POEMA

ELOGIO DO TRABALHO CLANDESTINO



É bonito
usar da palavra na luta de classes
clamar alto e bom som pela luta de massas
pisar os opressores libertar os oprimidos.
Árdua e útil é a pequena tarefa de cada dia
que secreta e tenaz tece
a rede do partido sob
os fuzis apontados dos capitalistas:
Falar mas
escondendo o orador.
Vencer mas
escondendo o vencedor.
morrer mas
dissimulando a morte.
Pela glória, quem não faria grandes coisas? Mas quem
as faz pelo olvido?
No entanto, o pobre que mal come
senta a honra à sua mesa;
Das pequenas cabanas em ruínas
surge a grandeza irresistível.
E a glória busca en vão
os autores do grande feito.
Saí da sombra
por um momento
rostos anónimos, dissimulados, e aceitai
o nosso agradecimento.


Brecht

5 comentários:

Anónimo disse...

Este poema é um hino á humildade!
Quatos homens e mulheres,deram o seu contributo,generoso em benefício da humanidade,partindo para todo o sempre, e para sempre ficando no anonimato!
"Saí da sombra
por um momento
rostos anónimos,dessimulados,e aceitai o nosso agradecimento."
Que outra coisa poderíamos esperar
do senhor Bertold Brecht
Um abraço
José Manangão

Anónimo disse...

sem vaidades e com humildade se faz uma revolução.

GR disse...

Faz-nos bem ler Brecht. Sentimos a sua poesia. Sempre tão actual!

GR

Fernando Samuel disse...

josé manangão: são esses, os revolucionários anónimos, que fazem as revoluções.
Abraço.

antuã: exactamente! Quem perde essa humildade, transforma-se em «estrela» e, logo a seguir, em «estrela mediática» - e das «estrelas mediáticas» têm nascido alguns dos piores contra-revolucionários.
Abraço.

gr: Brecht é NOSSO!
Beijo.

Anónimo disse...

Brecht... sempre tão lúcido. saímos da sombra e combateremos...