CAMPO DE BATALHA
O poeta caminha, sem destino, desesperado,
vagando o olhar sobre as pilhas de cadáveres
- homens que partiram das suas terras para virem
apodrecer aqui, adubo amontoado.
O poeta escreve sobre os mortos! Recorda
as infâncias tão próximas, as lágrimas na estação,
os beijos da família, o abraço dos amigos,
o comboio enfeitado de flores e de bandeiras.
Estendidos na planície revolvida
nem moscas nem traições os incomodam.
Uma bomba transformou-os em quietude,
as mãos vazias, os amores parados...
Livres da angústia pela morte,
não sofrerão doenças ou velhice.
Haverá missas pela sua alma
e trigo semeado, em breve, neste solo.
Cada um deles esta rígido e perfeito
com direito a um crepe no retrato.
Imperfeita, no conjunto, só a bomba,
mas trabalha-se nela com afinco.
Egito Gonçalves
3 comentários:
Até hoje, nunca pararam de aperfeiçoar a bomba...
Abraço.
Aperfeiçoam a morte, mas a tristeza e o desespero é sempre o mesmo.
BJS,
GR
É terrível este poema!!!!
Mas o poeta também canta a luta e a resistêmcia.
Um beijo.
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