BRINDO AOS AMIGOS - À NOSSA LUTA
Erros nossos não são de toda a gente
tropeçamos às vezes na entrega
mas retomamos sempre a marcha em frente
massa humana que nada desagrega.
Para nós o passado e o presente
são futuro no qual o povo pega
com as suas mãos de luz incandescente
que aquece que deslumbra mas não cega.
Para nós não há tempo. O tempo é vento
soprando ano após ano sobre a história
que para nós é vida e não memória.
Por isso é que no tempo em movimento
cada ano que passa é menos tempo
para chegar ao tempo da vitória.
José Carlos Ary dos Santos
CHANTAGISTAS MAFIOSOS
«Tratado de Lisboa tem saída para a vitória do "não"»: eis o título de uma notícia hoje publicada no DN.
A «saída» consiste na novidade agora divulgada de que, afinal, não basta um «não» para inviabilizar o dito Tratado: são necessários mais de cinco «nãos», em eventuais referendos - e mesmo assim, ainda há umas escapadelas previstas...
E confirmando a total ausência de vergonha que os caracteriza, estes ditadores de fachada democrática disparam, ainda, que quem não ratificar o Tratado pode sempre escolher sair da UE.
Ou seja: fazem da União Europeia um monstro ao serviço dos exclusivos interesses do grande capital; um imenso e poderoso polvo, cujos tentáculos aprisionam ferreamente a independência e a soberania dos povos; um espaço ditatorial onde os direitos dos trabalhadores de todos os países europeus são brutalmente espezinhados; um asfixiante cerco cerrado à liberdade de cada povo decidir livremente o seu destino - e, depois, arremessam a ameaça chantagista e mafiosa.
Mas por detrás desta arrogância insolente e ditatorial, está o medo que eles têm do que sabem - porque sabem que, inexoravelmente, virá o dia em que os trabalhadores e os povos da Europa lhes darão a resposta necessária.
E talvez esse dia chegue mais cedo do que eles sabem e temem.
A DECISÃO QUE FALTAVA
Resolvida o «caso CGD - com um empate técnico-táctico entre os dois partidos da política de direita - surgem, agora, novos desenvolvimentos no «caso BCP».
Como era previsível, o Banco de Portugal tomou a decisão que faltava: «nenhum membro dos órgãos sociais do BCP está actualmente inibido de concorrer ou exercer funções no sistema financeiro, enquanto não forem concluídas as investigações».
Postas as coisas assim, Miguel Cadilhe - um dos nomes que haviam sido indicados para a presidência da CGD - entrou na corrida para a presidência do BCP, à frente de uma lista composta, na sua maioria, por actuais ou ex-gestores... do BCP.
Sem comentários.
HIPÓCRITAS
Que fumar faz mal à saúde, sabem, melhor do que ninguém, todos os fumadores - ou ex-fumadores, como é o meu caso.
Que todos os que fumam devem esforçar-se para deixar de o fazer, é também uma evidência.
Outra coisa, porém, é tentar eliminar os fumadores através de medidas repressivas, como é o caso da lei contra os fumadores que amanhã entra em vigor.
Trata-se de uma lei repressiva, com a agravante de estimular a delacção em geral, a delacção entre companheiros de trabalho - e, até, entre familiares.
Trata-se de uma lei fundamentalista, que visa dividir os portugueses em «fumadores» - os maus, os pecadores... - e «não fumadores» - os bons, os puros... e incentiva o confronto entre os «maus» e os «bons», desviando-os, assim, do confronto essencial que deve preocupar a imensa maioria de fumadores e não fumadores: o confronto com a política de direita que afronta os direitos e interesses da quase totalidade dos portugueses.
Trata-se, por tudo isso, de uma lei que nos traz à memória tempos passados e que não queremos que voltem.
Trata-se, enfim, de uma lei repressiva mascarada de boas intenções.
O Governo justifica esta lei invocando a sua preocupação com a saúde dos portugueses.
Ora, como a realidade nos mostra todos os dias, a política de saúde deste Governo constitui, ela sim, a maior e mais perigosa ameaça à saúde dos portugueses.
E só uma desavergonhada hipocrisia pode levar um Governo que segue o princípio de «quem quer saúde, paga-a», a sustentar esta lei nessa pretensa preocupação.
Há dias, um jornal anunciava, em manchete: «Governo corta 330 milhões na saúde». Isso significa mais encerramentos de hospitais, de centros de saúde, de serviços de urgência, de maternidades - e mais aumentos dos preços dos medicamentos.
Estas são, de facto, as «preocupações» do Governo quanto à nossa saúde.
A DEMOCRACIA DELES
PS e PSD chegaram finalmente a acordo naquela que é a única matéria em que nem sempre há, entre os dois partidos da política de direita, pontos de vista convergentes: O TACHO.
Neste caso, o tacho CGD.
Os candidatos - uns propostos pelo PS, outros pelo PSD - eram nomes de peso.
O partido do Governo apresentou três nomes sonantes: Manuel Pinho, ministro da Economia; Campos Cunha, ex-ministro das Finanças e Maldonado Gonelha, que, se a memória me não falha, iniciou a sua formação financeira na tarefa de «quebrar a espinha à Intersindical»...
O PSD respondeu taco-a-taco, com três pesos pesados: Miguel Cadilhe, que foi ministro de Cavaco Silva; Dias Loureiro, que foi ministro de Cavaco Silva e Eduardo Catroga, que foi ministro de Cavaco Silva.
Seis candidatos com abundante experiência financeira - não apenas pelos cargos que ocuparam mas, essencialmente, pelo montante das remunerações que recebem.
Portanto, cada um deles reunindo todas as condições para ocupar a presidência da pública CGD.
Daí as dúvidas sobre qual seria o eleito.
Afinal havia outro... E depois da peixeirada pública a que assistimos, o Governo optou por Faria de Oliveira - que foi ministro de Cavaco Silva, por isso sendo possuidor de currículo de gabarito semelhante ao dos restantes seis.
Pronto: entendem-se os compadres, encobrem-se as verdades.
E assim termina, em bem, mais um episódio da série A Democracia Deles.
A TRADIÇÃO
Sobre o discurso de fim de ano do Presidente da República (PR), diz um jornal que ele é «aguardado com grande expectativa» e diz outro que «com grande ansiedade».
