POEMA

AS PESSOAS SENSÍVEIS

As pessoas sensíveis não são capazes
de matar galinhas
Porém são capazes
de comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
à roupa do seu corpo
aquela roupa
que depois da chuva secou sobre o corpo
porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
a roupa
que depois do suor não foi lavada
porque não tinham outra.

«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
assim nos foi imposto
E não:
«com o suor dos outros ganharás o pão»

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
porque eles sabem o que fazem

Sophia de Mello Breyner Andresen

3 comentários:

Sal disse...

Há que tempos que não lia este poema.
Foi bom revê-lo.
Bjs

samuel disse...

Ai sabem, sabem!...
Grande Sofia!

Abraço

Fernando Samuel disse...

sal: é sempre bom reler poemas destes, não é?
Um beijo amigo.

samuel: ó se sabem!...
Abraço.