POEMA

A ARREPENDIDA


Padre:
há quinze dias que não durmo com ninguém.

Acuso-me
de não ter ganho a vida com as mãos,
de ter tido desnecessários luxos
e três maridos, Padre,
... eram maridos de outras mulheres.

Podia ter tido muitos filhos.
Não quero voltar a fazê-lo;
vou retirar-me do ofício.
Pode recomendar-me a algum reformatório?
Vocês têm sempre boas influências.
Não vou à missa
e como carne. Sempre.
Socorro as criadas e aos pobres do bairro
nunca lhes cobro grande coisa.

Também quero dizer-lhe
que sou muito infeliz.


Glória Fuertes

8 comentários:

Anónimo disse...

LEMBRANÇA

Fui Essa que nas ruas esmolou
E fui a que habitou Paços Reais;
No mármore de curvas ogivais
Fui Essa que as mãos pálidas pousou...

Tanto poeta em versos me cantou!
Fiel o linho à porta dos casais...
Fui descobrir A Índia e nunca mais
Voltei! Fui essa nau que não voltou...

Tenho o perfil moreno, lusitano,
E os olhos verdes, cor do verde Oceano,
Sereia que nasceu de navegantes...

Tudo em cinzentas brumas se dilui...
Ah! Quem me dera ser "Essas" que eu fui,
"As" que me lembro de ter sido... dantes!...

Florbela Espanca

Anónimo disse...

Porque é o que faz falta… Vamos acordar a malta…
Avisemos os Povos… Bora daí, bora!
Bom Fim de Semana e Muita Luta!

Post Sriptum: depois respondo ao poema...

Fernando Samuel disse...

maria teresa: a «soror saudade»...
Obrigado.

Ludo Rex: Vamos tratar disso sábado, domingo e segunda...
Um abraço.

GR disse...

Mais um belo e comovente poema.
Por uma sociedade mais justa continuaremos a luta.

GR

Anónimo disse...

lindo que é este poema. já agora nao conhece esta escritora, será que o srº Fernando Samuel me podia dizer por curiosidade cultural qual a nacionalidade da senhora e se ela teve alguma carreira politica? gostava muito de saber.
um grande abraço

Anónimo disse...

desculpe eu queria dizer "nao conheço esta escritora".
desculpe o erro

Justine disse...

Apre, que isto é de fazer chorar mesmo! Que pungência! Acabei de me tornar fã desta poetisa.
Obrigada por ma dares a conhecer:))

Fernando Samuel disse...

gr: glória fuertes é assim...
Um beijo.

zé malhado: Glória Fuertes era espanhola, madrilena (1917/1998). Publicou vários livros para crianças e uma dezena de livros de poemas. Os poemas que aqui tenho publicado foram tirados da antologia «Poesia Espanhola do Após-Guerra», seleccionada e traduzida por Egito Gonçalves.
Um grande abraço.

justine: tenho tentado, em vão, encontrar outors livros dela...
Um beijo.