Isto porque, concluíram os analistas em uníssono, o PR vai retomar os temas que abordou há um ano (justiça, pobreza, etc, etc), mas desta vez fazendo balanço, que é como quem diz, «pedindo contas ao primeiro-ministro (p-m)» e «subindo a fasquia das exigências».
Confesso que não partilho esta «expectativa» e muito menos esta «ansiedade».
Na verdade, estes discursos de Natal e de Ano Novo não passam de representações do folclore oratório da política de direita e, ao fim de 31 anos, pode dizer-se que são, acima de tudo, uma tradição.
É assim todos os anos: no discurso do Natal, o p-m tece loas ao que fez, e diz que muito mais irá fazer no ano seguinte, para o que conta com a disponibilidade de todos os portugueses para fazerem os sacrifícios necessários, a bem da Nação - «todos os portugueses» significa, como sabemos, todos menos os chefes dos grandes grupos económicos e financeiros, os quais, porque a ordem natural das coisas assim o exige, estão isentos de sacrifícios e condenados ao aumento dos seus lucros.
No que toca ao discurso de fim de ano, foi - e vai ser- assim: O PR Cavaco Silva vai exigir ao p-m José Sócrates o mesmo que, por exemplo, o PR Mário Soares exigiu, em tempos, ao p-m Cavaco Silva.
E, tal como o então PR Mário Soares sabia que o então p-m Cavaco Silva não iria cumprir as suas exigências, também o actual PR Cavaco Silva sabe que o actual p-m José Sócrates não vai cumprir as suas exigências.
E, por tradição, não se zangam uns com os outros.
Porque, por tradição, todos conhecem e aceitam as regras do jogo.
E acima de tudo, porque, por tradição, são todos bons rapazes.
LEIS COM RAÍZES NO PASSADO
É claro que «não foram entregues documentos internos, nem nomes, nem fichas de militantes».
As leis em causa - que visam essencialmente o PCP - são bem reveladoras do estado a que chegou a democracia no nosso País, quase 34 anos após o 25 de Abril.
À ditadura terrorista do grande capital - que, durante 48 anos oprimiu Portugal e os portugueses e fez dos comunistas e do seu Partido, o alvo prioritário da sua brutal acção repressiva - sucedeu a ditadura burguesa do grande capital - construída ao longo dos últimos 31 anos, num processo de crescente, e agora total, domínio do poder económico sobre o poder político, e que vê no PCP o inimigo a abater - porque não baixa os braços, porque luta, porque não desiste - nem desistirá - de construir em Portugal uma sociedade liberta de todas as formas de opressão e exploração.
Assim, as leis dos partidos e do seu financiamento, impostas por estes herdeiros de Salazar de fachada democrática, constituem formas repressivas com raízes no passado fascista, criteriosamente adaptadas aos tempos actuais.
No caso da lei dos partidos, eles pretendem que o PCP deixe de ser o que é e passe a ser aquilo que eles querem que seja; pretendem impor que o Partido se organize e funcione, não como os seus militantes querem e decidem, mas como eles, inimigos do Partido, desejam.
No caso da lei do financiamento, visam, em primeiro lugar e acima de tudo, a Festa do Avante! - realização que eles não suportam porque ela é a demonstração mais evidente de várias verdades que os incomodam e que nem através da comunicação social dominante conseguem ocultar: a força do colectivo partidário; a força da consciência militante e do trabalho voluntário; a força dos ideais de liberdade, de justiça social, de fraternidade, de solidariedade, de camaradagem - tudo isto confirmando que, no quadro partidário nacional, «o PCP é um partido diferente dos que são todos iguais».
E em tudo isto, o que mais incomoda e irrita e enraivece estes salazarentos serôdios, é que eles sabem - certeza certa - que, hoje como no passado fascista, «não passarão!»
UM CONTO
Entrei.
- Tire o chapéu - disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
- Sente-se - determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
- O que deseja? - investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí.
Mário Henrique Leiria
(in «Contos do Gin-Tonic»)
Liberdade?
Liberdade?
«CALL GIRL»»
O DN de hoje dedica duas páginas ao mais recente filme de António Pedro Vasconcelos (APV) - «CALL GIRL» - e informa que «a história roda em torno de um autarca corrupto ligado ao PCP».
APV tem todo o direito - senão mesmo o dever - de, nos seus filmes, tratar o tema da corrupção.
Optou pela «corrupção nas autarquias»? Pronto, é uma opção tão legítima como seria abordar a corrupção em qualquer outra área da vida nacional (na Banca, por exemplo - e não falo apenas nas últimas sobre o «caso BCP», que bem poderia ser designado por caso BCP/BP/CGD e o mais que se verá...)
Mas APV optou pelas autarquias - ele lá sabe porquê.
Imagino o processo de busca inteligencial seguido pelo autor de «CALL GIRL»: um autarca corrupto?: ora deixa cá ver, António, ora deixa cá ver António, um autarca corrupto, um autarca corrupto... este não, chiça... aquele, nem pensar... ah!, que estúpido que eu sou, está-se mesmo a ver: um comunista!, não estou a ver quem, mas quero lá saber, não me traz qualquer problema, bem pelo contrário, eh, eh, eh, bem pelo contrário, é isso: um comunista: está decidido: temos filme!
Não garanto que o percurso reflexivo do realizador tenha sido rigorosamente este, mas dadas as circunstâncias, é-me legítimo presumir que a sua procura de agulha em palheiro não há-de ter andado longe disto.
Curiosamente, numa das duas páginas do DN acima referidas, o tema da «corrupção nas autarquias» é abordado: vemos seis fotos de autarcas «a braços com a justiça»: três são do PS; dois, do PSD; um, do CDS/PP.
Os restantes são do PCP - a escolha de António.
O GÉNIO
De olhos fixos no tele-ponto, Sócrates leu-nos a sua mensagem natalícia: garantiu-nos que vivemos no melhor dos mundos.
Graças a ele, às suas incomensuráveis capacidades, ao seu imensurável talento, à sua fulgurante inteligência - ao seu génio, enfim - o País vai de vento em popa e os feitos da sua governação já têm lugar assegurado na História Universal - não obstante haver por aí uns quantos ignorantes que acham pouco o muito que ele tem feito...
