;
vós, que modificais o leito dum rio;
- nos dias difíceis sem literatura,
penso em vós: e confio;
penso em mim: e confio;
- para vós os meus versos, companheiros da vida!
Se canto os búzios, que falam dos clamores,
das pragas imensas lançadas ao mar
e da fome dos pescadores,
- penso em vós, companheiros,
que trazeis outros búzios pra cantar...
Acuso as falas e os gestos inúteis;
aponto as ruas tristes da cidade
e crivo de bocejos as meninas fúteis...
Mas penso em vós e creio em vós, irmãos,
que trazeis ruas com outra claridade
e outro calor no apertar das mãos.
E vou convosco - definido e preciso,
erguido ao alto como um grito de guerra,
à espera do Dia do Juízo...
Que o Dia do Juízo
Não é no Céu... é na Terra!
Sidónio Muralha
AMANHÃ, 1 DE MARÇO: ESTE PARTIDO!
«O PCP tem consigo, como prova de mérito e como marca profunda na sua existência, o valor do seu passado de luta nas condições do terror fascista e da sua actividade dedicada e coerente nos onze anos decorridos desde o 25 de Abril de 1974.
Na sequência dessa existência e dessas provas, afirma-se, na vida nacional presente, como o grande partido dos trabalhadores, do povo, da democracia, de Portugal de Abril e das suas conquistas.
São credenciais que nenhum outro partido pode apresentar ao povo português.
Todos os partidos que existiam na altura do golpe militar de 28 de Maio de 1926 desapareceram da cena política nacional.
O Partido Democrático e o Partido Republicano cessaram de seguida as suas actividades. O Partido Socialista decidiu em 1933 a sua autodissolução. As organizações anarquistas, depois de uma efémera reanimação nos anos da Guerra Civil de Espanha (1936/1939), foram destroçadas e liquidadas pela repressão. Antifascistas de várias tendências formaram por vezes grupos mais ou menos activos. Mas, com excepção do PCP, os partidos políticos desapareceram completamente no tempo da ditadura. O actual Partido Socialista, que invoca a sua suposta existência anterior ao 25 de Abril, só em 1973, já nas vésperas do derrubamento da ditadura, foi constituído na República Federal da Alemanha.
Assim, nos 48 anos de ditadura fascista, o PCP foi praticamente o único partido existente, o único a conduzir de forma organizada, permanente e contínua a luta em defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País, o único a travar uma luta sem tréguas pela liberdade e a democracia.
Os comunistas pagaram a sua dedicação com pesados sacrifícios. Vidas inteiras consagradas à luta clandestina. Milhares de homens e mulheres perseguidos, presos, torturados, encerrados nas prisões durante longos anos. Alguns mais de 20 anos. Alguns, conhecidos e procurados pela PIDE, mantendo-se clandestinamente no País até 20, até 30 anos. Numerosos militantes assassinados nas prisões, ou com torturas, ou a tiro.
Qualquer balanço objectivo da resistência antifascista obriga a concluir que, nos duros tempos da ditadura, os comunistas foram o destacamento de combate, o braço, a vanguarda, a honra, a consciência do povo português na luta pela liberdade.
Nos anos dedorridos desde o 25 de Abril, tanto no exaltante fluxo revolucionário de 1974/1975, como ante as ofensivas contra-revolucionárias desde então desencadeadas por sucessivos governos, os comunistas estiveram à altura das suas heróicas tradições e das suas responsabilidades. Nestes 11 anos de luta entre as forças da restauração monopolista e as forças voltadas para o progresso social e o bem-estar do povo, o PCP foi o único partido que sempre esteve com os trabalhadores e as massas populares, na defesa dos seus interesses vitais, dos seus direitos e das suas aspirações. O PCP tornou-se o único grande partido defensor da Revolução de Abril e das suas conquistas. O único verdadeiro e real defensor do regime democrático e da independência nacional.
O PCP confirma no presente todo o seu glorioso passado. Passado e presente creditam a sua futura acção.
O balanço do passado, a actividade presente e a previsão do futuro definem a importância, o papel e o valor do PCP na vida nacional.
O passado é a prova, o presente o testemunho, o futuro a confiança.
A perspectiva histórica de um partido afere-se pelo que fez, pelo que faz e pelo que mostra estar em condições de fazer. Afere-se pela ligação do seu ideal, dos seus objectivos, da sua acção à classe ou classes às quais historicamente o futuro pertence.
Neste duplo aspecto se afere e revela a perspectiva do PCP e se fundamenta a sua profunda e inabalável confiança no futuro.»
Álvaro Cunhal
(in «O Partido com Paredes de Vidro», edições Avante!, 1985)
POEMA
De cada vez que um governo necessita de segredos,
por segurança do Estado
ou para melhor êxito
nas negociações internacionais,
é o mesmo que negar,
como negaram sempre desde que o mundo é mundo,
a liberdade.
Sempre que um povo aceita que o seu governo,
ainda que eleito com quantas tricas já se sabe,
invoque a lei e a ordem para calar alguém,
como fizeram sempre desde que o mundo é mundo,
nega-se
a liberdade.
Porque, se há algum segredo na vida pública
que todos não podem saber
é porque alguém, sem saber,
é o preço do negócio feito.
E se há uma ordem e uma lei que não inclua
mesmo que seja o último dos asnos e dos pulhas
e o seu direito a ser como nasceu ou o fizeram,
a liberdade
é uma farsa,
a segurança
é uma farsa,
a ordem é uma farsa,
não há nada que não seja uma farsa,
a mesma farsa representada sempre
desde que o mundo é mundo,
por aqueles que se arrogam ser
empresários dos outros
e nem pagam decentemente
senão aos maus actores.
Jorge de Sena
Ainda a minha avó...
Oitenta e cinco. que ciúme. sabes avó, invejo-te os dias e a lucidez dos anos. a ternura transbordante por vezes tímida atrás de alguma resignação.e logo a gargalhada bem disposta na brandura de uma brasa. a mantinha de lã. os óculos para a revista e o chá entre os gatos, as linhas para os pés dos netos e algum botão, para que não fique no caminho. sabes por certo as arestas do frio e de alguma ausência. conheces a amargura de alguns trilhos. mas não esqueças nunca a doçura possibilitada no amar das estrelas. Lembras-te velhinha bonita, quando na casa creme, me chamavas, no nosso segredo, "minha estrelinha"? Lembras avó? quero que saibas que me lembro constantemente disso, quando a solidão das montanhas transmontanas, ou na ausência que a planície lembra, assim como nos paralelos húmidos de Lisboa, me enchem a cabeça as palavras boas no teu regaço. Maduro como o Outono das uvas, ao colo do avô lains. É com a alegria breve e profunda que prenuncio as mesmas palavras - num chamamento que a mim mesmo absorva alguma solidão - nas noites em que o céu é claro e o horizonte grande demais para a pequenez dos homens, ainda que muitos e juntos. Sou memória das tuas mãos em fragas de festas tempestuosas, percorrendo a minha face no dia do meu regresso ao regaço dos meus. sou os teus olhos e as tuas rugas mansas quando contemplo a poesia das coisas e o mar aberto. talvez regaço do teu linho no agosto abrasador. sou filho e herdeiro das tuas tempestades e da tua mansidão. sou o rosário e a ladaínha da tua prece. ainda que aqui tão longe... tão sentimentalmente perto. aí, nesse local de nenhures que o sentido designa coração.
muito teu
teu neto e tua estrelinha
antónio sérgio.
Lisboa, Campo Santana, 15 de Dezembro de 2004
CALL GIRL OUTRA VEZ
O Sérgio Ribeiro, no seu «anónimo século xxi» - blog inequívocamente assumido política e ideologicamente (o que não é pouco importante) e que tem, ainda, o mérito (igualmente relevante) de ser excelente, logo de visita obrigatória - deu a merecida resposta a uma série de javardices bolsadas no Diário de Notícias por um desses escribas de serviço à ideologia dominante que pululam nos média propriedade do grande capital.
