REFLECTINDO (2)

«Reflectindo» aqui, no Cravo de Abril, no passado sábado, concluí, procurando fundamentar a conclusão, que «a política de direita e as troikas seriam as grandes vencedoras» das eleições.
E foram.
Com efeito, é isso que constatamos olhando para os resultados dos partidos da troika nacional: a meu ver, a generalidade dos eleitores que votaram no PS fizeram-no para que fosse esse partido a prosseguir a tarefa de executante da política de direita; e estou em crer que a generalidade dos eleitores que votaram no PSD e no CDS, o fizeram para que estes partidos substituíssem o PS nessa tarefa - em ambos os casos sob a vigilância férrea da troika ocupante.
Isto é: tenho para mim que, tanto os eleitores que votaram no PS, como os que preferiram o PSD e o CDS, optaram pela política de direita - o que faz desta e das troikas, como acima digo, as grandes vencedoras destas eleições.
(outra coisa é, obviamente, saber o que é que leva tanta gente que trabalha e vive do seu trabalho a votar contra os seus próprios interesses e direitos...)

Depois, há o «grande perdedor/PS/Sócrates» e o «grande vencedor/PSD/Passos» (e o nem-uma-coisa-nem-outra/CDS/Portas...) - mas tudo isso é fogo de vista, foguetório democrático-alternante, cujo objectivo principal é o de tentar levar os eternos papalvos, bem alimentados pelos comentadores de serviço, uns, a lamentar a «derrota de esquerda» e a «vitória da direita»...; outros, a vitoriar, até à rouquidão, a «mudança» que lhes disseram que houve... mas que, em relação à questão essencial, não houve.
Nem «mudança» de política nem «mudança» de políticos: o que aí vem é a mesma política praticada pelos mesma família de políticos...
Passos Coelho, logo no «discurso da vitória» - portanto, sem perdas de tempo... - fez questão de referir a necessidade de mais medidas de austeridade além das já acordadas com a troika da UE, FMI e BCE» - e Portas, de garras afiadas, pregou a necessidade de uma «revisão constitucional pragmática» e de, sobretudo, fazer «um novo acordo social entre trabalhadores e empregadores», porque,«com greves sistemáticas não vamos a lado nenhum»...
Quanto a «mudanças» de políticos, vejam-se as «novidades» que estão a ser apontadas para o futuro governo: Paulo Portas, Bagão Félix, Aguiar Branco, Miguel Macedo, Eduardo Catroga, Campos e Cunha, Daniel Bessa - tudo gente «nova», como se vê: todos ex- ministros de governos do PSD ou do PS...

Ainda «Reflectindo», no sábado, concluí, procurando fundamentar a conclusão, que domingo era «dia de festejar o resultado da CDU».
E foi.

Eu festejei.
Festejei o resultado global da CDU - o qual, obtido no contexto que referi «reflectindo», é para deitar foguetes.

Festejei a re-eleição dos deputados da CDU em Lisboa e Setúbal, em Braga e no Porto, em Santarém e Évora e em Beja - e festejei de forma muito especial a eleição do deputado comunista em Faro.
Festejei lançando foguetes imaginados... a estrelejar a minha certeza de que, com este resultado, a luta será mais forte.

É claro que se trata de um resultado inesperado, incompreensível - e, sobretudo, incómodo... - para quem anda há décadas a anunciar o «definhamento», a «morte» e o «funeral» do PCP...
A titulo de exemplo, vejamos este desabafo algo irritado e impaciente de um comentador do Público, de seu nome Raposo Antunes:

«De eleição em eleição, o PCP continua a segurar o eleitorado, sem se perceber muito bem como é possível que isso aconteça em pleno século XXI»...
Vejam bem!, no século XXI!...

Outro exemplo é o deste outro comentador do Correio da Manhã - António Ribeiro Ferreira - o qual, certamente não desejando ter escrito o que escreveu.. - nem nada que se pareça! - mesmo assim, se pronunciou deste jeito:

«Numa eleição em que a esquerda foi devastada por uma onda de direita, é preciso ser muito forte para aumentar deputados e aguentar um aumento razoável da abstenção. O que mostra, de forma óbvia, que o PCP é uma força política que não está destinada a morrer com o envelhecimento da população e dos seus militantes. Pelo contrário, o partido de Jerónimo de Sousa mostrou nestas eleições que consegue captar o voto dos novos eleitores e está para durar e lavar, contra ventos, marés e tempestades».

Pode crer que está.
Para durar e lavar e para aumentar a sua influência social, eleitoral e política junto das massas trabalhadoras - que, com a sua força organizada, são quem há-de dar a volta isto.
Mais tarde ou mais cedo.

