POEMA

(Hoje vi no Campo Grande um autêntico
rebanho de ovelhas. E outro de carneiros.
E outro de homens: nós, os portugueses
de mil novecentos e quarenta e tal.)


Olha as ovelhas como são!
Tão diferentes daquelas
verdes ovelhinhas
da minha imaginação
- sim, verdes da cor do limão -
que na infância de outros prados
vinham comer à mão
luas amarelas.

Estas não.
Parecem lama aos bocados
com lã de terra
- os estupores!
Talvez na Primavera
rebentem em balidos de flores.

(Enquanto eu apascento
lobos de vento...)


José Gomes Ferreira

4 comentários:

samuel disse...

Rebentar... rebentarão! Entretanto sujam tudo, cobrem tudo de lama e dejectos...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Ontem muitas ovelhinhas e carneirinhos deram saltos de contentes. Mas não tardará que essa euforia dê lugar a uma tempestade que assolará o pobre POVO PORTUGUÊS.E os carneiros e ovelhas também serão atingidos.

Um beijo.

Anónimo disse...

Um poeta fantástico, cheio de imaginação, infelizmente esquecido pelos ditos governantes e representantes da cultura que só gostam de gente vestida de preto, de chapéu, magra, esquelética, pálida, deprimente, como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e outros poetas mais chegados às ideias conservadoras, também elas deprimentes.

Talvez um dia, noutra sociedade - a sociedade do futuro, do homem novo (sempre é possível) - vejamos esse grande pavilhão dedicado ao homem e poeta José Gomes Ferreira, com tanta e tanta gente a decorar-lhe os versos e a imaginar, como ele, um mundo novo.

(Jorge)

Justine disse...

E o rebanho continua a aumentar...