«GENTE RESPEITÁVEL»

Sucedem-se a um ritmo vertiginoso as notícias sobre o «caso BPN» - e sobre as ramificações que casos destes sempre desvendam.
Ontem, o Público contava que em 2001 e 2002, a SLN (holding que controlava o BPN a 100 por cento) adquiriu duas «empresas tecnológicas» em Porto Rico.
A compra foi feita por Oliveira e Costa (actualmente detido, como se sabe) e Dias Loureiro (actualmente membro do Conselho de Estado, como se sabe).

O mais curioso nesta compra é que ela foi feita contra o parecer de uma equipa técnica da SLN (que a considerava uma «operação de alto risco») e aceitando como bom o «relatório favorável elaborado pelas próprias empresas de Porto Rico»...
Acresce que a transacção foi feita às ocultas das autoridades portugueses - mas esse, estou em crer, será um pormenor irrelevante...

As duas «empresas tecnológicas» tinham como investidor o libanês Abdul Rahman El-Assir, referenciado como «traficante de armas» e que - lá vem a possível ramificação... - foi quem «abriu as portas de Marrocos a Dias Loureiro».

Este El-Assir esteve «associado so escândalo que envolveu nos anos 80 o Banco de Crédito e Comércio Internacional, com sede no Panamá, instituição que foi acusada de ligação ao narcotráfico mundial».

A peça ontem saída no Público sobre estas questões, tem com fonte essencial um livro dos jornalistas espanhóis Carlos Ribagorda e Nacho Cardero - «Los PPijos» - que «analisa uma nova geração de políticos/homens de negócios (...) agrupada em torno de Alexandro Agag, genro de José Maria Aznar».

Registe-se que este Agag-genro-de-Aznar foi, em dada altura, «colaborador do BPN»: por proposta de Dias Loureiro ele desempenhou as funções de «assessor pessoal» de Oliveira e Costa.
Agag tem «linha directa» com tudo quanto é gente importante no mundo: telefona quando quer e lhe apetece para, por exemplo, Berlusconi, Chirac, Durão Barroso... - para além de ser amigo íntimo de El-Assir, naturalmente.

Sobre El-Assir, disse Dias Loureiro:
«Não tenho quaisquer razões para pensar mal dele. O seu círculo de amigos é gente respeitável. Ele sempre me tratou bem, com amizade e respeito.» - e afirmou que conhece El-Assir desde 2001, altura em que ele «me ajudou a resolver um negócio em Marrocos».
Dias Loureiro e El-Assir, negam, no entanto, ser sócios. Mas confirmam a existência de grande amizade entre ambos - em todo o caso, uma «amizade» que não deve incluir grandes confidências já que Dias Loureiro confessa «nada saber sobre o passado de El-Assir»...

As amizades de El-Assir são vastas e sonantes. Tudo «gente respeitável»: entre muitos outros, o rei de Espanha; o neto de Franco; Aznar; o genro de Aznar; Bill Clinton; Terry McAuliffe (presidente e responsável pelas finanças do Partido Democrata) - e, naturalmente, o «grande e bom amigo» Dias Loureiro.

El-Assir convidou várias vezes Dias Loureiro para caçar com o rei de Espanha e para jantar com Clinton nas casas do libanês em Madrid, Barcelona e Londres.
Ele esteve presente nos casamentos das duas filhas de Dias Loureiro - «no Convento do Beato em Lisboa, junto à nata da política portuguesa (Durão Barroso, Cavaco Silva, Mário Soares...)».
El-Assir esteve também no casamento da filha de Aznar com Alexandro Agag - cerimónia com mais de mil pessoas, entre as quais «o ex-primeiro-ministro António Guterres e o (então) primeiro-ministro Durão Barroso».
Ao círculo de amigos de El-Assir há que acrescentar, entre muitos outros, o saudita «Adnan Kashogui, comerciante de armamento internacional», com cujo nome o de El-Assir aparece ligado, «na imprensa internacional associados a vários escândalos, como o das exportações de armas espanholas no tempo do PSOE».

Assim, armas e narcotráfico poderão ser, eventualmente, dois ramos essenciais do negócio deste libanês amigo dos seus amigos - tudo «gente respeitável», na palavra conhecedora de Dias Loureiro.

E, relembro, tudo isto veio a propósito das notícias que, a um ritmo vertiginoso, se sucedem em torno do «caso BPN»...

5 comentários:

samuel disse...

Parece uma prova de canoagem em descida de "rápidos"... só que nunca mais termina e cada vez está mais caótica.
Agora só falta mesmo vê-los a estampar-se contra uma boa rocha... de preferência, batendo directamente com a cara.

Ana Camarra disse...

Fernando Samuel

Isto não é própriamente surpreendente, uma pessoa muito próxima de mim trabalhou numa firma do Banco BPN, das primeiras coisas que constataram era que a matéria prima era adquirida a mais do triplo do preço mais alto do mercado internacional... estranho?!
Depois alugavam um barco de transporte, 365 dias por ano, para não se mexer a maior parte das vezes, por um preço que em cerca de 3 meses de aluguer, poderiam adquirir um barco, pagar a tripulação e poupar, obviamente que não seria isso que procurariam.
Escusado será dizer que a pessoa que refiro após questionar estas e outras coisas foi afastada, tal como o seu superior directo e todos os que questionaram.
O que relatas só tem um aspecto novo, ou nem por isso, é chamar "os bois pelos nomes", como disse antes TUDO BONS RAPAZES....

Beijos

Fernando Samuel disse...

samuel: que corrida!, isto nunca mais pára...
Um abraço.

Ana Camarra: e aguardemos o que ainda para aí virá...
Um beijo.

Maria disse...

De facto, tudo gente MUITO respeitável...
Esta "bronca" parecia estar fechada a sete chaves num frasco, sei lá... quem destapou o frasco decerto perdeu a rolha. é que já não se pode tapar...

Um beijo grande

Fernando Samuel disse...

Maria: talvez a rolha volte a tapar o frasco, mas o que já destapou mostra bem o que ainda está lá dentro...
Beijo grande.