A pretexto da morte, no sábado passado, de Artur Quaresma - que foi futebolista do Belenenses e da selecção nacional, da qual chegou a ser Capitão - o DN de hoje relembra o célebre desafio de futebol Portugal-Espanha, realizado em 30 de Janeiro de 1938, em plena guerra civil espanhola, e decidido por Salazar e Franco.
Era hábito - decorrente de imposição do governo de Salazar - os jogadores (e a assistência, ou parte dela...) fazerem a saudação fascista quando, antes do início dos jogos, tocava o Hino Nacional.
E assim deveria ter sido naquele Portugal-Espanha, ao qual foram assistir altos dirigentes do regime, para além dos embaixadores da Itália fascista e da Alemanha nazi.
Todavia, perante o espanto geral, naquele dia o ritual não foi cumprido por três dos futebolistas da Selecção.
Artur Quaresma, Mariano Amaro e José Simões, todos do Belenenses, cada um à sua maneira, não fizeram a saudação fascista: Quaresma ficou perfilado, impassível e com as mãos atrás das costas; e Amaro e Simões ergueram os punhos cerrados - os punhos direitos... o que foi considerado ainda mais grave já que se tratava da saudação comunista...
Mal o jogo terminou, os três futebolistas foram presos para interrogatórios pela PVDE - a polícia política que, mais tarde, viria a chamar-se PIDE, e que Marcelo Caetano baptizaria de DGS nos últimos anos do fascismo.
Mais de seis décadas depois, em Janeiro de 2004, Artur Quaresma diria ao jornal Record: «Fomos à PIDE e eles (os dois colegas) ficaram. Eu, deixando o braço em baixo, disse que me esquecera de o levantar. Não houve mais problemas porque o Belenenses moveu influências. Nunca fui político, mas embirrava com aquelas coisas do fascismo. O Barreiro era foco de comunistas opositores ao regime e eu era amigo de muitos. Mas fiz aquilo sem premeditação, foi um acto natural».
Aqui se saúda a atitude dos três futebolistas, o acto corajoso de que foram protagonistas.
Um acto que mostra que a resistência ao fascismo ao longo do quase meio século da sua existência, assumiu as mais diversas formas e por vezes se fez sentir onde menos seria de esperar...
9 comentários:
Boa memória
Não deixamos morrer em vão
os nossos mortos
Não conhecia esse facto, mas parece-me que começo a gostar um bocadinho mais de futebol. Só um esclarecimento ,eu não gosto mesmo nada do futebol negócio. Como desporto não posso falar muito,pois poucas vezes vi futebol. No entanto tive a sorte de, por acaso, ver um "golo" do Maradona que não esqueci.
Um beijo.
Bons exemplos não nos faltam.
Um acto de muitissima coragem e afirmaçao,sem dúvida.
Que bonito!
Corajosa atitude que deixou descendência, o filho é também um homem de grandes princípios.
BJS,
GR
"Dos fracos não reza a história", e aqui está um exemplo, hoje fala-se do Quaresma, do Mariano Amaro e do José Simões, mas ninguém se lembra dos nomes dos outros 8 que entraram em campo.
É quando menos se espera que é mais bonito...
Bela estória!
Abraço.
Boa história. Fica como merecida homenagem. O meu avô - belenense dos sete costados e militante comunista - já ma tinha contado há uns anitos.
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