POEMA

NATAL


Nasceu.
Foi numa cama de folhelho,
entre lençóis de estopa suja,
num pardieiro velho.
Trinta horas depois a mãe pegou na enxada
e foi roçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto vindimeiro,
que não havia berço
naquela casa.
E ninguém conta a história do menino
que não teve
nem magos a adorá-lo,
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos Reis da Judeia a persegui-lo;
que não terá coroas de espinhos
mas coroas de baionetas,
postas até ao fundo
do seu corpo.
Ninguém há-de contar a história do menino.
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo.


Álvaro Feijó

6 comentários:

Anónimo disse...

Esta é a história de muito e muitos milhões... Lutemos para que tenham uma vida melhor.
Abraços

Ana Camarra disse...

Muitos meninos assim existem, mas acredito que em cada um deles nasce o potencial de salvar o mundo.
Já agora nas meninas também!

Beijos

samuel disse...

Mas pode ajudar a mudá-lo. Sobretudo se não se esquecer de onde nasceu... e porquê.

Maria disse...

Um menino nasceu. E foi Natal!
Não quero este mundo salvo. Quero Outro Mundo!

Um beijo grande

Anónimo disse...

Tal como a Maria quero outro mundo.

Fernando Samuel disse...

Ludo Rex: e muito é preciso lutar.
Um abraço.

Ana Camarra: ou seja: é na luta colectiva que está a solução.
Um beijo.

Samuel:... eis a grande questão...
Um abraço.

Maria: por ele lutamos.
Um beijo grande.

Antuã: o mundo novo...
Um abraço.