Dito isto, Sócrates partiu para a viagem de Natal paga pelos seus fiéis serviçais.
Ao ouvi-lo, lembrei-me, sei bem porquê, da crónica de Daniel Sampaio, «Os Narcísicos»(Pública de 23/12), da qual aqui transcrevo alguns excertos:
«Portugal anda cheio de chefes narcísicos. Querem dominar tudo e todos e não mostram qualquer empatia pelos problemas dos que os rodeiam. A principal característica destas pessoas é um sentimento grandioso da sua importância. Hipervalorizam todos os dias as suas capacidades e exageram tudo em que participam, exigindo que os outros dêem o mesmo valor que atribuem a si próprios.»
(...) «Aspiram a altos voos: com a cumplicidade dos média e o trabalho das "agências de comunicação", estão preocupados com fantasias de sucesso ilimitado, poder ou brilho especiais. Ruminam com frequência acerca da "merecida" admiração e propalam que a história lhes fará justiça».
(...) Necessitam de admiração constante, porque vivem preocupados com a forma como se estão a sair, desejosos de obter uma cotação favorável, testemunho da admiração de que dependem. No fundo, aguardam a reverência de todos: para a garantir ao máximo, rodeiam-se de gente submissa que, para os servir, decretou para si mesma o silêncio e o elogio fácil ao chefe: podem ser sobrecarregados com trabalhos e críticas ferozes que jamais abrirão a boca contra quem manda.»
(...) Quando não são servidos como desejam, ou quando alguém ousa uma crítica, respondem com agressividade, como se estivessem a ser atacados. Esta raiva narcísica é um dos traços mais evidentes do seu carácter: perante a discordância, reagem com fúria».
(...) Estes chefes não são verdadeiros democratas: falta-lhes o sentido do reconhecimento do outro, a partilha e a capacidade de amar que caracteriza os verdadeiros líderes: podem mandar, mas não serão amados, apenas tolerados, mais tarde ou mais cedo cairão do pedestal que construíram para si próprios».
Que a queda não demore muito, é o que eu desejo - isto digo eu.
(Cuidado!: em nota final, Daniel Sampaio informa que «esta crónica contém fragmentos da DSM-IV-R, classificação americana das doenças mentais»)
UM CONTO
Após ter surripiado três vezes a compota da despensa, seu pai admoestou-o.
Depois de ter roubado a caixa do senhor Esteves da mercearia da esquina, seu pai pô-lo na rua.
Voltou passados vinte e dois anos, com chofer fardado.
Era Director Geral das Polícias.
Seu pai teve o enfarte.
Mário-Henrique Leiria
(in «Contos do Gin Tonic»)
Feliz Natal
"So this is Christmas
And what have you done?"
John Lennon- Happy Christmas (War is over!)
POEMA
Amigo
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um largo adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.
Manuel da Fonseca
Histórias de Cravos (III)
Grande vida!
A minha história é muito engraçada.
Tudo começou há 32 anos. Eu e uns amigos meus estávamos numa florista onde havia sempre uma pessoa que falava sempre muito bem do governo, nunca saía dali e escutava as conversas de todos os clientes. Mas eu nunca soube porque ele fazia essas coisas.
E em vez de matarem alguém dispararam os cravos.
E agora chamam-me o «Cravo de Abril».
Marta Santos – 3º ano Escola Básica do Primeiro Ciclo de Idanha-a-Nova (26/04/2006)
BCP/CGD: AS DUAS FACES DA MOEDA
Tudo indica que a proposta será aceite na Assembleia-Geral da próxima sexta-feira.
As decisões em vias de concretização no que respeita ao BCP, depois da decisão anteontem tomada por Vítor Constâncio - Presidente do Banco de Portugal e membro do PS - surgem na sequência de um processo que suscita «desconforto» a alguns accionistas anónimos (ver Público de hoje) que consideram que a «crise do BCP se encaminha para uma solução que constitui «uma forma indirecta de o Governo "tomar" conta do grupo» e, se assim for, «o executivo garante a "mão" nos dois maiores bancos nacionais.»
Carlos Santos Ferreira - membro do PS - foi administrador da ANA-EP; Presidente do Aeroporto de Macau; Presidente da Mundial Confiança; Administrador da Segurança & Pensões (ex-BCP); Vice-presidente da Estoril Sol e, desde 2005, Presidente da Caixa Geral de Depósitos.
Entretanto:
«Armando Vara vai com Santos Ferreira para o BCP» - titula o Diário de Notícias de hoje.
Armando Vara, membro do PS, é, também ele, possuidor de um vasto e próspero currículo. Dele se pode dizer, como é uso nestes casos, que subiu a pulso na vida ou que comeu o pão que o diabo amassou: começou como funcionário de balcão da CGD em Mogadouro; após o 25 de Abril inscreveu-se no PS: Mário Soares, António Guterres e José Sócrates, foram, cada um no seu tempo, os «seus ídolos»: Soares levou-o para deputado e Guterres chamou-o para o Governo - do qual foi afastado por «alegadas irregularidades cometidas na Fundação para a Prevenção e Segurança» que ele fundara enquanto membro do Governo («processo que seria arquivado pela PGR»); em 2005 foi nomeado administrador e, mais tarde, vice-presidente da CGD; em 2006 passa a ser, acunulando funções, administrador da Portugal Telecom («terá de ir à PT 12 vezes por ano durante quatro horas», pelo que recebe mensalmente 1. 250 euros): Sócrates deu-lhe, agora, o BCP.
Para substituir Carlos Santos Ferreira na presidência da CGD fala-se no ex-ministro das Finanças e membro do PS, Campos Cunha.
Todavia, o líder do PSD, Luís Filipe Menezes - cumprindo o prometido papel de martirizador de Sócrates - já propôs que o novo presidente da CGD seja Miguel Cadilhe - que é membro do PSD, fez parte dos governos de Sá Carneiro e Cavaco Silva e foi, nomeadamente, consultor da várias empresas do BPA, Presidente do Conselho de Administração do BFE e do BBI, e Administrador do BPA e do BCP.
Como se vê, sejam quais forem as decisões finais, tanto em relação ao BCP como em relação à CGD, fica tudo em família.
Como é próprio da Quadra de Natal...
Histórias de Cravos (II)
O Cravo Vermelho
Eu sou um cravo e nasci duma semente.