O referido escriba, num vómito intitulado «Os comunistas foram ao cinema»... bom, não vale a pena voltar à imundície: o Sérgio já disse tudo o que sobre o assunto havia a dizer.
No entanto - e só para ver como esta gente funciona - reproduzo um post do Cravo de Abril (27.12.07) no qual se comenta uma informação sobre as opções partidárias do tal «autarca corrupto», dada em primeira mão, precisamente pelo DN...
Aí vai, sem comentários...
A ESCOLHA DE ANTÓNIO
O DN de hoje dedica duas páginas ao mais recente filme de António Pedro Vasconcelos (APV) - «CALL GIRL» - e informa que «a história roda em torno de um autarca corrupto ligado ao PCP».
APV tem todo o direito - senão mesmo o dever - de, nos seus filmes, tratar o tema da corrupção.
Optou pela «corrupção nas autarquias»? Pronto, é uma opção tão legítima como seria abordar a corrupção em qualquer outra área da vida nacional (na Banca, por exemplo - e não falo apenas das últimas sobre o «caso BCP», que bem poderia ser designado por caso BCP/BP/CGD e o mais que se verá...)
Mas APV optou pelas autarquias - ele lá sabe porquê.
Imagino o processo de busca inteligencial seguido pelo autor de «CALL GIRL»: um autarca corrupto?: ora deixa cá ver, António, ora deixa cá ver António, um autarca corrupto, um autarca corrupto... este não, chiça... aquele, nem pensar... ah!, que estúpido que eu sou, está-se mesmo a ver: um comunista!, não estou a ver quem, mas quero lá saber, não me traz qualquer problema, bem pelo contrário, eh, eh, eh, bem pelo contrário, é isso: um comunista: está decidido: temos filme!
Não garanto que o percurso reflexivo do realizador tenha sido rigorosamente este, mas dadas as circunstâncias, é-me legítimo presumir que a sua procura de agulha em palheiro não há-de ter andado longe disto.
Curiosamente, numa das duas páginas do DN acima referidas, o tema da «corrupção nas autarquias» é abordado: vemos seis fotos de autarcas «a braços com a justiça»: três são do PS; dois, do PSD; um, do CDS/PP.
Os restantes são do PCP - a escolha de António.
Feliz aniversário SLB
Celebrar 104 anos como o clube com mais associados de todo o mundo é um facto importante. Tão importante que não passa esquecido e fica registado no famoso livro do Guiness. Todos reconhecem a grandeza desta instituição que teve, tem e terá um papel determinante na competição desportiva em Portugal.
O futuro deveria olhar para o passado risonho. O passado e pluribus unum!. As famílias que, em tempos, se deslocavam em excursão ao estádio; os sócios que participavam activamente nas votações e assembleias; os miúdos e miúdas que praticavam desporto e a importância na formação desportiva de milhares desses jovens, tudo em prol da paixão do desporto. Morre a 10 de Fevereiro de 2000. O presente não resistiu e pariu uma máquina económica.
Mas, seja como for, o desporto português está de parabéns porque o clube Benfica faz 104 anos de história dia 28 de Fevereiro.
Texto actualizado.
POEMA
A viagem fazemo-la num qualquer modesto cargueiro.
Existe ainda um porto onde não tivéssemos tocado?
Existe alguma espécie de tristeza que ainda não tivéssemos cantado?
O horizonte que a cada manhã tínhamos pela frente
não era igual ao que à noite deixávamos para trás?
Quantas estrelas desfilaram à nossa frente
roçando as águas?
Não era cada aurora o reflexo
da nossa nostalgia?
Mas é em frente que vamos, não é verdade?
É em frente que vamos.
Nazim Hikmet
Voltaram as andorinhas!
"Tudo vai bem no Reino da Dinamarca..."
Sobre as duas primeiras já o nosso amigo Fernando Samuel falou (e muito bem! - é preciso que se note e sublinhe).
Sobre a entrevista concedida pelo nosso Primeiro Ministro à Sic Notícias não foi dirigida alguma palavra - talvez porque a não merecesse, ou se caísse no descrédito da rotina. Eu "gostei" de ver a entrevista (com o fim do "Isto é uma espécie de magazine" optei pela comédia rival no canal da concorrência: entrevista ao Sócrates na Sic Notícias). Surpreendeu-me o sentido de humor e a fértil imaginação de tão digna personagem, a saber:
1º Sócrates felicitou-se, como um maratonista se felicitaria caso ascendesse ao pódio, afirmando que "a economia portuguesa está a criar emprego", isto traduz-se em 94 mil postos de trabalho criados. Muito bem: que dizer sobre os, cerca de, 300 mil novos desempregados? Seja isto: um saldo negativo de aproximadamente 206 mil novos despedimentos. O desemprego chegou portanto à fasquia dos 8%. Recordo que quando o PSD atingiu os 7.1% Sócrates disparou em voz sábia: "Este número é bem a marca de uma governação falhada, de uma economia mal dirigida." Que diria ele se fosse oposição sobre os 8%?
2º Sócrates felicitou-se, como um maratonista se felicitaria caso ascendesse ao pódio, pelo défice ter ficado abaixo dos 3%. Felicitação comovente e sentida, não fora o próprio ter dito em tempo de campanha: "Nós não vamos combater o défice fazendo dele uma obsessão, arruinando a nossa economia e fazendo disparar o desemprego. "
3º Sócrates afirmou que "estamos num momento de incerteza a nível internacional" e que seria, portanto, irresponsável baixar os impostos. Foi pena não se ter lembrado disso quando durante a sua campanha afirmou que "não está previsto no programa do PS nenhum aumento dos impostos". Pois bem, nestes 3 anos aumentaram o IVA (imposto valor acrescentado), o IRS (imposto sobre rendimento singular), o IRC (imposto sobre rendimento colectivo), o ISP (imposto sobre produtos petrolíferos e eléctricos), o IA (imposto automóvel), o ICC (imposto sobre circulação e camionagem), imposto sobre bebidas alcoolicas, imposto sobre o tabaco e o imposto do selo: isto soma o total de um aumento de 9 impostos.
4ºEducação...
5ºSaúde...
E por aí em diante...
SÓCRATES E O RAPOSÃO
O discurso de José Sócrates no «Fórum Novas Fronteiras» - que constitui o mais desbragado panegírico até hoje dedicado à governação do próprio Sócrates - trouxe-me à memória Eça de Queirós. Melhor dizendo: os personagens criados por Eça há mais de um século e tão presentes na nossa vida actual.
Com efeito, nos jornais, nas rádios, nas televisões (e, já agora, em muitos blogs...), deparamos todos os dias com o Abranhos, o Acácio, o Pacheco, o Palma Cavalão, o Alencar - e tantos outros.
Da mesma forma, cenas e ocorrências dos romances de Eça - vividas no Século XIX - repetem-se, vivinhas da costa, neste início do século XXI.
O referido discurso de Sócrates fez-me lembrar a fabulosa cena final de «A Relíquia»: o Raposão, acabado de chegar de uma visita à Terra Santa - visita paga pela «titi», beata e rica - mostra as relíquias sagradas que trouxe: medalhinhas, bentinhos, lascas, pedrinhas, palhas, frasquinhos de água do Jordão...
Para a «titi», está reservada a relíquia das relíquias: nem mais nem menos do que... «a coroa de espinhos»! - a verdadeira, a legítima...
É a própria «titi» quem «desembrulha o pacotinho» sagrado...
Como é sabido, por trágico lapso do Raposão, onde deveria estar a «coroa de espinhos», estava a «camisa de noite» da prostituta com quem ele, em oração a dois, havia passado parte grande da visita - com a agravante de, pregado com um alfinete na pecaminosa peça de roupa, vir um cartão dirigido ao Raposão, «meu portuguesinho possante, em lembrança do muito que gozámos!»
O Raposão foi expulso, miseravelmente escorraçado, de casa da «titi» - e, o pior de tudo, deserdado.
