A propósito dos «Discursos e Notas Políticas» de Salazar, escreveu Baptista Bastos no DN de hoje:
«Está lá tudo, sem omissões, o que ele pretende fazer no País. O silêncio da Esquerda correspondeu à vacuidade do seu pensamento. Apenas o grande Raul Proença, o maior intelectual da Seara Nova, respondeu, indirectamente, ao conteúdo do texto».
Postas as coisas assim, impõem-se algumas considerações.
Se Baptista Bastos fala apenas dos que responderam «indirectamente ao conteúdo do texto» do ditador fascista, é possível que a referência solitária a Raul Proença seja correcta.
Digo: é possível - e não digo mais, por não ter à mão elementos que me permitam, com rigor, dizer outra coisa. E, sem rigor, podem escrever-se textos exemplares na sua construção mas que correm o risco grave de apenas expressar, na melhor das hipóteses, a vacuidade de pensamento de quem os escreve.
Francamente, não alcanço o critério que levou Baptista Bastos a elogiar um que - sem dúvida meritoriamente - respondeu indirectamente aos discursos do ditador; e a ignorar muitos que a esses discursos responderam directamente - em textos escritos e na luta concreta.
Desses muitos, cito Álvaro Cunhal e, deste, as intervenções feitas nos III, IV e VI Congressos do PCP, realizados na clandestinidade - intervenções que caracterizam rigorosamente a natureza da ditadura fascista e estilhaçam e fazem em pó os discursos do ditador. Directamente.
É possível que a memória de Baptista Bastos o tenha traído. Que a sua mudança de família política e ideológica tenha transformado em imensas brancas o que, antes, era conhecimento dos factos.
Ou que, sei lá, o Prévost estivesse a pensar nele quando disse que «a memória é como uma mala; metemos sempre lá dentro coisas que não servem para nada».
14 comentários:
Na minha profissão também temos disso... uns, vaidosos, à custa de tantos floreados arruinam músicas decentes, outros tentam servir-se exageradamente dos mesmos floreados para disfarçar a má qualidade da melodia.
Felizmente, o "fogo de vista" nem sempre resulta. Há por vezes uns "chatos" (como tu), que no meio das luzes e do barulho do foguetório, teimam em olhar para baixo e ver o que se está a passar na realidade.
Abraço
Pois é, as memórias por vezes incomodam, então também por vezes, há que as esconder num se bem me lembro qualquer, ou num "não me veio à memória".
Gosto de Batista Bastos e desconhecia que ele velejava por outras ideologias, se assim é, fico triste de facto. Repete-se o mesmo que aconteceu com Saramago, acredito que a idade afecte, mas assim tanto?!
Álvaro Cunhal era bem idoso e nunca perdeu o norte, sempre coerente.
Fidel está velho, sim, muito velho, contudo e com algumas falhas que vêem com a idade, o seu sentido de liberdade e a sua posição face aos Bilderberg’s deste mundo é a mesma que sempre teve desde que abraçou a revolução contra o imperialismo opressor dos EUA e seus congéneres.
Ouss
Fico triste, porque em determinada idade, bastava só a presença para já ser luta...e há pessoas que, nem isso!
Será que? Não ,não vou por aí!
Prefiro assinar, o teu post!
Também assino. Mas queria lembrar uma coisa importante: a história ensina-nos que os renegados são os piores. Pelos vistos estamos perante um exemplo.
Na mala, o BB meteu tanta coisa, por isso teve que tirar a coerência e a integridade política.
«O BB está completamente esvaziado de conteúdo!»
GR
Talvez assim alguns entendam porque é que, nos seus mails, encontram, de vez em quando, a reprodução de uns textos do BB, como se ele tivesse descoberto a forma de compensar a vacuidade do pensamento da esquerda, e de forma indirecta atacar o que outros sempre atacaram directamente e, durante décadas, na clandestinidade.
Obrigado por mais este post de desmascaração.
samuel: esta coisa toca a todas as profissões, de facto...
(eem certos casos doi ser «chato»...)
Um abraço.
sensei: pelo que temos visto, este é mal que não escolhe idades.Mas é sempre triste ver estas mutações seja qual for a idade dos mutantes...
Um abraço.
josé manangão: bastava só a presença, dizes tu, e é bem verdade...
Um abraço.
alex campos: em todo o caso, não direi que este é exactamente um exemplo disso...
Um abraço.
gr: porque as malas não são tão grandes como isso...
Um beijo amigo de boas vindas!
zambujal: o teu comentário chegou quando eu escrevia os meus e só agora o vi.
Quanto ao resto: acho que nunca podemos prescindir do espírito crítico quando lemos um texto, seja quem for o seu autor...
Abraço grande.
o BB há muito que se mudou. Todavia, ultimamente até parece uma madalena arrependida só que esta não tinha nada de que se arrepender.
antuã: a pobre madalena teve que se arrepender de... nada...
Um abraço.
Há pessoas que insistem em terem memória curta, ou falta dela...
Não sendo este o caso, só poderá ser... o que tu dizes...
Um beijo
-Deve ser da idade... coitado!
a.ferreira
maria: pois...
Um beijo.
anónimo: ou da velhice...
Um abraço.
Qual Prévost?
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