POEMA

COMPANHEIRA DOS HOMENS


A poesia dos senhores que propagam o nevoeiro e confundem as gentes,
poesia tão pessoal como uma escova de dentes,
a poesia que eles queriam guardar nas suas casas
numa gaiola, como um pássaro a quem mutilassem as asas,
a poesia quebrou as algemas e saiu da prisão
e arrastou-se nas trincheiras, e dormiu nos campos de concentração,
e amou aqueles que negam mas que nunca se negaram,
e conheceu prostitutas que nunca se entregaram,
e comeu na malga dos soldados aquela sopa de massa
que é igual para todos como o pré e a desgraça.

E os homens aprenderam nas noites de inclemência
a cantar os seus versos, a recitá-los de cor,
e a murmurá-los nessas horas em que tudo é confidência
e em que cada palavra ganha uma ressonância maior.


Sidónio Muralha

3 comentários:

Ana Camarra disse...

E ecoa nas almas, com as palavras enfim libertas.

beijos

samuel disse...

Noites em que a poesia e as canções juntam homens e mulheres, como um cimento novo, ao mesmo tempo resistente e vivo.

Abraço

Fernando Samuel disse...

Ana Camarra: e encaminha-nos para o futuro...
Um beijo.

Samuel: porque a poesia é uma arma...
Um abraço.