COZIDO COM TODOS
Receita
Ingredientes:
Dois quilos de mentiras do lombo; meio quilo de meias-mentiras do cachaço e outro tanto de meias-verdades da alcatra; 5 gramas de verdades de fumeiro em pó; gorduras várias (de preferência importadas: não importa donde, desde que venham da Europa e, ou, dos EUA); cinco quilos de modernidade-sindical (ms); anticomunismo-com-barbas (acb) que baste.
Dos ingredientes fazem parte, ainda: os donos do cozinhado, cujos nomes em caso algum podem ser revelados, não obstante serem do conhecimento geral; o maior número possível de ajudantes-de-cozinha (adc) - sem os quais não há cozinhado; e as fontes anónimas (fa), que verterão na comunicação social dominante tudo o que se considere necessário para a boa execução da receita (quando a situação o exigir, estas fa devem identificar-se publicamente, exibindo os respectivos currículos).
Confecção:
Cobre-se o fundo de um tacho grande - muito grande! - com as gorduras importadas, junta-se-lhes um suculento naco de acb e põe-se ao lume. Quando as gorduras estiveram derretidas, adiciona-se um terço das mentiras do lombo, um reluzente pedaço de ms, e vai-se mexendo (para o que deverão entrar de serviço de escala dois ou três adc escolhidos a dedo).
Antes de cheirar a esturro, junta-se uma parte das meias-verdades da alcatra e, se for necessário, pode acrescentar-se um salpico de verdades de fumeiro em pó.
Deixa-se cozer em lume brando, mas sem parar de mexer (entra de serviço outra brigada de adc, sempre escolhidos a dedo), e vão-se adicionando, em pequenas quantidades, todos os ingredientes, por esta ordem: mentiras do lombo, acb, ms, meias-mentiras do cachaço, acb, ms, meias verdades da alcatra, acb, ms, e assim sucessivamente. As verdades de fumeiro em pó devem ser utilizadas com rigor cirúrgico: um salpico a menos ou um salpico a mais pode ser a morte do cozinhado.
Se os donos do cozinhado não estiverem impacientes de fome, repete-se esta operação até à utilização de todos os ingredientes.
Se a impaciência for notória, mistura-se tudo de uma só vez.
Se a impaciência assumir carácter de urgência, tapa-se o tacho bem tapado, põe-se o lume no máximo, deixa-se cozer (se necessário, e em extrema urgência, até cheirar a esturro) e serve-se, com efeitos especiais, nas primeiras páginas da comunicação social dominante.
Cinco advertências essenciais:
1) - Nunca - mas nunca! - esquecer quem são e o que querem os donos do cozinhado, e nunca - mas nunca! - revelar os seus nomes;
2) - Nunca - mas nunca! - esquecer que o anticomunismo-com-barbas é o ingrediente fundamental do cozinhado;
3) - Nunca - mas nunca! - parar de mexer o cozinhado, recrutando-se no centro comercial da modernidade-sindical todos os ajudantes de cozinha disponíveis e pagando-lhes o que for necessário - ou a pronto, ou com promessas de futuro, ou;
4) - Nunca - mas nunca! - deixar secar as fontes anónimas, que constituem tempêro indispensável em cozinhados desta natureza - mas recorrer às fontes identificadas e com currículo sempre que as circunstâncias o exijam;
5) - Nunca - mas nunca! - ultrapassar os 5 gramas de verdade de fumeiro em pó. Como acima se disse, um pequeno salpico a mais ou a menos, é suficiente para que o cheiro a esturro leve os trabalhadores a torcer o nariz ao cozinhado e a continuar a luta - cada vez mais unidos e cada vez com mais força, contra os donos do cozinhado.
Receita
Ingredientes:
Dois quilos de mentiras do lombo; meio quilo de meias-mentiras do cachaço e outro tanto de meias-verdades da alcatra; 5 gramas de verdades de fumeiro em pó; gorduras várias (de preferência importadas: não importa donde, desde que venham da Europa e, ou, dos EUA); cinco quilos de modernidade-sindical (ms); anticomunismo-com-barbas (acb) que baste.
Dos ingredientes fazem parte, ainda: os donos do cozinhado, cujos nomes em caso algum podem ser revelados, não obstante serem do conhecimento geral; o maior número possível de ajudantes-de-cozinha (adc) - sem os quais não há cozinhado; e as fontes anónimas (fa), que verterão na comunicação social dominante tudo o que se considere necessário para a boa execução da receita (quando a situação o exigir, estas fa devem identificar-se publicamente, exibindo os respectivos currículos).
