«A HISTÓRIA DA PIDE»

O FASCISMO EXISTIU


O Público de hoje dedica três páginas ao lançamento próximo de um livro, «A história da PIDE», cuja autora, Irene Flunser Pimentel, entrevista.

Trata-se, segundo nos é dito, da «primeira tese de doutoramento em Portugal sobra a PIDE, ou seja, sobre a polícia política do Estado Novo entre 1945 e 1974», e que «traz à luz do dia em pormenor a história da polícia política criada pelo salazarismo».

A tese, é-nos dito, conclui que «esta estrutura de repressão mata pouco e prende pouco» - e, ou muito me engano (e espero bem que sim), ou essa conclusão vai ser o grande destaque dos média nacionais por ocasião do lançamento do livro. Aguardemos.

A Autora optou, legitimamente, aliás, por limitar o seu estudo ao tempo posterior à Segunda Guerra Mundial, altura a partir da qual «o regime tem de fazer uma determinada cosmética relativamente às suas polícias». Ou seja (isto digo eu): após a derrota do nazi-fascismo, o regime fascista português virou-se para os seus novos aliados, os EUA e a Grã-Bretanha, e fingiu uma «democratização» que se traduziu, entre outras medidas, na substituição da tenebrosa PVDE pela não menos tenebrosa PIDE (que Marcelo substituiria, mais tarde, pela igualmente tenebrosa DGS), mudando-lhe o nome mas mantendo o carácter, a natureza, os métodos e, naturalmente, os torturadores.

Reconhece a Autora, no entanto, que houve «uma repressão mais maciça até 45», altura «em que não se ensaiavam em matar as pessoas», em que «havia gente a eito nas cadeias» e em que havia «o Tarrafal».
Depois, entre 1945 e 1974, pela força das circunstâncias, foram obrigados a matar pouco e a prender pouco... Prenderam apenas «cerca de 15.000 pessoas» e mataram apenas «onze» - cujos nomes são citados.

Dado o critério utilizado pela Autora, percebe-se que não tenha incluído nesses onze nomes os de Germano Vidigal - assassinado pela ainda PVDE em 28/5/45 e em cujo cadáver o fascismo deixou marcas iniludíveis da sua brutalidade: unhas arrancadas e o corpo coberto de feridas e nódoas roxas; e o de Alfredo Diniz (Alex) - assassinado em 4/7/45 pela brigada comandada pelo sinistro José Gonçalves.

E, porque o livro trata apenas dos resistentes antifascistas assassinados directamente pela PIDE, é igualmente compreensível que não sejam referidos os nomes de outros combatentes da liberdade assassinados pelo regime fascista no período a que a Autora se reporta, mas cujos nomes faço questão de aqui relembrar: António Guerra, António Lopes de Almeida, Venceslau Ferreira, Gervásio Costa, Alfredo Lima, Catarina Eufémia, Rafael Tobias, José Adelino dos Santos, Cândido Martins (Capilé), António Adângio, Estêvão Giro, Agostinho Fineza.

Aguardo a publicação de «A história da PIDE» e, muito provavelmente, voltarei ao tema - espero que para me congratular com a publicação de um livro que vem contribuir para o combate à poderosa operação em curso, visando o branqueamento do fascismo.
Espero e desejo.

Todavia, não posso deixar de assinalar o facto preocupante de, nas três referidas páginas do Público, a palavra «fascismo» não ser utilizada uma única vez para caracterizar o regime que durante 48 anos oprimiu e reprimiu Portugal e o povo português.

É que, como «A história da PIDE» deverá evidenciar- espero - o fascismo existiu.
Aqui. Em Portugal.






2 comentários:

GR disse...

Pouco se escreveu e escreve sobre os horrores da PIDE.
Para além das Edições Avante e de alguns artigos esporádicos, a juventude não tem conhecimento sobre esta matéria.
«esta estrutura de repressão mata pouco e prende pouco»
Mata pouco e prende pouco???
Como é possível fazer uma afirmação destas? Mataram 11??? E todos os outros? Quantos morreram no Tarrafal? E nas ruas? Como Dias Coelho? Nas prisões? Nas suas casas? Como Dr. Ferreira Soares (Stª Mª da Feira/Aveiro.Não há concelho nenhum do país onde não esteja enterrado um Resistente assassinado pela PIDE! Não esquecendo o número (talvez desconhecido) de tantos que após saírem das prisões fascistas, vieram a falecer devido aos maus-tratos provocados pela PIDE.
E os Resistentes que ainda hoje sofrem os traumas causados pela PIDE? As torturas podem não ser visíveis fisicamente, psicologicamente estão gravadas em todos que heroicamente as sofreram!
A PIDE fez atrocidades irreparáveis, o regime fascista de Salazar não pode ser branqueado e esquecido. É importante que se escreva, fale, estude sobre esta matéria,com honestidade e verdade!
Porque o fascismo existiu!

GR

GR disse...

Só hoje li a entrevista no jornal Público. Está tudo explicado.
Orientador o Fernando Rosas?!!!
Agora já entendo!
Não irei gastar um tostão a comprar o livro, poderei desfolhar quando estiver na Biblioteca.

GR