LIBERDADE E DEMOCRACIA

SÓ PARA LEMBRAR...

Há uma semana, o ministro Santos Silva proferiu, em Chaves, uma curiosa lição de estória.
Ensinou ele que Portugal deve a liberdade e a democracia aos «socialistas» (Mário Soares, Manuel Alegre, Salgado Zenha, Jorge Sampaio e, modéstia à parte, o próprio Santos Silva) e não, de maneira nenhuma, nem pensar, aos comunistas (Álvaro Cunhal e Mário Nogueira).

Neste post, iniciamos a enunciação de um conjunto de episódios reais - por isso, contestados pela visão estórica do ministro - sobre o papel desempenhado, ao longo da História de Portugal, na luta pela liberdade e pela democracia, por um lado, pelos comunistas, por outro lado, pela família política do ministro Santos Silva.

Esclareça-se desde já que não vamos dizer nada de novo sobre a matéria. Pretendemos, tão-somente, denunciar umas quantas mentiras, desmascarar umas quantas falsidades e relembrar umas quantas verdades - enfim, avivar memórias.

Primeiro Episódio

Em 5 de Julho de 1932, Salazar (exacto: esse mesmo, o «nem bom, nem mau» que uma abjecta campanha publicitária nos tenta vender como «bom») tomou posse como Presidente do Conselho.
No mês seguinte, o governo aprova os Estatutos do partido fascista: a União Nacional.
Em Novembro, são nomeados os dirigentes da União Nacional e, na mesma altura, são proibidos todos os outros partidos políticos.
Em 29 de Agosto de 1933, Salazar («nem bom, nem mau») cria a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), que tem como missão assegurar o cumprimento da ordem de proibição dos partidos políticos.
Em 6 de Novembro, é criado o Tribunal Militar Especial, cuja função é condenar os «crimes contra a segurança do estado».
Está montada a máquina repressiva fascista que actuará, implacável, brutal, sobre todos os que ousarem defender a liberdade e a democracia.

Para os partidos políticos existentes, a opção é simples: acatar ou não acatar a ordem do ditador fascista; submeter-se ou resistir; aceitar passivamente a opressão fascista ou assumir a luta pela liberdade e pela democracia.
Estamos perante um daqueles momentos decisivos, históricos, em que os princípios, a dignidade, a honra, a coragem dos homens são postas à prova.

Diz um personagem de «A Peste», de Camus: há sempre um momento na história em que o simples facto de um homem dizer que dois mais dois são quatro lhe pode trazer consequências graves. E, nessas circunstâncias, a questão não está em saber quais serão as consequências, mas em saber, e afirmar, que de facto dois mais dois são quatro.

Como reagiram os partidos políticos de então à ordem de Salazar?
Assim: à excepção do PCP, todos, incluindo o PS, auto-dissolveram-se, ou seja, temendo as consequências, aceitaram que dois mais dois não são quatro.

O PCP, como sabemos, mergulhou na clandestinidade - única forma de assumir que dois mais dois são, de facto, quatro.
Com essa decisão, os comunistas portugueses deram início a uma longa e difícil - muito longa e muito difícil - luta contra o fascismo, pela liberdade e pela democracia.
Uma luta na qual o PCP ocupou, sempre - sempre, sempre, sempre - a primeira fila.
Uma luta na qual os comunistas, não poucas vezes, estiveram sozinhos.

Comentando a opção do PCP, escreveu Álvaro Cunhal:
«Os comunistas pagaram a sua dedicação com pesados sacrifícios. Vidas inteiras consagradas à luta clandestina. Milhares de homens e mulheres perseguidos, presos, torturados, encerrados nas prisões durante longos anos. Alguns, mais de 20 anos. Alguns, conhecidos e procurados pela PIDE, mantendo-se clandestinamente no País até 20, até 30 anos. Numerosos militantes assassinados nas prisões, ou com torturas, ou a tiro».

Com isto, Álvaro Cunhal não está a reivindicar louros, medalhas ou outras honrarias para premiar a luta dos comunistas.
Está, apenas, a sublinhar o facto - simples, natural - de o PCP ter cumprido o seu dever de Partido da Liberdade e da Democracia.

(fim do primeiro episódio)

3 comentários:

Antonio Lains Galamba disse...

e nenhum democrata se incomodaria com isto. augusto santos silva incomodou-se. logo augusto santos silva não é democrata! Fascista, acrescento eu, fascistazinho ...

Anónimo disse...

Não acredito! O PS não esteve na luta pela Liberdade? O Mário Soares terá mesmo proposto a Álvaro Cunhal a desistência dos comunistas da resistência anti-fascista, para Salazar permitir uma pequenina abertura política? O PS terá mesmo sido (re)fundado à pressa para aproveitar as novas oportunidades que aí vinham? O Frank Carlucci não era um dignissimo democrata, além de amigo do peito de Soares? O Santos Silva apoiava o Salgado Zenha e o Soares?
Por acaso, provavelmente ao contrário do irritado Silva, eu até cheguei a votar no Zenha e, grande sapo, no Soares. O Silva nem essa azia deve ter no curriculo!

Fernando Samuel disse...

antonio lains galamba: fala baixo, se ele ouve manda-te prender...
Um abraço amigo.

aristides: está dito - e redito - que o Soares é «o pai da democracia», e quem disso duvide... não é bom português. Portanto...
Um abraço amigo.