POEMA

(Hoje acordei descarnado... nu de ilusões.)


Já não ouço no som do Chicote
violinos de adormecer.

Nem sinto no frio das algemas
asas geladas de sonho.

Nem vejo nas cicatrizes
os misteriosos sinais
do Ser e do Não-Ser...

Ou nas curvas da correia,
andorinhas a voar...

Aprendi a ver-me escravo para ser livre.

E agora olho virilmente para o mundo
com estes dez mil olhos de sangue
que o Chicote me rasgou na pele.


José Gomes Ferreira

3 comentários:

Maria disse...

Grande Zé Gomes! Sabe bem lê-lo hoje.

Um beijo grande.

Graciete Rietsch disse...

Grande homenagem aos presos e torturados por um ideal.

Um beijo.

Justine disse...

Hoje os chicotes e as algemas têm outras formas, mas são iguais...