POEMA

A BOMBA

O primeiro sopro arrancou-lhe a roupa;
o imediato levou também a carne.
Ao longo da rua
durante alguns segundos correu o esqueleto.
Mas a rua já não estava,
estava toda no ar;
de lá caíam bocados de prédios, bocados
de crianças, restos de cadilaques...
O esqueleto não compreendia sozinho
aquela situação:
deixou-se tombar sobre algumas pedras radioactivas
e permitiu na queda o extravio de alguns ossos.

(Caso curioso: o coração
pulsou ainda três ou quatro vezes
entre o gradeamento das costelas.)

Egito Gonçalves

5 comentários:

Anónimo disse...

José Egito Gonçalves, grande poeta realista e tradutor desee a década de 1950. E também um antifacista de longa data, pois participou no MUD e no chamado Congresso da Oposição Democrática de Aveiro. Grande poema, dum grande poeta. Boa semana com tudo de bom.

samuel disse...

Se apenas o coração, masmo que por segundos, sobrevive ao horror, talvez devamos contar mais com ele para o evitar...

Abraço

Maria disse...

Um poema tão transparente que deu para o ver em "filme"... de terror, em arrepio....
Curioso, o coração...

Um beijo grande

Fernando Samuel disse...

jofre de lima monteiro alves: obrigado pela visita e pelas considerações sobre o poeta e antifascista Egito Gonçalves.
Um abraço.

samuel: ai dos que não contam com ele em tudo e, também, na luta de todos os dias...
Um abraço.

maria: de facto, é como num filme... de horror...
Um beijo.

GR disse...

Grande poeta Egito Gonçalves(este conheço).
Belíssimo poema sobre o horror da guerra.

GR