Mais tarde, recriminava-se ele por, naquele momento decisivo, «no oratório da titi me ter faltado a coragem de afirmar! Sim!, quando em vez duma coroa de martírio, aparecera, sobre o altar da titi, uma camisa de pecado - eu deveria ter gritado, com segurança: «Eis aí a Relíquia! Quis fazer a surpresa... Não é a coroa de espinhos. É melhor! É a camisa de Santa Maria Madalena!... Deu-ma ela no deserto!...»
E o Raposão estava certo de que, se assim tivesse feito, redobrariam os favores da titi e a herança não lhe escaparia...
Ora, «coragem de afirmar» - ou, como também lhe chamou Eça, o «descarado heroísmo de afirmar» - é coisa que não falta a Sócrates. Como o prova o seu discurso no «Fórum Novas Fronteiras».
Será que a herança da «titi» vai, inteirinha, para este Raposão recauchutado?
E se o mandássemos dar uma volta?
POEMA
Está próxima a vitória da razão.
Está a razão segura da vitória.
Não mais deuses o céu povoarão.
Será feita por nós a nossa história.
Armindo Rodrigues
CUBA E CHIPRE
Raul Castro foi eleito Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros de Cuba.
Demetris Christofias, secretário-geral do partido comunista cipriota (AKEL), foi eleito Presidente da República de Chipre.
Trata-se de duas eleições que, cada uma com as suas características específicas, constituem acontecimentos da máxima importância para os comunistas de todo o mundo - e que confirmam que «isto vai, meus amigos, isto vai»...
Raul Castro e Demetris Christofias têm pela frente tarefas dificílimas.
Ambos serão alvos preferenciais dos falcões do capitalismo internacional - que, como é sabido, não olham a meios para alcançar os seus fins.
Para resistir e vencer, ambos contam, como fonte de força essencial, com os seus povos e os seus partidos.
E com a nossa solidariedade internacionalista.
FÓRUM SEM FRONTEIRAS
No discurso de abertura do «Fórum Novas Fronteiras», Sócrates - ao som da banda sonora de «O Gladiador» - procedeu a um curiosíssimo encadeado de elogios a si próprio; de elogios ao seu partido; de elogios a si próprio; de elogios à política do seu governo; de elogios a si próprio; de elogios à capacidade do seu governo; de elogios a si próprio; de elogios ao seu governo tout court; de elogios a si próprio - e terminou com uns quantos elogios a si próprio.
Assim, ficámos a saber que vivemos no melhor dos mundos: o PS, Sócrates, o governo, Sócrates, a economia, Sócrates, as condições de trabalho e de vida dos portugueses, Sócrates, a justiça e a igualdade, Sócrates, a saúde e o ensino, Sócrates... tudo, enfim, marcha de vento em popa - Ad majorem Socrates gloriam...
Face a esta realidade anunciada, só gente malévola e mal intencionada é que não quer ver:
1 - a diferença existente entre o Inferno e o Paraíso, ou seja, entre o tempo AS (Antes de Sócrates) e o tempo DS (Depois de Sócrates);
2 - que o PS (Portugal de Sócrates) é o país de todas as maravilhas, onde tudo está bem e nada está mal, onde o amanhã da bem-aventurança é já hoje, já chegou, já cá canta.
Os 15-oradores-15 que se seguiram na tribuna - gente não malévola, está visto - representaram magistralmente a função de ecos de Sócrates que lhes fora destinada.
Os convidados que não intervieram - gente bem intencionada, está visto - também cumpriram exemplarmente: aplaudiram com grande entusiasmo o primeiro-ministro e aplaudiram com grande entusiasmo os elogios dos 15-oradores-15 ao primeiro-ministro.
Não consta que qualquer dos oradores ou dos convidados tenha corado de vergonha pelo papel ali representado - é voz corrente que nenhum deles sabe o que isso é.
E todos sabiam que estavam a participar num Fórum Sem Fronteiras em matéria de desvergonha.
E foi assim - sempre ao som da banda sonora de «O Gladiador» - que terminou a récita dos autistas.
CARTA A FIDEL
CAMARADA FIDEL
Li a tua carta na qual anuncias a decisão de não te candidatares ao cargo de Presidente do Conselho de Estado de Cuba. Decisão irrevogável, dizes, e explicas porquê.
E eu, que me habituei desde há muito a ouvir-te a palavra exacta no momento exacto, penso que também desta vez assim é.
Mas tenho pena que assim seja. E estou certo de que não sofro sozinho essa pena.
Sabes, melhor do que eu, que a tua doença preocupou – e preocupa – milhões de homens, mulheres e jovens em todo o mundo; milhões de pessoas que te têm como referência marcante das suas vidas; que guardam nas suas memórias, de forma imperecível, o teu contributo para a luta de libertação e emancipação dos povos, o teu exemplo de revolucionário digno, íntegro, vertical, de corpo inteiro.
Sabes, melhor do que eu, que construíste História – que, sem ti, sem a tua intervenção, sem o teu pensamento, sem o teu exemplo de lucidez, de coragem e de dignidade, a História teria sido diferente - e não apenas no que diz respeito a Cuba.
Sabes, melhor do que eu, que, na situação actual, a luta dos comunistas em qualquer parte do mundo é indissociável da experiência da Revolução cubana na perspectiva que, com a palavra exacta, no momento exacto definiste: «Revolução é sentido do momento histórico; é mudar tudo o que deve ser mudado; é igualdade e liberdade plenas; é ser tratado e tratar os demais como seres humanos: é emanciparmo-nos com os nossos próprios esforços; é desafiar as poderosas forças dominantes dentro e fora do âmbito social e nacional; é defender valores nos quais se crê seja qual for o sacrifício necessário; é modéstia, desinteresse, altruísmo, solidariedade e heroísmo; é lutar com audácia, inteligência e realismo; é não mentir jamais, nem violar princípios éticos; é convicção profunda de que não existe força no mundo capaz de esmagar a força da verdade e das ideias. Revolução é unidade, é independência, é lutar pelos nossos sonhos de justiça para Cuba e para o mundo, que é a base do nosso patriotismo, do nosso socialismo e do nosso internacionalismo.»
Sabes, melhor do que eu, que o papel singular que desempenhaste em todo o processo revolucionário cubano, desde Moncada até aos dias de hoje, constitui uma referência, um estímulo, uma fonte de inspiração para os revolucionários de todo o mundo.
Sabes, melhor do que eu, que nesses tempos longínquos de Moncada – em que caracterizaste com rigor cirúrgico o carácter da ditadura de Baptista e definiste a insurreição armada como a forma de luta decisiva para a derrubar – iniciaste uma caminhada revolucionária que ficará na história da humanidade como um dos seus momentos gloriosos.
Sabes, melhor do que eu, que da longínqua madrugada de 26 de Julho de 1953, os revolucionários de todo o mundo recordam com emoção o que disseste – a palavra exacta no momento exacto - aos 135 revolucionários que, contigo, iam dar o primeiro passo para o derrubamento da ditadura: «Camaradas: dentro de algumas horas, venceremos ou seremos vencidos. De qualquer forma, camaradas, o movimento triunfará. Se vencermos, alcançaremos mais depressa as aspirações de Marti; se formos vencidos, o nosso gesto servirá de exemplo para o povo de Cuba e ele empunhará a bandeira e seguirá
Sabes, melhor do que eu, que desse tempo, guardamos nas nossas memórias esse texto notável – certamente a mais bela proclamação de rebeldia alguma vez produzida - que foi a tua defesa perante o tribunal fascista, onde, com a palavra exacta demonstraste, no momento exacto, o carácter ilegal, imoral, reaccionário, da ditadura; e fundamentaste a razão moral e jurídica da violência revolucionária face à situação; e explicaste a opção pelo caminho das armas; e concluíste que chegara o momento de substituir a arma da crítica pela crítica das armas; e proclamaste que «o direito à rebelião contra o despotismo está na própria raiz da nossa existência política»; e invocaste o direito à liquidação dos tiranos – sempre a palavra exacta no momento exacto, olhando de frente os juízes fascistas, convertendo os acusados em acusadores, desmascarando-os frontalmente como lacaios do Poder estabelecido, dizendo-lhes: «Condenai-me, não tem importância, a História me absolverá».
