POEMA

NATUREZA-MORTA COM FRUTOS

1
O sangue matinal das framboesas
escolhe a brancura do linho para amar.

2
A manhã cheia de brilhos e doçura
debruça o rosto puro na maçã.

3
Na laranja o sol e a lua
dormem de mãos dadas.

4
Cada bago de uva sabe de cor
o nome dos dias todos do verão.

5
Nas romãs eu amo
o repouso no coração do lume.

Eugénio de Andrade

4 comentários:

samuel disse...

Eu sei que ele sofria muito para o conseguir... mas mesmo assim é uma coisa sem explicação, a promessa em cada sílaba, de que a palavra vai ser a única possível, de que o verso vai ser sublime...
(estou a esticar-me!)

Abraço

Maria disse...

Este Eugénio deixou-me sem palavras...

Obrigada, Fernando Samuel.

Um beijo

Anónimo disse...

Por alguma razão se gosta de Eugénio de Andrade!

Fernando Samuel disse...

samuel: «cada bago de uva sabe de cor
o nome dos dias todos do verão»...
Um abraço.

maria: sem palavras...
Um beijo.

josé manangão: por alguma razão...
Um abraço.