É voz corrente que há, no PS, uma «ala esquerda».
Haverá?: responda quem souber.
Dizem uns que ela é indetectável mesmo que com o recurso a forte lupa; segundo outros, ela é detectável mesmo à vista desarmada; dizem terceiros que tanto se lhes faz...
Há ainda quem diga que há e não há, isto é: há uma coisa com esse nome à qual está atribuída a exclusiva, útil e utilitária tarefa de mostrar que no PS - líder incontestável da contra-revolução e da política de direita - há uma «ala esquerda» - que é coisa que fica sempre bem.
Diz a mesma voz corrente que Ana Gomes integra essa «ala esquerda» - que uns detectam, outros não e outros nem sim nem não.
Integrará?: responda quem souber.
Certo-certo é que, de vez em quando, a exuberante eurodeputada do PS, arreia a giga e, de mãos nas ancas, representa a tradicional peixeirada que a catapulta para a ribalta mediática - umas vezes dando ares de «esquerda»; outras, nem por isso; outras, bem pelo contrário...
Há dias, Ana Gomes entornou no DN um texto intitulado «Líbia: de armas e sandálias, pela liberdade».
Nele, a representante da (in)detectável «ala esquerda», destilando emoção por tudo quanto é sítio, relata as suas impressões sobre uma viagem à Líbia e o seu entusiasmo com a eficácia libertadora e humanista dos bombardeamentos da NATO.
É neste estilo de correspondente de guerra que puxa a brasa à sua sardinha - à «esquerda» do fogareiro, obviamente - que ela arranca:
«À saída de Bengazi, passei pelas carcaças dos tanques de Kadhafi: impressionante a precisão cirúrgica da intervenção aérea que impediu o massacre».
E é com ainda maior fervor bombista e ardor de «esquerda» que prossegue:
«Foi redentora a decisão das forças aliadas de levar à prática a "Responsabilidade de Proteger»...
Mais adiante - chamando à memória tudo o que leu sobre o assunto - conta que conversou «com combatentes sobre o desenrolar espontâneo da revolta popular», conversa que, faz questão de sublinhar, decorreu «na linha da frente» (se bem entendo: onde não caem bombas da NATO).
E o que é que lhe disseram os «combatentes»?: para além, naturalmente (isto digo eu...), de expressarem o desejo de que a NATO bombardeie até à rendição todas as cidades que estão sob controlo do governo líbio, confessaram-lhe, (isto diz ela), que querem «uma democracia secular», com «medias livres», com «leis eleitorais e reformas constitucionais e institucionais».
Enfim, uma «democracia» (isto digo eu) mais coisa menos coisa como a que existe em Portugal, graças à contra-revolução e à política de direita lideradas pelo partido no qual Ana Gomes integra a (in)detectável «ala esquerda».
E é com lágrimas de emoção libertadora correndo-lhe pelas falangetas que ela descreve as cidades libertadas, (onde) «as crianças brincam nas ruas»; onde «as lojas estão abertas e até os semáforos são obedecidos»... enquanto na Tripoli ocupada, «faltam gasolina, electricidade, alimentos e a repressão é brutal»...
Aqui chegado, não posso deixar de dar toda a razão a Ana Gomes:
é um facto que, em Tripoli,
as crianças não brincam nas ruas,
as lojas estão fechadas,
os semáforos nem sequer funcionam,
não há alimentos,
a repressão é brutal.
E nem é preciso ir lá para saber que assim é: basta saber que os redentores/protectores - amigos e heróis de Ana Gomes - despejam sobre a cidade, dia e noite, toneladas e toneladas de bombas.
Bombas que, não obstante Ana Gomes nos garantir que são «redentoras» e cumpridoras da «responsabilidade de proteger»,
destroem bairros residenciais, escolas, hospitais e ferem, estropiam e matam milhares de pessoas inocentes;
bombas que são complementadas por um cerrado bloqueio humanitário que impede a entrada de alimentos e medicamentos;
bombas que matam quando rebentam e que, por efeito do urânio empobrecido que contêm, continuam a matar pelos tempos fora;
bombas que - Obama o diz- são ainda poucas e têm que ser multiplicadas para que a «protecção» seja total.
Mas isso que importa? Mas isso que interessa?