Sabes, melhor do que eu, todos os passos dados rumo à libertação de Cuba: aquele dia 25 de Novembro de 1956 em que, no Granma superlotado (no barco cabiam umas 25 pessoas e iam lá 82) partiste do México «rumo ao nascer do sol» - procurando levar o maior número de armas e não te preocupando, nem tu nem nenhum dos teus companheiros, com as provisões, cuja enunciação minuciosa leio sempre com lágrimas de comoção: «2000 laranjas, dois presuntos partidos às fatias, 48 latas de leite condensado, uma caixa de ovos, cem tabletes de chocolate e quatro quilos de pão».
Sabes, melhor do que eu, que mais importante do que as provisões era, para ti e para os que te acompanhavam a provisão das vossas fortes convicções revolucionárias, da vossa determinação inabalável, da vossa incomensurável coragem – e de uma muito grande confiança no apoio do povo de Cuba à vossa luta.
Sabes, melhor do que eu, que três anos depois, o povo cubano e os revolucionários de todo o mundo festejavam a vitória da Revolução, a tua entrada em Havana, o início da passagem a uma outra fase da longa caminhada.
Sabes, melhor do que eu, dos ataques de que Cuba foi alvo ao longo dos anos por parte dos sucessivos governos dos EUA: o criminoso bloqueio; os actos terroristas contra bens, equipamentos e pessoas, traduzidos nomeadamente na perda de mais de 3500 vidas humanas; a destruição de colheitas; as tentativas de invasão de Cuba; a intensa e feroz campanha mediática que, recorrendo às mais grosseiras provocações, falsidades e calúnias, é suporte essencial de todas as linhas da ofensiva imperialista contra a revolução cubana; enfim, o vale-tudo que caracteriza a prática do imperialismo norte-americano nas suas ofensivas contra os países e povos que, com dignidade, persistem na defesa da sua soberania e independência e, com dignidade, se recusam a enfileirar o rebanho de fiéis cumpridores das ordens emanadas dos bush’s de todas as épocas – um vale-tudo onde não faltaram as centenas de atentados contra a tua vida.
Sabes, melhor do que eu, da resistência vitoriosa da revolução cubana face à ofensiva que se seguiu ao desaparecimento da União Soviética, nesse tempo particularmente difícil para todos os partidos comunistas e de fragilização do movimento comunista internacional, com o desaparecimento ou descaracterização de vários partidos comunistas - mas também um tempo em que muitos outros partidos, como o Partido Comunista de Cuba – e como, deixa-me que te diga com orgulho, o meu Partido Comunista Português - resistiram, e assumiram e reafirmaram a sua identidade comunista, e proclamaram orgulhosamente que fomos, somos e seremos comunistas.
Sabes, melhor do que eu, desse tempo em que os coveiros de serviço proclamavam a morte do comunismo e a vitória definitiva do capitalismo e decretavam o desaparecimento de Cuba socialista: «é uma questão de dias»,: vaticinavam uns; «é uma questão de semanas»: prognosticavam outros; «é uma questão de meses»: garantiam terceiros – e que tu disseste a palavra exacta no momento exacto: resistir! E, assim, tu e o teu povo tornaram possível o que fora decretado como impossível: proclamaram a resistência e venceram.
Sabes, melhor do que eu, como essa vitória levou a esperança e a confiança a milhões de pessoas em todo o planeta, e foi um incentivo à continuação da luta, e mostrou a importância fundamental de lutar seja qual for a situação que se nos depare.
Sabes, melhor do que eu, da solidariedade internacionalista da revolução cubana com a luta de todos os povos do mundo:
- em Angola, onde os heróicos soldados cubanos destroçaram a ofensiva da África do Sul do apartheid conjugada com o imperialismo norte-americano e os fantoches da UNITA; e em vários outros países onde dezenas de milhares de médicos e professores cubanos, revolucionariamente, desenvolvem uma acção de elevado conteúdo civilizacional, levando os cuidados de saúde a milhões de pessoas que jamais haviam visto um médico, ensinando a ler milhões de analfabetos.
Sabes, melhor do que eu, que a ofensiva imperialista contra a revolução cubana vai prosseguir e intensificar-se e que o povo cubano vai continuar a viver momentos difíceis.
Mas – e essa é a questão crucial - sabes, melhor do que ninguém, que a determinação do teu povo de, com coragem e dignidade revolucionárias, continuar a resistir a essa ofensiva e a superar as suas consequências, constitui o dado mais relevante da situação cubana actual. E sabes, melhor do que ninguém, que a Revolução criou gerações de quadros revolucionários que prosseguirão a luta que tu iniciaste.
E por tudo isto, sabes, melhor do que ninguém, que o povo cubano está preparado para, 55 anos depois, repetir em uníssono o grito de Moncada.
E sabendo tudo isto melhor do que ninguém, sabes, camarada Fidel, quanto te devem o Partido, a Revolução, o Povo de Cuba, os revolucionários de todo o Planeta.
Sabes, por isso, que nos fazes muita falta, mas sabes que tudo o que nos deste é parte da nossa força, porque é património inalienável do nosso ideal comunista e da nossa determinação de lutar até à vitória final.
Camarada Fidel: em todo o mundo, milhões de homens, mulheres e jovens sentem como sua a revolução cubana e nela encontram os valores, os princípios, os objectivos da luta que travam todos os dias nos seus próprios países.
Alguém escreveu, que «a grandeza da revolução cubana pertence-nos a todos».
Se assim é – e é - tu, camarada Fidel, artífice maior dessa Revolução, pertences-nos, és nosso.
E serás sempre o nosso «Comandante en Chefe».
Até à vitória final.
A luta continua.
Proletários de todo o mundo, uni-vos!
Fonte: Wikipédia
POEMA
Não vamos discutir se,
quando o tínhamos, tirámos
algum proveito do poder
- agora que já o não temos.
Não vamos discorrer sobre
a necessidade ou não da violência - agora
que a violência nos deitou por terra.
Brecht
SEM PAPAS NA LÍNGUA
«O sr. dr. revê-se neste PS?».
Soares, sem papas na língua, respondeu:
«Se eu não me revêsse...» - e desdobrou uma série de razões em defesa do seu PS.
É óbvio que, muito mais grave do que tratar bem o PS, é tratar tão mal a Língua Portuguesa...
Isto trouxe-me à memória um episódio ocorrido já há uns anos: Soares, numa entrevista, informara que a sua biblioteca tinha «onze mil livros».
Alguém, a meu lado, concluiu: «são as onze mil virgens».
SEPARATISMOS GÉMEOS
O PSD/Madeira propôs ontem, na Assembleia Regional, um «voto de congratulações pela independência do Kosovo».
A proposta foi aprovada com os votos do PSD e do BE. Sem surpresas.
Ainda sem surpresas, Jardim - certamente com o pensamento nos tempos da sua cavalgada separatista com contornos terroristas - afirmou: «se o povo madeirense um dia quiser a independência, o meu lugar é ao lado do povo madeirense».
Apenas um comentário para esclarecer a minha posição neste assunto: em matéria de «direito à independência», o Jardim da Madeira tem tanto como o Thaçi do Kosovo, isto é: nenhum.
CGTP - UNIDADE SINDICAL
Nos últimos anos da ditadura fascista, o ascenso da luta da classe operária e dos trabalhadores traduz-se em grandes avanços, quer na luta reivindicativa, na qual obtêm importantes vitórias, quer no desenvolvimento da unidade.
Prosseguindo uma linha de intervenção com décadas de existência e com resultados notáveis, os trabalhadores reforçam a sua organização e lutam pela conquista dos sindicatos de forma a colocá-los ao serviço dos seus interesses de classe.
Verificam-se grandes avanços no aproveitamento dos sindicatos fascistas: várias dezenas de direcções são conquistadas pelos trabalhadores nesse período.
