A FLORESTA AÉREA
Sobre os telhados da cidade
mastros ondulam maciamente ao vento
(como outrora se dizia das searas).
Estes caules porém não produzem,
não elevam o pão. Captam rostos
que em vidros convexos discursam
sorrisos perversos e tédio.
Árvores em aço de frutos indigestos
que isolam a alegria com um surdo
ranger mecânico; abrasado clima
onde esgares se iluminan e crocitam
tentando ganhar tempo.
O vento não ama as suas faces: sacode
por vezes os mastros violentamente,
mas os rostos continuam, macabros,
a sua tarefa.
(Dentro do foco surgem
duas mãos que esvoaçam;
subitamente apanham
as incautas gargantas.)
Egito Gonçalves
2 comentários:
Estes últimos quatro versos são brutais em força!
Um beijo grande.
Maria: quatro versos escritos... hoje...
Um beijo grande.
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