POEMA

PERGUNTA A PAUL ROBESON

Que rios te correm na voz
Paul Robeson?
Que marulhantes graves e longos
rios é o teu canto
Paul Robeson?
É o Congo ou é o Mississipi
com manchas de sangue indissoluto?
Ou são os afrontosos rios
da humilhação impotente
Paul Robeson?
Ou é o Nilo ou o Missouri
cavando às cegas o leito
nas terras da hostilidade?
Ou será a mágoa sem fundo nem tempo
náufraga sem morte dos barcos de negreiros
soluçando nos campos de algodão
dos diversos estados da Carolina do Sul
Paul Robeson?
Ou será a incomparável curva doida do Niger
rompendo a caminho do mar?
Ou será apenas o lento pesado arrastar de pés
dos teus irmãos de raça
Paul Robeson
rompendo a caminho do mar?

Fernando Couto
(In Poetas de Moçambique)

5 comentários:

samuel disse...

A voz de Robeson corre por todo o lado. Juro que ouvi uns ecos dos seus graves mais profundos descendo o "Tejo que levas as águas, correndo de par em par..."

Abraço

Maria disse...

Que poesia mais bonita, Fernando Samuel...
Obrigada pela partilha.
Tanto para aprender e ler, ainda, e tão pouco tempo....

Um beijo

Justine disse...

Extra-ordinário poema, este! De perfeição estilística, de força, de significado, de imagens e ritmo, de tudo!!
Não o conhecia,fiquei fã. Dás-nos mais?

Anónimo disse...

Qual seria o estado de ispirito do poeta no momento, que dúvidas o assaltariam, que certezas justificavam este pensamento, que ligava rios, pessoas,campos, vida ou a ausência dela!...LUTA!

Fernando Samuel disse...

samuel: ouviste, ouviste...
Abraço amigo.

maria: tão pouco tempo?, não percebo... hás-de explicar-me isso lá em Braga, no fim-de-semana.
Um beijo amigo.

justine: belíssimo, não é? Já lá está outro...
Beijo amigo.

josé manangão: Luta, não tenho dúvidas...