Simultaneamente, as lutas reivindicativas começam a unificar-se, por vezes abrangendo sectores profissionais inteiros. Começam a ser criadas estruturas nacionais de coordenação, dando forma a um movimento sindical unitário amplo e com grandes potencialidades.
Em 1 de Outubro de 1970 é criada a Intersindical, que viria a transformar-se na grande central sindical dos trabalhadores portugueses - unitária, de classe, democrática e de massas.
In «85 Momentos de vida e luta do PCP»
Frente Anti-Racista
A luta contra o racismo e xenofobia tem na Frente Anti-Racista uma organização convicta e determinada.
melhor do que até aqui
quando consigas fazer
mais pelos outros que por ti"
CAMARADA
O camarada é o companheiro de luta - da luta de todos os dias, à qual dá o conteúdo de futuro, transformador e revolucionário que está na razão da existência de qualquer partido comunista.
O camarada é aquele que, na base de uma específica e concreta opção política, ideológica, de classe, tomou partido - e que sabe que o seu lugar é o do seu partido, que a sua ideologia é a da classe pela qual optou.
O camarada é aquele com cujo apoio solidário contamos em todos os momentos - seja qual for o ponto da trincheira que ocupemos e sejam quais forem as dificuldades e os perigos com que deparamos.
O camarada é aquele que nos ajuda a superar as falhas e os erros individuais - criticando-nos com uma severidade do tamanho da fraternidade contida nessa crítica.
O camarada é aquele que, olhando à sua volta, não vê espelhos...: vê o colectivo - e sabe que, sem ter perdido a sua individualidade, integra uma outra nova e criativa individualidade, soma de múltiplas individualidades.
O camarada é aquele que, vendo a sua opinião minoritária ou isolada, mas julgando-a certa, não desiste de lutar por ela - e que trava essa luta no espaço exacto em que ela deve ser travada: o espaço democrático, amplo, fraterno e solidário, da camaradagem.
O camarada é aquele que, tão naturalmente como respira, faz da fraternidade um caminho, uma maneira de ser e de estar - e que, por isso mesmo, não necessita de a apregoar e jamais a invoca em vão.
O camarada é aquele que olhamos nos olhos sabendo, de antemão, que lá iremos encontrar solicitude, camaradagem, lealdade - e sabemos que esse olhar é uma fonte de força revolucionária.
O camarada é aquele a cuja porta não necessitamos de bater - porque a sabemos sempre aberta à camaradagem.
O camarada é aquele que jamais hesita entre o amigo e o inimigo - seja qual for a situação, seja qual for o erro cometido pelo amigo, seja qual for a razão do inimigo.
O camarada é o que traz consigo, sempre, a palavra amiga, a voz fraterna, o sorriso solidário - e que sabe que a amizade, a fraternidade, a solidariedade, são valores humanos intrínsecos ao ideal comunista.
O camarada é aquele que é revolucionário - e que não desiste de o ser mesmo que todos os dias lhe digam que o tempo que vivemos é coveiro das revoluções.
Camarada é uma palavra bonita - é uma palavra colectiva: é tu, eu, nós: é o Partido. O nosso. O Partido Comunista Português.
José Casanova
in Avante!, 20.6.2002
POEMA
Por um lado
os carrascos entre nós
como uma parede a separar-nos.
E por outro lado
este coração mal comportado
que me armou uma partida reles.
Meu pequenino, meu Mémet
o destino vai talvez impedir-me
de voltar a ver-te.
Sei-o
serás um rapaz parecido
com uma espiga de trigo
Eu próprio era assim ao tempo da minha juventude
louro, esbelto e de boa estatura;
Os teus olhos serão vastos como os da tua mãe
por vezes com traços de amargura
de tristeza,
a fronte será clara até ao infinito.
Terás também uma bela voz
a minha era horrível.
As canções que cantares
partirão corações
e serás um conversador brilhante.
Eu também era mestre em tal matéria
quando não me punham com os nervos em franja.
O mel fluirá da tua boca
Ah Mémet
que devastador de corações
tu vais ser!
É difícil criar um filho sem a presença do pai
Não magoes a tua mãe
se eu não pude dar-lhe alegrias
dá-lhas tu.
A tua mãe
forte e branda como a seda.
A tua mãe
ainda será bela quando tiver idade para ser avó.
Como no primeiro dia em que a vi
na margem do Bósforo
tinha ela dezassete anos.
Ela era o luar
e a luz do dia
Fazia lembrar uma rainha-cláudia.
A tua mãe,
uma manhã como de costume
separou-se de mim: Até logo!
Nunca mais nos vimos.
A tua mãe
na sua bondade a melhor das mães
que viva cem anos
e que Deus a proteja.
Eu, meu filho, não tenho medo de morrer.
Mas não obstante
por vezes quando estou a trabalhar
de repente
estremeço
ou então na solidão que precede o sono.
É difícil contar os dias
Não podemos saciar-nos do mundo
Mémet
não podemos saciar-nos.
Não vivas na terra
à maneira de um locatário
ou em vilegiatura
na natureza
Vive neste mundo
como se ele fosse a casa do teu pai
acredita nas sementes
na terra, no mar,
mas em primeiro lugar no homem.
Ama a nuvem, a máquina e o livro,
mas em primeiro lugar ama o homem.
Sente a tristeza
da árvore que seca
do planeta que se extingue
do animal enfermo,
mas em primeiro lugar a tristeza do homem.
Que todos os bens terrestres
te dêem alegria em profusão,
Que a sombra e a claridade
te dêem alegria em profusão
Que as quatro estações
te dêem alegria em profusão,
mas em primeiro lugar que o homem
te dê alegria em profusão.
A nossa pátria, a Turquia
é um belo país
entre os demais países
e os seus homens
aqueles que não se turvaram
são trabalhadores
meditativos e corajosos
mas horrivelmente miseráveis.
Já sofremos e havemos de sofrer mais
mas no fim a conclusão será esplêndida.
Tu, neste país, com o teu povo,
construirás o comunismo
vê-lo-ás com os olhos
tocá-lo-ás com as mãos.
Mémet, morrerei talvez
longe da minha língua
longe das minhas canções
longe do meu sal e do meu pão,
com a nostalgia da tua mãe e de ti
do meu povo e dos meus camaradas.
Mas não no exílio
não no estrangeiro
Morrerei no país dos meus sonhos
na cidade branca dos meus melhores dias,
Mémet, meu pequeno,
confio-te ao Partido comunista turco
Vou-me embora mas estou calmo
a vida que em mim se apaga
continuará em ti por muito tempo
E no meu povo, eternamente.
Nazim Hikmet
JOGOS DE CASINO
O Público de hoje, fornece novos dados sobre o espantoso processo traduzido na generosa oferta do edifício do Casino Lisboa à Sociedade Estoril Sol.
Eis algumas datas. E alguns nomes.
Julho de 2004: é decidido que o Casino Lisboa vai funcionar num edifício - propriedade do Estado - no Parque das Nações.
Dezembro de 2004: o artigo 27 de um despacho «aprovado em Conselho de Ministros (...)- presidido pelo então primeiro-ministro Santana Lopes - e promulgado pelo Presidente da República Jorge Sampaio», acaba com a «regra da reversão para o Estado das instalações dos casinos».
Fevereiro de 2005: o inspector-geral de Jogos, Joaquim Caldeira, invocando esse artigo 27, esclarece Mário Assis, da Estoril Sol de que o edifício do Casino Lisboa deixa de ser propriedade do Estado e passa a ser propriedade da Estoril Sol.
No dia seguinte ao esclarecimento do inspector-geral de Jogos - melhor dizendo: na longa noite dos 300 despachos - o ministro do Turismo, Telmo Correia, com a simples aposição da palavra «visto» num canto do documento e do pedido de que se desse «conhecimento da decisão ao requerente», oficializava a transferência de propriedade do edifício.
Simples, tudo muito simples, como se vê.