Confecção:
Cobre-se o fundo de um tacho grande - muito grande! - com as gorduras importadas, junta-se-lhes um suculento naco de acb e põe-se ao lume. Quando as gorduras estiveram derretidas, adiciona-se um terço das mentiras do lombo, um reluzente pedaço de ms, e vai-se mexendo (para o que deverão entrar de serviço de escala dois ou três adc escolhidos a dedo).
Antes de cheirar a esturro, junta-se uma parte das meias-verdades da alcatra e, se for necessário, pode acrescentar-se um salpico de verdades de fumeiro em pó.
Deixa-se cozer em lume brando, mas sem parar de mexer (entra de serviço outra brigada de adc, sempre escolhidos a dedo), e vão-se adicionando, em pequenas quantidades, todos os ingredientes, por esta ordem: mentiras do lombo, acb, ms, meias-mentiras do cachaço, acb, ms, meias verdades da alcatra, acb, ms, e assim sucessivamente. As verdades de fumeiro em pó devem ser utilizadas com rigor cirúrgico: um salpico a menos ou um salpico a mais pode ser a morte do cozinhado.
Se os donos do cozinhado não estiverem impacientes de fome, repete-se esta operação até à utilização de todos os ingredientes.
Se a impaciência for notória, mistura-se tudo de uma só vez.
Se a impaciência assumir carácter de urgência, tapa-se o tacho bem tapado, põe-se o lume no máximo, deixa-se cozer (se necessário, e em extrema urgência, até cheirar a esturro) e serve-se, com efeitos especiais, nas primeiras páginas da comunicação social dominante.
Cinco advertências essenciais:
1) - Nunca - mas nunca! - esquecer quem são e o que querem os donos do cozinhado, e nunca - mas nunca! - revelar os seus nomes;
2) - Nunca - mas nunca! - esquecer que o anticomunismo-com-barbas é o ingrediente fundamental do cozinhado;
3) - Nunca - mas nunca! - parar de mexer o cozinhado, recrutando-se no centro comercial da modernidade-sindical todos os ajudantes de cozinha disponíveis e pagando-lhes o que for necessário - ou a pronto, ou com promessas de futuro, ou;
4) - Nunca - mas nunca! - deixar secar as fontes anónimas, que constituem tempêro indispensável em cozinhados desta natureza - mas recorrer às fontes identificadas e com currículo sempre que as circunstâncias o exijam;
5) - Nunca - mas nunca! - ultrapassar os 5 gramas de verdade de fumeiro em pó. Como acima se disse, um pequeno salpico a mais ou a menos, é suficiente para que o cheiro a esturro leve os trabalhadores a torcer o nariz ao cozinhado e a continuar a luta - cada vez mais unidos e cada vez com mais força, contra os donos do cozinhado.
6 comentários:
Junte-se hipocrisia q.b.,uma boa dose de dúbios critérios jornalísticos; ressuscite-se o cadáver que afinal não estava morto e aí temos a caldeirada rançosa, a açorda fria de que falava o Poeta.
Pobres de espírito!
Um abraço, camarada Fernando Samuel
Aí está o prato do dia, muito suculento, dos donos do Capital! Que é servido diariamente neste nosso Portugal!
Abraço do tamanho do mundo.
Será servido na véspera do dia 1 de Março!
Porque é uma receita bastante indigesta, no dia 1 de MARÇO, iremos reclamar com toda a força e determinação “contra os donos do cozinhado”.
Fernando Samuel,
Parabéns por este magnífico texto (receita).
GR
Temos que lhes cortar o fornecimento do combustível por falta de pagamento das promessas em tempos eleitorais. Depois temos que mandar os cozinheiros trabalhar que é coisa que eles têm que aprender.
Ó Fernando Samuel
Um cozinhado de merda feito por merda só pode acabar num desarranjo intestinal.Vamos deixá-los chafurdar, pode até acontecer que. os trabalhadores lhes enfiem o cozinhado pela goéla abaixo, já não era a primeira vez!
O que espanta nestes conspiradores é que, sendo tão criativos, modernos e geniais como dizem ser, se repitam sempre, sempre: nos métodos, no raciocínio, na natureza das golpaças, etc, etc...
Beijos e abraços para vocês todos.
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