TIRANIAS

De um modo geral, toda a gente se manifestou satisfeita com a demissão do ditador egípcio: uns, porque ficaram mesmo satisfeitos;
outros, porque... ficaria mal não mostrarem satisfação (mesmo depois de terem apoiado o tirano durante décadas...)

Há também os que, não tendo ficado nada satisfeitos com a demissão de Mubarak, não ousam tornar pública a sua insatisfação - porque não fica bem...

E há, ainda, os que, incapazes de esconder o que pensam, e sentindo-se à vontade para exibir o que lhes vai naialma, manifestam publicamente a sua insatisfação - de moca afiada, como manda a tradição...

Está neste caso Alberto Gonçalves, sociólogo dominical do Diário de Notícias, reaccionarão dos quatro costados com frequentes assomos fascizantes, versão actual dos salazarentos escribas do antigamente.

Escreve ele, o sociólogo dominical, que «o combate à tirania de Mubarak faz-se em nome de uma tirania imensamente pior» - isto porque, desabafa o Gonçalves, «o que a maioria ruidosa ou silenciosa de egípcios quer é uma possibilidade de viver sob a barbárie da shari».

Estão a ver?: para o Gonçalves era muito melhor ficar tudo como estava: com «o nosso ditador» - que é bom porque é «o nosso»; com «a nossa tirania»- que é boa porque é «a nossa»; com «a nossa barbárie»- que é boa porque é «a nossa».

Assim, para o sociólogo dominical a opção é entre uma «tirania» e outra «tirania» - uma boa, «a nossa», outra má, «a deles», dos islamistas... - e mais nada.

Pelo que, se os milhões que derrubaram o ditador que durante trinta anos os oprimiu, vierem dizer que não querem mais tiranias - nem «boas», nem «más», nem a tirania de Mubarak recauchutada - estou em crer que o Gonçalves entra em parafuso...

E se esses mesmos milhões vierem dizer que desejam viver num pais democrático e independente, em que os seus direitos económicos, políticos, sociais, culturais, humanos, sejam respeitados... bom, aí o sociólogo dominical rebentará de raiva - porque essa seria, para ele, a pior de todas as «tiranias»... que haveria que esmagar a ferro e fogo, à boa maneira «islamista» que é gémea da boa maneira «ocidental»...

9 comentários:

svasconcelos disse...

Quando li pela primeira vez as suas crónicas voltava atrás , por vezes, para me certificar que entendera mesmo o que lia, tal era a estupefacção que me causava tanto reaccionarismo, tanta pobreza intelectual, tanto ode ao fascismo...

beijo,

samuel disse...

E assim se conspurca um apelido honrado... mas pronto; poucos "Gonçalves" podem ser "Vascos"!

Abraço.

Anónimo disse...

Existem várias maneiras de lidar com pessoas como o Alberto Gonçalves ou outros chamados, por exemplo, João Pereira Coutinho.
A melhor é ignorá-los e deixá-los escrever e dizer na praça pública aquilo que quiserem. Pelo menos, não se podem queixar que existe democracia para o fazer.
No meu caso, lido desta maneira, João Pereira Coutinho, tornou-se em João Pereira «Coitadinho». Santana Lopes, em Santana «Copos». No caso de Alberto Gonçalves, Alberto «Gonzo» Alves.
saúde e um abraço

Jorge

Graciete Rietsch disse...

E vamos lá a ver se os tiranos "bons" não estão a congeminar outra ditadura, a favor dos seus interesses, amarfanhando de novo o Povo Egípcio.

Um beijo.

Antuã disse...

É preciso dominar os cães raivosos.

Maria disse...

Destes albertos não falará a História. Deixemo-lo vomitar o veneno com que se há-de envenenar um dia.
Já do Povo Egípcio e desta Revolução não se pode dizer o mesmo. Todo o Mundo os aplaude!

Um beijo grande.

Afonso Gonçalves disse...

Costuma dizer-se que cães que ladram não mordem, e isto aplica-se inteiramenta a este tipo de colunistas que são pagos para diariamente vociferarem contra o direito dos povos à liberdade. Dado que surgem como pequenos lacaios dos seus patrões é preciso, sobretudo, acentuar este aspecto da questão e não aquilo que escrevem como se fosse o aspecto essencial do problema.

GR disse...

Eles andam ai! de gravata, bons carros,boas habitações e empregos duvidosos.
Hoje, não têm pudor de falarem com saudade do Salazar ou até da PIDE.
O caso muda de figura quando em pequenas crónicas de jornais da terra, relembramos (com fotografias) como viviam antes de 1974; descalços, com fome, dormindo em casebre sem água, nem luz, todos juntos, como Salazar tanto gostava de ver.
Estes fascistas de ocasião esquecem depressa o que beneficiaram com a democracia.

(neste caso, de um padre, também não se pode esperar melhor!)

Bjs,

GR

Fernando Samuel disse...

svasconcelos: é um cronista-tipo da comunicação social dominante.
Um beijo.

samuel: pobre apelido, que não tem culpa nenhuma...
Um abraço.

Jorge: ou isso...
Um abraço.

Graciete Rietsch: só se não puderem...
Um beijo.

Antuã: açaimá-los?...
Um abraço.

Maria: e, feitas as contas, é isso que conta...
Um beijo grande.

Afonso Gonçalves: escrevendo onde escrevem, só podem ter um dono; escrevendo o que escrevem, só podem escrever onde escrevem...

GR: com a «democracia», queres tu dizer...
Um beijo.