POEMA

A BOMBA


O primeiro sopro arrancou-lhe a roupa;
o imediato levou também a carne.
Ao longo da rua
durante alguns segundos correu o esqueleto.
Mas a rua já não estava,
estava toda no ar;
de lá caíam bocados de prédios, bocados
de crianças, restos de cadilaques...
O esqueleto não compreendia sozinho
aquela situação:
deixou-se tombar sobre algumas pedras radioactivas
e permitiu na queda o extravio de alguns ossos.

(Caso curioso: o coração
pulsou ainda três ou quatro vezes
entre o gradeamento das costelas.)


Egito Gonçalves

6 comentários:

Maria disse...

Este poema é FORTÍSSIMO!
... e arrepiante, ainda.

Um beijo grande

GR disse...

De braço dado a guerra leva consigo, de um lado a morte, do outro o caos.
Um poema triste!

GR

Ana Camarra disse...

Brutal!

beijos

samuel disse...

Um último esforço de humanidade... apesar do caos.

Abraço.

Justine disse...

O que eu tenho andado a perder:)) (outras coisas ganhei, não se pode ter tudo)

Parabéns pelo novo visual - VIVA!

Fernando Samuel disse...

Maria: «a guerra é a guerra»...
Um beijo grande.

GR: é a guerra...
Um beijo.

Ana Camarra: como a guerra...
Um beijo.

samuel: a diversificada condição humana...
Um abraço.

Justine: perde-se num lado, ganha-se noutro...
Um beijo.