POEMA

O INIMIGO


Grandes olhos frios espiam esta calma
fictícia em que vives. Olhos de inimigo
que chove sobre ti a sua areia,
migalha-te o futuro, cobiça-te os joelhos,
oferece longas jornas de fome, salários
feitos de medo e asco.

Sobre os campos, as fábricas, o inimigo
sopra no teu querer uma paralisia.
Inventa sombras, disfarça a sua imagem;
a linha que o define, fugidia,
em vão a pensarás, em vão teu lápis
tentará aprisionar o seu contorno.

Mas se avanças um passo logo o vês
nesses olhos que tentam fascinar-te.


Egito Gonçalves

5 comentários:

samuel disse...

Mesmo assim... é preciso ir avançando um passo... e outro...

GR disse...

São olhos enganadores, com palavras mascaradas.
Só alguns se deixam fascinar/aprisionar,
Mais tarde quando lhe tiram a máscara é, tarde demais.
Os nossos passos têm ser dados, com toda a firmeza!

GR

Ana Camarra disse...

e vão fascinando, como as cobras...

Fernando Samuel disse...

samuel: passo a passo, lentamente, a pouco e pouco... lá chegaremos...
Um abraço.

GR: infelizmente são muitos, ainda, os que se deixam aprisionar...
Um beijo.

Ana Camarra: até que um dia...
Um beijo.

Maria disse...

Uma pessoa ausenta-se dois dias e quando chega... tem tanta poesia para ler... que bom!
Há palavras que são eternas, como as deste poema. Obrigada.

Um beijo grande