A minha vida era num vaso de barro, muito fresquinho. Bebia muita água fresca, e fui crescendo, até ficar muito vistoso. O meu cheiro era muito agradável e a minha cor era vermelha.
Um dia levaram-me num camião até Lisboa. Colheram-me do vaso, deram-me a uma florista. Ela recebeu-me com muito carinho e juntou-me a outros cravos.
Ouviram-se vozes, era um grupo de soldados com as suas armas. Ao verem cravos tão bonitos, resolveram pôr um na ponta da espingarda. Gritaram:
- Liberdade! Liberdade!
Eu senti muita alegria por ver a Paz no ar!
Dia de Natal- António Gedeão
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
PROCURAM-SE
O Diário de Notícias publicou, hoje, fotos e biografias daqueles que, segundo o FBI, são «os dez homens mais perigosos do mundo» - mas que não são, obviamente, os dez homens mais perigosos do mundo.
À frente da lista está o inevitável Ben Laden, por cuja captura - à boa maneira do Oeste norte-americano - é oferecida a soma de 25 milhões de dólares - de longe o «prémio» mais elevado.
Os restantes nove são criminosos típicos do dia-a-dia do modo de vida dos Estados Unidos da América.
Não surpreende - mas é injusto e é pena - que destes dez mais perigosos não façam parte os inevitáveis Bush, Blair, Aznar e Barroso.
Isto para citar apenas quatro elementos da numerosa e sinistra família de criminosos de guerra que por aí anda à solta - neste caso quatro responsáveis e co-responsáveis pelo assassinato, no Iraque, de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes.
Pela captura de cada um destes quatro, o «prémio» teria que ser, no mínimo, de 25milhões de dólares.
Bom Natal
A Vaca tá louca e não se segura nas patas.
O Reis Magos não puderam vir porque os camelos estão no Governo.
O Burro migrou para os EUA e chegou a Presidente sempre disposto a atacar um pais qualquer desde que tenha petróleo.
A Nossa Senhora e S. José foram meter os papeis para o rendimento mínimo.
A ASAE fechou o estábulo por falta de condições de higiene.
E o Tribunal de menores ordenou a entrega do menino Jesus ao pai biológico.
Bom Natal!
BCP
Aplauda-se a decisão e coloque-se a pergunta necessária: se desde há três anos estes «ilícitos criminais» eram conhecidos por que é que, na altura, Constâncio «decidiu arquivar este mesmo processo» e só agora tomou as medidas que se impunham?
Se para todas as perguntas há uma resposta, esta não foge à regra. Ou foge?
FARSANTES (IV)
Acusa Pacheco que o PSD - desde Santana Lopes a Menezes, passando por Marques Mendes - «aproximou-se politicamente do PS (...) abdicou da diferença, da alteridade, da oposição».
É claro que Pacheco sabe que o PSD não só nunca «liderou» como nunca foi, sequer, oposição à política dos vários governos do PS desde o primeiro chefiado por Mários Soares, em 1976.
E sabe, igualmente, que o mesmo se passou com o PS: nunca foi oposição à política dos vários governos do PSD.
Pela simples razão, num caso e no outro, de que não se pode ser oposição àquilo que se defende: a política de direita comum aos dois partidos.
Quanto à aproximação do PSD ao PS, a questão que se colocaria era a de saber quem é que se aproximou de quem - isto, se a questão não fosse, como é, irrelevante, na medida em que, nos últimos trinta e um anos, estes dois partidos têm estado tão unidos na aplicação da mesma política que bem se pode dizer que dessa união de facto nasceu esse monstro que é a política única praticada por um partido único bicéfalo.
Marques Mendes perdeu a liderança do PSD porque não foi capaz de bem cumprir a tarefa que lhe competia: fingir que era oposição - mas há que reconhecer que essa era uma tarefa ciclópica, tão longe foi Sócrates na sua ofensiva de direita contra a democracia económica, social, política e cultural.
Luís Filipe Menezes ganhou a liderança do PSD com a promessa de que agora é que o Sócrates vai ver como é, agora é que ele vai saber o que é oposição.
E a comunicação dita social, como lhe competia, dedicou parte grande do seu tempo e do seu espaço a alimentar essa patranha.
Mas patranhas dessas - mesmo com uma comunicação dita social e sem sombra de vergonha como a que por cá domina - têm um tempo de vida muito limitado.
E eis Pacheco Pereira - sempre no lugar certo à hora certa, sempre a apanhar a primeira carruagem do primeiro combóio na primeira paragem - a exigir «oposição» ao PSD.
E eis Menezes a ser acusado de não fazer... aquilo que, de facto, não pode fazer: oposição à política Sócrates/PS - porque essa é a política que Menezes/PSD faria se fosse primeiro-ministro, já que o grande capital que dá ordens ao governo do PS é o mesmo que daria ordens ao governo do PSD.
E lá veio Menezes, patético, dizer uma vez mais que agora é que vai ser: «a partir de Janeiro, vai começar o martírio para o primeiro-ministro (...) nem vai dormir de noite».
E para iniciar com o pé direito a martirização do primeiro-ministro, Menezes fez o que dele se esperava: exigiu aos deputados do PSD que votem contra a realização de um referendo sobre o Tratado.
Histórias de Cravos (I)
EU SOU UM CRAVO ESPECIAL
Olá! Eu sou um cravo vermelho e sou muito bonito!
Nasci no dia 25 de Abril, dia da Revolução pela Liberdade de Portugal.
Antigamente o nosso país vivia em ditadura, quer isto dizer, que não se podia falar em liberdade se não éramos presos. Por exemplo quem falasse do presidente era preso.
A partir da data em que eu nasci já podemos falar e viver à vontade.
Ai! Eu sou mesmo um cravo especial! Quando Portugal passou a ser livre os soldados puseram-me nas suas espingardas.
E deram o nome de Revolução dos Cravos à revolução que houve.
José 3º Ano C - Escola Básica do Primeiro Ciclo de Idanha-a-Nova (26/04 /2006)
B - A - BÁ
Prosseguindo no acerto de contas, Miguel Portas escreveu: «a integração de Portugal na CEE visava enterrar definitivamente as veleidades revolucionárias no País» - e isto escrevendo coloca-se, inequivocamente, ao lado dos que não toleram Abril e os seus históricos avanços políticos, económicos, sociais, culturais, civilizacionais.