Telmo Correia esclarece, entretanto, que - ao contrário do que o «antigo ministro da Economia de Durão Barroso, Carlos Tavares, disse ontem ao Expresso, «existia um compromisso entre o Governo de Durão Barroso e a concessionária do casino no sentido de esta ficar com as propriedade total do edifício».
Em resumo:
Durão Barroso, antes de abandonar o barco e fugir para a Europa, prometeu o edifício à Estoril Sol.
Santana Lopes e os seus rapazes, que substituíram Barroso, aprovaram o despacho que oficializava a oferta.
Jorge Sampaio promulgou o despacho.
Joaquim Caldeira «esclareceu» a situação.
Telmo Correia «apôs a palavra 'visto'»
A Sociedade Estoril Sol ficou satisfeita.
O Estado ficou defraudado.
E agora?
O «negócio» é anulado ou fica tudo em águas de bacalhau?
Aceitam-se apostas...
POEMA
Quem se dá ao que se deve
nada deve ao que se dá.
Não raro a distância é breve
da decisão boa à má.
A simples espinha sugere
à razão um peixe inteiro.
Para a pobreza entender
há que sofrê-la primeiro.
O mal é que algo se acate
apenas por boa fé.
Se mau for, má morte o mate.
Se for bom, prove que o é.
Armindo Rodrigues
O Homem dos Mil Dedos
"Quando eu morrer, morre a guitarra também.
O meu pai dizia que, quando morresse, queria que lhe partissem a guitarra e a enterrassem com ele.
Eu desejaria fazer o mesmo. Se eu tiver de morrer.”
O CONGRESSO DA CGTP-IN
DO TRABALHO CONTRA O CAPITAL»
Está reunido o Congresso da CGTP-IN.
O papel e a importância da grande Central Sindical dos trabalhadores portugueses são visíveis quer na sua prática de representante, de facto, dos interesses e direitos dos trabalhadores portugueses, quer na sua notável influência, prestígio e capacidade de mobilização do mundo laboral.
Olhando para a história da CGTP-IN - desde a sua criação, em Outubro de 1970 até aos dias de hoje, passando pelos tempos da Revolução de Abril e da contra-revolução que lhe sucedeu - é fácil perceber esse papel e essa importância. Tão fácil quanto o é perceber as razões da permanente ofensiva por parte de diversificados representantes do grande capital visando... «quebar a espinha à Intersindical».
Incomoda-os, e de que maneira!, a existência desta Central Sindical dos trabalhadores. Daí as sucessivas e multiplicadas tentativas de lhe «quebrar a espinha», ou seja, de a integrar no rebanho dócil do sindicalismo reformista, amarelo, dependente da vontade e dos interesses do grande capital.
Lendo, ouvindo e vendo atentamente a forma como a comunicação social dominante tem vindo a tratar o Congresso da CGTP-IN, é fácil apercebermo-nos dos objectivos que presidem a essa monumental operação de desinformação organizada e ao desavergonhado vale-tudo que a suporta.
Surpresa?
Não. De forma alguma.
Como muito bem sabemos, esta comunicação social dominante é propriedade do grande capital, pelo que, surpresa seria, isso sim, vê-la a defender uma CGTP-IN de classe, de massas, unitária e democrática - por isso, independente.
Esta ofensiva vai continuar.
Esta ofensiva vai muito provavelmente intensificar-se.
Aos trabalhadores portugueses compete a tarefa de,
unidos - solidamente unidos em defesa dos seus interesses de classe - derrotarem mais esta ofensiva;
unidos - solidamente unidos em defesa dos seus interesses de classe - defenderem e reforçarem aquela que é a sua grande conquista histórica, a sua maior conquista de sempre: a CGTP - Intersindical Nacional.
POEMA
É bonito
usar da palavra na luta de classes
clamar alto e bom som pela luta de massas
pisar os opressores libertar os oprimidos.
Árdua e útil é a pequena tarefa de cada dia
que secreta e tenaz tece
a rede do partido sob
os fuzis apontados dos capitalistas:
Falar mas
escondendo o orador.
Vencer mas
escondendo o vencedor.
morrer mas
dissimulando a morte.
Pela glória, quem não faria grandes coisas? Mas quem
as faz pelo olvido?
No entanto, o pobre que mal come
senta a honra à sua mesa;
Das pequenas cabanas em ruínas
surge a grandeza irresistível.
E a glória busca en vão
os autores do grande feito.
Saí da sombra
por um momento
rostos anónimos, dissimulados, e aceitai
o nosso agradecimento.
Brecht
Primeiro número do Avante!
A 15 de Fevereiro de 1931, na sequência da reorganização de 1929, foi publicado o primeiro número do Avante!, órgão central do Partido comunista Português.
Assim se inicia uma gloriosa caminhada que fará do Avante! um dos exemplos mais notáveis da imprensa operária clandestina de todo o mundo.
Nos seus primeiros dez anos de existência o Avante! sofre as consequências quer da forte ofensiva da repressão fascista quer da insuficiente preparação do Partido para fazer frente a essa ofensiva - nesse período de tempo, a sua publicação é interrompida cinco vezes. No entanto, em 1935 o órgão central do Partido é publicado regularmente todos os meses e, entre 1936 e 1938, sai semanalmente, chegando a atingir tiragens de 10 mil exemplares.
Com a reorganização de 1940-1941, o Avante! estabiliza a sua publicação: de Agosto de 1941 até ao 25 de Abril de 1974 é publicado regularmente, sempre composto e impresso no interior do Pais, afirmando-se internacionalmente como o jornal que durante mais tempo resistiu com êxito à clandestinidade.
Ao longo dos seus quarenta e três anos de vida clandestina, o Avante!, enquanto órgão central do PCP, desempenhou um papel importante e singular. A sua acção na difusão das orientações, análises e objectivos do Partido, na agitação e propaganda, na preparação ideológica, na organização, no esclarecimento, na mobilização e consciencialização dos trabalhadores para a luta, no combate pela unidade de todos os antifascistas - fez dele um instrumento indispensável de consulta para quem queira conhecer a história do povo português nesse período.
O mesmo se pode e deve dizer da intervenção do Avante! no período posterior ao 25 de Abril de 1974, no decorrer do qual ele prosseguiu o seu papel de órgão central do Partido da classe operária e de todos os trabalhadores.
Nos dias e meses que se seguiram ao derrubamento do fascismo, o Avante! foi a voz das massas em movimento - das massas conquistando a liberdade, exercendo-a; avançando para as grandes conquistas revolucionárias; dando os primeiros passos na construção de uma democracia avançada que viria a ser consagrada na Constituição da República Portuguesa, aprovada em 2 de Abril de 1976.
No tempo que se lhe seguiu - os trinta anos de política de direita - o Avante! tem sido o singular porta-voz das lutas dos trabalhadores e do povo português contra essa política e por uma alternativa de esquerda.
Também, naturalmente, em relação à vida e à actividade partidárias, o Avante! desempenhou, ao longo dos seus 75 anos de vida, um papel de extrema relevância, quer informando sobre a actividade, as posições e as orientações partidárias, quer dando o seu contributo para o reforço e a defesa do Partido e para a compreensão da sua relação dialéctica. O seu papel no combate à acção dos grupos fraccionistas que, a partir de 1987, tentaram a liquidação do Partido, revestiu-se de enorme importância.
E da mesma forma que não é possível fazer a história de Portugal sob o regime fascista sem consultar o Avante!, só consultando-o é possível escrever com rigor sobre a revolução de Abril e a contra-revolução que lhe sucedeu e está ainda em curso.
Texto retirado do livro: 85 momentos de vida e luta do PCP - Edições Avante!
POEMA
Entre patrão e operário,
entre operário e patrão,
o que é extraordinário
é pretender-se união.
Não vista a pele do lobo
quem do lobo a lei enjeita.
A propriedade é um roubo.
Ladrão é quem a aproveita.
Negar a luta de classes
é negar a evidência
de um mundo de duas faces,
de miséria e de opulência.
