No chamado «dia de reflexão», o Presidente da República, em «mensagem ao País», apelou ao voto na política de direita.
Com efeito, no quadro concreto em que o apelo foi produzido, o que o PR fez, de facto, foi, a pretexto do combate à abstenção, apelar «aos milhares de portugueses que estão desempregados» para que votem na política que os atirou para o desemprego;
apelar às «novas gerações» para que votem na política que ergueu os espessos muros que lhes barram o futuro;
- enfim, apelar a que todos vão votar para que tudo continue na mesma.
Eu apelo a todos - desempregados; com emprego fixo ou precário mas ameaçados de desemprego; com salários em atraso; explorados e espoliados de direitos humanos fundamentais; maltratados, humilhados e ofendidos pela política defendida por Cavaco Silva - apelo a todos, repito, para que votem com lucidez, isto é, para que votem nos seus próprios interesses e direitos.
Mas o PR, na sua arenga eleitoralista, fez mais - e pior: na ânsia de arrebanhar votos para sustentar a política que, praticada pela troika partidária nacional, há 35 anos afunda Portugal - afundamento de que ele, PR, é um dos principais responsáveis - Cavaco Silva exorbitou dos poderes que a Constituição da República Portuguesa lhe confere (a Constituição que, recorde-se, ele jurou cumprir e fazer cumprir, jura que e realidade nos mostra estar bem longe de ser cumprida...)
Disse ele que os cidadãos que não forem votar hoje, «não têm depois autoridade para criticar as políticas públicas»...
E não satisfeito com o dislate, acrescentou: «Só quem vota poderá legitimamente exigir o melhor do próximo Governo».
Ou seja: o Presidente da República Portuguesa, recorrendo a poderes que ninguém lhe conferiu - e que, em democracia, ninguém lhe pode conferir - rouba aos cidadãos que, exercendo um direito, entendam abster-se, o legítimo direito de ter opinião sobre a política que o futuro governo fará!!!!!!
Ora bem: uma coisa, legítima e louvável, é combater a abstenção apelando aos cidadãos para que exerçam o direito de votar; outra coisa, essa ilegítima, condenável e inadmissível, é ameaçá-los de penalizações por exercerem esse outro direito que a lei lhes confere que é o da abstenção.
Tenho para mim, que votar é, em primeiro lugar e acima de tudo, um DIREITO - aliás, um direito arduamente conquistado pelos trabalhadores e pelos povos do mundo ao longo dos tempos; um direito arrancado à força às classes dominantes: com muitas e difíceis lutas, amiúde brutalmente reprimidas.
Com o tempo, as classes dominantes, foram adaptando aos seus interesses esse direito conquistado pelos trabalhadores e pelos povos.
Fizeram-no (fazem-no) com leis eleitorais cirurgicamente elaboradas; com os aparelhos de Estado postos ao serviço dos dominadores; com permanentes vagas de propaganda difundida pelos média propriedade dessas classes dominantes; enfim, com atropelos múltiplos à democraticidade dos actos eleitorais, transformando-os progressivamente na farsa democrática que hoje são em todo o mundo capitalista.
Assim, fraudulentamente, têm vindo a transformar esse direito conquistado num dever obrigatório (passe a redundância): o dever de votar nos interesses dos dominadores - que é, afinal, o dever invocado pelo Presidente da República na sua «mensagem ao País».
O combate à abstenção - necessário e indispensável - não se faz com ameaças repressivas.
Faz-se com políticas governamentais que, servindo os interesses dos trabalhadores, do povo e do País, estimulem a participação dos cidadãos na vida nacional, participação sem a qual a democracia não o é - ou só o é neste modelo de faz-de-conta em que vivemos;
faz-se garantindo a todos que a opinião de cada um conta;
faz-se no pleno respeito pelos princípios democráticos;
e faz-se, sempre - ao contrário do que pensa e diz o Presidente da República - tendo em conta que votar é um direito que só a consciência de cada um pode decidir se, e quando, é também um dever.
Eu vou votar: daqui a bocado lá estarei a desenhar a cruzinha no boletim de voto - uma cruzinha contra a política de direita e anti-patriótica defendida por Cavaco Silva; uma cruzinha por uma política patriótica e de esquerda.
E penso que todos os portugueses, ou a sua imensa maioria, devem ir votar.
E seria bom que todos votassem com a consciência de que estão a exercer um DIREITO arduamente conquistado.
E seria bom que, ao desenhar a cruzinha, todos se lembrassem que estão a exercer um DIREITO que foi conquistado em Abril.
E que, por isso, votassem nos ideais de Abril: nos ideais de liberdade, de justiça social, de paz, de fraternidade, de solidariedade - de independência nacional.
E que, por isso, rejeitassem, com o seu voto, os causadores da dramática situação actual.
E que, por isso, apoiassem, com o seu voto, aqueles que sempre combateram a política de desastre nacional e que sempre se têm batido por Abril.
Enfim, que votassem bem: nos seus interesses e direitos.
Agora vou votar na CDU.
Até logo.
11 comentários:
O homem é um traste!
Abraço.
Olá Amigo...
Cá em casa votamos sem o apelo dele e de outros como ele.
Votámos na continuação da Luta e Amanhã, tal como tu, cá estaremos no combate...
ATÉ SEMPRE.
Valquiria e JN
Eu fui votar bem cedo, na CDU. Não com medo da repressão contra a abstenção mas, porque em pleno direito arduamente conquistado, vou expressar o meu desejo de que possamos viver,todos, num mundo melhor.
um beijo.
Que pena Cavaco Silva não ter dito o seguinte: «...porque verdadeira irresponsabilidade é não votar naquele partido que mais defende o interesse nacional, a soberania e a democracia; a CDU.»
(Jorge)
Também já lá fui fazer a cruzinha no sítio certo, na CDU.
Um abraço.
Sem ser mau...para os 2 digitos como tinha vaticinado, faltou um bocadinho assim.
Abraços
Parabéns CDU! O trabalho continua já a partir de amanhã!
beijo,
O PCP conquistou uma grande VITÓRIA ao eleger mais umdeputado do que na anterior legislatura. Daqui a cem anos terá os dois dígitos com que sonham alguns ingénuos.
Terá muito antes os dois digitos, ingénuo anónimo. Até poderá a vir ser parte de um governo de salvação nacional, ingénuo anónimo.
A cicuta já fez o que lhe competia, agora vamos à caça dos coelhos. Peguemos nas espingardas porque há uma verdadeira praga de coelhos.
samuel: ou ainda mais...
Um abraço.
Valquíria e JN: beijo e abraço grandes.
Graciete Rietsch: o meu voto também teve esse objectivo.
Um beijo.
jorge: isso não sabe ele dizer, nunca...
Um abraço.
joão l.henrique: e fizeste bem.
Um abraço.
Bolota: deixa lá: será para a próxima...
Um abraço.
svasconcelos; já estamos a trabalhar...
Um beijo.
Zé Canhão: e eles costumam multiplicar-se facilmente...
Abraço.
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