15 comentários:

do Zambujal disse...

Grande reflexão.
Apesar das leituras a que somos obrigados, cá vamos rflectindo e, curiosamente, provocando incompreensão em quem... não compreende e surpresas.
E assim continuaremos desde que não esmoreçamos na luta!

Grande e muito amigo abraço

Chalana disse...

A eleição do nosso deputado pelo círculo de Faro é sem dúvida um grande estímulo à luta e resistência- a região do Algarve está a ser duramente, mas DURAMENTE, afectada pela crise...

Num clima de COMPLETA intoxicação (des)informativa pelos média do Capital, numa atmosfera de medo inculcada, das "inevitabilidades", dos "sacro-santos mercados", das pressões externas, etc., etc., o resultado da CDU é um extraordinário desempenho dum projecto assumidamente comunista sem mais paralelo (com a excepção da Grécia) no quadro da UE.

Se me permites, acho que ainda tivemos uma cereja no topo do bolo: o princípio do fim desse "cavalo de troia" chamado... bom: vocês sabem do que é que estou a falar, eh, eh, eh, eh!

Passámos 20 anos a resistir (desde o fim da urss), mas a crise capitalista torna-se tão odiosa, que o nosso momento está quase a chegar - mais próximo que longíquo.

RESISTIR É VENCER!

samuel disse...

Tenho um feitio pouco dado a festas visíveis... daí que o meu "motivo de satisfação" de que falo... seja uma espécie de girândola de foguetes... mas para dentro.
O meu gozo concentra-se, entre outras coisas, em ver a cara e as declarações de alguns comentadores, como os que aqui referes. :-)

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Sócrates, Passos Coelho, Portas,todos iguais, sem qualquer tipo de dignidade e nenhuma diferença. Todos amarrados à troika estrangeira. Mas algo aconteceu para além da manutenção da direita no poder.
A CDU resistiu,resistiu e conseguiu eleger mais um deputado.
Outro passinho em frente no caminho da nossa luta.
Viva a CDU. Viva o PCP.

Um beijo.

Anónimo disse...

Fernando Samuel
Esqueceste-te do boca à banda do MST em intervenções ontem e hoje na SIC. Ontem demitiu o Socras e atirou-se ao Portas tentando correr com ele pois possivelmente incomoda o seu amigo Passos. Hoje, como ontem não pôde demitir a CDU, ladrou que a CDU não teve vitória nenhuma pois teve a mesma percentagem de votos e SÓ elegeu mais um deputado. Que reles me saiu esta besta quadrada.
Vitor sarilhos

Antonio Lains Galamba disse...

...e quando um povo acorda é sempre cedo!!!!

abraço, camarada

Anónimo disse...

Essa frase escrita entre parênteses é uma preciosa verdade:

«outra coisa é, obviamente, saber o que é que leva tanta gente que trabalha e vive do seu trabalho a votar contra os seus próprios interesses e direitos...)»

Como é possível isto acontecer?

Tentando captar o pensamento de José Gomes Ferreira (o poeta, não o pseudo-economista da SIC), será que esta gente pensa?

(Jorge)

Luís Filipe Maia disse...

Podem alargar os festejos nacionais, as eleições de 2011 foram ganhas pelos 80 % dos portugueses que votaram troika.

O que esteve em discussão foi apenas o detalhe de quem será o primeiro ministro, ou seja presidente da comissão liquidatária nacional, que trimestralmente haverá de prestar contas aos representantes enviados pelos credores para fiscalizarem o pagamento da famosa dívida soberana.

Fizeram campanha chamando a isso ajuda externa, assim acontecerá até daqui a um ano quando a tal dívida apertar ainda mais o nosso pescoço e tiverem que mendigar a renegociação da dívida talvez com um nome técnico em inglês para impressionar etravestido de salvação nacional.

Alguém dirá depois que a culpa é dos partidos que foram votados agora com 13 %, dirão que fazem muito barulho na rua

Antuã disse...

A luta vai ser dura mas vai continuar.

O Puma disse...

A luta continua

até nas urnas

Eduardo Miguel Pereira disse...

Sem menosprezo algum para todo o post, diria que o que me tocou cá fundo foi o último parágrafo :-)))

Eduardo Miguel Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo Miguel Pereira disse...

Caro Vitor Sarilhos, permita-me um conselho, nunca perca tempo a ouvir as atoardas do MST em especial se forem proferidas depois do almoço !

Justine disse...

Festejemos então, que temos razão para isso!

Anónimo disse...

Caro Miguel
Pensando bem acho que o amigo tem razão. Mas será vinho ou o piqueno também sopra pra dentro?.
Vitor sarilhos