Surpresa?: só para quem gosta de se fingir surpreendido...
Mostra a história que estes radicalistas pequeno-burgueses de fachada revolucionária, por muito que tentem esconder a sua verdadeira postura de aliados objectivos das classes dominantes, acabam sempre por, nos momentos decisivos, se desnudarem e mostrarem o que realmente são.
Foi notado (por quem foi...) o facto de - enquanto os governantes serventuários do grande capital europeu assinavam o Tratado Porreiro, Pá contra os trabalhadores e os povos da Europa - o BE ter passado o dia a protestar contra o magno problema das praxes académicas...
De facto, não lhes convinha dizer o que pensam sobre o Tratado e recorreram à mais poderosa das suas armas de diversão: o folclore.
Há por aí alguém que ainda tenha dúvidas sobre o que é, para que serve e a quem serve o BE?
Livro Branco das Relações Laborais
E, para grandes males, grandes remédios: o Livro Branco das Relações Laborais - que vem alterar o código do trabalho- foi , ontem, apresentado em Lisboa.
Pedro Furtado Martins (um dos responsáveis pela elaboração de tal atrocidade) afirmou que “o alongamento dos processos de despedimento individual, decorrente das suas complexidades e burocratização, é prejudicial para ambas as partes”.
Como é possível o povo português nunca ter pensado nisso? que o grande mal do trabalho são as grandes dificuldades do despedimento... Ora, agora com esta fórmula em jeito de poção mágica, vamos poder fazer o país andar para a frente: em direcção ao abismo vertiginoso dos altos níveis de desemprego.
E isto não põe em causa os injustos despedimentos, reafirma-o Pedro Furtado Martins. Porque o recém- promovido à classe de desempregado pode sempre contestar o seu despedimento. E a única coisa que tem que fazer para não ser realmente despedido é justificar que o justo patrão se descuidou quando o catalogou como inadaptado e posteriormente o despediu. Coisa simples e- como todos sabemos- eficaz.
Mas, segundo José Vieira Lopes, vice-presidente da Confederação do Comércio (CCP), o livro peca por defeito. Seja isto: "Houve um retrocesso em relação ao relatório intercalar de progresso, que era mais abrangente e ambicioso, pelo menos nas expectativas que deixou criar”.
José Vieira Lopes refere-se - quando fala num retrocesso- ao relatório original onde além da medida de fácil despedimento viria a possibilidade de redução salarial em caso de “necessidades prementes” da empresa. José Vieira Lopes acusa, portanto, o Livro de "muito pouco atrevido".
Poema
Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
as lágrimas são minhas
mas o choro não é meu.
António Gedeão
Dois pesos, a mesma medida imbecil
Caro Vitorino : quando referiu que a promessa eleitoral, inscrita no programa de governo de Sarkozy, legitimava a não realização do referendo, avisou o seu companheiro Sócrates da armadilha que lhe ia montar nesse programa de tv?? ou estará esquecido (como parecem muitos portugueses, tamanha a apatia) das enormes promessas de referendar a constituição europeia atiradas ao ar pelo engenheiro, perdão, pelo sr Sócrates que queria e viria a ser primeiro ministro? mais uma vez este ps não engana... são bolinhas de sabão. show off e talvez algum gosto requintado por alguma iguaria. Pena mesmo senhor primeiro ministro, foi o 25 de Abril ter democratizado o ensino. E agora temos esta gente inconveniente (somos muitos muitos mil para continuar Abril) a denunciar as mentiras e as tintas com que se vai pintando.
Mas não esqueça. Muitas vezes nem o mais brilhante dos mágicos consegue a roupa para esconder a nudez. O rei vai nu??
TARRAFAL - 19/12/1939
Tinha 24 anos e era comunista.
Fora, três anos antes, deportado para o sinistro Campo de Concentração do Tarrafal - na primeira leva de 152 resistentes que, em 29 de Outubro de 1936, inauguraram o Campo da Morte Lenta.
Para trás, haviam ficado os amigos, a mãe (de quem ele era o único amparo) e a namorada - que, sabendo que o amava, pouco sabia dele e da sua vida e que só setenta anos mais tarde viria a saber quem ele era e o que lhe acontecera.
Fernando Alcobia foi um dos 32 resistentes antifascistas assassinados no Tarrafal.
Morreu no dia 19 de Dezembro de 1939, pelas dez horas da manhã.
Os seus companheiros de resistência e camaradas, falam-nos dele no livro «Tarrafal - Testemunhos»:
«Fernando Alcobia passara muitas vezes pela frigideira. Pela primeira vez em Outubro de 1938. E a sua saúde sofreu o primeiro abalo. Foi depois a «brigada brava», de onde certa vez o trouxeram em braços. Numa outra altura meteram-no na frigideira com um abcesso no ouvido. Passou toda uma noite com dores agudas a pedir a vinda do médico. Não veio o Tralheira (nome pelo qual os presos tratavam o médico assassino). Queriam que trabalhasse e não o podia fazer e toda uma manhã ficou sentado numa pedra gemendo com dores. De volta ao campo, levaram-no para a frigideira e ali esteve vinte dias, sempre com um abcesso, sempre sem que Esmeraldo Pais Prata (o médico assassino) o tratasse. Trabalho, frigideira, frigideira, trabalho, foi o que Fernando Alcobia teve de sofrer até 15 de Dezembro, quando adoeceu com uma biliosa. O estado de fraqueza em que se encontrava quebrou-lhe todas as resistências à doença.
Esmeral Pais Prata veio enfim vê-lo. Estava na agonia. Acendeu uma lanterna e os olhos de Fernando Alcobia não reagiram. A morte já não tardaria muito. Fernando Alcobia tinha vinte e quatro anos e ia morrer assassinado.
-Se estiver pior amanhã, mandem-me chamar.
- E que tratamento lhe devo fazer, senhor doutor? - perguntou Virgílio de Sousa (o enfermeiro), que só depois de muito insistir conseguira que o Tralheira fosse ver o doente.
- Tratamento? Sim! Olhe, ponha-lhe umas compressas de água fria na testa.
Fernando Alcobia morreu pelas dez da manhã.
