POEMA

OUTRA VEZ


Tanto na minha língua como na dos vizinhos
há sempre mentirosos, exploradores mesquinhos.
Estendem-te armadilhas, dizem-te patranhas,
os que falam como tu e os de falas estranhas.

Serás porém injusto, quando alguém te explora
tornando a tua fome assustadora,
se pensares que todos os da mesma língua
comem o que é teu para morreres à míngua.

Se te enganam hoje em bom catalão,
pensa que há mais gente, pronta a dar-te a mão,
amanhã e aqui, ou noutros países,
com palavras doces ou de ásperos matizes.

E para acabar esta lengalenga,
não consintas nunca que ninguém te prenda
o chocalho oco dos mansos carneiros
que pastam o tojo no pó dos outeiros:
para os rebanhos há uma só linguagem:
pontapé que ferve, pancada selvagem.


Félix Cucurull

4 comentários:

samuel disse...

E os cães sempre a morder as canelas...
Este Félix é "danado"! :-)))

Abraço

Justine disse...

Que poema interessante: duro e feroz, numa toada ligeira e cheia de ritmo. E com uma excelente tradução!

Ana Camarra disse...

Infelizmente em todas as linguagens existem exploradores mesquinhos.
Felizmente, em todas as linguagens existem assim carneiros altivos que não deixam colocar o chocalho.

beijos

(ontem não conseguia comentar aqui dava erro..)

Fernando Samuel disse...

samuel: danadíssimo...
Um abraço.

Jutine: a tradução é de «António de Macedo com a colaboração de Carlos de Oliveira»...
Um beijo.

Ana Camarra: e o segundo «felizmente» é que conta...
Um beijo.