A MUDANÇA

Obama traz consigo a MUDANÇA: disse-o ele próprio desde a início da campanha e têm vindo a repeti-lo os seus admiradores aqui em Portugal, sublinhando, todos, a novidade que é esta promessa de MUDANÇA, coisa rara e nunca antes vista nos EUA.
Hoje mesmo, no Público, Ana Gomes, escrevendo de Denver, produziu um excitadíssimo texto - «Completa rendição a Obama» - em que nos informa sobre as reacções nela provocadas pelo discurso do líder, que ouviu com «a cabeça e o coração fervilhantes de admiração, contentamento e esperança».
Ana acha que, ali, «estava a assistir à história e ao sonho de Martin Luther King a realizar-se». E acha que «Obama é um líder progressista de tipo novo», pelo que «os americanos têm de o eleger: todos ficaremos a ganhar. Porque a grande mudança que Obama quer trazer à América porá ao alcance de toda a humanidade um mundo melhor, mais seguro e mais justo».

Cá temos, sempre presente, a palavra chave e supostamente nova: MUDANÇA.
Supostamente nova, mas de facto já com idade avançada. Como irei recordar, assumindo o papel de desmancha prazeres... - e, pior do que isso, correndo o risco de os visitantes do Cravo de Abril, fartos das eleições nos EUA, passarem ao lado deste post...

O primeiro candidato à presidência dos EUA a afirmar-se portador de um «mandato de mudança», fazendo disso o tema principal da sua campanha, em 1951 - ainda o Obama não era nascido... - foi Eisenhower.
Tratou-se, aliás, de uma campanha inovadora: Eisenhower foi, também, o primeiro a contractar uma agência de publicidade - que, obviamente, lhe criou o slogan da «mudança»... - e foi, ainda, o primeiro a encomendar uma sondagem à boca das urnas (obviamente sugerida pela dita agência...)
Eisenhower foi eleito.
Quanto à «mudança»: no plano interno, o maccarthismo atingiu o auge...; e, no plano externo, os EUA, em 1954, derrubaram o governo democrático de Jacob Arbenz, na Guatemala, e substituiram-no por um governo fascista (e dois anos depois esmagaram uma revolta contra esse governo fascista); em 1958, impediram a eleição de Allende, no Chile; em 1960 começaram a preparar a invasão de Cuba, naBaía dos Porcos (que seria concretizada no mandato de Kennedy) - isto para referir apenas algumas expressões concretas da «mudança» prometida por Eisenhower.

Em 1992, Clinton recuperou o lema de Eisenhower: o seu «mandato para a mudança» correu mundo, acendeu esperanças e emoções, foi elogiado por todas as anas gomes da época...
Clinton foi eleito - para a «mudança» - substituindo Georges Bush (o pai deste filho).
O conteúdo da «mudança» introduzida por Clinton na política dos EUA, pode ser resumido assim:
o último acto de Bush enquanto presidente foi, dias antes de abandonar o poder, ordenar o disparo de 45 mísseis Tomahawk contra um complexo industrial nos arredores de Bagdad (um dos quais atingiu o Hotel Rashid);
o primeiro acto do «mandato para a mudança» de Clinton, foi ordenar um ataque com 23 mísseis Tomahawak contra o centro de Bagdad.
No dia seguinte, à saída da missa, o «profundamente religioso» Clinton - transpirando «mudança» por todos os poros - comentou assim o êxito do ataque: «as notícias que recebi fazem com que me sinta muito satisfeito, e penso que o povo dos EUA deve sentir-se também muito sastisfeito».

Mas não percamos a esperança: a «mudança» de Obama está aí não tarda.
E se ela não chegar, não percamos a esperança na mesma: ouvi dizer que o McCain também não é nada mau em matéria de «mudança»...


8 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post. Mais um!
A mudança: uma ideia (de idade) avançada, diria mesmo de uma 4ª idade, senil.
E mais: só se ilude quem quer viver iludido/a para iludir os outros/as. Já agora: algum respeitinho pelo Luther King!

Anónimo disse...

hehehehehehe,..realmente destas "mudanças" estamos nós fartos !!!

Os EUA são um sistema totalmente controlado pelo lobby sionista, ninguém chega lá e muda o que quer que seja, quem lá puser o Obama também o tira se ele chatear muito...!! bom post !!

alex campos disse...

Eles são todos muito bons nesse desporto chamado "mudança". Mas é a história que nos ensina que as coisas têm de mudar para continuarem na mesma.
Excelente post. O género de artigo que não se vê na imprensa escrita. Poque será?

samuel disse...

Tanta mudança... ele será patrocinado por alguma empresa de transportes?

Crixus disse...

A unica mudança que Obama vai fazer, se for eleito, é a mudança dos seus pertences para a Casa Branca. De resto, tem de se mudar um pouco (na aparencia) para ficar tudo na mesma...

Maria disse...

Farta das eleições americanas estou, mas passar ao lado deste post nunca...
Por cá também tivemos há muitos anos um slogan que era "mudança na continuidade", e ao lado "evolução sem revolução"... onde é que eu já ouvi isto?
Por lá será o mesmo: a mudança na continuidade....

Excelente post. Mas qual deles não o é?

Um beijo grande

Anónimo disse...

É o costume, eles mudam tudo, para não mudarem nada!
Já me sentei numa boa poltrona, vou ficar à espera que ele me surpreenda!

Fernando Samuel disse...

zambujal: o sonho de Luther King era um sonho - o do Obama é... o do Obama...
Abraço grande.

mugabe. o sistema é implacável...
Abraço grande.

alex campos: é a especialidade deles...
Abraço grande.

samuel: boa!
Abraço grande.

crixus: e é o que ele está a fazer, de facto.
Abraço grande.

maria: este tipo de sonhos tem tendência a pairar na mesma família...
Beijo grande.

poesianopopular: bem podes esperar...
Abraço grande.