A PROPÓSITO DO NATAL
Após o bem conhecido episódio da Estrela do Oriente
o colérico Herodes gritou aos seus sicários:
«Matem as crianças;
matem todas as criancinhas!»
Redigiu uma proclamação bilingue: judeu e latim,
e como gostava muito de provérbios, declamou:
«Mais vale prevenir do que remediar!»
Os sicários dispersaram em todas as direcções;
contrataram auxiliares
e sem perda de tempo iniciaram a matança
de que falam os livros da especialidade.
Várias espadas partiram com o uso excessivo;
durante algum tempo os cofres dos armeiros
receberam o sorriso das fortunas.
Apesar disso
nada serviu a Herodes o saber de ofício:
como bem se recordam a Criança escapou.
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Hoje Herodes empregaria armas modernas:
radar, cães-robots, espiões magnéticos,
aviões de pesquisa meteorológica...
E por certo a Criança uma vez mais
cresceria saudável e robusta.
Herodes voltaria a não compreender nada.
Mas estaria seguro de si aos microfones
e os directores de cemitérios enviariam
belas mensagens e flores de parabéns.
Egito Gonçalves
4 comentários:
Violentíssimo, este poema de E.G., e ao mesmo tempo cheio de esperança: a tal criança que nunca será morta!
Esta "Criança" não morrerá! Não faz parte do seu código genético...
Abraço.
E a criança continuará a crescer: saudável e robusta!
Grande grande poema do Egito.
Um beijo grande.
E esta criança são todos os que não desistem da Luta e que destruirão Herodes.
Um beijo.
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