A PERGUNTA QUE TARDAVA

A «moção» prossegue o seu caminho, cumprindo assim o destino previsto de projectar o BE para a ribalta mediática, sem a qual o partido de Louçã não sabe nem pode viver e que constitui a sua principal prova de vida.
Desta vez, contudo, e ao contrário do que sempre tem acontecido, as coisas não estão a correr bem para os bloquistas: há críticas, muitas, à esperteza saloia que esta operação de Louçã evidencia, sendo que algumas dessas críticas surgem no interior do próprio partido.
Mas atenção: os tradicionais apoiantes do BE nos média dominantes não dormem...

No Diário de Notícias de hoje, a jornalista Eva Cabral produz uma peça que abre com a oportuníssima pergunta:
«será que o BE podia contribuir para uma solução governativa à esquerda, funcionando à semelhança do que o CDS representa para o PSD?» (entenda-se que «à esquerda» significa, para a jornalista, com o PS...)

Ora aí está a pergunta que, nas circunstâncias actuais, se apresenta como uma excelentíssima oportunidade para o partido de Louçã dar banho à sua imagem após a sucessão de manifestações de incontinente oportunismo político vertida nos últimos meses.
Aí está, portanto, a pergunta pela qual o BE ansiava. E que tardava... mas chegou.

Foi assim que, construída a pergunta - certamente na sequência de intenso labor meníngico - a jornalista endereçou-a ao destinatário que a aguardava ansiosamente.
O sortudo foi, desta vez, João Semedo - o qual, como estava previsto, rejeitou categoricamente a hipótese da tal «solução governativa» e, recorrendo ao típico discurso bloquista - feito de frases supostamente sonoras e vivendo exclusivamente dessa suposta sonoridade - respondeu sonoramente:
«o que o BE quer é construir uma esquerda de governo para um governo de esquerda»...
Genial, não acham?
Diz-me a minha memória - e tenho todas as razões para nela confiar - que raras vezes o pensamento bloqueiro terá atingido tamanhas alturas e sonoridades.

Eu, se estivesse no lugar do líder Louçã, punha-me a pau com este Semedo.
É que, quem produz uma frase como a acima citada, revela incontestáveis - quiçá incontornáveis... - artes de liderança.
Mas não há crise: Louçã sabe isso muito melhor do que eu - e o mais certo é que, à hora a que escrevo este post, um, ou uma, qualquer jornalista, esteja já a elaborar, afanosamente, a pergunta que permitirá ao líder, uma vez mais, afirmar-se como tal, exibindo a superior qualidade da sonoridade do seu verbo.

4 comentários:

samuel disse...

Mas a verdade é que estão a passar um bocadito mal... e não estão habituados. :-)

Abraço.

A Chispa ! disse...

Basta estar atento às opiniões do PS e dos partidos à sua direita, para se concluir que essa solução é de todo enviável, por outro se o BE caísse numa dessas, era a sua desgraça total.

O papel que a burguesia capitalista reservou na actual conjuntura aos partidos da esquerda do sistema BE e PCP não é na área da governação, mas sim na contenção dos protestos do movimento social, contra a ofensiva do capital/governo, ou seja façam lá uma manifestação de vez em quando, para tirarem PRESSÃO À PANELA mas não deixem que o movimento social ultrapasse os limites de forma a colocar ordem burguesa capitalista em causa.

No entanto à ainda sectores e comentadores, como Marcelo R.Sousa, Santana Lopes,Alberto J.Jardim, Henrique Neto e outros reaccionários,que rejeitam o BE pela sua inconstância politica, mas que aceitam o PCP (dado que este é mais responsável) num governo de "salvação Nacional"

Um abraço
A Chispa!

Bolota disse...

Muito se tem dito sobre a moção que ainda não é.

Muito se vai dizer da moção que não chegou a ser…mas uma coisa tem de ser dita, com políticos destes não há sistema que aguente.

Sou da opinião que Louçâ caiu na manha de Sócrates quando na troca de palavras sobre a apresentação de uma moção de apoio ou censura ao governo , palavra puxa palavra e eis que… disse o que lhe veio á cabeça.

Senão reparem: se o dizer por dizer é politicamente condenável tendo em conta as palavras que antecederam o momento, ter sido dito depois de discutido entre os seus pares é duplamente politico/ socialmente condenável. Tentar pelos mais variados dirigentes branquear o que se passou, não é politicamente condenável é saloiice, patetice, descaramento e falta de respeito pelos seus próprios militantes.
Tentar envolver o PCP nesta pacovice é mesmo de menino da linha que nunca soube o que foi lutar para sobreviver.

Juntar a mais este episodio, o apoio ao Poeta e as desavenças com o Zé que fazia falta na câmara de Lisboa, ou muito me engano ou o BE cai de maduro…

Fernando Samuel disse...

samuel: nunca, até agora, tinham passado tão mal; veremos até quando...
Um abraço.

Bolota: aquilo é tudo uma grande trapalhada...
Um abraço.