GUERNIKAKO ARBOLA*
(A Árvore de Guernica)
Era na Primavera do ano 37
quando cheguei a Guernica.
Ali se fabricavam filtros de máscaras
antigás. Eu devia
- serviço de inspecção - ver que diabo se passava
ou o que não funcionava.
Ali, em Guernica, estavam as novas tropas
de Guipúscoa, e eu devia
- serviço de instrução - ensinar-lhes a humana
protecção que é possível quando com gás atacam.
Tudo me parecia distante. Embora cumprisse
o devido, impossível
era pensar que alguém lançasse um tal ataque.
A frente estava longe. Brilhava o céu ileso.
E é preciso dizer tudo:
havia muito tempo que eu não comia anho,
nem comia pão branco, como ali, na rectaguarda.
Parecia tão fácil a paz! Não se entendiam
a ira e a mentira.
Às vezes ia visitar a nossa árvore de Guernica,
e olhava o azul,
um azul que durou todos aqueles dias,
um vasto azul tranquilo que nada parecia
poder perturbar, Março querido.
Ai, quem diria
que pouco depois de eu partir zumbiria no céu,
no mesmo céu que parecia ileso,
puro de mancha e leve,
o horror de uma morte mecânica e selvagem!
Ai, quem diria!
Ai, di-lo tu se puderes, Guernikako arbola,
di-lo com tua raiz, tuas crianças, teus ramos,
di-lo, se for possível,
diz com a liberdade dos vascos antigos,
com o tremor de folhagem que cobre o país todo
e diz o que somos, ao dizer o que fomos!
Ai, se é possível, di-lo!
Gabriel Celaya
(Tradução de José Bento)
* Guarnikako arbola (que em língua vasca significa «a árvore de Guernica») é um roble junto do qual, desde a Idade Média, os reis de Espanha ou os seus representantes juravam respeitar os fueros que estabeleciam os direitos do povo vasco. Em 26 de Abril de 1937, Guernica foi bombardeada pelas forças franquistas, com a colaboração dos nazis, como confessaria Goering. Morreram nesse ataque cerca de 1. 600 pessoas. O roble ficou intacto. (N. do T.)
3 comentários:
O drama e condenação dos canalhas é que sobrevive sempre alguém para contar as atrocidades e não deixar que se perca a memória. Nem que seja um carvalho-vermelho...
Tão bonito este poema....
Obrigada..
Um beijo
samuel: ... ou um poeta...
Abraço.
maria: é belo, não é?
Um beijo.
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