POEMA

MARCHA


Lá vem o cortejo
pela rua fora
tocando os seus gritos
de que está na hora.
Estremecem vidraças
tremem os portões
na casa da praça
e a velha transida
com medo da morte
por medo da vida
lá vai aos baldões
estreitar-se ao pescoço
do seu cão de caça.

Vêm baionetas
correndo em tropel
mais metralhadoras
gargalhando triste
e tinta a granel
de mangueira em riste.
Lá vêm a passo
os lacrimogéneos
os arquimausgénios
capacetes de aço.
Lá vêm em bicha
defender vidraças
defender portões
defender a praça
defender a velha
defender o cão
defender a caça.

E viva o poeta
que tem tanta graça.


Francisco Viana

3 comentários:

samuel disse...

E teve mesmo! É muito bom! :-)))

Abraço.

Maria disse...

Acabei de ler o poema a sorrir...

Um beijo grande.

Graciete Rietsch disse...

Com ironia muitas verdades se dizem!
E, no tempo do fascismo, muito se usava este processo. No entanto este poema é bem claro naquilo que pretende transmitir.

Um beijo.