POEMA

CANÇÃO DO MESTIÇO

Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando côr
no olho alumbrado de quem me vê.

Mestiço!

E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição
como 1 e 1 são 2.

Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:
- mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.

Ah!
Mas eu não me danei...
e muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor!...

Mestiço!

Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
sou negro

Pois é...

Francisco José Tenreiro
(in Ilha de Nome Santo)

8 comentários:

Maria disse...

:)
Não conhecia, é lindo!

Um beijo

Anónimo disse...

O SÃO E O LOUCO

"Ninguém de siso compra uma briga
Nem o louco é vaidoso por vontade
O sábio pode ser mentiroso
O crente pode não saber rezar
O político que perdeu é vencedor
O intelectual pode até ser um doutor
O artista premiado passa fome
Mas no fim quem ri melhor?
O louco que se sentou no telhado,
E pelas estrelas foi amado."

Maria Eugénia Delmas (1928)

Anónimo disse...

Correcção: o poema "O SÃO E O LOUCO" é da autoria de Maria Filomena Gomes (1961)e não da Maria Eugénia Delmas

Fernando Samuel disse...

maria: Francisco José Tenreiro é o único poeta africano do «Novo Cancioneiro» - vamos voltar a tê-lo aqui connosco.

maria teresa: obrigado por trazer aqui poetas (e poemas) por mim até agora desconhecidos.

samuel disse...

O que é mais engraçado é que quase todos somos mestiços...
Menos Hitler, claro, que como toda a gente sabe, era louro, alto, de olhos azuis... e quimicamente puro.

Fernando Samuel disse...

samuel: o exemplo acabado da raça pura...

Anónimo disse...

orgulho-me por ser descendente de todos os povos que habitaram a Península Ibérica.

Fernando Samuel disse...

antuã: e é um orgulho são...