Morria muito jovem, devido à frigideira, ao trabalho da «brigada brava», às mãos daqueles que o fizeram sofrer tudo isto e tudo lhe negaram.»
Aos assassinos de Fernando Alcobia nada aconteceu.
A MORTE SAÍU À RUA
«Artista plástico de mérito reconhecido, José Dias Coelho aderiu ao PCP com pouco mais de vinte anos e algum tempo depois passou a funcionário clandestino. Entre muitas tarefas que desempenhou, nomeadamente a de responsável pelo Sector Intelectual de Lisboa do PCP, da actividade de José Dias Coelho enquanto funcionário do Partido, sobressai o importante trabalho, realizado com Margarida Tengarrinha, relacionado com a falsificação de documentos de identidade necessários aos quadros clandestinos do Partido.»
«De todas as sementes deitadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas»: eis a legenda que José Dias Coelho escreveu na sua última gravura, criada um mês antes de ser assassinado, e representando o assassínio do operário Cândido Martins (Capilé) à frente de uma manifestação popular.»
Poetas e cantores - como Eugénio de Andrade e José Afonso - escreveram e cantaram belos poemas e canções de homenagem a José Dias Coelho.
O Cravo de Abril publica hoje um poema possivelmente desconhecido por muitos dos nossos visitantes.
É a nossa homenagem ao camarada José Dias Coelho.
VIAGEM ATRAVÉS DE UMA FATIA DE BOLO-REI
Corria o ano de 1961.
Estávamos à porta do Natal.
Eram quase duas horas da manhã
e eu perguntei-lhe
se queria comer alguma coisa.
Disse que sim. Mas que
estava com muita pressa.
Enquanto vestia a gabardina, trouxe-lhe
uma sanduíche de fiambre
um copo de vinho
uma fatia de bolo-rei.
Estava de pé
comia como se fosse a primeira vez
desde a infância.
- Há quantos anos
deixa cá ver
há quantos anos é que eu não comia
bolo-rei?
Este é bom, sabe a erva-doce
e a ovos.
(Caíam-lhe migalhas
aparava-as com a outra mão
em concha)
- Comes outra fatia, camarada?
- Isso não.
Estou atrasado já.
Mas se ma embrulhasses...
Através da janela
do quarto às escuras
fico a vê-lo atravessar a Rua da Creche
seguir pela Rua dos Lusíadas.
Nenhum de nós sabia
que estava já erguida a pirâmide do silêncio
à espera dele
num breve prazo.
Quando talvez o gosto do bolo-rei
mais forte do que nunca
tivesse ainda na boca.
Mário Castrim
(«Viagens», edição da Célula do PCP da Renascença Gráfica/Diário de Lisboa, para a Festa do Avante/77)
Quinta frase da página 161
Finalmente recorri à prateleira acima e peguei no Dossier Tarrafal, das Edições Avante!. Transcrevo a quinta frase da página 161
JANEIRO, 25 - Castigados Lebroto, D. Quintas, M. Castelhano, João Rodrigues, Eurico P. Mateus, Militão Ribeiro e António Guerra com trabalho por período de descanso, das 10.30 às 13.30, por não terem acabado uma tarefa no tempo que os carcereiros pretendiam.
Boas-vindas
O DEVEDOR DE PROMESSAS
Ontem, no decorrer da reunião da Comissão Nacional do PS, Sócrates disse que só em Janeiro decidirá se sim ou não haverá referendo sobre o Tratado Porreiro Pá.
A notícia não constitui surpresa.
É claro que Sócrates não decidirá nada: limiar-se-á a fazer o que os patrões europeus ordenarem.
Como, descaradamente e sem corar, sublinhou o porta-voz do PS, Vitalino Canas, «a decisão terá que ter em conta o que outros países decidirem», tanto mais que «se Portugal avançasse pela consulta popular, isso poderia ter efeito de contágio noutros países, aumentando as hipóteses de o Tratado nunca entrar em vigor (basta um país não o ratificar para isso acontecer)».
E, digo eu, isto de a democracia se espalhar por contágio é um perigo tremendo...
Estamos, assim , perante mais uma exibição de desavergonhada acção rastejante dos lacaios do grande capital europeu.
Como é sabido, Sócrates fez da promessa de referendar o Tratado uma das suas bandeiras na campanha eleitoral que o levou a primeiro-ministro.
Depois, os patrões disseram que não há referendo para ninguém. Perante tal decisão, Sócrates deu o dito por não dito e meteu a promessa numa das muitas gavetas de que o PS dispõe, todas atulhadas de trocatintismos da mesma família.
E de tal forma o actual líder do PS se tem mostrado especialista na matéria que bem pode ser cognominado de o devedor de promessas.
Na referida reunião da Comissão Nacional do PS, segundo o DN apenas uma voz se manifestou favorável ao referendo.
Ana Gomes pronunciou-se pela não realização da consulta popular. E Manuel Alegre, também: «qualquer das formas de ratificação do Tratado é legítima»: disse ele, na sua voz forte de esquerda.
Também nestes casos, sem surpresas: os alegres & Cia., continuam a cumprir diligentemente, em tudo o que é essencial, o seu papel de avalizadores da prática de direita do PS.
Em nome da «esquerda», é claro...
QUE TRATANTES!
«A História recordará este dia...»: proclamou Sócrates - em tom e pose a lembrar o Conselheiro Acácio - após a assinatura do Tratado, que classificou como uma grande vitória de Portugal.
É verdade que «a História recordará este dia» - mas como o dia em que:
Portugal perdeu pedaços significativos da sua soberania e independência;
O regime democrático português sofreu mais uma forte machadada;
A Constituição da República foi mais uma vez brutalmente espezinhada.
Quanto à «grande vitória», só o foi para as ambições pessoais de Sócrates e de Barroso.
Para Portugal e para os portugueses tratou-se de uma trágica ocorrência, sofrida no decorrer de um processo aviltante, no qual o Governo Sócrates/PS, assumindo-se como servo fiel dos grandes patrões europeus, se cobriu de indignidade e de ignomínia.
Por muito menos do que aquilo que Sócrates e Barroso fizeram (com o apoio explícito do Presidente da República), foi Miguel de Vasconcelos lançado pela janela (no 1º de Dezembro de 1640) e atirado para o caixote do lixo do História.
Um caixote no qual Sócrates & Cia. têm lugares reservados.