Para a intrépida activista da «ala esquerda», o futuro da Líbia é por demais promissor:
depois da destruição redentora, virá a ocupação libertadora, à qual se seguirá a reconstrução protectora (as grandes empresas dos países ocupantes, generosas, reconstruirão tudo, tudo, tudo o que as suas bombas destruíram); e, finalmente, chegará a democracia salvadora - made in USA - garante da democrática transferência das riquezas naturais da Líbia - petróleo incluído... - para a pátria da democracia, da liberdade e dos direitos humanos: a mui louvada pátria do mui louvado Obama, descendente directo e herdeiro de Bush-filho, de Clinton, de Bush-pai, de Reagan e de todo o cortejo de redentores, libertadores, reconstrutores e salvadores aos quais o mundo e a humanidade tanto devem - e tanto têm ainda que pagar...
Voltando à matéria de primeiro: ala quê?...
É caso para dizer que um partido com tal «ala esquerda» nem precisa de «ala direita» para ser o que é.
14 comentários:
Esta ala esquerda é mesmo 'sinistra'...
Um beijo grande.
Chamar Tripoli ocupada à Tripoli que ainda não foi dominada pelos opressores, é revoltante. A cidade está morta, as crianças não brincam, porque os verdadeiros invasores a destroem com os seus bombardeamentos e as armas de urânio empobrecido.
Como pode dizer-se que há uma ala esquerda no PS?
Estou mesmo revoltada!!!!
Um beijo.
Na verdade, já não há pachorra para a incontinência de Ana Gomes.
Abraço.
Grande texto!
Ala Ana? Ala daqui para fora! Essa ala e as outras...
Em sentido fugurado, claro. Mas querendo dizer: QUE RAIO DE CANHOTA!
Grande abraço
Apeixeira Ana Gomes só engana quem quer ser enganado.
Crianças e famílias ouvem, vêm, sentem, sofrem as bombas a cair enquanto dizem: mandem mais! mandem sempre! destruam-nos! matem-nos! libertem-nos! nos receberemos sempre as vossas bombas de braços abertos!
A ala esquerda do PS abre-se muito quando está na oposição. O senhor Assis chegou agora mesmo da direita em passo de corrida e, para dar um ar de esquerda, disse ofegante: que pretende introduzir uma alteração da estratégia autárquica para iniciar um diálogo construtivo à esquerda com o PCP e o BE”.(ainda há semana, o mesmo político, considerava um possível entendimento entre PCP e BE uma junção de arcaísmos)
Um abraço de alas abertas
Também li esse artigo «fedorento» assinado pela Ana Gomes. Não deixei de sentir tudo o que está escrito neste texto.
Há dois fantoches ingleses. Um chamado «Punch» e outro «Juddy». Não sei qual dos dois mais se parece com Ana Gomes. Se «Punch» ou «Juddy».
Por falar em «ingleses», a dita «ala esquerda» do PS parece querer copiar a outra «ala esquerda» do partido trabalhista britânico, pateticamente encabeçada por dois irmãos chamados Miliband. Ora, temos Edward Miliband que diz representar a «ala esquerda» ou David Miliband, representante da ala dita mais «moderada».
(Jorge)
Desde há muito que a derrapagem intelectual dessa gente continua para o abismo. Ou já lá está?
E ninguém lhe põe umas fraldas?
Lentamente muitos militantes do PCP vão abrindo os olhos em relação à sinistra natureza política do PS. Tarde mas talvez a tempo, descobrem o nojo político que se esconde por detrás de gente ignóbil como Ana Gomes e seus pares. Com o Iraque ela teve a mesma postura mas ninguém deu por isso. Foi preciso chegar a este ponto onde o pudor deixou de ter limites para finalmente deixarem de engolir sapos.
Caro amigo Fernando, este post merece-me dois comentários distintos.
1º
Hoje mesmo tive oportunidade de dar conta (mais uma vez) do que penso da Dra. Ana Gomes no meu blogue. Oxalá não nos tirem o SNS, que esta Sra. precisa de cuidados médicos urgentes.
2º
A ala esquerda do PS existe sim, está é em decadência, conforme comprovam os resultados do BE nas últimas eleições.
Anónimo, das 07:17, «Lentamente muitos militantes do PCP vão abrindo os olhos em relação à sinistra natureza política do PS.»????? Julgo que muitos militantes já abriram os olhos e não foi de agora... Basta ver o que muitos pintavam nas paredes, em relação ao governo de Mário Soares, em 1983: «Soares Cab***»
Sapos do PS já os engolimos desde 1975, muito infelizmente.
Fernando Samuel
O Herman tem uma figura que faz lembrar esta nojenta pessoa que passa a vida a dar à cabeça esperando, pensará ela, arrumar as ideias no entanto as mesmas ideias estão cada vez mais desarrumadas.
Vitor sarilhos
O PS não tem salvação possível apesar de haver gente honesta que vota nele. É preciso é salvar esta gente.
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