O PEDESTAL
De olhos fixos no tele-ponto, Sócrates leu-nos a sua mensagem natalícia: garantiu-nos que vivemos no melhor dos mundos.
Graças a ele, às suas incomensuráveis capacidades, ao seu imensurável talento, à sua fulgurante inteligência - ao seu génio, enfim - o País vai de vento em popa e os feitos da sua governação já têm lugar assegurado na História Universal - não obstante haver por aí uns quantos ignorantes que acham pouco o muito que ele tem feito...
Dito isto, Sócrates partiu para a viagem de Natal paga pelos seus fiéis serviçais.
Ao ouvi-lo, lembrei-me, sei bem porquê, da crónica de Daniel Sampaio, «Os Narcísicos»(Pública de 23/12), da qual aqui transcrevo alguns excertos:
«Portugal anda cheio de chefes narcísicos. Querem dominar tudo e todos e não mostram qualquer empatia pelos problemas dos que os rodeiam. A principal característica destas pessoas é um sentimento grandioso da sua importância. Hipervalorizam todos os dias as suas capacidades e exageram tudo em que participam, exigindo que os outros dêem o mesmo valor que atribuem a si próprios.»
(...) «Aspiram a altos voos: com a cumplicidade dos média e o trabalho das "agências de comunicação", estão preocupados com fantasias de sucesso ilimitado, poder ou brilho especiais. Ruminam com frequência acerca da "merecida" admiração e propalam que a história lhes fará justiça».
(...) Necessitam de admiração constante, porque vivem preocupados com a forma como se estão a sair, desejosos de obter uma cotação favorável, testemunho da admiração de que dependem. No fundo, aguardam a reverência de todos: para a garantir ao máximo, rodeiam-se de gente submissa que, para os servir, decretou para si mesma o silêncio e o elogio fácil ao chefe: podem ser sobrecarregados com trabalhos e críticas ferozes que jamais abrirão a boca contra quem manda.»
(...) Quando não são servidos como desejam, ou quando alguém ousa uma crítica, respondem com agressividade, como se estivessem a ser atacados. Esta raiva narcísica é um dos traços mais evidentes do seu carácter: perante a discordância, reagem com fúria».
(...) Estes chefes não são verdadeiros democratas: falta-lhes o sentido do reconhecimento do outro, a partilha e a capacidade de amar que caracteriza os verdadeiros líderes: podem mandar, mas não serão amados, apenas tolerados, mais tarde ou mais cedo cairão do pedestal que construíram para si próprios».
Que a queda não demore muito, é o que eu desejo - isto digo eu.
(Cuidado!: em nota final, Daniel Sampaio informa que «esta crónica contém fragmentos da DSM-IV-R, classificação americana das doenças mentais»)
De olhos fixos no tele-ponto, Sócrates leu-nos a sua mensagem natalícia: garantiu-nos que vivemos no melhor dos mundos.
Graças a ele, às suas incomensuráveis capacidades, ao seu imensurável talento, à sua fulgurante inteligência - ao seu génio, enfim - o País vai de vento em popa e os feitos da sua governação já têm lugar assegurado na História Universal - não obstante haver por aí uns quantos ignorantes que acham pouco o muito que ele tem feito...
Dito isto, Sócrates partiu para a viagem de Natal paga pelos seus fiéis serviçais.
Ao ouvi-lo, lembrei-me, sei bem porquê, da crónica de Daniel Sampaio, «Os Narcísicos»(Pública de 23/12), da qual aqui transcrevo alguns excertos:
«Portugal anda cheio de chefes narcísicos. Querem dominar tudo e todos e não mostram qualquer empatia pelos problemas dos que os rodeiam. A principal característica destas pessoas é um sentimento grandioso da sua importância. Hipervalorizam todos os dias as suas capacidades e exageram tudo em que participam, exigindo que os outros dêem o mesmo valor que atribuem a si próprios.»
(...) «Aspiram a altos voos: com a cumplicidade dos média e o trabalho das "agências de comunicação", estão preocupados com fantasias de sucesso ilimitado, poder ou brilho especiais. Ruminam com frequência acerca da "merecida" admiração e propalam que a história lhes fará justiça».
(...) Necessitam de admiração constante, porque vivem preocupados com a forma como se estão a sair, desejosos de obter uma cotação favorável, testemunho da admiração de que dependem. No fundo, aguardam a reverência de todos: para a garantir ao máximo, rodeiam-se de gente submissa que, para os servir, decretou para si mesma o silêncio e o elogio fácil ao chefe: podem ser sobrecarregados com trabalhos e críticas ferozes que jamais abrirão a boca contra quem manda.»
(...) Quando não são servidos como desejam, ou quando alguém ousa uma crítica, respondem com agressividade, como se estivessem a ser atacados. Esta raiva narcísica é um dos traços mais evidentes do seu carácter: perante a discordância, reagem com fúria».
(...) Estes chefes não são verdadeiros democratas: falta-lhes o sentido do reconhecimento do outro, a partilha e a capacidade de amar que caracteriza os verdadeiros líderes: podem mandar, mas não serão amados, apenas tolerados, mais tarde ou mais cedo cairão do pedestal que construíram para si próprios».
Que a queda não demore muito, é o que eu desejo - isto digo eu.
(Cuidado!: em nota final, Daniel Sampaio informa que «esta crónica contém fragmentos da DSM-IV-R, classificação americana das doenças mentais»)
2 comentários:
Já não há pachorra para este, para este…Sócrates!
Não vi, li no jornal.
Eles têm caído para cima.
Durão, Guterres, Ferro até o Santana, qual deles foi o pior? Neste momento, todos estão com ordenados chorudo.
Eles são tolos???
Diagnostico errado, Dr. Sampaio!
Tolos são, quem votou no PS e PSD!
GR
"Quanto mais alto se voa,..."
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