POEMA

NO QUINTO DIA DE UMA GREVE DA FOME



M
eus irmãos,
se eu não conseguir dizer correctamente o que tenho para vos dizer,
desculpar-me-eis, irmãos.
Estou levemente embriagado, a cabeça um pouco a andar à roda,
não de aguardente,
de fome, um nadinha.

Meus irmãos
da Europa, da Ásia, da América,
não estou na prisão, em greve da fome,
é como se estivesse deitado na relva, à noite, neste mês de Maio,
os vossos olhos brilham como estrelas à minha beira.
E as vossas mãos, uma só dentro da minha
como a da minha mãe,
como a mão da minha amada,
como a de Memet,
como a de Mémet.

Meus irmãos,
convosco eu nunca nunca estive sozinho:
não apenas eu,
mas também o meu país e o meu povo.
Porque vós amais os meus tanto quanto eu os vossos,
obrigado, irmãos, meus irmãos,
obrigado.

Meus irmãos,
não faço tenção de morrer.
Meus irmãos, continuarei a viver junto de vós, sei que sim:
estarei no verso de Aragon,
no teu verso que fala dos belos dias que hão-de vir.
Estarei na pomba branca de Picasso.
Estarei nas canções de Robeson.
E sobretudo
e melhor do que tudo,
entre os estivadores de Marselha,
estarei no riso vitorioso dos meus camaradas.

Numa palavra, meus irmãos,
sou feliz, feliz a mais não poder.


Nazim Hikmet

3 comentários:

Anónimo disse...

A determinação destes HOMENS, deveria servir de exemplo, para que a sociedade estivesse num estádio mais avançado, só que os homens perdem tempo com questões menores, prejudicando assim a luta global.
Tambem neste campo é preciso lutar, contra os desvios pela unidade!
Um abraço
José Manangão

Fernando Samuel disse...

josé manangão: lutar, lutar sempre - e tendo como referência da luta do nosso tempo a luta que estes HOMENS travaram no seu tempo.
Abraço.

GR disse...

Tanta dignidade, amor e solidariedade tem este poeta comunista.

Belíssimo poema.

GR