Veja- Parte III

"Em seis meses de comando em La Cabaña, duas centenas de desafetos foram fuzilados".

Mais uma mentira. Na verdade, foram cerca de 550 condenados à morte e não eram "desafetos" ou apenas "gente incômoda", como diz Veja. Eram, principalmente, corruptos e torturadores do antigo regime. A matéria não diz, mas Che proibia tortura e fuzilamentos de soldados feridos ou já rendidos. Isso conta o biógrafo Jon Lee Anderson, utilizado por Schelp como escora para dar algum peso a seu texto imundo.

"Che descreve como executou Eutímio Guerra, 'acusado' de colaborar com os soldados de Batista".

Guerra, segundo descreve a brasileira Claudia Furiati, autora de uma das principais biografias de Fidel, recebeu uma arma do exército cubano e a ordem de executar Castro enquanto este dormia. Não o fez porque sempre havia sentinelas de plantão nos acampamentos rebeldes. A cada deslocamento da guerrilha, porém, a Força Aérea Cubana atacava o local, coincidentemente sempre que Eutímio deixava o acampamento.
Os rebeldes desconfiaram de seu comportamento, interrogaram-no e ele acabou confessando que era agente do exército. Foi julgado, no meio da selva, e condenado à morte, como ocorreria com um traidor em qualquer outra guerrilha do mundo. A justiça guerrilheira nada mais é que uma corte marcial adaptada às circunstâncias do momento. Guerra pediu que os rebeldes, caso triunfassem, educassem seus filhos. Hoje, seus descendentes são oficiais das Forças Armadas Revolucionárias.
Fidel não determinou quem executaria a tarefa de execução do traidor. Che Guevara realmente assumiu a incumbência, fato incontestável e, entre tantas linhas, um dos poucos acertos de Schelp.
Apenas deve se registrar que ele não matou um pobre camponês, mas um homem que pôs a vida de centenas de outros em risco. Por que, segundo a lógica de Schelp, os guerrilheiros podem e devem ser bombardeados por conta de uma delação e correr risco de morte e o responsável pela traição não pode ser executado?

"Ernesto Guevara Lynch de la Serna nasceu em uma família de esquerdistas ricos na Argentina".

Mais uma atrocidade de Schelp, que sequer conhece o nome da vítima de sua caneta. O nome de Che era simplesmente Ernesto Guevara, segundo os registros argentinos, e seus pais não eram ricos nem esquerdistas. Nenhum deles tinha filiação partidária, eram abertamente contra o governo Perón, que seduziu a esquerda argentina com seus projetos voltados aos descamisados, como a primeira-dama Eva Perón costumava se referir aos segmentos mais humildes da população argentina. Ernesto Guevara Lynch e Celia de la Serna, os pais, tampouco eram ricos. Viviam como um típico casal de classe média alta, se tanto. Moraram na Recoleta, o bairro mais elegante de Buenos Aires, quando a avó de Che morreu e lhes deixou como herança um apartamento. Claro que Veja não conta tudo em detalhes. Informar não é função do jornalismo da Abril.

1 comentário:

GR disse...

Tudo que a VEJA escreveu, contradiz o Diário de Che, livros de Fidel e tantos outros escritos, áudio visuais. É a negação da própria História.

GR