PRÉMIOS
O Prémio Fernando Pessoa foi atribuído a Irene Pimentel, pelo seu livro «História da PIDE».
Já me referi a esta Autora quando de uma entrevista por ela dada e na qual sintetizava assim a acção criminosa e terrorista da polícia política do fascismo: «A PIDE prendeu pouco e matou pouco».
Ao que parece, o júri do Prémio Pessoa (que era um júri muito, muito plural: tirando os comunistas tudo o resto lá estava representado...) concorda com a síntese.
Se, na sua próxima obra sobre o tema, a Autora concluir, por exemplo, que a PIDE não prendeu nem matou, é muito possível que ainda venha a ganhar o Nobel.
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Participem!
Referendo: JÁ!
"RTP tem de despedir 200 trabalhadores se não fizer cortes orçamentais" In Público 12/12/07
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
A Constituição da República Portuguesa é uma das mais poderosas armas de que dispomos na luta contra a política de direita.
Diz ela, no seu Capítulo III, Artigo 53º:
«É garantida aos trabalhadores a segurança no emprego, sendo proibidos os despedimentos sem justa causa ou por motivos políticos ou ideológicos».
E no seu Artigo 127º, ponto 3:
«No acto de posse o Presidente da República eleito prestará a seguinte declaração de compromisso: Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa».
Então, exijamos-lhes - ao Governo e ao Presidente da República - que cumpram a Lei Fundamental do País. Ou, caso não o façam, que se demitam.
FARSANTES (III)
O «caso Luísa Mesquita» tem vindo a ser um dos pratos fortes dos diligentes média dominantes.
Páginas e páginas de jornais e revistas, horas e horas de televisões e rádios, mostraram-nos, durante meses, a imagem angélica da vítima - a pobre e injustiçada Luísa - e o rosto horrendo e fero do algoz - o tenebroso e nunca por demais execrado PCP.
Já assim havia sido com todos os que antecederam Luísa Mesquita neste doloroso roteiro de sofredores - e que, hoje, pobres deles!, são ministros, secretários de Estado, administradores de empresas - e assim será com os que, porventura, lhes vierem a seguir as pisadas.
Felizmente para a democracia, parece que este «caso» está em vias de solução: «a ex-deputada do PCP passou a ser deputada inscrita, vai integrar novamente a Comissão de Educação e terá direito a um verba anual de 28. 210 euros para despesas de funcionamento» - isto, para além dos mais de 4. 000 euros mensais de salário e das respectivas ajudas de custo, entenda-se.
Sendo caso para dizer que isto de ser vítima até nem é nada mau, vale a pena registar, também, que esta vítima não é nada tola. Bem pelo contrário.
Como dizia Voltaire, «fazer batota ao jogo e não ganhar, só de um tolo!».
Cuba
- Por Antônio Gabriel Haddad
Passei 26 dias em Cuba, no ano passado. Fidel Castro e a Revolução são venerados pela esmagadora maioria da população. Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Raul Castro e outros ícones da Revolução são espontaneamente cultuados nas casas. Com alguma frequência, há retratos de Che ao lado de imagens de Cristo sobre televisores. Todos lá são eleitos, Fidel Castro inclusive, em um avançado processo de participação popular, típico de uma democracia socialista.
Não tenha a ilusão de que minha visita à ilha se restringiu a resorts de Varadero e Havana. Não mesmo. Fui por conta própria, sem pacote de viagem, e fiz meu roteiro. Não fui abordado nas ruas uma única vez pelas "terríveis" e "repressoras" autoridades da ilha. Corringindo, fui abordado uma vez. Uma policial gentilmente solicitou que eu tirasse minha mala que ocupava um assento vazio no terminal rodoviário de Camagüey. Aqui, o primeiro exemplo da educação e da solidariedade cubanas.
Circulei em qualquer horário por qualquer lugar, em todas as oito cidades que visitei. Conversei com quem eu quis. Entrei em hospitais, em lojas, em lachonetes. Tentei conhecer o máximo possível de pontos não-turísticos. Em suma, tive contato com o que há de melhor em Cuba: o povo cubano. Hospedei-me em casas particulares.
Em Trinidad, a dona da casa que me abrigou falava com orgulho do filho médico, que estava servindo em missão internacional na Venezuela, sem ganhar um único centavo a mais. Expliquei-lhe o perfil dos médicos de ponta no Brasil. Filhos da elite branca, que estudam em universidades públicas e, depois de formados, montam seus consultórios nos Jardins para cobrar R$ 500 uma consultinha de merda. Tentei comentar também sobre juízes que vendem sentenças, policiais que se envolvem com quadrilhas, fiscais que negociam com sonegadores e reduzem tributos, prefeitos que desviam dinheiro da merenda escolar, todas essas deformações de nossa espetacular sociedade democrática. Tudo era incompreensível para ela, uma solidária mulher cubana, que sofre com a ausência do filho distante, mas diz que o apoiará sempre, enquanto os desamparados do mundo necessitarem de seu auxílio e de seus conhecimentos.
Sabe quem é o grande idealizador e condutor do programa cubano de solidariedade médica? O abominável, o ditador, o déspota, o tirano, o cruel, o totalitário Fidel Castro, a quem muitos desejam a morte breve para que se acelere o fim da tal dinastia, não é mesmo?
É evidente que Cuba não é o paraíso. Nem mesmo o governo cubano vende essa imagem do país. Cuba é um país pobre, com problemas econômicos seculares, agravados por um bloqueio econômico criminoso imposto pelos "democráticos" norte-americanos há quase cinco décadas. Pode lhes faltar bens de consumo, luxo doméstico, carros do ano, mas é gratificante andar por toda a ilha e não encontrar uma única criança abandonada, sem escola, descalça ou uma única pessoa revirando lixo para se alimentar.
Eu termino este nem tão breve desabafo com os dizeres de um outdoor na estrada que leva ao aeroporto José Marti: "Esta noche, doscientos millones de niños duermen en las calles. Ninguno de ellos es cubano" (essa noite, duzentos milhões de crianças dormirão nas ruas. Nenhuma delas é cubana). Troco a nossa democracia deformada, que dá direitos apenas às minorias que têm algo, pela "dinastia" cubana, que conferiu altivez e dignidade a todo um povo, sem distinção.
