A FÁBRICA
Da alavanca ao tear da roda ao torno
da linha de montagem ao cadinho
do aço incandescente a entrar no forno
à agulha a trabalhar devagarinho.
Da prensa que se fez para esmagar
à tupia no corpo da madeira
do formão que nasceu a golpear
à força bruta de uma britadeira.
Do ferro e do cimento até ao molde
que é quase um esgar de plástico sereno
do maçarico humano que nos solda
à luz da luta e não do acetileno
nasce este canto imenso e universal
sincopado enérgico fabril
sereia que soou em Portugal
à hora de pegarmos por Abril.
Transformar a matéria é transformar
a própria sociedade que nós fomos
ser operário é apenas saber dar
mais um pouco de nós ao que nós somos.
Um braço é muito mas por si não chega
por trás da nossa mão há uma razão
que faz de cada gesto sempre a entrega
de um pouco mais de força. De mais pão.
Estamos todos num único universo
e não há uns abaixo outros acima
pois se um poema é uma obra em verso
um parafuso é uma obra-prima.
Operários das palavras ou do aço
da terra do minério do cimento
em cada um de nós há um pedaço
da força que só tem o sofrimento.
Vamos cavá-la com a pá das mãos
provar que em cada um nós somos mil
é tempo de alegria meus irmãos
é tempo de pegarmos por Abril.
José Carlos Ary dos Santos
5 comentários:
VAMOS!
beijos
Mais um maravilhoso poema do Zé Carlos...
Vamos, sim!
Fazer Abril de novo!
Um beijo grande
Grande Ary! Grandes versos!
"Estamos todos num único universo
e não há uns abaixo outros acima
pois se um poema é uma obra em verso
um parafuso é uma obra-prima"
Não lembraria a mais ninguém!...
Abraço.
Ana, Maria, Samuel: o Zé Carlos esteve lá connosco, não esteve?...
Beijos e abraço.
Esteve é claro que esteve.
beijos
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