POEMA

CANÇÃO DO MESTIÇO


Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando a cor
no olho alumbrado de quem me vê.

Mestiço!

E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição.

Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:
- mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.

Ah!
Mas eu não me danei...
e muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor!...

Mestiço!

Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
sou negro...

Pois é...


Francisco José Tenreiro

4 comentários:

samuel disse...

A solução é amar...

Abraço.

svasconcelos disse...

... porque quando se ama não se distrinçam cores, somos só homens. Iguais.
beijo,

Graciete Rietsch disse...

Com amor ou sem amor, um ser não se define pela côr da pele. Basta comparar o Luther King com o Obama.

Um beijo.

Maria disse...

A soma do amor... e é bonito!

Um beijo grande.