Armindo Rodrigues
O FASCISMO EXISTIU...
No dia 13 de Fevereiro de 1965, a PIDE assassinou o general Humberto Delgado, junto à fronteira de Olivença, na sequência de uma cilada minuciosamente organizada.
O corpo do general Delgado, bem como o da sua secretária (que o acompanhava), foram descobertos dois meses depois em Villanueva del Fresno.
Na altura, o regime fascista, através dos média então dominantes, divulgou a atoarda de que o general havia sido assassinado por sectores da oposição ao regime, designadamente a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN) e o PCP.
Por seu lado, o Avante! - único jornal no País que não se submetia à censura fascista - publicava, na sua edição de Maio de 1965, um Comunicado do Secretariado do Comité Central do PCP, no qual podia ler-se, a dada altura: «(...)Muitos factos parecem indicar que o general Delgado foi atraído a uma armadilha cuidadosamente preparada pela PIDE, através de pessoas que gozavam da confiança do general. Em diversas notícias e apreciações de pessoas que eram representantes do general Delgado em várias cidades estrangeiras existem inexactidões, omissões e contradições estranhas e suspeitas que necessitam ser esclarecidas. A coincidência de certas acusações que alguns desses elementos, por um lado, e as autoridades e propaganda franquista e salazarista, por outro, fazem à FPLN e ao Partido Comunista Português, fortalecem a ideia das responsabilidades de ordem diversa desses elementos no fim trágico do general Delgado».
O apuramento posterior dos factos viria a confirmar esta apreciação do PCP.
Recorde-se que a brigada da PIDE que montou o cerco ao General sem Medo, era dirigida pelo sinistro Rosa Casaco. E que o assassino de serviço foi o pide Casimiro Monteiro.
1º Aniversário do Cravo de Abril
Está-se a aproximar a data em que o Cravo de Abril vai comemorar o seu primeiro aniversário. No dia da Liberdade, do ano transacto, nasceu o Cravo de Abril, e cumprimos o que prometemos, nunca o deixamos murchar.
Porque o Cravo de Abril é colectivo, queremos colectivamente conviver com todos os amigos e visitantes.
Faremos uma visita colectiva de estudo ao Forte e Museu de Peniche, aquela que foi uma das prisões de mais alta segurança do fascismo, ainda hoje nos arrepiamos, pela sua «monstruosidade», quando entramos na grande fortaleza, monumento marcante para o visitante e para a história revolucionária do nosso País.
Inserido na visita faremos um almoço-convívio, com a deliciosa Caldeirada à moda de Peniche, em local a designar. Tenho a esperança que conseguiremos contar com a presença de um resistente Antifascista, que oportunamente informaremos.
Estamos disponíveis para receber qualquer sugestão e/ou esclarecer qualquer questão.
Podem contactar-me através do meu e-mail joaofiliperodrigues@gmail.com ou através do meu telemóvel 91 213 02 03.
Divulguem!
Ó DIABO!
Joe Berardo ganhou mais de 14 milhões de euros no negócio.
Foi assim: há seis anos, o intrépido investidor comprou um terreno rústico (na Ria de Alvor, Concelho de Portimão) por 500 mil euros; agora, vendeu-o por 15 milhões.
No tempo que medeou entre a compra e a venda, Berardo foi ali ao offshore da Madeira e transformou o terreno em sociedade - assim, não tem que pagar nem um cêntimo ao fisco pela transacção do terreno.
Entendem?
O Presidente da Câmara de Portimão diz que naquele terreno rústico não se pode construir: a zona está fechada a «qualquer apetite urbanístico».
Estará?
O DN informa que «a caderneta predial passou de rústica a mista, já depois de o negócio ter sido efectuado».
Ó diabo!
POEMA
É razoável, quem quer o entende. É fácil.
Tu não és nenhum explorador, podes compreendê-lo.
É bom para ti, informa-te dele.
Os estúpidos chamam-lhe estúpido, e os porcos chamam-lhe
porco.
Ele é contra a porcaria e contra a estupidez.
Os exploradores chamam-lhe crime
mas nós sabemos:
Ele é o fim dos crimes,
não é nenhuma loucura, mas sim
o fim da loucura.
Mas sim a solução,
é o fácil
que é difícil de fazer.
Brecht
UM CONTADOR DE HISTÓRIAS
PCP?: DESCULPE, NUNCA OUVI FALAR...
Ives Léonard é autor de um livro intitulado «Salazarismo e Fascismo» - publicado em França e, logo a seguir, em Portugal.
Mário Soares fez o prefácio elogioso da obra: «apresentar a verdade dos factos é isso que este livro faz, e muito bem. Ele merece, pois, um grande sucesso».
Por seu lado, o autor, no «Prólogo à edição portuguesa» explica que «esta obra tem apenas uma ambição à medida da sua dimensão: a de ser uma síntese tão distanciada e imparcial quanto possível».
São cerca de 200 páginas, no decorrer das quais Yves Léonard recorre sempre à utilização da expressão «Estado Novo» para designar o regime salazarista.
Corrijo-me: há uma excepção: quando o estoriador nos diz que, em Portugal, «regime verdadeiramente fascista»... não houve.
E não houve porquê?
Ele explica: porque ao «Estado Novo» faltavam muitas coisas para ser um regime fascista. Por exemplo: «a conquista do poder pela força»; «o apoio (...) de um verdadeiro partido fascista para governar» - e, diz-nos ainda, «fazia-lhe também falta o recurso permanente e maciço à violência».
E por aí fora.
Aliás, sem novidades: Yves Léonard limita-se a repetir as estórias já contadas por vários seus colegas de ofício.
Corrijo-me outra vez: com uma novidade!
E que novidade!: este estoriador consegue escrever 200 páginas sobre «Salazarismo e Fascismo» sem referir, uma única vez, o PCP e a luta dos comunistas portugueses.
Ca ganda estoriador!
POEMA
Ao cabo de Cabo Verde
dobrado o cabo da guerra
quando o mar sabia a sede
e o sangue sabia a terra
acabou por ser mais forte
a esperança perseguida
porque aconteceu a morte
sem que se acabasse a vida.
Ao cabo de Cabo Verde
no campo do Tarrafal
é que o futuro se ergue
verde-rubro Portugal
é que o passado se perde
na tumba colonial,
ao cabo de Cabo Verde
não morreu o ideal.
Entre o chicote e a malária
entre a fome e as bilioses
os mártires da classe operária
recuperam suas vozes.
E vêm dizer aqui
do cabo de Cabo Verde
que não morreram ali
porque a esperança não se perde.
Bento Gonçalves torneiro
ainda trabalhas o ferro
deste povo verdadeiro
sem a ferrugem do erro.
Caldeira de nome Alfredo
fervilham no teu caixão
contra o ódio e contra o medo
gérmens de trigo e de pão.
E tu também Araújo
e tu também Castelhano
e também cada marujo
que morreu a todo o pano.
Todos vivos! Todos nossos!
vinte trinta cem ou mil
nenhum de vós é só ossos
sois todos cravos de Abril!
No campo do Tarrafal
no sítio da frigideira
hasteava Portugal
a sua maior bandeira.
Bandeira feita em segredo
com as agulhas das dores
pois o tempo do degredo
mudava o sentido ás cores:
o verde de Cabo Verde
o chão da reforma agrária
e o Sol vermelho esta sede
duma água proletária.
Do cabo de Cabo Verde
chegam tão vivos os mortos
que um monumento se ergue
para cama dos seus corpos.
Pois se o sono é como o vento
que motiva um golpe de asa
é a vida o monumento
dos que voltaram a casa.
José Carlos Ary dos Santos
(poema feito quando da trasladação para Portugal dos restos mortais dos 32 resistentes assassinados no Tarrafal)
A LUTA CONTINUA
FASCISMO NUNCA MAIS
Centenas de pessoas, respondendo ao apelo da URAP, participaram esta manhã na Romagem ao Mausoléu dos Tarrafalistas.
