A United Fruit Co.
Quando soou a trombeta, estava
tudo preparado na terra
e Jeová repartiu o mundo
entre a Coca-Cola Inc., a Anaconda,
a Ford Motors e outras entidades:
a Compañia Frutera Inc.
reservou para si o mais suculento,
a costa central da minha terra,
a doce cintura da América.
Baptizou de novo as suas terras
como «Repúblicas das Bananas»
e sobre os mortos adormecidos,
sobre os heróis inquietos
que conquistaram a grandeza,
a liberdade e as bandeiras,
estabeleceu a ópera bufa:
alienou os arbítrios,
ofereceu coroas de césar,
desembainhou a inveja, atraíu
a ditadura das moscas,
moscas Trujillo, moscas Tachos,
moscas Carias, moscas Martinez,
moscas Ubico, moscas húmidas
de sangue humilde e melaço,
moscas bêbedas que zumbem
por cima das campas populares,
moscas de circo, sábias moscas
entendidas em tirania.
Entre as moscas sanguinárias
a Frutera desembarca,
nivelando o café e as frutas
nos seus barcos que deslizarão
como bandejas o tesouro
das nossas terras submersas.
Entretanto, pelos abismos
açucarados dos portos,
caíam índios sepultados
no vapor da manhã:
um corpo roda, uma coisa
sem nome, um número caído,
uma raiz de fruta morta
derramada no monturo.
Pablo Neruda
4 comentários:
Violentíssimo mas tão actual e verdadeiro. Agora, como então, o saque continua por esses países que ainda tenham algumas riquezas naturais e nacionais, deles!
Tremendo!
Sem mais palavras.
Um beijo grande.
Pablo Neruda, poeta do amor e do POVO,relata neste poema a verdadeira e terrível história do capitalismo.
Um beijo.
Muito bem escolhido.Foi lindo reler.
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