DIGNIDADE REVOLUCIONÁRIA
Jurdan Lutibrodski, operário, militante comunista, foi preso em meados de 1934 pela polícia da ditadura fascista que, então, oprimia e reprimia o povo búlgaro. A mulher estava grávida.
Em Dezembro desse ano foi condenado à morte. Nunca viu o filho, entretanto nascido.
Em Maio de 1935, pouco antes da data da execução, os fascistas propuzeram-lhe o perdão da pena e a libertação se assinasse uma declaração condenando a sua actividade revolucionária, renegando-a e exortando os seus camaradas a fazerem o mesmo.
O pai de Jurdan, desesperado, escreveu ao filho suplicando-lhe que assinasse a declaração.
Eis a resposta do jovem Jurdan Lutibrodski ao pai:
»Prisão de Varna, 3 de Maio de 1935
Querido pai:
Recebi a tua carta há alguns dias. Aconselhas-me a tudo fazer para escapar à forca. E escreves: «Fá-lo ainda hoje porque amanhã será tarde de mais».
Não compreendes que essa proposta não é a salvação, mas a morte, ainda que me reste a vida?
Para que o compreendas, é preciso examinar a questão a fundo.
Acutalmente, a burguesia conseguiu desfechar golpes severos sobre o proletariado e o seu Partido. Mas será que isso quer dizer que a dominação burguesa esteja estabilizada e a vitória final não pertence ao proletariado? Não! Se não for hoje, será amanhã: o proletariado vencerá a classe agonizante e, graças ao seu Partido, impulsionará o desenvolvimento da sociedade humana. Nós, filhos dessa classe ascendente e membros da sua vanguarda consciente, não devemos temer pelas nossas vidas e, assim, sacrificar o prestígio do Partido.
Para que queremos, pai, as nossas vidas, se nos sujeitarmos à condição de cadáveres vivos com o auxílio dos quais a classe reaccionária se esforçará por levar a decomposição às fileiras do proletariado revolucionário?
E eu, pai, a quem eles teriam deixado viver para prolongarem a sua própria existência, para que quereria eu a minha vida?
Não, antes morrer permanecendo vivo no coração da minha classe! Antes morrer do que ser cadáver vivo e fedorento!
Dizes-me: «Pensa na tua companheira e no teu filho, pensa na Marta e no Ilitch, que farão sem ti?».
Eu penso muito neles, pai. Eu mesmo não sei como exprimir-lhes o amor que lhes tenho. Quando penso neles, uma amargura imensa apossa-se de mim e sinto como que um chumbo no meu peito, um sofrimento que me obriga a cerrar os dentes tão fortemente que rangem - e, não obstante, prometo a mim próprio resistir, conservar as minhas forças e continuar combatendo até ao último momento contra a classe que é responsável, não apenas pelo facto de o meu Ilitch ficar sem mim, mas também pelo facto de milhões de famílias terem que viver na miséria, nas privações e na fome.
Em vista dos milhões de desempregados, do perigo de uma nova guerra cujo horror é inconcebível para o cérebro humano, em vista de milhões de vítimas que abaterá, não apenas entre os soldados, mas também entre as mulheres e as crianças, em vista de todos os horrores que o capitalismo nos traz e nos trará ainda, como poderia eu dar ao inimigo uma arma para ele continuar a sugar o sangue dos trabalhadores? Não! Não o posso fazer!
Para responder a este maldito capitalismo, não vejo outra saída senão a apontada pelo meu Partido, a saída que conduz à completa libertação económica e política do proletariado.
A minha vida foi uma luta, uma luta para conquistar essa saída. E se a burguesia búlgara entende condenar-me à morte, isso quer dizer que permaneci filho fiel da minha classe, filho fiel do meu Partido.
E isso bastará para ti, para a Marta, para o meu Ilitch que nunca vi, mas que saberá que o seu pai lutou e tombou nessa luta e as razões pelas quais o fez; saberá que o seu pai preferiu cair na luta a cobrir-se de vergonha.
Certo: é duro esperar a morte a qualquer momento, estremecer ao menor ruído, contar-lhes os passos... Aí vêm eles, vêm para te levar... o coração bate até estalar...
E quando os passos se afastam, caio no catre como um fruto maduro cai da árvore. E chamo pela morte: a agonia é terrível, a morte não.