Eram homens e mulheres em muitos casos de idade avançada, em muitos casos, também, jovens, muito jovens, nascidos depois do 25 de Abril.
«Aos que na longa noite fascista foram portadores da chama da liberdade e pela liberdade morreram no campo de concentração do Tarrafal»: eis a legenda gravada na face central do monumento.
Foi tudo muito simples, muito sentido e, por isso, muito belo.
Uma jovem da Direcção da URAP - Ana Pato - em breves palavras explicou as razões da iniciativa e deu a palavra, primeiro a Aurélio Santos - Coordenador da URAP - depois ao jovem Paulo Marques - do Conselho Directivo da URAP.
Aurélio Santos falou do contexto político nacional e internacional existente ao tempo da criação do Campo da Morte Lenta e dos objectivos do fascismo ao criá-lo; da derrota do nazi-fascismo em 1945; da derrota do fascismo salazarista/caetanista em 1974.
E, considerando que seria perigoso pensarmos que essas derrotas liquidaram definitivamente o fascismo, alertou para as «sementes» que ele deixou e que, no momento actual, são bem visíveis em muitos aspectos.
Terminou dizendo que a melhor homenagem que podemos prestar aos que, resistindo, morreram no Tarrafal, é assumirmos e cumprirmos o compromisso de prosseguir a luta para que o fascismo não volte nunca mais e para que a democracia e liberdade floresçam.
Paulo Marques denunciou, com factos concretos, a campanha de branqueamento do fascismo e a pouca importância que os livros de história nas escolas dão ao regime fascista e, igualmente, à Revolução de Abril - e manifestou a determinação dos jovens em dar continuidade, no tempo que vivemos, à luta dos que ali estávamos a homenagear.
Depois, o Actor Fernando Tavares Marques leu poemas de Armindo Rodrigues e de José Carlos Ary dos Santos.
No final, cantámos: a JORNADA, a GRÂNDOLA e o HINO NACIONAL.
E gritámos: 25 DE ABRIL SEMPRE, FASCISMO NUNCA MAIS!
A LUTA CONTINUA!
POEMA
Meus irmãos,
se eu não conseguir dizer correctamente o que tenho para vos dizer,
desculpar-me-eis, irmãos.
Estou levemente embriagado, a cabeça um pouco a andar à roda,
não de aguardente,
de fome, um nadinha.
Meus irmãos
da Europa, da Ásia, da América,
não estou na prisão, em greve da fome,
é como se estivesse deitado na relva, à noite, neste mês de Maio,
os vossos olhos brilham como estrelas à minha beira.
E as vossas mãos, uma só dentro da minha
como a da minha mãe,
como a mão da minha amada,
como a de Memet,
como a de Mémet.
Meus irmãos,
convosco eu nunca nunca estive sozinho:
não apenas eu,
mas também o meu país e o meu povo.
Porque vós amais os meus tanto quanto eu os vossos,
obrigado, irmãos, meus irmãos,
obrigado.
Meus irmãos,
não faço tenção de morrer.
Meus irmãos, continuarei a viver junto de vós, sei que sim:
estarei no verso de Aragon,
no teu verso que fala dos belos dias que hão-de vir.
Estarei na pomba branca de Picasso.
Estarei nas canções de Robeson.
E sobretudo
e melhor do que tudo,
entre os estivadores de Marselha,
estarei no riso vitorioso dos meus camaradas.
Numa palavra, meus irmãos,
sou feliz, feliz a mais não poder.
Nazim Hikmet
FASCISMO NUNCA MAIS
AMANHÃ, ÀS 11 HORAS
ROMAGEM AO MAUSOLÉU DOS TARRAFALISTAS,
NO CEMITÉRIO DO ALTO DE SÃO JOÃO
«Esta romagem não é só uma justa homenagem àqueles heróis do nosso povo, mas é também para que se não esqueça aquele sinistro símbolo da ditadura, o Campo de Concentração do Tarrafal, historicamente conhecido por Campo da Morte Lenta, onde centenas de presos antifascistas foram sujeitos à tortura permanente e 32 deles assassinados.
A URAP apela à participação de todos os democratas para que se associem a esta jornada, pois é também uma forma de combate ao branqueamento do fascismo e ao recrudescimento de actividades e organizações de extrema-direita que se reclama da ideologia fascista»
Os 340 antifascistas que estiveram presos no Tarrafal, somaram aí um total de dois mil anos, onze meses e cinco dias de prisão.
O Tarrafal foi o espelho do regime fascista.
LEXÍVIA E DESVERGONHA
Tal como aconteceu com o edifício onde funcionava a Sede da PIDE, em Lisboa - onde milhares de antifascistas foram torturados e, em vários casos, assassinados - também o edifício do antigo Tribunal Militar do Terceiro Reich, em Berlim - no qual foram condenados à morte mais de 1400 resistentes - foi transformado num condomínio de luxo.
Cá, a URAP (União de Resistentes Antifascistas Portugueses) desencadeou um movimento de protesto que, depois, se estendeu a outras organizações.
Lá, o Centro Memorial da Resistência na Alemanha e várias associações de veteranos anti-nazis estão a levar a efeito idêntico protesto.
Branquear o nazi-fascismo e, complementarmente, apagar a memória da resistência levada a cabo por muitos milhares de combatentes (na sua imensa maioria comunistas, recorde-se) é, hoje, um objectivo primordial do sistema dominante - que, nesse sentido, recorre a medidas como as acima referidas.
Mas não só: o sistema paga (bem, muito bem, certamente) a um exército de «historiadores» para que «demonstrem» que o fascismo não existiu.
E eles - com muita lexívia e maior desvergonha - «demonstram».
Registe-se que, no caso português, abundam «trabalhos» sobre este tema, assinados por um amplo arco de «especialistas» que vai do fascista José Hermano Saraiva ao bloquista Fernando Rosas.
Assumindo o risco de me repetir na citação, não resisto a utilizá-la uma vez mais: isto anda tudo ligado.
WATERBOARDING
O Director da CIA admitiu, finalmente, que os seus esbirros, nos interrogatórios, recorreram à prática waterboarding - isto é: a simulação do afogamento dos presos para os obrigar a confessar o que os interrogadores querem que eles confessem.
Entretanto, o Congresso dos EUA debate há vários meses a complexa questão de saber, e decidir, se waterboarding é ou não uma forma de tortura.
Ao que parece, há vários congressistas indecisos sobre a matéria.
A meu ver, há uma forma eficaz de pôr termo à indecisão dos ilustres congresssistas: waterboardingá-los - ou seja: submetê-los à referida «técnica de afogamento».
Assim, com conhecimento de causa, estou certo de que os congressistas indecisos decidirão rapidamente.
POEMA
A esta bigorna comparo o país, o martelo ao senhor,
e ao povo a lata que entre ambos se torce.
Ai da pobre lata, quando só despóticos golpes
a ferem incertos e a caldeira nunca fica pronta!
Goethe
SUPER TUESDAY?
O Carnaval atingiu o máximo esplendor de todos os tempos na terça-feira.
De tal forma que o dito dia até mudou de nome: em vez de Super Tuesday, chama-se agora Super-Duper-Tsunami Tuesday. Notável!
Os foliões disfarçavam as semelhanças existentes entre todos eles, recorrendo à utilização de máscaras para todos os gostos - máscaras altamente dispendiosas, dadas as enormes dificuldades em mostrar diferenças.
A folia deste ano foi, segundo o Público, «a mais cara de sempre até agora: 582,5 milhões de dólares».
As despesas foram pagas essencialmente por «Bancos e empresas de imobiliário».
Pois.
Estamos perante um investimento de largo alcance económico-financeiro, ou seja: a máscara vencedora pagará, depois, a quem nela investiu. E pagará com juros elevados, porque estes investidores não brincam em serviço.
E ganham sempre: pela simples razão de que investem em todas as máscaras.
Por cá, o Carnaval também se fez sentir: dados do ministério do Trabalho dizem que os portugueses vivem cada vez melhor, etc, etc, etc.