ESTÓRIAS DE ESTORIADORES...

Passada a data e feito o balanço de como ela foi festejada nos média nacionais, constata-se que estes, no seu conjunto, dedicaram umas dez páginas ao tema - falo apenas de jornais, já que praticamente não frequento televisões nem rádios.
O tema era Checoslováquia/1968: a «Primavera de Praga» e os «tanques soviéticos», cozinhados com todos os condimentos próprios do anticomunismo trivial, isto é, repetitivo, recorrente - e confirmando que, enquanto o capitalismo for o sistema dominante no mundo, a «história» desses acontecimentos será a que eles escrevem.
Curiosamente, o que os jornais de 2008 escreveram sobre o assunto é, no essencial, o que em 1968 escreveram o Diário de Notícias, o Século, o Diário da Manhã... - os de hoje, contudo, talvez num jeito anticomunista mais enraivecido...

No que os jornais de hoje diferem dos de então é no que toca ao PCP.
Por razões óbvias: hoje há um exército de estoriadores que, tendo como tarefa proceder ao branqueamento do fascismo, tudo faz para menorizar a resistência antifascista e, muito especialmente, o papel do PCP nessa resistência - e tudo lhes serve de pretexto para contar estórias sobre a luta dos comunistas contra o fascismo.

Assim, em título, um desses jornais gritou que os «tanques soviéticos também arrasaram a hegemonia do PCP» - e para confirmar o arrasamento chamou a depor, entre outros, Fernando Rosas (FR), que nesta área da Estória é insuperável.
Como lhe era pedido, FR confirmou que sim senhor: o PCP devido à posição que tomou, «perdeu a hegemonia junto da oposição de esquerda» - e quem encontrou a hegemonia perdida foram, é claro, os estudantes, os sectores católicos, blá, blá, blá...

E segue-se um exemplo comprovativo dessa perda da hegemonia pelo PCP: o de FR, ele próprio e por ele próprio confirmado.
Diz assim: «o historiador e actual deputado do BE tinha então 22 anos, estava na Faculdade de Direito de Lisboa, não era militante, mas o PCP era o seu partido» - «era» mas logo deixou de ser, porque «o CC do PCP apoiou a invasão» e isso para FR «foi a gota de água» que o levou a afastar-se do PCP.
Aqui chegado, o leitor distraído e (ou) desinformado não pode deixar de concluir... o que jornal e estoriador querem que ele conclua, a saber: que o que levou FR a afastar-se do PCP - e a entrar para o MRPP... - foi a sua atitude de, digna e corajosamente, se opor aos «tanques soviéticos»...

Ora, as coisas não foram exactamente assim. Bem longe disso.
E é sintomático que FR fuja sempre à verdade em relação a esta matéria.
Atenção: não se lhe exige que conte a história toda - isto é: que foi militante do PCP; que, nessa qualidade, foi preso pela pide; que etc, etc, etc.
O que se lhe exige é que, também sobre isso, se deixe de contar estórias...
Quanto mais não seja por respeito por si próprio.

10 comentários:

Anónimo disse...

Ó Fernando samuel
O homem começa a ter respeito por ele próprio, e depois que é que lhe paga para ele contar estórias?
É que a (esquerda) cáviar, não se sujeita!

samuel disse...

A forma como os "fernandos rosas" desta vida contam o passado, diz muito sobre a honestidade intelectual com que vivem o presente e não augura nada de bom para o futuro...

Anónimo disse...

Quem se lembra de Março de 1962?

Anónimo disse...

Ás vezes apetece rachar a direito e dizer a verdade toda, não é, Fernando Samuel? Eles lá ficam com a sua pequena história, os palanques que lhes proporcionam e a sua "verdade".
Um abraço e até breve

Anónimo disse...

Lendo o seu post devo dizer o seguinte:
ninguém pode tirar o mérito do PCP pela resistencia e na luta contra o fascismo. O PCP teve um papel decisivo na época porque conseguiu incomodar os burgueses fascistas, e foi unica força da oposição. Nenhum "estoriador" pode limpar ou tirar do mapa o PCP. Portanto dai estou plenamente de acordo consigo.
Mas, obviamente que o drº Cunhal apoiou a invasao à Checoslovaquia, e claro que o PCP tendo uma admiração pela URSS tambem apoiou a invasao. Dai que acho bem que se conte e divulgue, a historia daquela desumana invasao, que foi um acto de totalitarismo, contra um país que lutava pela liberdade e pela democracia. Ha documentarios, imagens que mostram o sofrimento daquela época.
Um abraço

J.Z.Mattos

Maria disse...

Se o FR tivesse respeito por ele próprio estava caladinho, muito caladinho...
... mas acontece que ele se vende a cada minuto, incluindo o respeito (que já não tem) por ele.

Um beijo amigo

Anónimo disse...

Durante os anos em que existiu a URSS, houve sempre, e sempre mais refinada, uma campanha em favor da "liberdade e democracia" de alguns países e povos, luta instigada, fomentada, financiada, por quem de "liberdade e democracia" tem concepções que são verdadeiramente aberrantes, desumanas, criminosas.
Sempre se alimentou uma Hungrilónia, um Vietnamistão, um Chilcuba.
Não aceitemos a história que, pela repetição da mentira (mesmo depois de denunciada), pela manipulação das imagens (mesmo depois de corrigidas, em data e local), nos querem impingir!

Anónimo disse...

O Dubcek era um revisionista que teria feito o papel daquele palhaço da Polónia o Walesa,...vender-se....a invasão foi muito bem feita para pôr um travão nos reaccionários que queriam acabar com o modelo mais justo e humano de sociedade !!

Anónimo disse...

"Walesa": "palhaço"
"invasão": "muito bem feita"?
"travão": "reaccionários"?
"modelo mais justo e humano de sociedade!!"

Walesa ganhou o prémio nobel da Paz e queria mudar o seu pais das garras dos ditadores comunistas.
Invasão? Ok entao a invasao americana do Iraque e Afeganistao tambem foi um espectáculo, foi contra esses povos que eram reaccionários.
Claro o modelo comunista na Europa de Leste: esses paises estavam felicissimos, era o pais das maravilhas, democracia plena, sem censura, economia riquissima, nao havia desigualdade, riqueza em abundancia.

J.Z.Mattos

Fernando Samuel disse...

josé manangão: o respeito por si próprio... é uma boa mercadoria...
Abraço.

samuel: passado, presente e futuro: isto anda tudo ligado...
Abraço.

maria teresa: março de 62: um grande mês de um grande ano: greve dos estudantes das três universidades; o maior 1º de Maio da história do movimento operário; mais de 150. 000 operários agrícolas do Alentejo impõem as 8 horas de trabalho; etc, etc, etc.
Um beijo.

aristides: se apetece!...
Abraço.

J.Z.Mattos: «o dr. Cunhal apoiou a invasão...»: onde é que eu já li isto.. e mais tudo o que se segue?...
Um abraço.

maria: vender-se, é profissão pelos vistos bem remunerada...
Um beijo grande.

zambujal: a história deles é feita tendo em vista os interesses deles, e enquanto o sistema dominante for este... temos que continuar a luta...
Abraço.

mugabe: apesar dos muitos defeitos e erros e etc, a tentativa de construção de sociedades socialistas na URSS e no Leste da Europa, mostrou que o futuro é possível...
Abraço.

J.Z.Mattos: experimente, por breves momentos que seja, pôr de parte tudo o que «sabe» e olhar para a realidade: vai ver que tudo sera diferente...