E precisamente neste momento, o inimigo tenta obter de mim que condene toda a minha actividade revolucionária. E sabes, pai, o inimigo já tentou isso várias vezes, já tentou várias vezes o triunfo de poder ir dizer: Vêde, mais um filho pródigo que volta à razão, que lamenta o que fez!
É com tais ignomínias que o inimigo quer enfraquecer a confiança no Partido e prolongar a existência dessa classe exploradora.
Não, pai, não participarei nesse jogo ignóbil.
Marcharei calmo para a forca e com a consciência de, na minha curta vida dedicada à luta pela liberdade, não ter enxovalhado nem o nome meu Partido, nem o teu nome, pai.
E, quando me colocarem a corda à volta do pescoço, gritarei: Cabeça erguida, pai, mulher amada, meu filho querido que nunca vi! Camaradas, avante!
Embora paga com duros sacrifícios, a vitória é nossa! Quem estiver disposto aos sacrifícios vencerá! Mortos fisicamente, os combatentes continuarão a viver na consciência do proletariado vitorioso. E os filhos dos que morreram lutando colherão os frutos da luta que os seus pais travaram.
Tu, também, meu pequenino Ilitch, que não posso beijar nem pela primeira nem pela última vez.
Jurdan Lutibrodski»
Jurdan foi executado em fins de Maio de 1935. Perante a forca, gritou o seu desprezo pela ditadura e a sua confiança na vitória final do proletariado.
Jurdan Lutibrodski, operário, militante comunista, foi preso em meados de 1934 pela polícia da ditadura fascista que, então, oprimia e reprimia o povo búlgaro. A mulher estava grávida.
Em Dezembro desse ano foi condenado à morte. Nunca viu o filho, entretanto nascido.
Em Maio de 1935, pouco antes da data da execução, os fascistas propuzeram-lhe o perdão da pena e a libertação se assinasse uma declaração condenando a sua actividade revolucionária, renegando-a e exortando os seus camaradas a fazerem o mesmo.
O pai de Jurdan, desesperado, escreveu ao filho suplicando-lhe que assinasse a declaração.
Eis a resposta do jovem Jurdan Lutibrodski ao pai:
»Prisão de Varna, 3 de Maio de 1935
Querido pai:
Recebi a tua carta há alguns dias. Aconselhas-me a tudo fazer para escapar à forca. E escreves: «Fá-lo ainda hoje porque amanhã será tarde de mais».
Não compreendes que essa proposta não é a salvação, mas a morte, ainda que me reste a vida?
Para que o compreendas, é preciso examinar a questão a fundo.
Acutalmente, a burguesia conseguiu desfechar golpes severos sobre o proletariado e o seu Partido. Mas será que isso quer dizer que a dominação burguesa esteja estabilizada e a vitória final não pertence ao proletariado? Não! Se não for hoje, será amanhã: o proletariado vencerá a classe agonizante e, graças ao seu Partido, impulsionará o desenvolvimento da sociedade humana. Nós, filhos dessa classe ascendente e membros da sua vanguarda consciente, não devemos temer pelas nossas vidas e, assim, sacrificar o prestígio do Partido.
Para que queremos, pai, as nossas vidas, se nos sujeitarmos à condição de cadáveres vivos com o auxílio dos quais a classe reaccionária se esforçará por levar a decomposição às fileiras do proletariado revolucionário?
E eu, pai, a quem eles teriam deixado viver para prolongarem a sua própria existência, para que quereria eu a minha vida?
Não, antes morrer permanecendo vivo no coração da minha classe! Antes morrer do que ser cadáver vivo e fedorento!
Dizes-me: «Pensa na tua companheira e no teu filho, pensa na Marta e no Ilitch, que farão sem ti?».
Eu penso muito neles, pai. Eu mesmo não sei como exprimir-lhes o amor que lhes tenho. Quando penso neles, uma amargura imensa apossa-se de mim e sinto como que um chumbo no meu peito, um sofrimento que me obriga a cerrar os dentes tão fortemente que rangem - e, não obstante, prometo a mim próprio resistir, conservar as minhas forças e continuar combatendo até ao último momento contra a classe que é responsável, não apenas pelo facto de o meu Ilitch ficar sem mim, mas também pelo facto de milhões de famílias terem que viver na miséria, nas privações e na fome.
