ESCOPRO DE VIDRO
Estou aqui construindo o novo dia
com uma expressão tão branda e descuidada
que dir-se-ia
não estar fazendo nada.
E, contudo, estou aqui construindo o novo dia.
Porque o dia constrói-se: não se espera.
Não é sol que deflagre num improviso de luz.
É um orfeão de vozes surdas, um arfar de troncos nus,
o erguer, a uma só voz, dos remos da galera.
Cantando entre os dentes
um refrão anidro
abro linhas quentes
com um escopro de vidro.
Abro linhas quentes
sem tremer a mão,
com um escopro de vidro
de alta precisão.
António Gedeão
5 comentários:
Construir o novo dia, todos os dias, em cada dia... que bonito!
Um beijo grande
Coincidência, estive a ler ontem AG:))
Sabe tão bem voltar a ele e à sua precisão, de vez em quando!
Seria bom que os dias fossem construidos assim... com precisão e arte.
Abraço
Maria: cantemos o novo dia!...
Um beijo grande.
Justine: se sabe!...
Um beijo.
samuel: levantados do chão...
Um abraço.
Construir um dia novo, todos os dias, sim claro, tão claro como um escopro de vidro.
(este Gedeão tb era uma máquina)
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