FARSANTES (II)
Escreveu Miguel Sousa Tavares (citado pelo Público de hoje): «A Europa sacode os seus problemas de consciência (com África), como um pai que passa um cheque ao filho 'com problemas' e não se preocupa mais com o assunto. (...) A Europa continuará a dar peixes, mas não a ensinar a pescar.»
Trata-se de uma inteligenciação feita de patas para o ar, mas é evidente que o Miguel sabe disto que se farta: sabe que o cheque é careca; sabe que o peixe é podre; sabe quem é que, na África, pesca o quê...
E sabendo tudo isso, sabe também que o método utilizado pela Europa na pesca africana é o arrastão: uma rede gigantesca, de malha inteligente e cirúrgica, que selecciona e leva consigo tudo quanto é riqueza dos povos africanos e deixa atrás de si o horror: um inferno de miséria, de fome, de doença, de morte, de barbárie.
Miguel sabe muito, como se vê.
E sabe, ainda, que enquanto souber o que sabe, terá sempre lugar cativo e bem pago - muito, muito bem pago! - em qualquer dos órgãos de comunicação social que são propriedade dos donos do arrastão.
Ou seja: quem recebe o cheque válido é o Miguel - que, assim, nem precisa de aprender a pescar...
FARSANTES
O colonialismo foi liquidado na segunda metade do século passado, graças à luta corajosa dos povos africanos e ao apoio decisivo dado a essa luta pela União Soviética.
Agora, quinze anos depois do derrube do primeiro país socialista do mundo, o colonialismo instala-se de novo - explorador, opressivo e repressivo - no continente africano.
Foi dessa recolonização que tratou a chamada Cimeira UE/África.
Impedir a evolução emancipadora dos povos africanos e - através de uma coisa que, pomposamente, designam por «ajuda ao desenvolvimento» - assegurar a rapina dos imensos recursos energéticos e de várias outras matérias primas de elevado valor industrial existentes naquela região do mundo: eis os objectivos reais da Cimeira.
O resto foi paleio: paleio pseudo democrático e pseudo humanista, por detrás do qual os representantes do grande capital internacional escondem as suas intenções de domínio do continente africano.
«Os direitos humanos são um património universal, que nos compete preservar e defender. Por isso, os direitos humanos estarão no centro da nossa agenda»: disse José Sócrates, na Cimeira.
Tocantes palavras as do primeiro-ministro.
E bom seria que Sócrates as levasse à prática. Começando cá por casa, por exemplo, onde os ditos direitos humanos andam pelas ruas da nossa amargura.
Aqui fica uma lista - incompletíssima, sublinhe-se - de sugestões para José Sócrates colocar no centro da sua agenda:
restituir o direito humano ao trabalho com direitos a todos os trabalhadores portugueses; restituir os direitos humanos aos dois milhões de portugueses que vivem na miséria; restituir o direito humano à comida aos mais de 200 mil portugueses que passam fome; restituir o direito humano a pensões e reformas dignas a milhões de portugueses indignamente tratados; restituir a todos os portugueses o direito humano à Saúde, ao Ensino, à Habitação.
E quanto aos direitos humanos em África, para os respeitar e defender basta a José Sócrates fazer aquilo que é seu dever: cumprir a Constituição da República Portuguesa - artigo sétimo, nomeadamente os pontos 1 e 2.
Assim, em matéria de direitos humanos, tanto para África como para Portugal, Sócrates deve pôr no centro da sua agenda o cumprimento da nossa Constituição - em vez de continuar a violá-la todos os dias, numa prática que coloca o seu governo fora da Lei Fundamental do País.
POEMA
De noite
ouvi barulho
na cozinha.
Levantei-me.
Fui ver.
A mãe passava a ferro
os calções que eu devia
levar à escola.
Sentada, mal podia
com o ferro. Longe
um galo já dizia: «O dia aí vai!»
Esfrego os olhos, estremunhado.
e a Mãe:
- O que é filho? Cuidado
não acordes o pai.
Mário Castrim
(in «Poemas do 'Avante!'»
HÁ SETENTA ANOS
JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS - Ary dos Santos - Zé Carlos - Ary: Poeta, Camarada, Amigo, Irmão.
Poeta da Resistência
Poeta da Revolução
Poeta do Amor
Poeta da Esperança.
O FUTURO
Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente.
Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente.
Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.
O que é preciso é termos confiança
se fizermos de Maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.
José Carlos Ary dos Santos
(in Obra Poética)
Movimento Habita Acção
- Em acção, por casa para todos os jovens!
- O movimento HabitAcção surge como resposta à reivindicação juvenil do direito à habitação para todos os jovens. Este movimento organizou-se com o objectivo de exigir o cumprimento do direito constitucional à Habitação e lutar por medidas de apoio à habitação social para jovens.
Pergunta
Sendo que a dotação orçamental para o extinto Incentivo ao Arrendamento por Jovens (IAJ) andava pelos 53 milhões de euros.
Que política social é esta...
POEMA
No dia 5 de Dezembro de 1791, Wolfgang Amadeus Mozart
entrou no céu, como um artista de circo,
fazendo piruetas extraordinárias sobre um mirabolante cavalo branco.
Os anjinhos atónitos diziam: Que foi? Que não foi?
Melodias jamais ouvidas voavam
nas linhas suplementares superiores da pauta.
Um momento se suspendeu a contemplação inefável.
A Virgem beijou-o na testa
E desde então Wolfgang Amadeus Mozart foi o mais moço dos anjos.
Manuel Bandeira
"As árvores morrem de pé."
Viva Chavez!
A RAZÂO DELES
VENEZUELA: é proposta uma Constituição; no referendo, a maioria vota «Não»; os proponentes reconhecem a derrota.
UNIÃO EUROPEIA: é proposta uma Constituição; em referendo, os povos de dois países votam «Não»; o processo é interrompido: os proponentes impõem a Constituição sem mais referendos.
Assim fica demonstrada a razão daqueles que todos os dias nos dizem que o regime venezuelano é uma terrível ditadura e a União Europeia é um exemplo de democracia...
POEMA
Esperança:
é a maneira
como o futuro fala
ao nosso ouvido.
Depois
há que saber
organizá-lo.
Então
os comunistas entram em acção.
Mário Castrim
(in «Poemas do 'Avante!'»