PRIMEIRO RETRATO DO NATURAL
Ela queria perceber o que se passa.
Queria?
Passa a rua às risadas.
«Uscumunistas?»
Gritam flores da jarra.
Estão inocentes?
O telefone terrinta.
É o destino?
Na bandeja de prata, o sedativo.
Por tomar?
Na sala das porcelanas, a senhora.
Por viver.
*
De sentinela à porcelana
está Inês ou Teresa ou Ana
(Maria, deixa-se ver).
Tem à mão uma bengala
para o que der ou vier:
«Se os bolchevistas entrarem,
vão ver, vão ver!
As porcelanas inteiras
é que eles não hão-de ter!»
*
Porcelana implora
Senhora insiste.
Até que a levam prà cama,
pauzinho em riste, zangada.
É uma terrina vazia
que em sonhos se suicida
à bengalada.
Alexandre O'Neill
4 comentários:
Mas esta gente existe... persiste... "fina-se" de ódio e medo.
Abraço.
Existe, pois: como se vê lendo os jornais...
Um abraço.
Essa gente existe, por vezes infelizmente cada vez mais!
beijos
Ana Camarra: cada vez mais, talvez não, mas lá que existe, existe...
Um beijo.
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