Em vista dos milhões de desempregados, do perigo de uma nova guerra cujo horror é inconcebível para o cérebro humano, em vista de milhões de vítimas que abaterá, não apenas entre os soldados, mas também entre as mulheres e as crianças, em vista de todos os horrores que o capitalismo nos traz e nos trará ainda, como poderia eu dar ao inimigo uma arma para ele continuar a sugar o sangue dos trabalhadores? Não! Não o posso fazer!
Para responder a este maldito capitalismo, não vejo outra saída senão a apontada pelo meu Partido, a saída que conduz à completa libertação económica e política do proletariado.
A minha vida foi uma luta, uma luta para conquistar essa saída. E se a burguesia búlgara entende condenar-me à morte, isso quer dizer que permaneci filho fiel da minha classe, filho fiel do meu Partido.
E isso bastará para ti, para a Marta, para o meu Ilitch que nunca vi, mas que saberá que o seu pai lutou e tombou nessa luta e as razões pelas quais o fez; saberá que o seu pai preferiu cair na luta a cobrir-se de vergonha.
Certo: é duro esperar a morte a qualquer momento, estremecer ao menor ruído, contar-lhes os passos... Aí vêm eles, vêm para te levar... o coração bate até estalar...
E quando os passos se afastam, caio no catre como um fruto maduro cai da árvore. E chamo pela morte: a agonia é terrível, a morte não.
E precisamente neste momento, o inimigo tenta obter de mim que condene toda a minha actividade revolucionária. E sabes, pai, o inimigo já tentou isso várias vezes, já tentou várias vezes o triunfo de poder ir dizer: Vêde, mais um filho pródigo que volta à razão, que lamenta o que fez!
É com tais ignomínias que o inimigo quer enfraquecer a confiança no Partido e prolongar a existência dessa classe exploradora.
Não, pai, não participarei nesse jogo ignóbil.
Marcharei calmo para a forca e com a consciência de, na minha curta vida dedicada à luta pela liberdade, não ter enxovalhado nem o nome meu Partido, nem o teu nome, pai.
E, quando me colocarem a corda à volta do pescoço, gritarei: Cabeça erguida, pai, mulher amada, meu filho querido que nunca vi! Camaradas, avante!
Embora paga com duros sacrifícios, a vitória é nossa! Quem estiver disposto aos sacrifícios vencerá! Mortos fisicamente, os combatentes continuarão a viver na consciência do proletariado vitorioso. E os filhos dos que morreram lutando colherão os frutos da luta que os seus pais travaram.
Tu, também, meu pequenino Ilitch, que não posso beijar nem pela primeira nem pela última vez.
Jurdan Lutibrodski»
Jurdan foi executado em fins de Maio de 1935. Perante a forca, gritou o seu desprezo pela ditadura e a sua confiança na vitória final do proletariado.
6 comentários:
Apetece-me dizer:
Eu não era nascida quando isto aconteceu.
Eu nunca conheci o homem, nem o pai, nem a mulher, nem o filho.
Eu não sabia (ou já não me lembrava) desta situação, mais que concreta.
Então, se eu nem conhecia o homem, porque é que estou a chorar, porra?
Nunca tinha ouvido falar do Camarada Jurdan Lutibrodski. É com Camaradas como ele que se vê como uma sociedade socialista e comunista é possível. Basta - o que não é empreendimento fácil - multiplar o seu exemplo de militância, coragem e dignidade.
Abraço
Também eu chorei ao ler este texto pleno de força e de dignidade, e acho que textos destes dão-nos mais força para continuar a luta dos que morreram a lutar.
Estive quase a chorar. Todavia, é nosso dever tudo fazer para que estas e outras vítimas do capitalismo não tenham morrido em vão.
Muito obrigado por trazer um texto tão lindo e vivo, que espelha a força dos comunistas (de alguns pelo menos). Muito obrigado
maria: será porque neste tempo de indignidades e cobardias, a dignidade e a coragem revolucionárias nos comovem e nos dão força para a nossa luta neste tempo?
Um beijo muito amigo.
jãovalente aguiar: é isso, o exemplo de Juurdan confirma-nos a possibilidade de uma sociedade socialista e comunista.
Abraço de muita camaradagem.
césar luz: ai do homem que não chora...
Abraço amigo (e passa por cá mais vezes)
antuã: a nossa luta de hoje é a maior homenagem que podemos fazer aos que, pelos nossos ideais, morreram na luta.
Um forte abraço de camaradagem.
crixus: já tinha saudades tuas, meu amigo. Apareça sempre, quanto mais não seja para me permitir enviar-te um abraço grande de camaradagem.
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